Lendo hoje a Folha SP, na falta de coisa melhor para fazer, me daparei com um artigo comentando - brevemente - a situação na Irlanda do Norte e os recentes ataques do CIRA ou IRA da Continuidade.
Cheguei à duas conclusões não necessariamente relacionadas:
1. Impressionante a falta de profundidade e análise dos jornalões brasileiros que passam informações sem qualquer tipo de crítica que recebem das agências sem se dar ao trabalho de pesquisar, discutir, apresentar novas informações e etc. OK, a Irlanda do Norte é longe mas... E daí? Tenho certeza de que um conflito na Irlanda do Norte teria muito mais efeitos práticos que uma notícia sobre um atropelamento no Acre e, acreditem, já vi noticias tão esdrúxulas quanto esta tendo algum destaque.
2. Indo ao ponto central do título, a relação com o ETA. Hoje o IRA desapareceu, pelo menos o IRA principal, ligado ao Sinn Feinn, existe apenas uma gama de grupos pequenos e aparte da sociedade, com apoio minguado e irrisório. No País Basco, ou Euskal Herria, o apoio ao ETA é relativamente grande, direta ou indiretamente.
O que torna as duas realidades tão diferentes? De um lado a Irlanda do Norte em um processo de Paz, negociado e com o IRA depondo as armas e do outro o País Basco e a opressora Espanha e um ETA forte e sem perspectivas de paz?
Simples, na Irlanda do Norte houve negociação. Opções, TODAS, foram colocadas na mesa e discutidas. A Inglaterra abriu um canal de discussão, cedeu e agora recebe a recompensa, uma relativa paz e um processo de paz em negociação.
Quando a Inglaterra mantinha milhares de soldados matando e torturando dia-após-dia os Irlandeses, o IRa mantinha sua luta e a carnificina era diária, de ambos os lados. A partir do momento em que passaram a aceitar vários termos impostos pelos Republicanos. O Sinn Feinn era legal. Havia uma via política aberta para o diálogo e com o tempo a violência arrefeceu.
Na Espanha, por outro lado, não há negociação. A Espanha tortura, mata e mantém centenas de presos políticos além de realizar inúmeras prisões arbitrárias e, por esses motivos, foi novamente condenada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU.
O Batasuna é ilegal, a Aukera Guztiak, a Herritarren Zarrenda, a ANV, o EHAK, a AuB, o Herri Batasuna, a Askatasuna e, finalmente a D3M.
Ou seja, TODOS os partidos que se reivindicam Abertzales (ou Nacionalistas) com a exceção do Aralar, que condena o ETA abertamente, forma ilegalizados. Vários sem QUALQUER prova de ligação com o ETA.
Em alguns momentos sequer dalamos em apoiar abertamente o ETA ou ser seu braço político mas simplesmente serem Abertzales e não condenarem o ETA.
No País Basco um partido é ilegalizado por não condenar algo e não por ter, efetivamente, cometido algum crime ou apoiado um grupo ilegalizado.
É realmente uma situação ridícula.
A paz no País Basco só vira quando houver diálogo, franco e aberto, sem ilegalizações.