Do Acerto de Contas:
Deputado perde o senso que já não tinhaO deputado federal Jair Bolsonaro, militar e saudosista do regime ditatorial brasileiro, anda perdendo o bom senso que nunca teve. Desde 2005, ele estampa na porta de seu gabinete o cartaz que mostramos ontem, aqui no blog.
Na quarta-feira, o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, veio a Recife participar das solenidades em homenagem ao padre Henrique, discípulo de Dom Hélder Câmara, que foi morto cruelmente pelos agentes da ditadura militar, em maio de 1969 (leia sobre o episódio clicando aqui). No mesmo dia, a deputada Jô Moraes, do PCdoB de Minas Gerais (partido que, à margem dos direitos políticos à época, organizou a chamada “Guerrilha do Araguaia”), deu um discurso no Congresso Nacional contra o infame cartaz que Bolsonaro estampa com orgulho e estultícia na porta de seu gabinete.
Alguns deputados, que estavam próximos, afirmaram que Bolsonaro insultou provocativamente a deputada, com palavras dignas de um inadjetivável cidadão.
O deputado defensor do regime ditatorial teria dito que haveria problema em encontrar os “terroristas” mortos, haja vista que eles teriam sido enterrados em cova rasa e devorado pelos porcos.
Ainda finalizou a provocação estapafúrdia à deputada dizendo que sentia pena dos porcos…
Abusando de sua “autoridade” protegida sobre o inescrupuloso manto da imunidade parlamentar, o deputado Bolsonaro disse, em entrevista por telefone ao UOL Notícias, o seguinte: “Esses terroristas foram fazer o que lá? Pescar lambari? Não, eles foram tomar o poder.”
Segundo o UOL, o deputado falou que não tinha medo de ser cassado, nem sequer repreendido. E soltou essa pérola das profundezas do Mar Morto: “Eu tenho imunidade para que? Com certeza não é para se juntar a essa esquerda.”
O Partido Comunista do Brasil está impetrando uma representação junto ao Conselho de Ética contra Bolsonaro, por quebra do decoro parlamentar.
O partido alega que “é inegável ofensa moral aos familiares dos cidadãos e das cidadãs brasileiros que desapareceram na ditadura militar, em razão de terem participado da ‘Guerrilha do Araguaia’ “.
De acordo com a representação, a conduta do deputado “desrespeita o disposto no artigo 4º da Lei nº 9.140, de 4 de dezembro de 1995, que criou a Comissão Especial destinada a proceder o reconhecimento de pessoas desaparecidas e diversas circunstâncias. Esta Comissão Especial tem como atributo “envidar esforços para a localização dos corpos de pessoas desaparecidas no caso de existência de indícios quanto ao local em que possam estar depositados.”
O PCdoB também enfatiza a ofensa de Bolsonaro ao Poder Judiciário brasileiro, “que em processo judicial de familiares de pessoas desaparecidas decidiu o mérito da demanda, reconhecendo a responsabilidade da União pelo desaparecimento das pessoas objeto da ação e determinou que sejam disponibilizadas as informações que contribuam para identificar o paradeiro de seus corpos.”
Agora, se a Justiça brasileira reconhece a responsabilidade da União nestes crimes, resta saber por que os responsáveis ainda estão impunes, e por que os arquivos secretos do período ainda não foram abertos.
Não é possível que a Justiça reconheça a responsabilidade do Estado brasileiro, e distribua indulgências em forma de indenizações, mantendo uma Lei de Anistia que concede perdão geral aos agentes que torturaram e mataram seus compatriotas neste período obscuro da recente história do Brasil.
Do Joildo Santos:
Torturadores Nunca Mais
Na Câmara dos Deputados há de tudo, inclusive trogloditas políticos. Um deles, o deputado federal Jair Bolsonaro passou dos limites em matéria de sordidez. Ele tem afixado um cartaz na porta de seu gabinete em que aparece um cachorro com um osso na boca e a seguinte legenda: “Desaparecidos da Guerrilha do Araguaia, quem gosta de osso é cachorro”.
Na verdade, o capitão Bolsonaro sempre defendeu torturadores e figuras da área militar que serviram a ditadura que se instalou no Brasil depois de 1 de abril de 1964. Tem se notabilizado por pronunciamentos provocadores que são reproduzidos em sites de extrema-direita.
Ao discursar e adotar práticas provocativas, Bolsonaro na verdade está se comunicando com seguidores da extrema de direita, onde angaria votos.
Só que agora este parlamentar boquirroto de baixo nível ultrapassou os limites. Deve ser advertido e até mesmo objeto de uma rigorosa investigação da Comissão de Ética da Câmara, que pode levar a uma cassação de mandato se o parlamentar não retirar imediatamente o cartaz desrespeitoso às vítimas da guerrilha de Araguaia e seus familiares, além de pedir desculpas pela ofensa.
O que Bolsonaro fez se equipara ao que nazi-fascistas fazem em relação aos acontecimentos da II Guerra Mundial, muitos deles negando até a existência do Holocausto e sempre quando podem humilhando as vítimas da barbárie do III Reich. Bolsonaro pertence à mesma linhagem e não pode ser objeto de complacência da presidência da Câmara dos Deputados.
Michel Temer precisa se posicionar imediatamente, inclusive responder as manifestações de entidades defensoras dos direitos humanos que escreveram para ele protestando, como o Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo, contra o comportamento antiético de Jair Bolsonaro.
Se nada for feito no caso, Temer estará contribuindo para que a imagem do Congresso continue cada vez mais baixa em função não apenas da existência de um Bolsonaro, como de outros parlamentares que queimam tanto a Câmara dos Deputados como o Senado.
Como Temer precisa ser pressionado para se manifestar sobre qualquer coisa, é preciso que os leitores se empenhem no sentido de divulgar o que Bolsonaro fez e exigir que a mídia hegemônica noticie o caso. Se Michel Temer ler alguma coisa num dos jornalões de circulação nacional sobre o caso ou ser perguntado em algum telejornal, é possível então que o presidente da Câmara dos Deputados tome providências em relação ao parlamentar troglodita político.
Se Bolsonaro for beneficiado pelo silêncio da mídia, aí então dificilmente Temer e mesmo os integrantes da Comissão de Ética adotarão alguma medida. Bolsonaro e os seus amigos torturadores continuarão fazendo pronunciamentos justificando os anos de chumbo e apostando na impunidade.
Na Argentina, no Chile, no Uruguai e Paraguai se um troglodita contumaz tiver o mesmo comportamento de Bolsonaro, o referido estará com seus dias contados na política. Mais cedo ou mais tarde será removido para o lixo da história ou ainda punido por prestar solidariedade a torturadores.
Em suma: Bolsonaro e torturadores nunca mais!