Mostrando postagens com marcador Ditadura. Protesto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ditadura. Protesto. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Cordão da Mentira: Não esqueceremos os crimes da Ditadura

"Ao contrário dos outros países latino-americanos, no Brasil não houve justiça de transição. Os responsáveis por crimes como tortura e desaparecimento de corpos, chamados de lesa-humanidade, não foram julgados. O Estado brasileiro não investigou os crimes cometidos pela ditadura, mesmo tendo sido condenado internacionalmente pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Isso demonstra que os interesses que levaram os militares ao poder continuam fortes e operantes no cenário político. Não satisfeitos, os militares ainda resolveram satirizar e fazer pouco caso da sociedade brasileira, em mais uma confraternização de celebração. Peguntamos a eles: o que devemos celebrar?". (Trecho do manifesto do "Cordão da Mentira", retirado do Blog do Chico).
Mais de 300 pessoas no auge da manifestação - e possivelmente mais de 500 ao longo de toda a marcha - caminharam desde o Cemitério da Consolação, local onde descansa o corpo da múmia Plínio Corrêa, fundador da TPF, passando pela Maria Antônia, local onde se deu a famosa Batalha da Maria Antônia, onde um estudante da USP foi assassinado pelo CCC (Comando de Caça aos Comunistas),  pela sede (oratório) da TFP em Higienópolis, pelo Minhocão, Folha de São Paulo, Cracolândia e, finalmente, terminando no DOPS, na região da Luz.

Pude ficar apenas até chegarmos ao Minhocão por motivos de saúde - problema muscular na perna, doía pacas caminhar -, mas nas 5 horas em que participei do protesto pude fotografar e gravar diversas demonstrações de emoção e repúdio pela pseudo-democracia em que vivemos, onde militares torturadores e assassinos continuam na mais completa impunidade, com referendo e apoio do atual governo, que se diz de esquerda, mas que se recus a obedecer ordem da CIDH/OEA e rever a Lei da Anistia, decidida pelos militares para se auto-anistiar.

Cantamos durante todo o percurso sambas compostos por ativistas denunciando nossa situação e os crimes não só do passado, mas do presente, como os Crimes de Maio, relembrados pelas queridas Mães de Maio que nos acompanharam por todo o percurso, denunciando que a Ditadura, ou ao menos a repressão contra a população, não acabou e nem acabará tão cedo. Não sem que antes haja uma abertura total dos arquivos, uma reparação completa, a punição exemplar dos criminosos de ontem e, então a punição dos torturadores de hoje.

Como descreveu o Pádua Fernandes:
A multidão desceu a Rua da Consolação, entrou na Maria Antônia, onde foi feita uma homenagem ao estudante José Guimarães, morto pelo CCC (Comando de Caça aos Comunistas) em 1968; desceu até a imagem da Nossa Senhora que a TFP preserva na Rua Martim Francisco. Em seguida, na Rua Fortunato, outra homenagem, ao militante da ALN Marco Antonio Braz (vê-se, na foto, o ativista e ex-preso político Alípio Freire com flores para o homenageado).
Depois de parar na frente de um jornal paulista, com direito a um esquete que incluía a leitura de um curioso editorial que já comentei no blogue (no primeiro post sobre a Comissão da Inverdade), a multidão seguiu e chegou ao prédio do antigo DOPS, hoje Estação Pinacoteca (que abriga o Memorial da Resistência), quase às dezoito horas.
Foi um protesto alegre, com muita música, permeado por homenagens à vítimas de ontem e de hoje, sarau de poesia na concentração (ótimas apresentações do pessoal dos diversos saraus da periferia da cidade e da Grande São Paulo), discursos acalorados, apresentações teatrais e uma longa caminhada pelo centro de São Paulo.

Estão - estamos - todos de parabéns e que o primeiro de abril seja sempre lembrado desta forma, com total repúdio ao GOLPE, mas com muita força de vontade e persistência na denúncia dos crimes cometidos pelo Estado.

Exigimos justiça, verdade, abertura dos arquivos e a punição dos criminosos.

----
Foi um prazer enorme encontrar com velhos amigos e conhecidos militantes como Alípio Freire, Lúcio Flavio de Almeida, Lino Bocchini, Débora (Mães de Maio), Danilo Dara, Lúcia Rodrigues, Criméia Almeida, Marcelo Zelic, Júnior (Levante Popular), Pádua Fernandes, Fabio Weintraub, Carlos Carlos e tantos outro(a)s!
----

------

sexta-feira, 25 de março de 2011

Sobre discurso e ações, os protestos na Síria

Alguns governos são incapazes de sustentar seus discursos não só frente às evidências, mas também frente a suas próprias atitudes.

Ao assistir uma coletiva de imprensa na BBC sobre os conflitos entre manifestantes e forças policiais na cidade de Deraa - em que mais de 25 podem ter morrido -, a porta-voz do governo anunciava de forma veemente que os manifestantes seriam, na verdade, gangues de marginais financiados por agentes estrangeiros para desestabilizar o governo.

De início, temos o discurso padrão de ditadores Árabes frente à protestos: Países ou agentes estrangeiros (ou mesmo grupos terroristas) financiando grupos para desestabilizar o governo. Um discurso que, mesmo que seja verdade em um ou outro lugar, não tem qualquer credibilidade - especialmente em ditaduras.

Fosse caso Sírio isolado - e toda a região não estivesse em convulsão - até poderíamos tentar acreditar que EUA ou Israel estariam tentando desestabilizar um regime inimigo, mas dificilmente este seria o caso atual.

A desculpa-padrão de ditaduras árabes, porém, é o menor dos problemas. A questão central, no entanto, é a disparidade entre o discurso destes governos e suas ações.

Se tomarmos as palavras da porta-voz como verdadeiras, que se tratam de gangues, logo, criminosos que não representam a vontade da população - pior, representam interesses estrangeiros - porque então o governo aceitou realizar reformas políticas no país?
Syria’s official news agency SANA continues to blame “armed gangs” for attacks against security forces, publishing pictures of weapons and ammunitions purportedly found inside the al-Omari Mosque.
For the news agency “Foreign circles” are to blame for the “lies about the situation in Daraa” (Deraa). In fact, “more than one million SMS were sent from outside Syria, most of which are from Israel inciting Syrians to use the mosques as launch pads for riots.” Likewise, “photographers and journalists in Daraa reported that they have been receiving death threats through SMS messages from abroad warning them against reporting the crimes committed by the criminals of the armed gangs against civilians.”
Oras, se as demandas dos manifestantes, ops, marginais, não representa a vontade do povo, porque então reformas para contentar o povo? Este não está feliz?

Como se vê, o discurso externo, para a imprensa, em meio a todas as ofensas e acusações de fabricação de notícias, de exageiro no número de mortos e etc, é um, mas as ações deste governo e mesmo o discurso para dentro, para a população, é outro completamente diferente.

Apenas em um funeral pelas vítimas da violência policial em Deraa, mais de 20 mil pessoas se reuniram e protestaram. Uma gangue realmente gigantesca!

Assim como as gangues no Egito e na tunísia - que derrubaram o governo - ou os terroristas da Al Qaeda que devem ser contados aos milhões em todo o leste e mesmo em parte do oeste da Líbia! Mais marcante, no caso da Líbia, e que os EUA e aliados estão infringindo até mesmo o disposto na resolução 1973 para ajudar os terroristas da Al Qaeda.

É compreensível este duplo discurso, esta tentativa de falsear a realidade, de esconder os fatos, mas sem dúvida o serviço poderia ser feito com um pouco mais de qualidade e comprometimento.

Isto é ainda mais válido quando representantes do mesmo governo discursam acusando os manifestantes de serem membros de gangue declaram que "As demandas do povo de Deraa estão sob estudo e análise. Elas são justas. Num período próximo testemunharemos decisões em todos os níveis".

Falta de capacidade de mentir ou simplesmente acham que todos comprarão a farsa?

------

sábado, 20 de março de 2010

O PIG não sabe contar? [2] Agora aprendeu?

Aparentemente o PIG aprendeu a contar. Continua sendo mentiroso e manipulador, mas já sabe que 1 a favor versus 1 contra não significa vitória do contra.


Comentei neste artigo sobre o fato do UOL ter categoricamente afirmado que Lula havia cometido uma Gafe ao não visitar o túmulo do nazi-sionista Theodore Herzl em sua visita ao Oriente Médio. O detalhe é que foram entrevistados dois especialistas, um concordou com o Uol e o outro não. A decisão do Uol foi ignorar a matemática - e a decência - e dizer que, de fato, havia sido gafe.


Pois bem, aparentemente o PIG aprendeu a contar, aprendeu a lição. Mas continua faltando com a verdade.

A novidade agora é a seguinte notícia: "Brasil não possui influência suficiente para ser um mediador de peso no Oriente Médio, dizem analistas".

Os especialistas, desta vez, são o ex-embaixador do Brasil nos EUA (nomeado por FHC, claro), defensor da consumação do golpe em Honduras e figurinha carimbada da "Agência Tucana", Rubens Barbosa, o professor Reginaldo Nasser (o único efetivamente especialista no assunto e, obviamente, o único a discordar da visão do PIG) e, novamente, nosso amigo Gilberto Sarfati que dispensa apresentações. Aliás, cabe retomar o artigo anterior para apresentá-lo devidamente:

Gilberto Sarfati, especialista em Relações Internacionas EMPRESARIAIS (Negócios Internacionais e não em Política Internacional, tampouco em Oriente Médio) e Mestre pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Sem dúvida, não só um especialista em Oriente Médio como absolutamente isento.

Engraçado que para um suposto especialista em Oriente Médio, o professor Safarti tenha, em seu lattes, a incrível soma de DOIS artigos sobre o assunto publicados... Aliás, o nosso querido Sarfati é ligado diretamente à Federação Israelita do Estado de São Paulo, logo, nem um pouco isento, tendo servido como porta voz para o trabalho sujo da mesma na defesa dos genocídios cometidos por Israel.

- RÁDIO BAND NEWS E RADIO CBN: O professor Gilberto Sarfati foi indicado pela Federação para estes dois veículos, onde concedeu entrevistas e deu um panorama sobre o conflito e os reais motivos do ataque israelense ao terrorismo.
------

sábado, 4 de julho de 2009

Honduras: Dias de sítio [2]



Zelaya deve, amanhã, retornar de vez à Honduras e, segundo o mesmo, acompanhado de diversos presidentes da América Latina. Cristina Kirchner é uma certeza e Correa uma possibilidade. O presidente golpista, Mciheletti afirma que prenderá Zelaya quando este chegar ao aeroporto, é esperar para ver.

