sexta-feira, 27 de março de 2009

Teto para salários de jogadores [Update]

Pin It
Há aproximadamente uma semana, foi divulgado em diversos sites e portais noticiosos, a informação de que diversos clubes brasileiros e o Clube dos 13 iniciaram discussões e consultas sobre a possibilidade da implantação de um teto para o salário de jogadores no Brasil.

Eis a notícia:

Os clubes brasileiros iniciaram nos últimos dias discussões para o estabelecimento de um teto salarial nacional para jogadores profissionais de futebol. Seria a primeira medida efetiva contra a crise mundial.

A Folha apurou que a ideia surgiu de discussões entre os presidentes do Clube dos 13, Fábio Koff, e do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo.

Os dois já tiveram várias conversas sobre o tema e pretendem colocá-lo em pauta nas próximas reuniões do C13, associação que reúne os principais clubes brasileiros.

Belluzzo e Koff chegaram à conclusão de que, com a crise, é preciso adotar medidas para assegurar que os clubes tenham saúde financeira suficiente para garantir os acordos com os jogadores -algumas agremiações até teriam receitas suficientes para cobrir a folha de pagamento, mas naufragam nas dívidas acumuladas e adiantamentos de dinheiro.

Pela proposta, o teto seria proporcional à receita anual arrecadada por cada equipe.

Os cartolas também asseguram que os acordos em vigência serão respeitados e somente contratos firmados após a instituição do limite seriam submetidos à nova regra.

Procurado pela reportagem, o C13, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que só poderia comentar o assunto após realização da reunião dos clubes, ainda sem data marcada. Belluzzo não foi localizado.

Hoje, alguns clubes, como o São Paulo, seguem política de teto. O problema é que frequentemente se evolvem em atritos por um acusar o outro de "inflacionar o mercado".

"É preciso saber que tipo de acordo será feito. Mas, se alguém tirar o jogador do outro, por exemplo, ele pode prever multas ou outras punições", afirma o advogado Eduardo Carlezzo, diretor do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo, que não vê empecilhos legais para a implantação.

"O teto é uma questão interessante, que vem num momento bastante adequado."

Entretanto, Corinthians e São Paulo, por exemplo, veem com ressalvas a medida.

"Cada um tem sua realidade. Penso que é muito difícil no sistema capitalista definir tetos. A remuneração está ligada a benefícios", afirma o diretor de futebol são-paulino, João Paulo de Jesus Lopes.

"Os clubes devem conversar, mas, sob o olhar do economista, tabelamento de preço significa o mesmo que rasgar o Alcorão para o muçulmano", afirma o vice de marketing corintiano, Luis Paulo Rosenberg.

O Flamengo apoia a medida. E ainda sugere que o teto seja igual para todos. "Pode garantir maior competitividade às equipes", destacou Pedro Trengrouse, assessor da presidência. O dirigente rubro-negro, porém, ressalta que a atitude não deve servir só para driblar a crise mundial. "Isso não pode ser visto como uma coisa conjuntural. A situação financeira muda constantemente."

O Botafogo também é favorável, mas sugere que se leve em conta a idade e a qualidade do atleta. "A tendência é que isso [teto salarial] aconteça naturalmente", declarou o vice-presidente Antonio Mantuano.

Segundo ele, o clube já tenta adotar medida parecida ao cortar metade da folha salarial em relação a 2008 -caiu de R$ 2,3 milhões para R$ 1,15 milhão.

Fonte: Netvasco

Interessante.... Ousado, para dizer o mínimo!

Mas é inegável que os presidentes de São Paulo e Corinthians, tem argumentos fortes e é fácil concordar com eles - deixando antes claro que estes são, talvez, os clubes com melhor estrutura e saúde financeira ou, ao menos, melhores perspectivas futuras.

Pontos que vejo como problemáticos:

1. O teto seria baseado na realidade de qual ou quais clubes?

Sim, porque o São Paulo tem uma realidade, o Vasco tem outra, o Santa Cruz outra e imaginem o ASA de Arapiraca ou o América do Rio.

Se for imposto um teto ao nível do São Paulo, por exemplo, a realidade para a quase totalidade dos demais clubes não mudaria em nada. Evitaria, talvez, uma escalada futura mas, no curto prazo, não faria qualquer diferença para os demais clubes em termos de gastos e dívidas.

