Do Acerto de Contas
O site ABC Comunicação publicou hoje uma matéria que mostra alguns números preocupantes da tiragem de jornais impressos no País. Segundo a matéria, dos 20 maiores jornais brasileiros, 6 tiveram a pior tiragem da década. Dentre eles, estão: Folha de S.Paulo, Estadão, O Dia, Diário de S. Paulo, Correio Braziliense e Jornal da Tarde.
O Instituto Verificador de Circulação (IVC) também registrou queda na tiragem do jornal O Globo. Vejamos alguns números, na tabela abaixo:
As causas que levaram à esta redução da circulação dos jornalões brasileiros são diversas. A internet e o crescente acesso à rede certamente está entre elas, podendo ser analisada por mais de um ângulo.
A internet e queda de circulação dos impressos
Segundo uma pesquisa do Interactive Advertising Bureau Brasil (IAB Brasil), entre os anos de 2003 e 2007, o número de usuários de internet no Brasil teve um aumento de 67%.
Segundo o Ibope/NetRatings, na segunda metade de 2008, o Brasil tinha cerca de 41,5 milhões de internautas. Um outro instituto, o Datafolha, mostrou um número ainda maior, cerca de 64,5 milhões. A diferença entre ambas pesquisas seria de metodologia. De toda forma, a tendência para os próximos anos é este número crescer ainda mais.
É provável que esse crescimento tenha relações com a queda na circulação dos jornalões. Tanto do ponto de vista do acesso aos conteúdos de forma gratuita, quanto na questão do desnudamento de algumas inverdades publicadas nas páginas dos impressos - e outras manipulações sob a ilusão do mito da “imparcialidade”.
Os arranhões na credibilidade e a pouca oferta de análises nos jornais
Outro fator que pode ser analisado é a própria queda da credibilidade da grande imprensa. Com a proliferação de blogs e sites de mídia colaborativa e alternativa, os jornalões passaram a ter sua credibilidade ameaçada com a difusão de informações antes omitidas do público leitor.Com essas novas formas de comunicação online, os próprios leitores também ajudam a construir os conhecimentos, seja colaborando com informações/links, seja argumentando de forma diversa ao autor do texto/post - aqui mesmo no Acerto de Contas, ponderações e pensamentos contrários aos meus, expostos por comentadores, já me fizeram mudar títulos de postagens e mesmo a leitura que faço de algumas questões.
Acho isso muito saudável.
Os exemplos que conduzem os jornais impressos à ruína da credibilidade são vários, e seria uma obviedade enumerá-los.
Cito um deles, apenas como ilustração. O caso mais recente, da Folha de S.Paulo, que publicou uma “reportagem” apresentando uma pseudo ficha da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), supostamente responsável por participar da arquitetura do sequestro (???) do ex-ministro Delfim Netto.
A tal “ficha” circulava internet, e saiu na capa do jornal, sem que fosse checada a sua veracidade pelos jornalistas (ou, se tiver sido checada, foi manipulada e escondida).
Este fim de semana, a Folha acabou por reconhecer que se tratava de um fake (uma montagem).
O resultado: uma das maiores mancadas jornalísticas do ano (sem falar no caso “ditabranda”). No dizer do blogueiro Mello, essa da Dilma, e outras, não passam de reporcagens.
Muita gente na blogosfera deseja ver a grande imprensa ir de vez pra o buraco, sumindo do mapa de uma vez por todaspra sempre. Assim como os próximos do cavaleiro da Triste Figura desejavam ver eliminada da face da terra a biblioteca do nosso Herói, Quixote, e seus muitos volumes de livros de cavalaria medieval.
Existe um certo “ódio” contra a grande imprensa - e ele não é vão, nem de graça. É como se fosse uma torcida de futebol, torcendo pela derrota do time adversário.
Eu não vibro, nem deixo de vibrar. Na verdade, assisto de camarote a este filme, sendo também, eu mesmo, um agente participativo desse processo, mas um agente que deseja não a derrota da mídia impressa, mas seu aperfeiçoamento ético e técnico.
Um dado curioso é que o jornal Valor Econômico apresentou aumento da circulação - com média de 53.885 exemplares neste primeiro trimestre de 2009.
(Outros jornais, como o Meia Hora, Lance, A Tribuna e o Expresso da Informação apresentaram crescimento de circulação.)
Esse fator pode ser sintomático de uma outra perspectiva de análise.
Acredito que as pessoas não querem gastar dinheiro pra ler notícias, apenas. Principalmente nas chamadas “notícias-pílulas” - aquelas breves notas que pretendem resolver o mundo…
Notícias, as pessoas as obtém de graça, e de muitas formas.
Seja em diálogos nos ônibus, nos bares; na tevê, no rádio e até mesmo na internet (onde alguns blogs, como o Acerto de Contas, reproduzem gratuitamente conteúdos cujo acesso é restrito apenas ao público assinante do jornal/portal).
O que estaria a faltar nas páginas dos grandes jornais seria, pois, duas coisas: credibilidade (também traduzida pela transparência de o jornal informar aos seus leitores as posições e opiniões da redação) e análises mais especializadas.
Não acredito em “imparcialidade” da informação. Isso não passa de um mito. O silêncio, por exemplo, é uma tomada de posição. Tampouco acredito que um jornal sério precise ser “imparcial”. Isso foi uma ilusão que a grande mídia criou após o regime militar brasileiro, e até hoje faz uso desse discurso quando lhe convém.