O governo golpista já demonstrou sua fraqueza, sentiu que seu isolamento é tremendo e irreversível e cedeu um pouco ontem, ao afirmar que poderiam realizar um referendo para aceitar ou não Zelaya de volta. Duas coisas surgem daí, uma a de que estão querendo ganhar tempo, pois a organização de um referendo não se faz um um dia - e neste meio tempo a pressão internacional poderia diminuir e abrir caminho para manipulações e etc - e outra a de que o golpe foi mal planejado, precipitado, infantil. Talvez os golpistas esperassem apóio dos EUA, não contassem com a guinada do governo americano, e acabaram sós, sem apóio, sem o óleo venezuelano, ameaçados de suspensão na OEA e nos demais organismos multilaterais.

Uma coisa é certa, se no Irã a pressão contra Ahmadinejad diminuiu e os protestos foram, até certo ponto, controlados e agora luta-se para evitar penas de morte ou pesadas contra os manifestantes - política de apagar o fogo, infelizmente - em Honduras o povo se mantém nas ruas protestando e a pressão internacional é constante e dificilmente o governo golpista se manterá no poder.

A imprensa hondurenha e internacional que tentam noticiar os protestos e a repressão no país vem sendo constantemente censuradas, o excelente blog Contracorriente vem fazendo uma interessante cobertura deste aspecto do golpe.
"Globo era una de las pocas emisoras que informaba sobre lo que ocurría en Honduras, mientras la prensa de derecha desvió su programación. La emisora había presentado un análisis según el cual un 95% de los medios de ese país dejaron de transmitir cualquier tipo de información relacionada con el golpe de Estado.

Las acciones pasaron del bloqueo y cierre a la agresión. Decenas de comunicadores fueron atacados por militares, policías y por manifestantes."
O jornalista da TeleSur que vem cobrindo os protestos comenta neste momento que os jornalistas estão sendo extremamente cautelosos e discretos para não sofrerem qualquer represália por parte do governo golpista e estão tendo que tomar muito cuidado quando andam nas ruas.

Vários jornalistas e manifestantes já foram presos.

A maior parte das informações sobre o golpe em Hoduras vem da TeleSur, neste momento estão mostrando uma manifestação gigantesca pró-Zelaya e pró-democracia nas ruas de Tegucigalpa.

Mais de 20 mil, segundo o El Tiempo marcham em direção à casa presidencial em apóio à Zelaya.
-----------------------------------------

Autores do golpe em Honduras.
-----------------------------------------
Na página da Presidência de Honduras é rir para não chorar. Uma foto de Micheletti e a seguinte inscrição:
"Construimos juntos el Gobierno Hondureño de:
  • La reconciliación y el diálogo nacional.
  • El respeto y la integración internacional.
  • El imperio de la ley.
  • Y el progreso de los ciudadanos."
    --------------------------------------

    Há poucos minutos o Arcebispo (Cardeal?) de Tegucigalpa, Oscar Andrés Rodríguez, fez um comunicado pelas TV's do país conclamando o povo a apoiar o golpe!O.o A posição da igreja não surpreende, visto que SEMPRE apoiaram golpes pela América Latina, vide o caso Brasileiro.

    No Brasil, ao menos, boa parte da base eclesiástica reviu sua posição, ams não apaga o fato de terem apoiado o regime militar brasileiro em seu início e ainda por muito tempo.

    O Arcebispo Rodríguez pediu ao povo para lembrar de três dos dez mandamentos:

    ''On the day of your inauguration you cited three commandments of the rules of God -- not to lie, not to steal, not to kill,'' Rodríguez said. ``If you respect life, if you love life. . .please meditate because if not it could be too late.''

    Rodríguez pediu à OEA e à Comunidade Internacional que reconsiderem seu apóio a Zelaya.

    Lamentável!

    "'To the Organization of American States, please pay attention to everything illegal that was happening before the 28th of June,'' Rodríguez said. ``This is a community that will define our own destiny without any unilateral pressures. We renounce any blockades, which will only hurt the poor.''

    Dressed in the traditional black shirt, coat, and priestly white collar, Rodríguez said he spoke on behalf of 11 other Catholic bishops who signed a statement ``in support of peace.''

    ----------------------------------
    Excelente artigo do Blog do Nassif.
    ----------------------------------
    @AntonioVM, pelo Twitter, dá os números:
    Un total de dos muertos, 37 heridos y 360 detenidos es el balance de la represión golpista
    ----------------------------------
    No aeroporto de Tegucigalpa, por onde Zelaya chegará amanhã e onde se encontram milhares de manifestantes, há dezenas de atiradores de elite do exército a postos para atirar!

    ------

    quinta-feira, 2 de julho de 2009

    Honduras: Sob o Estado de Sítio

    O Jornal golpista El Heraldo noticia que Israel e Taiwan reconheceram o governo golpsita de Micheletti. Até agora nenhuma confirmação independente mas, ao menos da parte de Israel, não surpreenderia. Nação genocida apóia nação golpista. Nada de fora do comum.

    Pelo Twitter o Idelber Avelar informa que o sinal da TeleSur foi bloqueado. Além de cortes de energia, censura à imprensa e Estado de Sítio, nada mais de TV independente no país.

    O El Heraldo, ainda, cobre uma manifestação de apoiadores do Golpe na capital. Este protesto, pelo visto, não foi proibido pelo governo que, por outro lado, espanca a oposição em marcha e proíbe manifestações de apóio a Zelaya.

    A tentativa torpe de tentar legitimar o golpe é flagrante. Não houve golpe, houve uma sucessão baseada na ordem constitucional! Claro, expulsaram o presidente, colocaram alguém no poder sem qualquer participação popular, o exército foi às ruas, foi baixado o Estado de Sítio... MAs tudo isso na maior normalidade democrática!

    La manifestación pacífica comenzó a las 10:00 de la mañana con aproximadamente 25,000 personas, pero a medida avanza va creciendo.

    Este es nuestro apoyo a la democracia y al nuevo gobierno, dijo María Antonieta Votto, mientras caminaba entre una muchedumbre que no paraba de gritar: “Fuera Mel, fuera Chávez”.

    Este es el gran apoyo que el pueblo de Honduras le está dando al nuevo gobierno, porque la gente quiere vivir en paz y democracia. “Le pedimos a Mel (Manuel) Zelaya que no venga a Honduras porque aquí no lo queremos”, expresó Votto.

    Diferentes disertantes manifestaron que el mundo debe entender que en Honduras no se ha dado un golpe de Estado, pues lo que sucedió fue una suceción basada en el orden constitucional.

    A honestidade do jornal se mostra ainda maior, ele mostra o "outro lado", uma manifestação de 500 pessoas pró-Zelaya... Lamentável o nível a que chega o PIG, aqui e lá!

    O Blog Honduras Resistência dá outra visão dos protestos dos pró-Zelaya que o PIG finge não ver.

    O que a imprensa não mostra, no Twitter vira notícia, e de lá saem denúncias de mais conflito, tiros e possíveis mortos em enfrentamentos do Exército com manifestantes pró-democracia. Gás lacrimogêneo é usado a todo momento contra a população desarmada e pacífica. Em Honduras todos os meios que tentam transmitir os pronunciamentos de Zelaya são bloqueados e censurados.



    ------

    domingo, 31 de maio de 2009

    Buzinaço Nacional Contra Gilmar "Dantas" Mendes

    Via Blog Fora Gilmar:

    Fora Gilmar Mendes! Buzinaço nacional pela renúncia ou cassação do presidente do STF


    Dia 1º de junho, comemoramos os 25 anos do Comício das Diretas de Brasília e da Sinfonia das Buzinas, realizados em 1º de junho de 1984.

    Buzine nesse dia, às 18h25, durante 25 segundos.
    ------

    Rapto de Crianças durante o Franquismo

    Ditador sanguinário, Francisco Franco


    “Lo llevaron a bautizar y no me lo devolvieron. Yo reclamaba el niño, y que si estaba malo, que si no estaba. No lo volví a ver”

    Não foi apenas na Argentina que a Ditadura tinha por hábito sequestrar crianças e bebês e entregar à famílias adotivas, normalmente militares ou apoiadores do regime. Na Espanha, durante o regime Franquista, a prática também era comum e estima-se que 30 mil crianças tenham sido sequestradas duranteo regime fascista de Franco - cuja ideologia é personificada até hoje pelo Partido Popular e pelo Rei.

    Via Boltxe e foto Diagonal:

    "Los 30.000 menores robados del Franquismo

    “Lo llevaron a bautizar y no me lo devolvieron. Yo reclamaba el niño, y que si estaba malo, que si no estaba. No lo volví a ver”. Éste es el testimonio de Emilia Girón, que dio a luz en el hospital de la cárcel de Salamanca en 1941. Su delito, ser hermana de un guerrillero. Este caso y otros están recogidos [….] en la Audiencia Nacional presentados por la Asociación para la Recuperación de la Memoria Histórica (ARMH). En el auto se dice que los niños perdidos son víctimas del Franquismo y que había un plan de desapariciones para eliminar oponentes.

    El caso de Emilia Girón no es único, se calculan más de 30.000 los niños robados a familias “no afectas”. 70 años después poco se sabe de aquel episodio aberrante de la dictadura. Irredentas (2002) de Ricard Vinyes recompone el puzzle. Vinyes basó parte de su investigación en testimonios de presas recogidos por Tomasa Cuevas, también presa.

    Después de la guerra, la represión fue brutal. Miles de personas fueron encarceladas e incluso se habilitaron conventos como prisiones. A ellas fueron a parar muchas mujeres.

    La cárcel de Ventas, concebida como un edificio moderno por Victoria Kent, se convirtió en un lugar infame. Tomasa Cuevas lo describe como un gigantesco almacén de mujeres. Antonia García dice: “Sólo recuerdo la locura de mi primer día en la sala de prisión: un sitio para 500 personas albergaba a 11.000. Las mujeres se tiraban al suelo a la vez, no había más sitio”.

    Las presas vivían hacinadas con sus hijos y, pronto, la masificación supuso un problema, no humanitario, sino económico y administrativo. Mirta Núñez Balart, historiadora, calcula que en 1939 había 280.000 presos. Hoy con el doble de población son unos 60.000.

    Las embarazadas con pena de muerte eran fusiladas nada más dar a luz, como relata Carlos Fonseca en Trece rosas rojas. Trinidad Gallego, matrona, fue encarcelada y ayudó a parir a sus compañeras de prisión. A sus 95 años recuerda para Diagonal que “allí los niños los disfrutaba la Topete [la directora María Topete]. Las madres estaban separadas de sus hijos, si devolvían, ellas no podían cuidarlos. Sarna, piojos, sin apenas comida ni agua. Morían muchos. Con tres años se los llevaban, si tenían familia, pero entonces todos estaban en la cárcel e iban a parar a los hospicios o no se sabe”.

