quarta-feira, 29 de abril de 2009

Líbano e sectarismo pré-eleitoral

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É curioso, no Líbano, notar as constantes traições partidárias e sectárias.

Michel Aoun permaneceu no exílio por se opor à Síria, agora é amigo de longa data. Os Drusos se dividem entre famílias tradicionais. O líder aponta para um lado e todos vão atrás, sem grande pensamento crítico.

Ainda existe muito feudalismo, vide Walid Jumblatt, e as posições políticas não são independentes e sim devem seguir Àqueilo que as lideranças ectárias apontam.

Os Cristãos se opõem a um novo censo no país, que demonstraria factualmente que os Muçulmanos, em especial, Xiita,s são maioria, oque acabaria com o balanço acertado anos atrás no País, no qual os Cristãos Maronitas ficaram com o cargo de maior prestígio, a Presidência e os Xiitas apenas com a Presidência do Parlamento.

Do lado do Hizbollah, o Amal, grupo muçulmano Xiita, mantém uma política de aliança bem tensa, em muitos momentos, com o grupo xiita dominante no sul do país.

E a relação entre os diversos grupos, dentro ou fora de suas alianças, é e sempre foi problemática, antes e depois da Guerra Civil que arrasou o país.

O grande problema é: O que fazer?

Por um lado os muçulmanos, especialmente Xiitas, exigem mais poder, por outro, os cristãos não aceitam um novo censo e nem perder poder, o que aconteceria com o censo.

É uma situação complicada em uma sociedade que sempre foi dividida entre grupos religiosos e étnicos, em que as famílias e lideranças sempre foram o principal apoio de todos.

É impensável uma solução em que a representação de grupos sectários tenha um fim, depois da Guerra Civil especialmente, os ódios são muito fortes e a ligação de grupos idem mas é complicado pensar em manter o memso sistema, com ou sem revisão.

O Líbano é uma verdadeira sinuca.

Abaixo um artigo muito bom sobre a situação do Líbano enquanto se aproximam as eleições.

O nó sectário da eleição libanesa

Não existe nenhum grupo religioso majoritário no Líbano. Dentre todas as minorias, segundo estimativas, a maior deve ser a muçulmana xiita, seguida por cristãos maronitas, muçulmanos sunitas, drusos, cristãos grego-ortodoxos e armênios. Insisto no "segundo estimativas", porque, há décadas, não se realiza um censo no território libanês. Os cristãos maronitas, especialmente, sabem que uma pesquisa provaria o que todos já sabem – os cristãos deixaram de ser o mais expressivo grupo libanês.

A forte imigração cristã do fim do começo do século 20 aliada a uma mais elevada taxa de natalidade dos muçulmanos alterou a balança sectária, com o pêndulo se movendo para o lado muçulmano, especialmente o xiita. Mas esta mudança não se refletiu na divisão de poderes. Obrigatoriamente, o presidente do Líbano deve ser um cristão maronita, o premiê tem que ser sunita e o presidente do Parlamento sempre é xiita. O Parlamento e os ministérios também são divididos em linhas sectárias. Até a Guerra Civil (1975-90), o presidente era a figura mais poderosa do Líbano. Hoje, o primeiro-ministro se fortaleceu. Ser governista ou opositor depende de a coalizão apoiar ou não o premiê.

Nas eleições de junho, os libaneses terão que escolher entre duas coalizões. A governista se denomina 14 de Março. É comandada pelos sunitas ligados a Saad Hariri e ao premiê Fuad Siniora. Tem como aliados facções cristãs, como as Forças Libanesas, de Samir Gaegea, um líder miliciano dos tempos da Guerra Civil e que hoje carrega a bandeira de “defesa dos maronitas”. Drusos seguidores do líder feudal Walid Jumblat também integram a aliança. Praticamente não há nomes xiitas relevantes na 14 de Março.

A oposição, chamada de 8 de Março, é liderada pelos xiitas. Tanto do Hezbollah, quanto da Amal. Os principais aliados são os cristãos que seguem o ex-general Michel Aoun. Principal liderança militar da Guerra Civil, Aoun permaneceu no exílio por 15 anos até 2005 devido à sua oposição à Síria. Ironicamente, retornou ao Líbano para se aliar aos sírios. Outros integrantes da coalizão são os sunitas tradicionalmente próximos a Damasco e os drusos que seguem outras famílias, como a Arslan.

A 14 de Março é próxima à Arábia Saudita, Egito, Jordânia e Estados Unidos. A 8 de Março é aliado do Irã e da Síria. Isto é, as duas facções se dividem nas duas linhas da Guerra Fria do Oriente Médio, comentada em post anterior neste blog. Uma vitória da 14 de Março indicaria o fortalecimento do grupo pró-EUA e sauditas. Já uma vitória da 8 de Março provaria a força do Irã e, em parte, da Síria. Em parte porque a Síria não vê nas eleições o futuro de sua força no Líbano. Damasco sabe que, em caso de normalização das relações com os Estados Unidos e um acordo de paz com Israel, poderá ter um sinal verde para voltar a dar as cartas no Líbano, independentemente de quem estiver no poder. Este é justamente o temor da 14 de Março, que pedem garantias ao governo de Barack Obama de que os libaneses não pagarão o preço da paz entre a Síria e Israel. Foi justamente para acalmar os libaneses que Hillary Clinton visitou Beirute nesta semana.

Ao mesmo tempo, apesar de a Síria ser aliada da facção do Hezbollah, na prática a relação entre Damasco e o grupo xiita não é tão boa quanto antes. Desde a morte de Imad Mughniyeh, comandante militar da organização em carro-bomba na capital síria, o Hezbollah passou a enxergar a Síria com suspeita. Em Beirute, especula-se que os sírios estariam por trás da ação.

Independentemente de quem vencer a eleição, o problema libanês persistirá. Até quando o país viverá sob linhas sectárias. E, mais importante, até quando o Hezbollah concordará que os xiitas não possuam os cargos de presidente e de premiê. Se quiser, o grupo toma o poder no Líbano em poucas horas. Hoje, isso não deve acontecer. Mas em alguns anos é bem possível.

O que está claro, atualmente, é o constante declínio da força dos cristãos. Divididos, eles se tornaram coadjuvantes nas coalizões políticas. Hoje, o poder é disputado entre xiitas e sunitas.
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