segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Saudades do Justo Veríssimo: Político tem medo (nojo) do povo

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Não é surpreendente nem inédito, político tem medo (nojo) do povo. Porque? Simples, porque são corruptos, não mantém suas promessas, são apenas uma imagem sem qualquer conteúdo;

O político se acha um ser superior, iluminado, um guia para a turba de famélicos e ignorantes abaixo deles. Uma classe superior que detém o poder do país em suas mãos. Não importa se falamos de um senador ou de um vereador do interior do piauí. Todos se sentem deuses.

Aliás, medo e nojo, neste ponto, se confundem. Difícil saber se o político tem nojo do povo pura e simplesmente, ou se a coisa descamba para o medo.

Mas, apaguem o que eu disse no primeiro parágrafo, sim, ainda existem coisas que surpreendem, enojam, escandalizam. Ou, ao menos, deveriam escandalizar.

Saiu hoje n'O Globo a notícia seguinte:
"Assembleia do Ceará vai construir túnel para deixar deputados bem longe do povo

Uma passagem subterrânea com cerca de 40 metros de comprimento, em construção na Assembleia Legislativa do Ceará, está sendo chamada de túnel da exclusão. A obra, estimada em R$180 mil, ligará o estacionamento localizado no subsolo ao plenário da casa. Dessa forma, ao chegarem ao Parlamento, os deputados poderão ir diretamente ao plenário sem atravessar a entrada principal, evitando passar pelo meio de populares que aproveitam a oportunidade para abordar os representantes que ajudaram a eleger.

Hoje, os deputados usam um elevador que os deixa na entrada principal da Assembleia, de onde seguem até os gabinetes ou se dirigem ao plenário passando pelo meio dos populares.

O túnel faz parte de um conjunto mais amplo de intervenção física que inclui a construção do novo estacionamento. No total, serão gastos R$ 2,5 milhões.

A passagem também dará acesso direto às salas das comissões técnicas e ao gabinete da Presidência da Assembleia, ocupada atualmente pelo deputado Domingos Filho (PMDB), ligado politicamente ao deputado federal e ex-ministro das Comunicações Eunício Oliveira (PMDB-CE). O término está previsto para dezembro. A maior parte dos deputados defende o túnel."

Será construído, enfim, um túnel ligando um novo estacionamento no valor de 180 mil reais pagos do bolso dos contribuintes cearenses. Os mesmos que serão afastados definitivamente do contato com os políticos que elegeram.

Os políticos cearenses resolveram se travestir de Justo Veríssimo, personagem memorável de Chico Anysio e que tinha horror a pobre e aos seus eleitores.
"Tenho horror à pobre!"
"Quero que pobre se exploda!"
Que o pobre se exploda, o político não tem tempo nem paciência - que o diga obrigação! - de perder seu precioso tempo tendo contato com o povo, ouvindo seus apelos, ouvindo o que eles tem a dizer. Audácia minha sequer imaginar que o político temqualquer obrigação de se aproximar de seus eleitores!

João Plenário, outro grande personagem, interpretado por Saulo Laranjeira, que nada mais era que uma tentativa de brincar - e até denunciar - o político brasileiro, passa a ser imitado naquilo que tinha de pior.

Hoje o político brasileiro sequer tenta esconder suas falcatruas, seus roubos, suas canalhices, virou o próprio Veríssimo, formou sua camarilha de corruptos, sua corruptocracia ou ainda imita o glorioso João Plenário que não tem medo de anunciar que tem horror ao eleitor.

Os políticos brasileiros foram além dos dois personagens, em seu horror ao pobre construíram um tunel para se distanciar, para não terem de ver a cara suja das crianças com fome.

E, claro, tento ficar apenas na questão do túnel pois poderia traçar fácil paralelo entre o João Plenário e seu dinheiro saindo pelos bolsos e o episódio do dinheiro na cueca de aliado de político, ou ainda poderia traçar um paralelo da corruptocracia de Veríssimo com nosso Mensalão, nossas bancadas ruralistas, evangélicas e afins.

É fantástico como a política brasileira por vezes copia a comédia, se apropria dos bordões e ainda consegue nos surpreender.

O político hoje tem nojo dos eleitores, acha um absurdo sequer ser obrigado a passar perto dos trouxas que os elegeram.

Não basta sua casa de altos muros, sua escolta em torno de seu carro blindado (notem, tudo pago com o nosso dinheiro), nem suas salas fechadas por onde passa o dinheiro público em corrupções mil ou muito menos o plenário, onde raramente pisam e quando o fazem é apenas para aprovar o uso da bíblia nas sessões ou apenas para propor a condecoração de algum parente seu por algum feito obscuro.

O político de hoje não está satisfeito com toda esta proteção, não quer ter contato com o povo em momento algum. Ou melhor, apenas na eleição, quando abraçam transeuntes, beijam crianças de colo e demonstram toda sua simpatia, economizada ao longo do ano.
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