    En los ‘40 se abrió una prisión para madres lactantes en Madrid. Las presas pensaron que las condiciones mejorarían. Mercedes Núñez, presa política, dice en Mujeres caídas de Mirta Núñez: “Ninguna madre podía cuidar de su hijo. Los niños vivían separados en un patio aparte y ellas trabajaban en talleres más de diez horas diarias”. En Santurrán (País Vasco) las monjas mandaron salir a las presas al patio. Cuando volvieron, sus hijos habían desaparecido. Ya no existían, no habían sido inscritos en el registro de entrada.

    Teorías de inspiración nazi

    El rapto se convirtió en ‘legal’ por la Orden de 30 de marzo de 1940 que da la patria potestad al Estado. El general y médico Vallejo Nájera, formado en Alemania e ideólogo del régimen, afirmaba que era necesario “extirpar el gen marxista” y recomendaba el traslado de los niños a hospicios para “la eliminación de los factores ambientales que conducen a la degeneración”. Para ello, aplicó descargas eléctricas a los presos y otros experimentos.

    La Iglesia regía todos los órdenes de la vida, los internados moldeaban a los niños, mientras el régimen los presentaba como “sacados de la miseria material y moral”. Victoriano Ceruelo, de 65 años, estuvo en Zamora: “Desde los cinco años, todos los días nos levantaban a las 5h. de la mañana para ir a misa. Los domingos venían familias y las monjas nos ponían en fila. Y decían ‘me gusta ése’, y se lo llevaban. Un día me tocó a mí, pero él le daba mala vida a mi madre y ella se suicidó”. Hasta hace poco iba cada año a preguntarle a la superiora quiénes eran sus padres. Ella le decía: “No tienes derecho a remover”.

    El 4 de diciembre de 1941 una ley autorizó cambiar los apellidos “si no se pudiera averiguar el Registro Civil en que figuren inscritos los nacimientos de los niños que los rojos obligaron a salir de España y que sean repatriados [23.000 volvieron]. Igual inscripción se hará a los niños cuyos padres y demás familiares murieron o desaparecieron durante el Glorioso Movimiento Nacional”.

    Fernando Magán, abogado de la ARMH, señala que “eso es la transposición de un decreto nazi a España. Lo que subyace es el exterminio de una clase social, los rojos. La eliminación de las ideas por la vía del exterminio de las personas. Hubo un momento –continúa Magán– en el que se instruyó a la policía judicial para abrir los archivos parroquiales. Pero la sala de lo penal, la misma que condenó a Scilingo, cerró sumario”.

    También el orden moral impuesto repudiaba a las mujeres si su unión no era bendecida. En el programa de Paco Lobatón (TVE) ¿Quién sabe dónde? afloraron miles de casos. Sensibilizado, Lobatón fundó Derecho a Saber (ANDAS), junto a varias afectadas. A partir de ahí, el programa fue incómodo.

    El caso de María Fe Fernández (Pamplona) se resolvió en la tele. La suya fue madre soltera: “Si se quedaban embarazadas iban a parar al convento hasta que daban a luz, luego a la maternidad, allí el capellán hacía las gestiones. Las engañaban y los hijos iban para militares, ricos o familias humildes (a cargo de curas)”. Dice que hay casos en Argentina, Italia, Alemania o Austria.

    Avanzada la dictadura el secuestro de bebés continúa. Ahora, Mar Soriano busca a su hermana. Su madre falleció hace unos días. “Mi hermana nació en 1964 en la Maternidad de O’Donnell (Madrid), parecía sana, pero la metieron en la incubadora y un día le dijeron a mis padres que había muerto y que ya la habían enterrado. Ellos estaban aturdidos, eran gente humilde y no sabían qué hacer. Les dieron la partida de defunción y decía que un general mandó enterrarla. A mí me contaron que mi hermana murió. Por mi trabajo doy conferencias en el extranjero para personas sordas. Y en 1997, en Austria, se me acercó alguien que me dijo que conocía a mi familia en Klangerfür, que si el padre era alemán, su hija era igual a mí, mi misma cara, pelo… Dije que no. Hace unos meses empecé a atar cabos”. También desconocía el caso de una madre que ha localizado en Austria a su bebé robado en Madrid. La Iglesia tiene los archivos, pero ninguna ley obliga a abrirlos.

    María José Esteso Poves"

    ------

    sexta-feira, 29 de maio de 2009

    Bolsonaro e a Direita fanática brasileira: Saudosismo da tortura!

    O Cartaz do criminoso Bolsonaro

    Do Acerto de Contas:

    Deputado perde o senso que já não tinha

    O deputado federal Jair Bolsonaro, militar e saudosista do regime ditatorial brasileiro, anda perdendo o bom senso que nunca teve. Desde 2005, ele estampa na porta de seu gabinete o cartaz que mostramos ontem, aqui no blog.

    Na quarta-feira, o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, veio a Recife participar das solenidades em homenagem ao padre Henrique, discípulo de Dom Hélder Câmara, que foi morto cruelmente pelos agentes da ditadura militar, em maio de 1969 (leia sobre o episódio clicando aqui). No mesmo dia, a deputada Jô Moraes, do PCdoB de Minas Gerais (partido que, à margem dos direitos políticos à época, organizou a chamada “Guerrilha do Araguaia”), deu um discurso no Congresso Nacional contra o infame cartaz que Bolsonaro estampa com orgulho e estultícia na porta de seu gabinete.

    Alguns deputados, que estavam próximos, afirmaram que Bolsonaro insultou provocativamente a deputada, com palavras dignas de um inadjetivável cidadão.

    O deputado defensor do regime ditatorial teria dito que haveria problema em encontrar os “terroristas” mortos, haja vista que eles teriam sido enterrados em cova rasa e devorado pelos porcos.

    Ainda finalizou a provocação estapafúrdia à deputada dizendo que sentia pena dos porcos…

    Abusando de sua “autoridade” protegida sobre o inescrupuloso manto da imunidade parlamentar, o deputado Bolsonaro disse, em entrevista por telefone ao UOL Notícias, o seguinte: “Esses terroristas foram fazer o que lá? Pescar lambari? Não, eles foram tomar o poder.”

    Segundo o UOL, o deputado falou que não tinha medo de ser cassado, nem sequer repreendido. E soltou essa pérola das profundezas do Mar Morto: “Eu tenho imunidade para que? Com certeza não é para se juntar a essa esquerda.”

    O Partido Comunista do Brasil está impetrando uma representação junto ao Conselho de Ética contra Bolsonaro, por quebra do decoro parlamentar.

    O partido alega que “é inegável ofensa moral aos familiares dos cidadãos e das cidadãs brasileiros que desapareceram na ditadura militar, em razão de terem participado da ‘Guerrilha do Araguaia’ “.

    De acordo com a representação, a conduta do deputado “desrespeita o disposto no artigo 4º da Lei nº 9.140, de 4 de dezembro de 1995, que criou a Comissão Especial destinada a proceder o reconhecimento de pessoas desaparecidas e diversas circunstâncias. Esta Comissão Especial tem como atributo “envidar esforços para a localização dos corpos de pessoas desaparecidas no caso de existência de indícios quanto ao local em que possam estar depositados.”

    O PCdoB também enfatiza a ofensa de Bolsonaro ao Poder Judiciário brasileiro, “que em processo judicial de familiares de pessoas desaparecidas decidiu o mérito da demanda, reconhecendo a responsabilidade da União pelo desaparecimento das pessoas objeto da ação e determinou que sejam disponibilizadas as informações que contribuam para identificar o paradeiro de seus corpos.”

    Agora, se a Justiça brasileira reconhece a responsabilidade da União nestes crimes, resta saber por que os responsáveis ainda estão impunes, e por que os arquivos secretos do período ainda não foram abertos.

    Não é possível que a Justiça reconheça a responsabilidade do Estado brasileiro, e distribua indulgências em forma de indenizações, mantendo uma Lei de Anistia que concede perdão geral aos agentes que torturaram e mataram seus compatriotas neste período obscuro da recente história do Brasil.

    Do Joildo Santos:

    Torturadores Nunca Mais

    Na Câmara dos Deputados há de tudo, inclusive trogloditas políticos. Um deles, o deputado federal Jair Bolsonaro passou dos limites em matéria de sordidez. Ele tem afixado um cartaz na porta de seu gabinete em que aparece um cachorro com um osso na boca e a seguinte legenda: “Desaparecidos da Guerrilha do Araguaia, quem gosta de osso é cachorro”.

    Na verdade, o capitão Bolsonaro sempre defendeu torturadores e figuras da área militar que serviram a ditadura que se instalou no Brasil depois de 1 de abril de 1964. Tem se notabilizado por pronunciamentos provocadores que são reproduzidos em sites de extrema-direita.

    Ao discursar e adotar práticas provocativas, Bolsonaro na verdade está se comunicando com seguidores da extrema de direita, onde angaria votos.

    Só que agora este parlamentar boquirroto de baixo nível ultrapassou os limites. Deve ser advertido e até mesmo objeto de uma rigorosa investigação da Comissão de Ética da Câmara, que pode levar a uma cassação de mandato se o parlamentar não retirar imediatamente o cartaz desrespeitoso às vítimas da guerrilha de Araguaia e seus familiares, além de pedir desculpas pela ofensa.

    O que Bolsonaro fez se equipara ao que nazi-fascistas fazem em relação aos acontecimentos da II Guerra Mundial, muitos deles negando até a existência do Holocausto e sempre quando podem humilhando as vítimas da barbárie do III Reich. Bolsonaro pertence à mesma linhagem e não pode ser objeto de complacência da presidência da Câmara dos Deputados.

    Michel Temer precisa se posicionar imediatamente, inclusive responder as manifestações de entidades defensoras dos direitos humanos que escreveram para ele protestando, como o Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo, contra o comportamento antiético de Jair Bolsonaro.

    Se nada for feito no caso, Temer estará contribuindo para que a imagem do Congresso continue cada vez mais baixa em função não apenas da existência de um Bolsonaro, como de outros parlamentares que queimam tanto a Câmara dos Deputados como o Senado.

    Como Temer precisa ser pressionado para se manifestar sobre qualquer coisa, é preciso que os leitores se empenhem no sentido de divulgar o que Bolsonaro fez e exigir que a mídia hegemônica noticie o caso. Se Michel Temer ler alguma coisa num dos jornalões de circulação nacional sobre o caso ou ser perguntado em algum telejornal, é possível então que o presidente da Câmara dos Deputados tome providências em relação ao parlamentar troglodita político.

    Se Bolsonaro for beneficiado pelo silêncio da mídia, aí então dificilmente Temer e mesmo os integrantes da Comissão de Ética adotarão alguma medida. Bolsonaro e os seus amigos torturadores continuarão fazendo pronunciamentos justificando os anos de chumbo e apostando na impunidade.

