Mas tem quem defenda.
O maior comediante do país, Reinaldo Azevedo é um deles. Claro que ele mora em Higienópolis (deve ser vizinho do FHC), ainda que eu pensasse que ele vivesse em um universo paralelo. Afirmando que os moradores de Higienópolis, pobre elite, sofrem preconceito dos terríveis "diferenciados", ele completa:
A população de Higienópolis, bairro que fica na área central de São Paulo, onde moro, está sendo alvo de uma campanha canalha nas chamadas redes sociais por causa de uma estação de metrô.E viva a República de Higienópolis, que jamais será governada por pobres, petistas ou diferenciados!
Se pudessem os moradores de Higienópolis cercavam a área e os únicos '"diferenciados" a entrar seriam suas empregadas domésticas.
Mas Azevedo não é o único.
A mídia já se animou em defender os pobres ricos da elite sempre vítima de preconceito da patuléia fedida:
O Brasil ama odiar as tais "elites". Elas são, a priori, culpadas por todas as mazelas do país. Um populismo ingênuo que precisa ser superado.Sérgio Malbergier é o típico jornalista da escola azevediana que acha que o Brasil incorpora todos os males do mundo, quando não os inventa...
Veja o caso da mudança da estação do metrô em Higienópolis, bairro de classe média alta de São Paulo entre o Centro e a Paulista.
Moradores e empresários locais são contra a instalação de estação do metrô na esquina da avenida Angélica com a rua Sergipe, onde há décadas funciona uma loja da rede de supermercados Pão de Açúcar.
A pressão da comunidade, sim, "ricos" também formam comunidades com direitos iguais às outras comunidades segundo a Constituição brasileira, pode ter influído na decisão do Metrô de mudar a estação do bairro habitado por eles para perto do estádio do Pacaembu.
Isso gerou em alguns uma reação histérica, preconceituosa e errada no mérito. Como se os moradores locais, apenas por terem renda mais elevada que a média, não pudessem ter voz no destino de seu próprio bairro.
Ódio de classe é algo injustificável e tipicamente brasileiro, logo, inerentemente ruim. O bom do Brasil é a mulata durante o carnaval,mas depois ela tem que voltar a lavar e passar (sim, porque no Brasil negro tem que ser pobre, mulher tem que ser empregada doméstica e por ai vai).
Morei muito perto dessa esquina por muitos e muitos anos. Meus pais ainda moram lá. Posso falar com propriedade que a mudança de local da estação faz bastante sentido. Já está sendo construída uma estação ali perto, no colégio e universidade Mackenzie, a poucas quadras.Não surpreende que, assim como Reinaldo Azevedo, Malbergier more/tenha morado na região. Trata-se da defesa de seus próprios privilégios. É claro e descarado. Papai e mamãe ainda moram lá. ele cresceu ali, numa região livre de pobres indesejados e de gente diferenciada, logo, há de se manter a "tradição".
Seria interessante que estes 'jornalistas" tivessem uma pequena aula sobre luta de classes, se é que não tiveram na universidade (mas devem ter faltado). Ser rico pode até não ser pecado (conceito religioso), mas há, sem duvida, um rastro de exploração e mais-valia atrás. O rico tem direta responsabilidade pela situação social do resto da população, especialmente em um país extremamente desigual.
Os ricos não são culpados por todas as mazelas, fato, mas sem duvida tem o dedo na maior parte delas, direta ou indiretamente. Quando um membro da elite fecha a cara para o pedinte, manda expulsar o sem-teto da rua, denuncia o camelô ou mesmo se recusa a aceitar que faz parte de uma sociedade em que todos são parte significativa do todo está contribuindo para o aprofundamento das diferenças, das desigualdades.
