terça-feira, 1 de março de 2011

A blogosfera reage aos retrocessos, ou o que esperar do governo Dilma?

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Passado o primeiro mês do governo de Dilma, o saldo que fica, para mim, é negativo. Negativo em relação a Lula que, ele próprio, já foi muito inferior ao que desejava a militância e os movimentos sociais. Estamos diante de retrocessos do que, em geral, já não foi bom - mas apenas o que deu para fazer, como dizem muitos.

Reconhecer conquistas não é apagar os retrocessos, e Dilma, infelizmente, praticamente não tem grandes conquistas, mas coleciona significativos retrocessos.

A partir de amanhã posto uma pequena série comentando diversos pontos negativos - retrocessos em relação à Lula ou mesmo em geral - do governo até agora mas, desde já, caberia analisar um aspecto que a blogosfera vem comentando bastante e que, até certo ponto, me surpreendeu.

Ao ler diversas análises do Rodrigo Vianna, Maurício Caleiro, Maria Frô, Azenha, Leandro Fortes e até mesmo do Eduardo Guimarães, governistas até a medula, me surpreendeu a amargura de alguns com acontecimentos recentes e também o temor de maiores retrocessos. Em geral o que vi foram críticas muito bem colocadas e temor.

Principal alvo das críticas - ou talvez o estopim - foi a presença da Dilma na festa de 90 anos da Folha, que descrevi como "Uma linda festa que reuniu saudosos da Ditadura, criminosos higienistas, produtores de jornalixo e... o PT.". Muitos blogueiros se revoltaram com a presença da presidenta Dilma (que, aliás, chamou a si de presidentE (tudo para agradar ao Otavinho) e o Eduardo Guimarães bem lembrou:
A única coisa que o artigo deixou de fora foi o fato eloqüente de que a edição de dez anos antes de uma comemoração que aquele jornal promove a cada dez anos – e que ocorreu em 2001, por conta de seus 80 anos – não contou com a presença do presidente da República de então, Fernando Henrique Cardoso, ou do governador Geraldo Alckmin, que recém-substituía o ex-governador Mario Covas, que faleceria um mês depois, em março daquele ano.
Vale lembrar também que Lula jamais apareceu em nenhuma festa da Veja ou mesmo da Folha.

O engraçado foram alguns tentando justificar, que a presença de Dilma na Folha teria sido uma lição, um golpe duro na mídia... Mas ninguém comenta sobre os elogios rasgados feitos pela Folha neste semana? Qual foi o acordo? A presença de Dilma na Folha em troca de um abrandamento da oposição? Ou há algo mais, envolvendo a Ley de Medios, que a cada dia se torna mais e mais uma ilusão?

É de assustar a ingenuidade e a cegueira de alguns, incapazes de notar qualquer problema com o governo.

Mas Dilma não se contentou em apenas ir na Folha, ela também vai, agora, ao programa de Ana Maria Brega Braga, uma das musas do movimento Cansei. Lá, ela falará até mesmo com a Marina, candidata neopentecostal representante do atraso.

O que me assusta não é o retrocesso, ou retrocessos - eu já esperava por eles  -, mas o fanatismo de parte da militância que é simplesmente incapaz de conviver com críticas.

A Frô foi por dias duramente atacada por reclamar da visita da Dilma à Folha. O Caleiro ganhou comentário e post do censurador André Lux (que logo depois postou em seu blog o texto do Rodrigo Vianna com críticas semelhantes às feitas pelo Caleiro, no mínimo queria aparecer e fazer média com grande blogueiro).

Mas qual é a raiz desta intolerância? Durante o governo Lula, qualquer tipo de crítica era vista como traição. Alianças com gente da estirpe de Sarney e companhia causaram desconforto e revolta em diversos setores, revolta esta completa com a entrega de diversas bandeiras históricas do partido. O racha do PSOL foi um momento singular e que até agora tem sérios reflexos entre a militância que se manteve no PT.

Esta idéia de "traição", a de que os Psolistas teriam traído o PT, permeia uma parte imensa da militância até hoje.

O Mensalão acirrou ainda mais os ânimos, especialmente com as tentativas torpes do governo e do PT negarem sua óbvia existência. Tudo isto culminou com a eleição de Dilma, escolhida sem qualquer consulta séria às bases, de maneira personalista e antidemocrática para continuar (em teoria) o projeto de Lula que, como explicou Rudá Ricci, estava longe de ser democrático ou de se importar com discussões internas relevantes.

Durante às eleições o PSOL se impôs com uma alternativa, mas não de disputa pelo poder, mas na disputa do discurso. Plínio e o PSOL não tinham a intenção de vencer a eleição presidencial, seria até ridícula a idéia, o que queriam era promover um debate, impor bandeiras e, até, tentar fazer a militância petista entender o que estava errado.

Sim, existe uma coisa chamada "governabilidade", mas é difícil saber até que ponto você pode vender bandeiras por apoio. E também quem aceitar na aliança.

A eleição, enfim, foi um momento de debates, mas também de imenso sectarismo e radicalismo. Finda a eleição era de se esperar que, após tanto debate, as coisas se assentassem e fosse possível manter debates mais construtivos, com menos pressão - sem eleições. Mas era engano. Até mesmo governistas, petistas históricos e afins, ao criticar certas características de um governo que representa um retrocesso assustador mesmo frente a Lula, acabaram apanhando feio nas últimas semanas.

Todo o fanatismo e radicalismo criados pelo personalismo e quase deificação de Lula acabaram por criar uma aura intocável em torno de Dilma que, como sua sucessora, tem status de filha de deus.

Enfim, o problema é grande. Muitos petistas, quando atacados com fatos, desconversam, citam coisas sem nenhuma relação ou simplesmente atacam. Se você pergunta pelas alianças, se elas não estariam fazendo o governo retroceder e abandonar bandeiras, logo te perguntam como o PSOL governaria. Mas não respondem a pergunta.

Sarney, Collor, PMDB, Kassab e até a Katia Abreu. Tudo se chama governabilidade. Votos. Só isso importa.

Se você questiona o PNBL não-estatal que vem sendo proposto, logo te cortam dizendo que o governo fez mais avanços que qualquer outro na história. Mas também não respondem nada.

Se você questiona a possibilidade de uma Ley de Medios séria mesmo com a amizade de Dilma com o chamado PIG, logo dizem que ela está usando uma estratégia maravilhosa e está dando lição na mídia.

Questionar é ser alvo. Não importa de que lado você esteja. Ou você é de direita ou "Psolista", o que, para a turba raivosa, dá no mesmo.

Enquanto isto a pressão necessária sobre o governo não existe, ele fica blindado de críticas - e agora elogiado até pela mídia!
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