    Na Argentina, no Chile, no Uruguai e Paraguai se um troglodita contumaz tiver o mesmo comportamento de Bolsonaro, o referido estará com seus dias contados na política. Mais cedo ou mais tarde será removido para o lixo da história ou ainda punido por prestar solidariedade a torturadores.

    Em suma: Bolsonaro e torturadores nunca mais!

    Mário Jakobskind

    ------

    quarta-feira, 13 de maio de 2009

    Controle da Internet [2]

    Mês passado comentei aqui sobre o projeto de lei francês sobre o controle da internet e a possível suspensão de quem baixar arquivos piratas.

    Antes, por falta de quorum, a lei foi preprovada. Agora, com todos presentes, foi aprovada por maioria pelos conservadores aliados de Sarkozy.

    É um retrocesso tremendo e um perigo para a liberdade de todos na Internet.

    Parlamento francês aprova controvera lei antipirataria

    RIO - O parlamento francês aprovou nesta terça-feira uma lei que permite que autoridades rastreiem downloads ilegais na internet e cortem a conexão de quem transgedir as regras por mais de três vezes.

    De acorco com a legislação, os "piratas" da internet receberão dois avisos antes de ter sua conexão cortada após a terceira notificação, por um período de um ano. Durante esse tempo eles serão obrigados a continuar pagando o provedor. Os opositores criticam essa dupla punição e defendem que o acesso à internet é um direito fundamental.

    Organizações de defesa dos consumidores temem ainda que o monitoramento online intrusivo e alertam que internautas inocentes podem ser punidos se tiverem suas conexões invadidas e utilizadas por hackers.

    - Essa é uma lei ineficiente, ultrapassada e impraticável - disse o parlamentar socialista Patrick Bloche.

    A aprovação representa uma vitória do presidente Nicolas Sarkozy, que apoia a controvera lei, e uma derrota para a oposição socialista que entrou em conflito com muitos de seus tradicionais partidiários no mundo das artes ao enfrentar a medida.

    A esposa de Sarkozy, a ex-modelo e atualmente cantora Carla Bruni, teria sido uma das principais defensoras da legislação, que pretende proteger a indústria da música e do cinema.

    Uma primeira tentativa de aprovar a proposta falhou no mês passado, quando poucos partidários de Sarkozy apareceram para votar. Nesta terça o mesmo problema não se repetiu, e a lei foi aprovada com 296 votos contra 233.

    A proposta agora deve ir ao Senado, onde não deve ser votada em menos de um mês. Os opositores, no entanto, já prometem enfrentar a lei nas cortes francesas.

    A indústria da música, no entanto, que pede que governos e provedores ajudem na luta contra o download de arquivos protegidos por direitos autorais, comemorou os esforços do governo francês. Alguns artistas normalmente ligados à esquerda, como a cantora Juliette Greco, também aplaudiram a medida.

    ------

    segunda-feira, 11 de maio de 2009

    Revista Caros Amigos: Fleury "tinha um ideal", diz padre que rezou para o delegado torturador

    Do Blog Escrevinhador


    O site "Brasil de Fato" traz uma entrevista histórica. Trata-se de material produzido pelas repórteres Lúcia Rodrigues e Tatiana Merlino, para a revista "Caros Amigos": as duas acompanharam a missa rezada para o torturador Sérgio Fleury, em São Paulo, e depois entrevistaram o padre que cumpriu a triste função.

    UMA MISSA PARA O TORTURADOR
    Celebração dos 30 anos da morte do delegado Sérgio Fleury, torturador da ditadura civil-militar, reúne cerca de 70 pessoas em São Paulo. Em entrevista sacerdote explica homenagem a militar


    por Lúcia Rodrigues e Tatiana Merlino,

    da Revista Caros Amigos

    Uma coroa de flores com o formato e as cores da bandeira nacional enfeita o altar da igreja Nossa Senhora de Fátima, no bairro do Sumaré, capital paulista. Penduradas nela, pequenas faixas com os dizeres, "ordem e progresso" e "herói nacional". Ao centro, a foto do delegado Sérgio Paranhos Fleury, um dos maiores torturadores da ditadura civil-militar (1964-1985), morto há 30 anos.


    Cerca de 70 pessoas, entre parentes, amigos, delegados aposentados, representantes da TFP (Tradição, Família e Propriedade) e agentes do serviço reservado da polícia celebraram na noite de quarta-feira (6), o aniversário de três décadas de falecimento de Fleury. Entre eles, estava o delegado aposentado Carlos Alberto Augusto, conhecido como Carlinhos Metralha. Augusto, torturador temido nos porões do regime, integrou a equipe de Fleury e convocou a missa pela internet: "familiares, amigos, ex-policiais do DOPS e informantes contam com sua presença à missa".


    Um dos policiais do serviço reservado trajava calça jeans, jaqueta e boné, lembrava o Lula sindicalista do ABC, com sua barba grande. Não fosse pelos abraços calorosos que distribuía entre os presentes, poderia imaginar tratar-se de um militante da esquerda que sofreu na pele as agruras da ditadura. Ciro Moura, ex-candidato a prefeito, nas últimas eleições, pelo PTC (Partido Trabalhista Cristão), que herdou o número da legenda de Collor, foi o único político a comparecer à cerimônia.


    Antes do início da celebração, do lado de fora da igreja, velhos amigos conversavam animadamente, enquanto era distribuído um panfleto com a foto do homenageado e os seguintes dizeres: "Sua morte deixou em nós uma lacuna impreenchível. Só o tempo poderá atenuar a sua perda irreparável para a sociedade brasileira. Dr. Fleury ficará na memória de todos, a sua inesquecível figura que tanto bem semeou. À sua passagem, sempre cumprindo ordens superiores e defendendo a sociedade". Entre os carros luxuosos que entravam ao estacionamento, havia adesivos colados. Em um se lia referência ao General Heleno, comandante militar da Amazônia. Outros adesivos faziam alusões à defesa do porte de armas.

    A igreja Nossa Senhora de Fátima está próxima da sede da Opus Dei, localizada na avenida Alfonso Bovero, e do Centro de Estudos Universitários do Sumaré, mantido pela instituição.


    Os presentes à missa do “herói nacional”, a maioria homens, vestiam terno e tinham cabelos brancos. Alguns mais novos, de terno e gravata, usavam broches com a bandeira do Brasil. As poucas mulheres, de cabelos tingidos de loiro ou ruivo, maquiagem pesada, salto alto, meia calça, terninho.


    A missa foi celebrada por Frei Yves Terral, que, durante a homília, afirmou que "Fleury teve, há 30 anos, uma feliz ressurreição" e que "estamos reunidos hoje para lembrar sua memória, e não deixar a história morrer". Durante a cerimônia, que teve início às 19 horas e durou 28 minutos e 45 segundos, o religioso disse frases como: "nós amamos Fleury", "Deus ama Fleury" e "Estamos reunidos para lembrar o ideal do jovem Fleury, lembrar que ele tinha um ideal". Na hora do Pai Nosso, Frei Yves pediu aos presentes que orassem "em nome de Jesus e Fleury".


    Yves Terral é um franciscano, da ordem co-irmã a dos freis dominicanos, Tito, Fernando e Ivo barbaramente torturados pelo delegado Fleury. O religioso, que em entrevista disse ser amigo de policiais militares, também celebrou a missa de sétimo dia do coronel da PM Ubiratan Guimarães, assasinado em setembro de 2006. Ubiratan foi o responsável pela invasão da PM paulista ao Complexo Penitenciário do Carandiru, em 1992, que resultou na morte de 111 presos.


    O delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury morreu em 1º de maio de 1979, na Ilhabela, litoral norte paulista, de forma misteriosa. Pouco depois de comprar um iate, supostamente caiu no mar e se afogou ao saltar de uma embarcação para a sua. As autoridades policiais da época mandaram que seu corpo fosse enterrado sem ser submetido a necropsia. Fleury estava à frente do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), um dos mais temidos órgãos da repressão, e era o responsável por assassinatos e torturas que ocorriam no local.

    O delegado ganhou "notoriedade" quando chefiou o Esquadrão da Morte, milícia clandestina formada por policiais que coalhava de corpos de supostos bandidos os terrenos baldios da periferia de São Paulo e do Rio de Janeiro. Fleury liderou, ainda, o fuzilamento do guerrilheiro da Ação Libertadora Nacional (ALN), Carlos Marighella, na Alameda Casa Branca, em São Paulo, em 1969. Ao final da missa, a reportagem conversou com Frei Yves. Confira abaixo:

    Lúcia Rodrigues - O senhor considera o Fleury um herói nacional?

    Frei Yves Terral - Eu não considero, não. Não vem ao caso isso. Eu sou ministro da eucaristia. Na minha mesa todo mundo, até a direita, pode participar. E o Fleury era um desses casos. Não há o que impeça ele de poder participar de uma eucaristia. Eu estava em Mato Grosso, na época do Fleury.

    Tatiana Merlino - O senhor conheceu o delegado Fleury?

    Frei Ives Terral - Não, não. Eu estava na faixa de fronteira. Não conheci nem pelos jornais. Os jornais nem chegavam lá. Quando chegavam, era com atraso e era sinal de que não tinha notícia importante no Brasil. Porque quando tinha notícia importante não sobrava para nós. Agora eu acho bonito que celebrem a memória. Herói é uma palavra carregada de poder.

    Lúcia Rodrigues - É porque na coroa de flores que estava perto do altar [coroa em formato da bandeira do Brasil, com a foto de Fleury ao centro, em que se lia em uma tarja: herói nacional]...

    Frei Yves Terral - Sim, no altar. Era do pessoal que veio. Era dos parentes, da família. Era, seguramente, muito bonita a coroa.

    Lúcia Rodrigues - E por que eles escolheram esta paróquia para realizar a missa?

    Frei Yves Terral - Diante de muitas possibilidades... Não acho nada de mais.

    Tatiana Merlino - Achei que a família frequentasse a paróquia.

    Frei Yves Terral - Se frequenta...

    Lúcia Rodrigues - O senhor não conhece?

    Frei Yves Terral - Não conheço. Eu tenho amigos. Fui chamado para pôr uma imagem de nossa senhora, faz muito tempo, na Polícia Militar, no comando. Encontrei uma turma de jovens oficiais, com formação francesa, cheios de ideal, que realmente me trouxeram admiração. Admiração abre caminho para amizade. Então, eu tenho alguns amigos militares. Talvez entre eles tenham falado: lá tem o frei Yves para rezar por nós. Se amanhã vier a família do Meneguelli [provavelmente se refere a Carlos Marighella] pedir para rezar uma missa aqui, eu vou rezar e vou fazer o que Jesus faz. Se colocar compassivo, do ponto de vista daquela pessoa, daquela família, daqueles amigos.

    Tatiana Merlino - Durante a celebração, o senhor disse que o Fleury tinha um ideal.