Ora, não há nenhum mal em tomar um posicionamento com relação aos acontecimentos p0líticos, econômicos, culturais, outros. O opróbrio se mostra quando se esconde isso dos leitores.
E, essa, infelizmente, ainda é a prática comum da grande imprensa brasileira, travestida de “imparcial”, mas cheia de doutrinamentos subreptícios - muitas vezes explícito descaradamente, embora maquiado noas ares fantasiosos do mito.
Conquista-se credibilidade do público leitor não o jornal sem coloração ideológica, postura de apoio ou crítica, ou preferência cultural. Perde aquele que se mostra pouco honesto, que acaba com fama de mentiroso e sem caráter.
Quanto ao fator análises, percebo como sintomático o fato de o Valor Econômico (que pertence aos grupos Folha + Globo) ser um dos impressos que apresentou crescimento da circulação. Embora ainda seja um jornal recheado de releases (matérias encomendadas e compradas), publica algumas análises muito boas e consistentes.
Talvez a combinação transparência com os leitores + análises de qualidade seja o cerne do desafio que a imprensa brasileira deverá se direcionar nos próximos anos.
Análises excelentes.
No Blog do Azenha, sobre o mesmo assunto, eu comentei:
Resta saber se, ao menos nesse semestre, a queda na circulação tem algo a ver com as mobilizações contra a Folha e etc pelo nível (ou falta dele) terrível nas notícias (sic) veiculadas...
Mas, no geral, a queda na circulação de jornais é fato em todo o mundo, é uma tendência mundial.
Nota-se que os jornais que cresceram no Brasil foram os de teor mais popular, o Valor que vem tomando o lugar de outros tradicionais na área econômica e o Lance, esportivo.
A internet cresce e reflete na queda dos jornais, os mais pobres, sem acesso à internet acabam por recorrer ainda aos jornais.
Nos Estados Unidos, grandes jornais fecham as portas, outros como o NYT tem prejuízos gigantescos e alguns, como o Christian Science Monitor passam a ter só versão online (alguns jornais passaram a circular ainda só em alguns dias da semana, algo bizarro). Talvez o Brasil acompanhe esta tendência no futuro. A grande discussão hoje é, ainda, se o jornal online tem a mesma credibilidade que a impressa. Especialistas divergem bastante nesse ponto.
O fenômeno é mundial, a redução de tiragens é um fenômeno mundial e aparentemente irreversível. O NYT acumula prejuízos, o Boston Globe idem, alguns jornais nos EUA, como o The Christian Science Monitor circulam apenas online, alguns outros ainda circulam em poucos dias na semana... Não é algo que ocorre só no Brasil, é algo que finalmente chegou de vez ao Brasil.
As razões são várias.
Não é só a internet a vilã, mas também a falta de credibilidade, o gosto dos leitores e os novos tempos e ferramentas.
Vamos a alguns fatos em destaque:
1. Internet: Sem dúvida o principal "vilão" na história. Mesmo os grandes jornais colocam suas edições diárias na internet, seja de forma aberta ou paga. E ao longo do dia podemos acompanhar, de graça, com rapidez e comodidade, e onde quer que estejamos, o que acontece pelo mundo todo no site dos jornais, nos blogs e em várias páginas da internet.
2. Mobilidade
Quando assinamos um jornal o recebemos em casa. Se viajamos ele continua a chegar em casa e não vai até onde estamos. Caso viajemos, temos que nos locomover até um banca e nem sempre o jornal que você quer estará lá. Eu, por exemplo, leio todo dia a edição online do Gara, do País Basco, no Brasil é impossível achá-lo em qualquer banca.
3. Pílulas
Um ponto interessante é o fenômeno atual, graças à velocidade não só com que tudo ocorre e as informações chegam, mas também a falta de tempo/pressa dos leitores quando são bombardeados com milhões de informações ao mesmo tempo. É a pós-modernidade em sua verdadeira natureza. Os leitores procuram por notícias rápidas, explicativas e simples, que possam ser digeridas sem perda de tempo - vê-se o sucesso da Revista da Semana, qeu adota o modelo - e os jornais, com suas várias páginas de análises e notícias longas acaba colocad oapra escanteio.
4. Credibilidade
Ponto, ao meu ver, principal, ao menos recentemente no Brasil, a falta de credibilidade, ética e respeito. Os episódios da Ditabranda (que mostrei aqui e aqui) e mais recente da ficha de Dilma, claramente forjada e depois reconhecida como tal pela Folha, demonstram a falta de credibilidade, comprometimento e ética dos grandes jornais.
Não fala-se em neutralidade, imparcialidade, isso não existe, todos somos influenciados por alguma coisa e acreditamos em algo, ao buscar a imparcialidade não passamos o que ralmente gostaríamos de passar à frente. Mas senão imparcialidade pelo menos não a mentira, não os ataques insensatos, o desrespeito e a tentativa clara de derrubar, atacar sem provas.
Não apoio o governo, não sou Petista nem gosto do Lula mas uma coisa é fazer oposição (como faço, à esquerda) e outra é denegrir, mentir e manipular, como vem fazendo os jornais brasileiros e em especial a folha de São Paulo.
Em suma, os jornais estão morendo, não conseguiram ou não querem se adaptar aos novos tempos e, no caso brasileiro, soma-se a isso a falta de ética e credibilidade e o flagrante desrespeito ao leitor.