E a loja do Pão de Açúcar pode não ser arquitetonicamente relevante, mas ela há décadas faz parte da vida cotidiana do Alto Higienópolis, é peça fundamental do corpo vivo do bairro e perdê-la seria descaracterizá-lo um pouco.Sobre o metrô especificamente, Malbergier afirma que o problema é apenas de "tradição", de um mercado que está há algum tempo no local... Isto contra a possibilidade de facilitar a vida de milhares. É a comodidade da elite ter mercado na esquina contra a facilidade de sua diarista ter um transporte de (maior) qualidade perto do serviço.
Desculpa, amigo, mas este seu argumento chega a dar vergonha-alheia.
A associação de moradores de Higienópolis já se equivocou antes, quando atacou a construção de shopping no bairro, que ao final trouxe serviços e valorização à região. Mas desta vez ela parece ter razão.A comprovação da tese: Meca do consumo está ok, meio de transporte pras empregadas, JAMAIS!
Os ricos tem os mesmos direitos que os demais, segundo a Constituição, mas na prática tem muito mais direitos que o resto de nós (isto contando que eu tenho muito mais direitos e privilégios que quem está abaixo de mim). Rico não vai pra escola pública, nem hospital público, não precisa andar de metrô ou ônibus e não tem a casa alagada em todo temporal pelo córrego logo atrás de casa. A maior parte do povo não tem estes mesmos direitos/privilégios.
Os moradores e Higienópolis tem TODO direito de expressar sua vontade - mesmo que esta seja preconceituosa pois, infelizmente, não há crime nisso -, mas daí ao Estado não só ouvir, mas ACATAR esta vontade frente aos benefícios óbvios a todo o resto da população vai uma distância imensa.
Ricos tem os mesmos direitos que os pobres, diz Malbergier, mas os ricos conseguiram impedir a construção da estação... Quantos pobres conseguem impedir a destruição de suas casas nas operações urbanas da prefeitura ou nas obras encomendadas pelo governo estadual e mesmo municipal?
Será que o Sambódromo do Rio seria ampliado e os moradores no entorno expulsos para o extremo da Zona Oeste se os moradores fossem ricos? Será que a população do Jardim Pantanal seria tratada como lixo se fossem da elite?
Mas isso também está mudando. Sob Lula, e esse foi seu grande legado, aprendemos que o capitalismo é bom para todos. O Brasil encontrou seu caminho justamente quando ricos e pobres começaram a enriquecer juntos.Não, Malbergier, nós não somos iguais, nós não temos efetivamente os mesmos direitos. O rico tem o direito de impedir ao pobre acesso, o pobre tem o direito de ficar calado. O capitalismo não é bonzinho, a luta de classes ainda existe - e é mais forte do que nunca.
Na primeira crise os ratos - os pobres - serão forçados a ficar no barco que afunda, enquanto a elite viajará pra Paris - ou Miami, afinal em Paris tem metrô demais.
E não, a desculpa de que a estação Higienópolis seria muito próxima da Mackenzie não cola. As estações da Paulista são próximas e ninguém reclama. Em Paris (onde a elite passa férias quando Miami está muito cheia) as estações são próximas e o sistema funciona (muito melhor do que aqui, aliás), então, por favor, nos poupem de desculpas pseudo-técnicas para mascarar o elitismo preconceituoso e racista da República de Higienópolis.
Ser rico no Brasil não é mais só pecado, é também virtude.E ser canalha, quando se trabalha na Folha, também é virtude.
Recordo agora de Leandro Narloch, na mesma Folha,e seu ódio aos pobres logo depois da eleição em que o candidato favorito de Higienópolis perdeu. Quanta semelhança!
E a elite segue andando...
----
Mais um verbete pro Tucanês da elite da República de Higieópolis, "Pessoas flutuantes":
Anna Claudia de Salles, presidente do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) de Perdizes/Pacaembu, prevê mais furtos e roubos no entorno. "Infelizmente, seremos mais abordados por pessoas flutuantes."Como dito pelo @renatomucoucah no Twitter, "Linda a luta do pessoal de Higienópolis. Mostra o quanto a elite paulistana é tacanha e mesquinha.".