quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A Honduras esquecida

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É triste constatar que Honduras, país a sofrer um golpe mais recentemente, tenha sido abandonada.

Seja na mídia, nos blogs, no ideário ou mesmo nos interesses dos Estados. Honduras foi simplesmente esquecida.

Hoje saúda-se o golpe perfeito. Porfírio Lobo assumiu uma presidência ilegítima, baseado em um golpe coordenado e apoiado pelos EUA, pelo Exército Hondurenho e pela mídia golpista local em conluio com a oligarquia apavorada com as sucessivas vitórias populares e ampliação dos direitos sociais.

Estamos diante do que Hillary Clinton chama de "Direitos Humanos Pragmáticos", ou seja, a sistematização do ato de fechar os olhos para os "erros" dos amigos, aliados ou possíveis oponentes fortes. É o caso que temos em pauta, é o caso de honduras em que é possível - dada a insignificância geopolítica do país para os EUA - condenar, jogar para a platéia e ter em si os holofotes do repúdio internacional enquanto, na realidade, se apóia, planeja e executa um golpe bem sucedido em que um governo legítimo, democraticamente eleito, é deposto e faz-se uma farsa eleitoral para consumir o golpe.

Hoje, a mídia cita Honduras apenas para bradar seu apóio não mais ao golpe, mas à vitória da democracia (sic).

Os EUA se limitam à olhar, como pais zelosos da democracia bem ao seu estilo.

À época do golpe, foi anunciado que Israel reconheceria rapidamente o governo (sic) Hondurenho, nenhuma surpresa. E, menos surpresa ainda ao ver os acordos entre Honduras e Colômbia recém-firmados, a visita de Uribe para apoiar o golpe consumado. Colômbia e Israel, dois Estados terroristas apoiados pelos EUA, nenhuma surpresa.

Do lado da população hondurenha, denúncias de abusos, tortura, estupros, execuções... E tudo devidamente indultado pelo "presidente" Lobo.

Esta é a democracia saudada pela mídia e pelos poderosos que, no Brasil, ainda gostam de tripudiar sobre o governo Brasileiro como se esta fosse uma derrota nossa e não de toda a humanidade.

Zelaya, o presidente-herói saiu humilhado de seu país, de onde foi eleito e ilegalmente deposto. Vai para o exílio forçado e indigno. O máximo de ajuda do Brasil foi permitir sua estadia em nossa embaixada. E parou por aí.

Nações do mundo fingiram-se de indignadas, bradaram mas nada de concreto fizeram. Apoiaram, querendo ou não, um golpe, mesmo gritando contra. Está consumado.

O perigo é que toda a impunidade e a aura de "golpe perfeito" possam se espalhar para países que, assim como Honduras, não sejam um exemplo de segurança institucional e nem tenham as Forças Armadas mais confiáveis ou, ainda, que este seja um sinal verde para que os EUA voltem à agir na região, notando a fragilidade de vários dos países ou ao menos a aceitação por parte de diversas instituições do golpismo.

É, agora, esperar para ver e, no meio tempo, buscar um fortalecimento das instituições e, também, saídas legais - seja na OEA, na ONU ou em qualquer outra - para o governo ilegal e ilegítimo Hondurenho.
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