    Frei Yves Terral - Tenho certeza. Sem o conhecer, eu tenho quase absoluta certeza. Todos os oficiais têm um ideal. Pela profissão, tem sempre um risco de vida maior. No início de sua profissão, da vocação, há um ideal. Depois, algumas vezes, diante da realidade, pode ter coisas belíssimas e coisas que alguns podem discordar. Mas Deus não criou gente ruim.

    Lúcia Rodrigues - O senhor acha que ele é uma figura polêmica?

    Frei Yves Terral - Está na história. Está na história. Só que é uma história que não é contada, por enquanto. O outro lado foi muito bem contado. Porque estão no poder. São sempre os vencedores que contam a história.

    Lúcia Rodrigues - Quem são os vencedores?

    Frei Yves Terral - Os vencedores que estão no governo atualmente. No PT. Essa história daquele lado está sendo contada. O outro não está e Deus queira que não seja contada tão cedo.

    Tatiana Merlino - Deus queira que não seja contada, por quê?

    Frei Yves Terral - Porque não está na hora de recomeçar o que foi feito, me parece. Porque estamos numa democracia. Que tem que ser corrigida. Vocês da imprensa sabem muito bem. Vocês embaralham até o Lula.

    Lúcia Rodrigues - O Fleury não era um torturador? O senhor rezou durante a missa em nome do Fleury e não pelo Fleury. Eu não sou católica, mas em geral se reza pela alma da pessoa e não em nome da pessoa.

    Frei Yves Terral - Não podem me culpar por ter rezado pelo Fleury.

    Lúcia Rodrigues - O senhor rezou em nome do Fleury.

    Frei Yves - Eu pedi para que a turma que estava meio fria, se manifestasse. Foi uma forma de fazê-los participar. A turma que estava lá, era um pessoal mais reservado. Não era nenhum carnaval, nenhuma vitória do Corinthians. Então, era uma forma deles participarem, era emprestar palavras ao Fleury. Para se manifestarem um pouco. Uma missa não pode ser só o presidente.

    Lúcia Rodrigues - O senhor acha que isso ajudou a celebração?

    Frei Yves Terral - Ajudou eles a participarem. Senão, não teriam participado. Alguns não teriam participado de nada.

    Lúcia Rodrigues - Por quê?

    Frei Yves Terral - Não sei. Porque não estão acostumados a participar de uma missa. Por diversos motivos. Tem gente que vai numa missa de sétimo-dia e não fala nada, só segura lágrimas. No Brasil, há tantos tipos de culturas. Graças a Deus. Tem de se conviver. Pode-se rezar uma missa para defuntos de um jeito ou de outro.


    Lúcia Rodrigues - Eu entendo a posição do senhor. O senhor é padre e reza por bandidos. O Fleury era um torturador, que assassinou várias pessoas. E o senhor ainda reza em nome dele?

    Frei Yves - Espera aí, Espera aí. Eu vivi em Mato Grosso. E tinham umas pessoas que a igreja não mandava abençoar quando morriam. Todas morreram de morte violenta. Eu abençoei todos aqueles que me foram apresentados. Você estava lá?

    Lúcia Rodrigues - Onde?

    Frei Yves - Quando ele morreu?

    Lúcia Rodrigues - Não. Eu era criança.

    Frei Yves - Mas Deus estava. Não podemos saber o que aconteceu. Não podemos fazer mau juízo do próximo. Agora, posição política eu não tenho. Eu não sou nem brasileiro.

    Tatiana Merlino - O senhor disse que ele tinha um ideal.

    Frei Yves - Tinha um ideal.

    Tatiana Merlino - Torturando os opositores?

    Frei Yves - Isso não foi quando ele era jovem. Foi depois. Deus o criou bom.

    Lúcia Rodrigues - Mas dentro de uma igreja, ter uma bandeira nacional com a foto dele, escrito herói nacional... Um torturador não é um herói.

    Frei Yves - O mandamento é honrar pai e mãe. É isso que quer dizer a bandeira brasileira. Foi uma honra.

    Lúcia Rodrigues - Há quanto tempo o senhor está no Brasil?

    Frei Yves - 43 anos.

    Tatiana Merlino - E em São Paulo?

    Frei Yves - Há 30.

    Lúcia Rodrigues - Então o senhor estava aqui quando o Fleury morreu.

    Frei Yves - Pode até ser. Mas como teve essa mudança de Mato Grosso para cá, naquela época... Não posso dizer se ele morreu quando eu estava em Mato Grosso ou aqui.

    Tatiana Merlino - É claro que para a igreja todos são filhos de Deus. Mas o senhor celebrou a missa com uma simpatia muito especial pelo delegado Fleury.

    Frei Yves - O meu Deus é compassivo. O meu Deus é compassivo. Ele se põe do ponto de vista da pessoa. A senhora procure se por do ponto de vista de Jesus.

    Tatiana Merlino - O senhor sabia que o delegado Fleury era um torturador?

    Frei Yves - Eu sabia que era um homem político, que contestava. Que teve uma história não apenas de um simples delegado, mas de uma dimensão política mais forte.

    Tatiana Merlino - Que era um torturador?

    Frei Yves - Sei lá se era torturador.

    Lúcia Rodrigues - O senhor não sabia que ele era um torturador?

    Frei Yves - Escuta aqui. No Araguaia, por exemplo. O soldado que foi mandado para lá, para restabelecer a ordem. Se matou alguém, ele era um torturador?

    Lúcia Rodrigues - O delegado Fleury é um torturador. Existem pessoas que foram torturadas por ele e outras que viram companheiros sendo assassinados no pau-de-arara, inclusive.

    Frei Yves - Então precisa de mais reza ainda. Precisa mais de reza do que outros.

    Lúcia Rodrigues - Mas o senhor sabia que ele era um torturador?

    Frei Yves - Eu sabia o que todo mundo sabe. Agora se vocês falam que ele era um torturador... Eu não sei. Eu não lembro, eu estava no Mato Grosso.

    Lúcia Rodrigues - A morte dele saiu na TV.

    Frei Yves - Mas você pensa que em Mato Grosso tinha TV?

    Lúcia Rodrigues - Mas o senhor já estava em São Paulo.

    Frei Yves - Eu sou muito amigo do Dom Paulo [Evaristo Arns]. Li todos os livros dele.

    Lúcia Rodrigues - O Dom Paulo diz que ele é um torturador.

    Tatiana Merlino - Então o senhor leu o Brasil Nunca Mais?

    Yves Terral - Mas isso não tira o direito dele ter uma missa. Não pode ser negado esse direito.

    Lúcia Rodrigues - O que nós estamos dizendo é da sua simpatia e da forma que foi colocado. O que surpreendeu foi o senhor ter rezado não por ele, mas em nome dele.

    Yves Terral - Eu faço isso em todas as missas. Praticamente faço isso em todas as missas.



    ------

    terça-feira, 5 de maio de 2009

    Estado Brasileiro torturou e é responsável. STJ reconhece

    "Estado brasileiro é responsável por perseguição política na ditadura, diz STJ"

    Não lembro de ter lido em lugar nenhum, em nenhum grande jornal, nada sobre esta notícia, o que é lamentável.

    Para Luiz Flávio Gomes, ex-juiz e doutor em direito penal pela Universidade de Madrid, o fato de o segundo mais importante tribunal do país ter declarado —em uma ação cível— que a busca pela dignidade da pessoa humana não prescreveabrirá espaço para a persecução penal dos responsáveis por violações aos direitos humanos durante os anos de chumbo.

    “Essa decisão pode e deve ter reflexo no âmbito criminal. O Chile e a Argentina já desconsideraram as leis de anistia de suas ditaduras militares. E o reconhecimento de que esses crimes são imprescritíveis já está consolidado nas instâncias internacionais”, afirma.

    Já o professor de direito constitucional da PUC-SP, Pedro Estevam Serrano, considera que, apesar de positiva, a decisão apenas consolida um dispositivo previsto na Constituição. “O Estado é responsável pelos danos causados pelo agente público e é importante assegurar que todas as ações civis são imprescritíveis. Mas essa mesma previsão não existe no direito penal brasileiro”, observa.

    Opinião semelhante tem o constitucionalista Oscar Vilhena Vieira, coordenador de mestrado da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas. Vilhena acrescenta que a aplicação do princípio da imprescritibilidade no âmbito penal depende de uma aplicação inédita do direito internacional no país.

    “Existem precedentes importantes, como o da Corte Interamericana de Direitos Humanos [que obrigou o Chile a apurar crimes da Ditadura Pinochet], mas para isso seria preciso uma provocação à CIDH ou que o STF desse valor supralegal aos tratados internacionais, o que não está consolidado”, diz Vilhena.

    A outra hipótese, segundo o professor, demanda uma reinterpretação ou a revogação completa da Lei de Anisitia. “Para que haja repercussão criminal imediata é necessário que o Supremo invalide a Lei de Anistia desde a sua origem, declarando que ela não foi recepcionada pela Constituição de 1988. Isso faria com que a prescrição passasse a contar a partir de agora”, ressalva.


    Cabe agora a revogação da ridícula Lei da Anistia, ou melhor, a lei que permitiu a impunidade de torturadores e assassinos.

    “O reconhecimento da dignidade humana é fundamento da liberdade, da justiça e da paz, razão por que a Declaração Universal inaugura seu regramento superior estabelecendo no art. 1.º que ‘todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos’
    Lúdico e direto. Não é possível que a Lei da Anistia anistie torturadores, em franco desrespeito às convenções internacionais.
    A ação foi movida pelas filhas de um médico eleito duas vezes vereador do município de Rolândia, no interior do Paraná. Em 1964, um ano após sua reeleição, ele foi preso por agentes do Dops e mantido em um quartel do Exército em Londrina.

    Depois de solto, passou a sofrer depressão, abandonou manifestações políticas e cedeu ao alcoolismo, que levou a sua desmoralização e morte, em 1984.

    E os milicos ainda querem falar que não aconteceu nada na Ditadura, que foi branda, que era boazinha e ajudava o país.... Pois sim!
    ------

    terça-feira, 14 de abril de 2009

    HRW sugere ao Brasil que julgue crimes da ditadura

    Brasil: Julgue Abusos da Ditadura

    Decisão Internacional Histórica Fortalece Pedidos de Responsabilização por Crimes

    Washington, DC, 14 de abril de 2009 – O Brasil deve investigar e levar a julgamento as violações aos direitos humanos cometidas durante a ditadura de 1964-1985 após uma decisão judicial histórica, afirmou a Human Rights Watch hoje. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos afirmou que anistias e prescrições não se aplicam a crimes de lesa-humanidade cometidos durante a ditadura militar no Brasil.