Se, por outro lado, o teto for menor, poderíamos enfrentar um êxodo de jogadores e talvez até clubes com dinheiro sobrando - o que não é necessariamente ruim, mas pode se tornar.

Com nosso histórico de cartolagem, dinheiro sobrando não é necessariamente coisa boa. E seria igualmente injusto, é possível afirmar, forçar um clube a economizar dinheiro que pode dispor em contratações mais audaciosas.

2. Com um teto, como evitar um êxodo ainda maior de jogadores?

Aí está o maior problema, se um jogador pode receber 500 mil por mês na europa, porque ficaria no Brasil em um clube que talvez pudesse pagar o mesmo mas é impedido, por lei, de lhe pagar mais que, digamos, 300 mil?

Amor à camisa não existe mais no futebol. Salvo raríssimos, quase extintos casos, impera o amor ao dinheiro.

Uma iniciativa isolada do Brasil não traria qualquer benefício ao futebol, a iniciativa deveria ser, pois, mundial.

3. O teto vale só para salários ou transferências?

Sim, porque o valor pago ao clube de origem de um jogador também faz enorme diferença e tem um grande peso. Não é só o salário o grande problema dos clubes mas também as multas rescisórias e os valores de transferência.

4. Desrespeitar o teto leva a que tipo de punições?

No país em que a maior parte dos clubes está na mais completa ilegalidade, não se tornaram empresas ou tem dívidas absurdas, criar mais e mais leis, por melhor intenção que tenham, não é garantia de cumprimento ou melhora.

Quem vai fiscalizar? Como vai se fiscalizar? E quem pune e como?

Na salada - ou lamaçal - atual de justiças se sobrepondo (comum e desportiva), de instâncias desautorizando outras, de cartolas fora-da-lei, acusados de lavagem de dinheiro e crimes financeiros e a mais completa e total impunidade, difícil acreditar em punições ou justiça no caso de desrespeito ao teto imposto.

5. Falamos em salários apenas ou o total, com direito de imagem?

Muitos jogadores recebem mais de direito de imagem que de salários reais.... É uma questão relevante, e muito.

6. Competitividade ou nivelamento por baixo?

Finalmente, será que o projeto realmente tornará nossos campeonatos mais competitivos, diminuindo a diferença gritante de investimentos entre os grandes clubes e, vá lá, os médios? Ou, na verdade, só teremos um nivelamento por baixo, sem qualquer competitividade externa?

Se bem que já estamos, no geral, nivelados por baixo....

----

Por outro lado, é inegável que a proposta, levada à sério, apesar de todos os prognósticos, tem seus méritos.

Claro, apesar do medo de nivelamento por baixo, de êxodo e etc, é fato que os clubes do Brasil não tem qualquer condição de competir com os de for,a da Europa.

Dito isto, não importa o quão milionário é o patrocínio de Corinthians, São Paulo e cia, não se compete com um Liverpool, um Chelsea, um Real Madrid e até mesmo um Dinamo de Kiev.

É curioso, faço um adendo, notar que um novo mercado, forte, foi aberto no Leste Europeu. Países como a Ucrânia e Rússia são agora um mercado em potencial para jogadores brasileiros, coisa jamais imaginada antes para países pós-soviéticos e comumente afundados em intermináveis crises.

Pensando desta maneira, a de que não temos mesmo como competir com os valores pagos lá fora, seria excelente a criação de um teto, desde que este pudesse ser mexido de comum acordo entre entidades (Governo, Clubes, Clube dos 13 e CBF), evitando uma quebradeira geral de clubes e talvez até a diminuição de dívidas e projetos mais conectados com a realidade do país e com a frágil realidade financeira dos clubes.

Mas, estamos no Brasil. Só isso já demonstra a dificuldade de implantar e, mais ainda, fiscalizar uma empreitada dessa monta.

Até hoje os clubes falham em se tornarem empresas, em gerir corretamente sua folha de pagamento e suas dívidas e estas se acumulam. raros são os clubes "limpos", não-endividados e com boas perspectivas de crescimento. O amadorismo ainda impera mas, pensando desse modo, um teto seria uma excelente ferramenta para coibir rompantes de grandeza e gastos descontrolados como é tão comum ver por aqui, basta nos lembrarmos do Vaso de Eurico no fim dos anos 90 e a consequente crise do começo do século e o atual Flamengo.
------