terça-feira, 31 de março de 2009

Jornalismo e o diploma [Update]

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Li hoje n'O Globo que amanhã, provavelmente, haverá o julgamento definitivo sobre a necessidade ou não de diploma para exercer a profissão de jornalista.

Desde já digo minha posição: Sou totalmente a favor que QUALQUER um com capacidade exerça a profissão, não há sentido em exigir diploma para tal função.

A maior parte dos argumentos que ouvi, de jornalistas, é a de que o jornalista, na faculdade, aprende a escrever, a coletar dados e coisas do tipo. Oras, qualquer bípede com um mínimo de cultura e vontade sabe e pode fazer o mesmo!

Talvez o jornalista, de início, tenha mais estilo ou saiba como tratar suas fontes de uma maneira mais... correta (?) mas, me desculpem, afirmar que só jornalista forma pode exercer a profissão é desmerecer, por exemplo, um Nelson Rodrigues! Será que ele não tinha capacidade para exercer a profissão? Que levante a mão o corajoso!

Quem nunca se deparou, por outro lado, com absurdos vindos de jornalistas, formados, e cheios de si? Quantas vezes não fui obrigado a ler matérias extremamente rasas sobre política internacional, por exemplo, em um ou outro jornal, assinadas por jornalistas com diploma mas que sabem escrever bem, mas não sobre o objeto da matéria!

Qualquer pessoa que estude política ou mais especificamente política internacional ou Relações Internacionais (como eu) fica abismado com a precariedade de algumas matérias de jornalistas diplomados.

Só para citar um exemplo, noto o constante uso de "militantes inslâmicos" para todo e qualquer grupo que cometa algum crime em um país muçulmano. Não importa a razão, se o grupo que reivindica for muçulmano ou o país do ataque for muçulmano então os perpetradores são, automaticamente, "militantes islâmicos".

Primeiro lugar, ser "militante" não infere crime.

Ser islâmico ou militante islâmico não quer dizer absolutamente nada! Quer dizer apenas que a pessoa é muçulmana e busca, de alguma maneira, transmitir sua crença.

Não sei se é estupidez, ignorância ou má fé simplesmente.

Me lembrei agora, mas me escapa o nome do autor, uma pesquisa feita com as famílias de vários homens bomba que morreram em atentados suicidas em nome do Hezbollah.

Qualquer jornalista com diploma diria que os ataques foram cometidos por militantes islâmicos, por fanáticos islâmicos ou ainda terroristas islâmicos sem, porém, qualquer tipo de análise crítica ou pesquisa.

Saibam, pois, que vários destes militantes islâmicos eram, na verdade, cristãos, e a franca maioria (até a data pesquisada pelo autor) de esquerda, ou seja, não eram "militantes fanáticos" como a mídia adora reproduzir e (des)informar o público.

Acabei de encontrar o artigo que trata sobre o assunto dos três últimos parágrafos. O autor em questão é Robert Pape que analisou - através das biografias e de entrevistas com familiares dos suicidas -, entre 1982 e 1986, 38 dos 41 "terroristas" suicidas do Hizbollah.

Qualquer jornalista formado (desculpem a generalização) , diria que foram todos ataques cometidos por "militantes islâmicos" quando, na verdade, apenas 8 eram fundamentalistas islâmicos, 27 eram de grupos de Esquerda (logo, não poderiam ser encarados como militantes islâmicos) e 3 eram, vejam só, cristãos!


Este pequeno exemplo serve apenas para ilustrar que ter diploma de jornalista torna a pessoa apta a escrever bem, sim, mas não a saber sobre o que escreve.

Confio muito mais em alguém da área de Ciência Política ou Relações Internacionais - em geral, óbvio - para escrever sobra uma crise na Tanzânia, que em um jornalista que passou pelos editoriais de moda, esportes e caiu de para-quedas na página internacional.

Acredito, por outro lado, que não seria ruim um curso - talvez uma pós de curta duração ou um mini-curso ou até uma pequena especialização - para àqueles de formação diversa que tem interesse em adentrar na área jornalística mas, exigir uma graduação completa e um diploma para ser jornalista é, na melhor das hipóteses, um disparate.

Trazendo o assunto para um campo ainda mais moderno, quantos são os blogueiros que jamais cursaram jornalismo mas que estão aí, noticiando o que acontece no mundo, opinando e informando o público? Serão todos eles incapazes de seguir sua veia jornalística por não terem diploma?

Não vejo um jornalista falando com maior propriedade sobre física nuclear em um jornal que um físico nuclear ou um jornalista falando sobre a situação política da Ingushétia que um cientista político especialista em Ingushétia.

Claro, não tenho a intenção de desmerecer qualquer jornalista e apenas ilustrar que, mesmo que muitos tenham a capacidade de tratar de diversos assuntos e sejam excelentes no que fazem - como Clovis Rossi, Azenha, PHA, Noblat, dentre outros -, ter um diploma não é tudo, é preciso, antes de mais nada, ter interesse, disponibilidade, honestidade, vontade e conhecimento.

imaginem só se Antônio Maria, Nelson rodrigues (como disse Miro Teixeira), ou Euclides da Cunha, Carlos Lacerda, Jaguar, dentro outros fossem proibidos de escrever porque não tinham diploma!

Jornalismo não é ciência!

Daqui ha pouco pedirão diploma para cartunista, para escritor. É algo que não tem sentido e nem fim.

Diploma é acessório. Um belo acessório mas, ainda assim, acessório.
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