    A conclusão da comissão, anunciada em 8 de abril de 2009, é a primeira decisão internacional relacionada aos abusos cometidos durante a ditadura militar no Brasil (1964 a 1985). A petição que deu origem à decisão foi enviada por familiares de 70 pessoas desaparecidas durante operações militares contra o movimento comunista de guerrilha do Araguaia nos anos 70.

    “O Brasil não promoveu julgamentos e nem mesmo instaurou uma comissão da verdade para apurar os crimes muito graves que foram cometidos, e está atrasado em relação a outros países da região no que diz respeito à responsabilização por abusos do passado”, disse José Miguel Vivanco, diretor da divisão das Américas da Human Rights Watch. “Quase um quarto de século já se passou desde a transição para a democracia. As vítimas e suas famílias já esperaram demais por justiça.”

    Nenhuma autoridade brasileira foi denunciada criminalmente por violações aos direitos humanos cometidas durante a ditadura. A Lei de Anistia de 1979 efetivamente impediu até agora que autoridades fossem levadas a julgamento.

    Exortações à responsabilização daqueles que cometeram abusos cresceram nos últimos dois anos. O mais alto tribunal brasileiro, o Supremo Tribunal Federal, está examinando ações contra a aplicabilidade da Lei de Anistia a violações de direitos humanos e contra as leis que permitem o sigilo permanente de documentos governamentais. A Advocacia Geral da União, representante oficial do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se opõs a essas objeções e enviou pareceres em favor da manutenção do status quo.

    O regime militar brasileiro de 1964 a 1985 foi responsável por violações sistemáticas dos direitos humanos, incluindo execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados, tortura, prisões arbitrárias e restrições à liberdade de expressão. Segundo estimativas oficiais, cerca de 50 mil pessoas foram detidas apenas nos primeiros meses da ditadura e 10 mil exilaram-se naquele período. Brasil: Nunca Mais, um relatório pesquisado secretamente nos arquivos da justiça militar brasileira e publicado pela Arquidiocese de São Paulo em 1985, descreveu 1.918 relatos de tortura entre 1964 e 1979 e observou que suas fontes não incluíam um número “incalculável” de outros casos.

    O governo brasileiro ainda não produziu um relato completo dos abusos cometidos pelo Estado durante aquele período, apesar de algumas medidas limitadas de reparação terem sido tomadas. O Brasil pagou indenizações a vítimas da ditadura, por exemplo. E, em 2007, a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos reconheceu oficialmente a responsabilidade do Estado brasileiro em 356 casos apresentados à comissão, mas observou que o sigilo de documentos importantes impediu que localizasse os restos mortais das vítimas na maioria dos casos de desaparecimento que examinou.

    “O Brasil tem o dever de investigar integralmente e levar a julgamento violações aos direitos humanos cometidas no passado, independentemente da existência da Lei de Anistia”, disse Vivanco.


    Via Vi o Mundo

    ------

    sábado, 11 de abril de 2009

    De ditadores e Bouteflika

    "Bouteflika consegue o 90% dos votos e volve ser elixido presidente de Alxeria"

    Apenas um pensamento inicial, será que os EUA irão reconhecer o resultado desta eleição, claramente fraudada, ou pelo menos fingir não ver porque o Bouteflika, na pior das hipoteses, é um aliado na "luta contra o terror"?

    Me surpreende o jogo de interesses... O Hamas ganhou legalmente as últimas eleições palestinas.... E foram defenestrados do poder, conseguindo porém, mantê-lo em Gaza, mesmo sob o cerco criminoso de Israel e a guerra genocida contra Gaza...

    Mas contra seus aliados não imorta se há fraude, se temos torturas, prisões arbitrárias e afins... Me lembro de ter lido mais cedo no Globo uma nota sobre o processo eleitoral na Argélia que citou breve e quase inocentemente que uma bomba exploiu em uma cidade, culpa de terroristas islâmicos...

    Não sei se foram mesmo terroristas islâmicos, que agem de fato naquela região da África mas não me surpreenderia se o ataque tiver sido coisa dos guerrilheiros Bérberes da região de Kabília (Kabilye) que, longe de terroristas islâmicos - são de fato muçulmanos, assim como a franca maioria dos Argelinos e dos Bérberes - lutam por independência de seu povo contra a ditadura pseudo-democrática de Bouteflika.

    Não me surpreenderia que a "confusão" entre "terroristas islâmicos" e Bérberes insurgentes tivesse sido intenconal...

    Os Bérberes sao um povo que habitam ha milênios a região e são tratados omo cidadãos de segunda classe na Argélia e há anos lutam por autonomia ou independência dda região em que são maioria, cincidentemente a região de menor participação nas eleições.

    Me impressiona o silêncio completo da ONU, UE, UA e demais sglas da sopa de letrinhas que constitui a chamada comunidade internacional, quando temos uma eleição claramente fraudada, ma minoria opimida acusada de terrorismo, um governo comandado por um dinossauo cm asirações datatoriais e etc... Silêncio completo!

    Mas quando o caso é uma vitória do Hamas, de um Ahmadnejad, de um Chávez, Morales ou de qualquer outro "inimigo do ocidente" e dos interesses americanos em eleições democráticas e assim recnhecidas internacionamente há uma grita geral, o mundo protesta! os EUA protestam, não aceitam! Em alguns casos, como na Palestina, Israel simplesmente cerca, invade e mata. E nada acontece.
    ------

    quarta-feira, 8 de abril de 2009

    As mentiras da Folha SP!

    Do RS Urgente

    Jornalista denuncia má fé da Folha de S. Paulo e armadilha contra Dilma Rousseff

    O jornalista Antonio Roberto Espinosa, professor de Política Internacional, doutorando em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), autor de "Abraços que sufocam – E outros ensaios sobre a liberdade" e editor da Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe", encaminhou uma carta à redação da Folha de São Paulo, protestando contra a edição da entrevista por telefone que concedeu ao jornal. Segundo ele, a Folha preparou uma “armadilha” para a ministra Dilma Rousseff usando uma entrevista que concedeu a uma das suas repóteres da sucursal de Brasília. Na carta que encaminhou à redação, ele denuncia a má fé dos editores do jornal. Segue a íntegra da correspondência:

    Prezados senhores, chocado com a matéria publicada na edição de hoje (domingo, 5), páginas A8 a A10 deste jornal, a partir da chamada de capa “Grupo de Dilma planejou seqüestro de Delfim Neto”, e da repercussão da mesma nos blogs de vários de seus articulistas e no jornal Agora, do mesmo grupo, solicito a publicação desta carta na íntegra, sem edições ou cortes, na edição de amanhã, segunda-feira, 6 de abril, no “Painel do Leitor” (ou em espaço equivalente e com chamada de capa), para o restabelecimento da verdade, e sem prejuízo de outras medidas que vier a tomar. Esclareço preliminarmente que:

    1) Não conheço pessoalmente a repórter Fernanda Odilla, pois fui entrevistado por ela somente por telefone. A propósito, estranho que um jornal do porte da Folha publique matérias dessa relevância com base somente em “investigações” telefônicas;

    2) Nossa primeira conversa durou cerca de 3 horas e espero que tenha sido gravada. Desafio o jornal a publicar a entrevista na íntegra, para que o leitor a compare com o conteúdo da matéria editada. Esclareço que concedi a entrevista porque defendo a transparência e a clareza histórica, inclusive com a abertura dos arquivos da ditadura. Já concedi dezenas de entrevistas semelhantes a historiadores, jornalistas, estudantes e simples curiosos, e estou sempre disponível a todos os interessados;

    3) Quem informou à Folha que o Superior Tribunal Militar (STM) guarda um precioso arquivo dos tempos da ditadura fui eu. A repórter, porém, não conseguiu acessar o arquivo, recorrendo novamente a mim, para que lhe fornecesse autorização pessoal por escrito, para investigar fatos relativos à minha participação na luta armada, não da ministra Dilma Rousseff. Posteriormente, por e-mail, fui novamente procurado pela repórter, que me enviou o croquis do trajeto para o sítio Gramadão, em Jundiaí, supostamente apreendido no aparelho em que eu residia, no bairro do Lins de Vasconcelos, Rio de Janeiro. Ela indagou se eu reconhecia o desenho como parte do levantamento para o seqüestro do então ministro da Fazenda Delfim Neto.

    Na oportunidade disse-lhe que era a primeira vez que via o croquis e, como jornalista que também sou, lhe sugeri que mostrasse o desenho ao próprio Delfim (co-signatário do Ato Institucional número 5, principal quadro civil do governo ditatorial e cúmplice das ilegalidades, assassinatos e torturas).Afirmo publicamente que os editores da Folha transformaram um não-fato de 40 anos atrás (o seqüestro que não houve de Delfim) num factóide do presente (iniciando uma forma sórdida de anticampanha contra a Ministra). A direção do jornal (ou a sua repórter, pouco importa) tomou como provas conclusivas somente o suposto croquis e a distorção grosseria de uma longa entrevista que concedi sobre a história da VAR-Palmares. Ou seja, praticou o pior tipo de jornalismo sensacionalista, algo que envergonha a profissão que também exerço há mais de 35 anos, entre os quais por dois meses na Última Hora, sob a direção de Samuel Wayner (demitido que fui pela intolerância do falecido Octávio Frias a pessoas com um passado político de lutas democráticas). A respeito da natureza tendenciosa da edição da referida matéria faço questão de esclarecer:

    1) A VAR-Palmares não era o “grupo da Dilma”, mas uma organização política de resistência à infame ditadura que se alastrava sobre nosso país, que só era branda para os que se beneficiavam dela. Em virtude de sua defesa da democracia, da igualdade social e do socialismo, teve dezenas de seus militantes covardemente assassinados nos porões do regime, como Chael Charles Shreier, Yara Iavelberg, Carlos Roberto Zanirato, João Domingues da Silva, Fernando Ruivo e Carlos Alberto Soares de Freitas. O mais importante, hoje, não é saber se a estratégia e as táticas da organização estavam corretas ou não, mas que ela integrava a ampla resistência contra um regime ilegítimo, instaurado pela força bruta de um golpe militar;

    2) Dilma Rousseff era militante da VAR-Palmares, sim, como é de conhecimento público, mas sempre teve uma militância somente política, ou seja, jamais participou de ações ou do planejamento de ações militares. O responsável nacional pelo setor militar da organização naquele período era eu, Antonio Roberto Espinosa. E assumo a responsabilidade moral e política por nossas iniciativas, denunciando como sórdidas as insinuações contra Dilma;

    3) Dilma sequer teria como conhecer a idéia da ação, a menos que fosse informada por mim, o que, se ocorreu, foi para o conjunto do Comando Nacional e em termos rápidos e vagos. Isto porque a VAR-Palmares era uma organização clandestina e se preocupava com a segurança de seus quadros e planos, sem contar que “informação política” é algo completamente distinto de “informação factual”. Jamais eu diria a qualquer pessoa, mesmo do comando nacional, algo tão ingênuo, inútil e contraproducente como “vamos seqüestrar o Delfim, você concorda?”. O que disse à repórter é que informei politicamente ao nacional, que ficava no Rio de Janeiro, que o Regional de São Paulo estava fazendo um levantamento de um quadro importante do governo, talvez para seqüestro e resgate de companheiros então em precárias condições de saúde e em risco de morte pelas torturados sofridas.

