quarta-feira, 11 de maio de 2011

Lugar de #GenteDiferenciada é LONGE de Higienópolis

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"Eu não uso metrô e não usaria. Isso vai acabar com a tradição do bairro. Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada..." Guiomar Ferreira, psicótica psicóloga
Desde pelo menos meados de 2001, moradores do bairro de elite Higienópolis se mobilizaram para tentar impedir a construção de uma estação do metrô na região, em meio à movimentada e importante Avenida Angélica.

As razões são realmente incríveis: Eles não querem pobres na região, e o metrô atrai pobres, camelôes.... enfim, "gente diferenciada".

O ódio de classe nunca foi tão explícito. Não surpreende que o nosso querido ex-presidente que tinha (e ainda deve ter) nojo de pobre, FHC, more nas imediações.

Desculpa de outro é que a chamada "linha universitária" não passará pela FAAP... Engraçado, os riquinhos da FAAP trocariam suas BMW's e outros carros de luxo pelo metrô das 18h cheio de "gente diferenciada"?

Tomado como piada por muitos, a pressão de mais ou menos 3500 moradores conseguiu fazer com que o governo mudasse a estação de lugar. Sim, acreditem, 3500 pessoas que não seriam afetadas por absolutamente nada (apenas teriam de tolerar os pobres xexelentos na região) conseguiram convencer o governo estadual (com a conivência do municipal, claro) a mudar a estação de lugar!

A vontade de 3500 contra a necessidade de pelo menos 25 mil cidadãos que se beneficiariam diariamente da facilidade do transporte.

Não se trata de um abaixo-assinado contra despejos, contra remoções ou coisa do tipo - como acontece no absurdo projeto da Nova Luz -, mas simplesmente do desprezo que 3500 pessoas sentem por outros seres humanos. Ódio de classe do mais claro e vergonhoso. Ódio contra a humanidade.

Os direitos dos 3500 que assinaram o abaixo-assinado não serão prejudicados. Estes não serão removidos, não terão casas invadidas ou serão expulsos delas (como acontece com moradores de favelas, isto se estes riquinhos souberem o que é uma favela para além das fotografias e imagens da TV), mas tão somente terão de conviver com uma estação de metrô, que facilitará a vida de milhares de outros cidadãos.

Trata-se de uma minoria que não sofrerá qualquer prejuízo se insurgindo contra uma maioria beneficiada... E com o governo defendendo essa minoria!

Não surpreende que o governo escute a voz destes 3500 frente aos 25 mil imediatamente beneficiados (isso por baixo, muito por baixo).

Alguém duvida que o poder aquisitivo destes 3500 supere - e muito - a dos demais beneficiados? Aliás, qual seria a surpresa se descobríssemos que todos estes são eleitores do mesmo PSDB do governador Alckmin? Doadores do partido, filiados, simpatizantes e até mesmo políticos ligados?

É óbvio, ainda, que até mesmo por semelhanças ideológicas o governo acataria a vontade destes 3500, afinal, suas ações higienistas (tanto no governo Serra quanto agora e também no governo municipal de Kassab) são demonstração máxima de que compactuam com a tese de que "gente diferenciada" não é bem vinda.
O Movimento Passe Livre levou a São Paulo cerca de 3 mil pessoas em cada passeata que fez {{parei de contar na passeata de número 5 - não acredite em mim}}, para que o preço da passagem fosse reduzido, já que houve um aumento e atualmente ela custa 3 reais.

O resultado? Muitas passeatas, uma audiência pública marcada e desmarcada, prisões, etc. Diminuiu o preço? Não. Responsabilidade é do Kassab.

Aí o pessoal do bairro de Higienópolis {{que sim, vem de Higiene}} reuniu 3 500 ASSINATURAS, sem ninguém sair de ... o governador resolveu fazer o quê?! CANCELOU a estação de metrô do local. É , a justificativa é das melhores, como você pode imaginar...
Contra este absurdo foi convocada uma manifestação bem humorada no sábado, dia 14, em frente ao Shopping Higienópolis (Avenida Higienópolis, 618 - A partir das 14h). Da página do Facebook:
Nesta terça-feira (10), a associação do bairro de Higienópolis conseguiu que o governo impedisse as obras da estação Higienópolis, na avenida Angélica, acreditando que tal construção acarretaria na chegada de um "público diferenciado" ao bairro, promovendo a degradação de suas ruas sagradas e aumentando assim o número de ocorrências policiais. "Prevaleceu o bom senso", declarou o presidente da entidade Defenda Higienópolis, o empresário Pedro Ivanow.

Como nosso bom senso não é o forte, promoveremos agora um churrascão em frente ao shopping Higienópolis para mostrar que os ricos não chegam aos pobres, mas os pobres sim, facilmente chegam aos ricos.

Leve farofa, carne de gato, cachorro, papagaio, som portátil, carro tunado e tudo o que sua consciência social permitir. Afinal, a rua é pública e o Higienópolis não está separado por muros. 
Circula ainda um abaixo-assinado pedindo a construção da estação. Mas seria muito interessante que grupos se organizassem e coletassem assinaturas pessoalmente tanto de moradores da região quanto de quem trabalha por lá e seria beneficiado pela estação do metrô. Uma ação em frente a pontos de ônibus e de locais movimentados, frequentados por quem trabalha na área.

Seria uma forma de confrontar o governo. Com mais de 3500 assinaturas como o governo iria sustentar sua decisão de mudar o local sem denunciar seu caráter elitista e preconceituoso?
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Inaceitável também é o Metrô declarar que tomou a decisão por livre e espontânea vontade, apontando os supostos benefícios da mudança e problemas da idéia anterior.
"O Metrô está reavaliando a localização da futura Estação Angélica, em razão de estar apenas a 610 metros da futura Estação Higienópolis-Mackenzie e a 1.500 metros da futura Estação PUC-Cardoso de Almeida, visando melhor equilíbrio da linha. No momento, a área técnica do Metrô estuda a melhor localização de uma nova estação que atenda à Faap, Av. Higienópolis e Praça Vilaboim, assim como o Estádio do Pacaembu. A definição da nova localização depende da conclusão de estudos geotécnicos e do melhor posicionamento para implantação da obra, de forma a causar o menor impacto na região"

Já os moradores do Pacaembú tem razão em se preocupar com o fluxo de torcedores rivais que podem passar a usar todos a mesma estação para chegar ao estádio. alguém pergunta se o governo se preocupou com este detalhe...
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Circulou pelo Twitter o boato de que o Serra - ou militantes do PSDB - teria "pedido" para que o flyer da manifestação não tivesse sua foto e a imagem foi deletada de vários endereços.
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Bons posts sobre o caso: Urbanismo demofóbico, O Metrô de São Paulo e a vitória do higienismo, Do Upper East a Higienópolis – Quinta Avenida tem metrô, mas a Avenida Angélica, não e Metrô de Higienópolis: São Paulo continua um burgo murado
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