    A esse propósito, convém lembrar que o próprio companheiro Carlos Marighela, comandante nacional da ALN, não ficou sabendo do seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick. Por que, então, a Dilma deveria ser informada da ação contra o Delfim? É perfeitamente compreensível que ela não tivesse essa informação e totalmente crível que o próprio Carlos Araújo, seu então companheiro, diga hoje não se lembrar de nada;

    4) A Folha, que errou a grafia de meu nome e uma de minhas ocupações atuais (não sou “doutorando em Relações Internacionais”, mas em Ciência Política), também informou na capa que havia um plano detalhado e que “a ação chegou a ter data e local definidos”. Se foi assim, qual era o local definido, o dia e a hora? Desafio que os editores mostrem a gravação em que eu teria informado isso à repórter;

    5) Uma coisa elementar para quem viveu a época: qualquer plano de ação envolvia aspectos técnicos (ou seja, mais de caráter militar) e políticos. O levantamento (que é efetivamente o que estava sendo feito, não nego) seria apenas o começo do começo. Essa parte poderia ficar pronta em mais duas ou três semanas. Reiterando: o Comando Regional de São Paulo ainda não sabia com certeza sequer a freqüência e regularidade das visitas de Delfim a seu amigo no sítio. Depois disso seria preciso fazer o plano militar, ou seja, como a ação poderia ocorrer tecnicamente: planejamento logístico, armas, locais de esconderijo etc.

    Somente após o plano militar seria elaborado o plano político, a parte mais complicada e delicada de uma operação dessa natureza, que envolveria a estratégia de negociações, a definição das exigências para troca, a lista de companheiros a serem libertados, o manifesto ou declaração pública à nação etc. O comando nacional só participaria do planejamento , portanto, mais tarde, na sua fase política. Até pode ser que, no momento oportuno, viesse a delegar essa função a seus quadros mais experientes, possivelmente eu, o Carlos Araújo ou o Carlos Alberto, dificilmente a Dilma ou Mariano José da Silva, o Loiola, que haviam acabado de ser eleitos para a direção; no caso dela, sequer tinha vivência militar;


    6) Chocou-me, portanto, a seleção arbitrária e edição de má-fé da entrevista, pois, em alguns dias e sem recursos sequer para uma entrevista pessoal – apelando para telefonemas e e-mails, e dependendo das orientações de um jornalista mais experiente, no caso o próprio entrevistado -, a repórter chegou a conclusões mais peremptórias do que a própria polícia da ditadura, amparada em torturas e num absurdo poder discricionário. Prova disso é que nenhum de nós foi incriminado por isso na época pelos oficiais militares e delegados dos famigerados Doi-Codi e Deops e eu não fui denunciado por qualquer um dos três promotores militares das auditorias onde respondi a processos, a Primeira e a Segunda auditorias de Guerra, de São Paulo, e a Segunda Auditoria da Marinha, do Rio de Janeiro.
    ------

    quarta-feira, 1 de abril de 2009

    Ainda o Golpe (GOLPE) de 64 e a DITADURA!

    Acho interessante e pertinente analisar três argumentos comuns dos milicos e da direita reacionária sobre o porque da "ditabranda", "Revolução" e baboseiras afins...

    1. Poucas mortes:

    Primeiro argumento que é horripilante. A DITADURA teria matado pouco em comparação com as demais ditaduras da AL.

    Cá entre nós, a Ditadura poderia ter matado menos que o Maníaco do Parque, não importa. MATOU e TORTUROU. Foram 300 ou 300 mil, não interessa. Quantas famílias não choraram e ainda choram seus parentes e amigos mortos? E os torturados? Não morreram mas ainda estão aí, alguns com sequelas - como Vandré - outros sãos mas ainda assim marcados, de uma maneira ou outra, por um episódio terrível da história, uma ditadura.

    2. Perigo do Comunismo:

    Razão dada pelos milicos para se justificar. Sem comentários, é simplesmente boçal acreditar nisso antes e hoje - aliás, Olavinho de Carvalho ainda acha que os Comunas vão tomar o país e que Lula deve ser o novo Stálin! - e como "motivo histórico" é mais uma piada e um demérito no histórico de nossas forças armadas que já tem na bagagem o golpe que deu origem à República e o genocídio no Paraguai.

    3. Guerrilha

    Usar a revolta armada como desculpa para torturar é clássico. A Espanha faz isso ainda hoje, torturando Bascos em nome da luta contra o Terrorismo, personificado pela ETA.

    Vale sempre lembrar que as torturas já existiam, os "desaparecimentos" já existiam antes da Guerrilha se ativar. Esta foi uma REAÇÃO.

    Não cabe aqui defender ou criticar, não é o ponto e sim mostrar que a Guerrilha foi uma reação a um regime de exceção e assassino.

    Ademais, alguns ainda poderiam dizer "ok, era uma guerra, matar e torturar guerrilheiros poderia até ser justificado."

    Já ouvi coisas do tipo.

    Discordo mas, digamos que o argumento seja válido (não é, vale apenas pela discussão), mesmo assim podemos encontrar milhares de casos de torturas e dezenas de mortos - quiçá centenas - dentre pessoas que NUNCA foram guerrilheiros, que NUNCA pegaram numa arma ou que JAMAIS se levantaram contra o regime com mais que palavras e escritos.

    O injustificável permanece, contra todo e qualquer argumento.

    A Ditadura é DURA, não é branda. Matou, torturou e envergonhou o país. Manchou nossa história com sangue e até hoje se recusa a reconhecer e, pior, glorifica assassinos e torturadores.

    O Brasil só começará a caminhar como um país decente quando puser detrás das grades seus criminosos mais notórios, a começar pelos militares que cometeram crimes contra a humanidade.


    Idéia para o texto veio de leituras no Futepoca.
    ------

    terça-feira, 31 de março de 2009

    Laerte Braga: O golpe de 64

    O GOLPE MILITAR DE 1º DE ABRIL DE 1964


    Laerte Braga

    Entender o golpe militar de 1964 é entender boa parte da História do Brasil e penso que o ideal é tomar a “proclamação” da República em 1889, como ponto de partida. Independente da campanha republicana e do juízo de mérito sobre um regime e outro, monarquia ou república, o que Deodoro fez foi dar um golpe de estado. Havia um descontentamento geral dentro das Forças Armadas com o imperador e não uma identificação dos militares com a campanha republicana.

    Militares, começa aí o problema, sempre se consideraram à margem do restante dos brasileiros. Um estamento do Estado e das instituições, ou seja, uma espécie de instituição com o poder de juízo final. Apartados do resto do País. À época de Deodoro eram capazes de olhar para dentro, como via de regra o fazem, mas incapazes de perceber, por exemplo, que a Guerra do Paraguai fora um massacre brutal e estúpido financiado pelos ingleses sem heroísmo algum, apenas a clássica boçalidade dos mais fortes contra os mais fracos que, naquele contexto, se opunham aos grandes.

    Solano Lopes, como Lugo hoje, sonhou e lutou por um país independente no sentido pleno da palavra.

    De lá até 1964 o Brasil viveu de sucessivas rebeliões, ou tentativas de grupos de militares e curiosamente, até que o general Castello Branco fixasse em quatro anos o tempo máximo de permanência numa patente de general (brigada, divisão, exército – contra almirante, vice-almirante, almirante de esquadra – major brigadeiro, tenente brigadeiro, brigadeiro do ar), cada um que alcançasse o posto se transformava numa espécie de general mexicano dono de determinada área, de determinado comando, numa eternização de uma oligarquia que gerou, por exemplo, Góis Monteiro, Eurico Gaspar Dutra, notórios militares de inclinações fascistas e vocações golpistas.

    E outros tantos.

    Reações é claro que existiram. O próprio Eduardo Gomes no episódio do Forte Copacabana. Ou a Revolução dos Tenentes, a Coluna Prestes, os primeiro momentos da revolução de 1930 (a conquista do voto secreto e do direito de voto pelas mulheres) e em 1964, o confronto entre militares controlados pelos Estados Unidos (os que deram o golpe) e militares brasileiros lato sensu, com visão do processo democrático e da necessidade de modernização da sociedade brasileira a partir das reformas de base para usar uma expressão da época.

    Se formos nos alongar nesses episódios, militares como Cordeiro de Faria, Juarez Távora, participantes da Coluna Prestes, se transformaram em líderes à direita da sociedade e clássicos legalistas como o marechal Lott vieram a ser avalistas da democracia burguesa, mas com visão correta e precisa da realidade histórica e da importância – volto a repetir a expressão da época – das reformas de base. Lott é o grande nome militar brasileiro do compromisso de uma força armada com o seu país. E com a vontade popular.

    Quais? Reforma agrária, reforma urbana, democratização das comunicações (Jango assinara pouco antes de cair um decreto autorizando a outorga de concessão de canais de rádio e tevê a sindicatos e organizações populares), a reforma política, fiscal, tributária (que fizesse a elite pagar impostos ao invés de gerar o modelo corrupto de hoje FIESP/DASLU – quadrilha).

    Jango sofrera seu primeiro revés quando ministro do Trabalho, Indústria e Comércio do governo Vargas (1951/1954) e um grupo de coronéis afinados com empresários paulistas em sua maioria, se levantou contra o aumento de 100% do salário mínimo. A mentalidade escravagista permanecia presente e hoje se mantém sob formas outras. Nos grandes latifúndios continua como antes de 1888.

    Patriotismo acendrado e slogans como “Deus, Pátria e Família” sempre foram os instrumentos dessa canalha ao longo do processo. Na prática 1964 foi um inferno comandado por uma potência outra que desabou sobre os brasileiros e se transformou na noite mais sombria da História em nosso País.

    Seqüestros, assassinatos, tortura, estupros, toda a sorte de violência e barbárie em nome de uma democracia que calaram e de interesses que representavam. O mínimo vagido de tentativa de redemocratizar o País terminou quando Costa e Silva – um trêfego que vivia nos quartéis e nas mesas de jogos dos cassinos clandestinos – deu um murro à mesa e decretou que o próximo seria ele.

    Castello, um fraco com imagem de forte, sentou em cima, calou-se e figuras vampirescas como Jarbas Passarinho emergiram das sombras e das catacumbas das câmaras de tortura, para dar seqüência ao projeto montado em Washington pelo governo Lyndon Johnson, com o comando do general Vernon Walthers, verdadeiro chefe militar dos golpistas de 1964, uma espécie de comandante oculto dos militares supostamente brasileiros – a bem da justiça exclua-se Ernesto Geisel dessa horda aí – Tinha visão diversa da chamada linha-dura, uma espécie de companhia de “açougueiros" – na barbárie que se espalhou por toda a América Latina. Com todo respeito aos açougueiros.

    A “doutrina de segurança nacional”. Retratada com perfeição no livro do mesmo nome escrito pelo padre Joseph Comblin, expulso do Brasil pela ditadura.

    A grande preocupação dos norte-americanos com essa parte do mundo, chamada de América “Latrina”, onde despejavam seus dejetos chamados “negócios”, era exatamente a ascensão de lideranças populares e o temor do que denominavam “efeito cubano”. A influência da revolução de Fidel Castro na conquista da independência de Cuba. A real independência. Não essa que Wall Street respira e aqui precisamos de aspirina para combater febres e coisas mais, na globalização que Milton Santos chamou de “globalitarização”.

    Moniz Bandeira, em seu livro “o governo João Goulart” narra a briga da Bayer com o governo do Brasil. É que o ácidoacetilsalicílico chinês era mais barato que o alemão. Isso acabou gerando a “aspirina comunista”, incompatível com os “ideais democráticos”.

    O governo Goulart viveu dois momentos distintos. O que se seguiu a posse, sob a égide de um parlamentarismo que Tancredo Neves chamou de “híbrido” – o presidente conservava alguns poderes –. E o presidencialismo, decidido pelos brasileiros num referendo em 1963.

    O parlamentarismo foi conseqüência de um acordo para a posse do vice, João Goulart, diante da renúncia de um tresloucado eleito em 1960 Jânio Quadros. A decisão dos militares controlados pelos EUA e escorados no “patriotismo”, “o último refúgio dos canalhas" – Samuel Johnson – de impedir a posse do vice, a reação de Leonel Brizola – então governador do Rio Grande do Sul que acabou apoiado por parte dos militares e ampla maioria popular – e o acordo costurado por Tancredo na iminência de um confronto entre golpistas e legalistas como se dizia à época.

    O presidencialismo foi conseqüência natural do hibridrismo do parlamentarismo brasileiro e da própria reação popular a sucessivas crises que se seguiram à saída de Tancredo, em 1962.

    Começa aí um processo aberto de luta entre brasileiros e elites com apoio dos militares controlados pelos EUA. É aberta a intervenção norte-americana através do embaixador Lincoln Gordon e a designação do comandante militar dos donos para o Brasil, Vernon Walthers (o general era amigo de Castello e falava português fluentemente; fora o intérprete das tropas brasileiras na IIª Grande Guerra).

    Jango forma um governo com figuras como Darcy Ribeiro, Evandro Lins e Silva, Hermes Lima, mesmo contrabalançado por políticos de centro-esquerda, todos, no entanto, afinados com o processo de reformas de base.

    Parte para medidas ousadas como o controle da remessa de lucros das empresas estrangeiras para suas matrizes, arquiteta o monopólio estatal do petróleo de uma ponta e outra (o que incluía a distribuição – postos de venda). Abre espaços para o educador Paulo Freire e seu método de alfabetização, estimula a formação de organizações camponesas (Ligas Camponesas), privilegia sindicatos e derruba pelegos históricos na Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria – a mais poderosa organização sindical do País – surgindo daí o primeiro embrião de uma central sindical, o CGT – Comando Geral dos Trabalhadores – e a intensa participação de organizações populares como a UNE e a UBES – foi na época de Jango que surgiu o CPC – Centro Popular de Cultura – que criou uma nova linguagem para o próprio teatro brasileiro no trabalho de formação popular. Isso em linhas gerais. E em linhas gerais abria as perspectivas para mudanças profundas na estrutura política e econômica do País, com largos reflexos sociais.

    Enfrenta, em 1962, a primeira tentativa de golpe travestida de “legalidade”, a aberta ingerência de grandes empresas multinacionais e supostamente nacionais nas eleições quase que gerais (foram eleitos vereadores, prefeitos, deputados estaduais e governadores da maioria dos estados do País – alguns tinham mandato de cinco anos como presidencial –, deputados federais e senadores).

    Os grupos golpistas criaram o IBAD – INSTITUTO BRASILEIRO DE AÇÃO DEMOCRÁTICA – para financiar a campanha de candidatos à direita – a maioria da antiga UDN – e tal e qual acontece hoje com organizações criminosas como a FIESP/DASLU, despejaram dinheiro em candidatos comprometidos com os negócios.

    Em 1962 pela primeira vez na História é eleito deputado federal na legenda do PTB – partido de Jango, fundado por Getúlio – um sargento. O sargento Garcia, na cidade do Rio de Janeiro, então estado da Guanabara.

    A vitória de Jango nas eleições de 1962, acima de tudo a derrota contundente de Carlos Lacerda para Leonel Brizola no Rio e a eleição de Miguel Arraes em Pernambuco, a luta popular pelas reformas de base e a disposição de executar a reforma agrária, precipitaram o confronto entre as forças golpistas e as do governo. Uma série de pequenos focos de conflitos acabaram por desembocar no golpe articulado em Washington e comandado por Vernon Walthers.

    É um erro acreditar que o general Olímpio Mourão Filho, comandante da IV Região Militar – sediada em Juiz de Fora – MG – tenha saído com suas tropas à revelia dos comandos golpistas. Mourão, que fora o autor do Plano Cohen, mistificação sobre uma revolução comunista que serviu de pretexto para o golpe de Vargas em 1937 – o Estado Novo – aliou-se à linha dura e a ação foi de fato comandada pelos generais Antônio Carlos Muricy e Siseno Sarmento, alinhados com Washington, mas em desacordo com Castello Branco e seu grupo, que incluía os irmãos Geisel.

    Castello só foi presidente por imposição dos EUA. Assim que Mourão saiu de Juiz de Fora, Costa e Silva, dentro do planejado, como oficial general mais antigo, foi para o Ministério da Guerra, hoje Secretaria Geral do Exército, ocupando um espaço vago, já que o ministro Jair Dantas se encontrava internado num hospital e o general comandante do I Exército, Âncora de Mores – Rio de Janeiro – era legalista.

    De lá para cá só a barbárie, a estupidez e o expurgo de civis e militares brasileiros contrários à ditadura. Perto de dois mil e quinhentos militares entre oficiais superiores, subalternos e sub-oficias e praças foram expulsos.

    Os generais de linha dura, dispostos a cair de quatro diante de Washington, mas temerosos das ligações de Castello com o chefe das forças armadas “brasileiras” Vernon Walthers, resolveram largar na frente.

    Os pretextos? O comício da Central no dia 13 de março. Jango assinara ali o decreto que expropriava refinarias de petróleo e postos e impunha o monopólio total do petróleo. A desapropriação das terras às margens de rodovias, ferrovias, rios e lagos numa extensão de oito quilômetros para a reforma agrária (os maiores proprietários dessas terras eram Ademar de Barros, golpista e corrupto, governador de São Paulo e Moisés Lupion, ex-governador do Paraná – o filho hoje é líder da UDR – União Democrática Ruralista –, organização terrorista do latifúndio brasileiro e subordinada à MONSANTO.

    E uma série de outras medidas de cunho nacionalista e popular.

    E por fim, o discurso do presidente no clube dos sargentos e sub-oficiais da Marinha onde reafirmou seu compromisso com a luta popular e com a democracia, em 30 de março de 1964. O clima se acirra como conseqüência também da revolta dos marinheiros na semana santa de 64. Vigorava na Marinha, uma das mais reacionárias forças militares do País, boa parte do modelo pré abolição da escravidão.

    Jango não quis reagir. Ladário Teles, general legalista que tomara o comando do III Exército no Rio Grande do Sul e Leonel Brizola, ofereceram ao presidente condições para a luta. Jango preferiu não “derramar sangue”.

    Os golpistas derramaram o sangue de milhares de brasileiros em câmaras de tortura comandadas por carrascos como Brilhante Ulstra, Torres de Melo, num aparato que resultou numa organização subordinada à CIA – a Operação Condor – usada para eliminar lideranças populares de toda a América Latina.

    Construíram um país de fantasia, entregaram os interesses nacionais em mãos de Washington e de empresas estrangeiras – coordenaram a OBAN (Operação Bandeirantes), constituída com recursos de empresas como a Gásbras, a Mercedes, a GM, apoio da FIESP, voltada para seqüestros, tortura e assassinato de opositores.

    1964 foi, em linhas gerais, seria muito longo historiar ou relembrar cada momento, foi isso. A mesma coisa que se vê hoje num contexto de tempo e espaço diferentes.

    De um lado a quadrilha FIESP/DASLU associada a tucanos e democratas – FHC, Serra e outros golpistas (no duplo sentido da palavra) –, um governo de um operário com alguns avanços, mas ora tímido, ora medroso diante dos golpistas de agora e a necessidade de perceber a falência do modelo que reflete apenas o diagnóstico de um dos militares de maior peso no golpe de 1964.

    Golbery do Couto e Silva – “há momentos de sístole e momentos de diástole” – Ou seja, de abertura e de fechamento. Vale dizer, modelo é sempre o mesmo. Abrir ou fechar é questão de momento, de conveniência dos donos.

    Vale relembrar que o pai de um dos maiores criminosos do País, Antônio Ermírio de Moares, foi eleito senador em 1962 pelo antigo PTB, no Estado de Pernambuco, apoiando Miguel Arraes e alinhava-se com um setor de empresários que se intitulava “nacionalista”. E, à época, era. José Ermírio de Moraes.

    Um fato que considero de suma importância, levando em conta a manchete do jornal O GLOBO, edição de 29 de março, domingo, deste ano, acusando Leonel Brizola e César Maia de receberem propina dos empresários do setor de transportes no estado do Rio é que Brizola, antes do golpe, quando nascia a REDE GLOBO, denunciou a presença de capital estrangeiro no grupo (TIME/LIFE) e o caráter golpista da empresa.

    E pós anistia, desmontou o esquema fraudulento que tentou impedir sua eleição para o governo do Rio, em 1982, chamado PRO CONSULT. César Maia teve papel importante naquele momento – é um matemático notável e demonstrou a fraude – Brizola foi o único a conseguir direito de resposta até hoje no JORNAL NACIONAL. Cid Moreira, o William Bonner da época, foi obrigado a ler o documento do governador desmentindo as costumeiras mentiras da quadrilha Marinho.

    O detalhe importante é que Carlos Lacerda, em 1964, antes do golpe, também acusou a GLOBO de vínculos com grupos estrangeiros. Mas logo mudou de opinião...


    Via Vi o Mundo

    ------