terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A vitória de Morales é uma vitória para toda a América Latina

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Foi uma grande vitória! E, melhor de tudo, acachapante. Entre 55-65% dos votos (dificilmente menos de 60%)  frente à pouco mais de míseros 20% para o segundo candidato, o neoliberal-entreguista Manfred Reyes Villa e ainda menos para o rico empresário Samuel Medina.


A vitória de Morales nas eleições nos leva à 3 conclusões:

1. Foi sufocada e talvez eliminada a veia separatista da chamada Meia-Lua. A votação total de Morales demonstra que o país, todo ele, o quer como presidente e defende suas políticas nacionais.

2. Foi humilhada a oposição de extrema-direita, tanto a separatista quanto a que apenas queria se livrar do "índio cocaleiro".

3. A América Latina saiu fortalecida, tanto pela continuidade de um governo de esquerda e progressista quanto por ter feito frente à qualquer tentativa desestabilizadora interna ou, como sempre, externa.

Além da vitória pessoal de Morales, sue partido e aliados devem conseguir algo perto de 2/3 das cadeiras do parlamento, ou até superar a marca, o que significa um incontestável apoio ao MAS de todos os lados da Bolívia.

Depois de toda a crise pela qual passou a Bolívia, instigada por setores da elite branca, racista e preconceituosa, apavorada em perder suas históricas benesses e ainda mais apavorada com a possibilidade dos "índios ignorantes" das terras altas terem algum direito além de serem servos, é uma maravilha poder analisar os resultados da eleição e mostrar que o povo Boliviano realmente quer a mudança, quer continuar avançando e que as elites não falam por todos, estão isoladas e não importa quantos mercenários estrangeiros ou agitadores tenham, não tem o poder do povo.

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Passada a euforia, uma análise mais encorpada.

Não, não está totalmente eliminado o separatismo das elites da meia-lua. Não vai ser assim tão fácil.

Mas a questão mais imediata é a legitimidade e lisura das eleições em si. Pouco antes das eleições a Corte Nacional Eleitoral habilitou o registro de quase 8% dos eleitores que se encontravam em situação irregular, o que por si só já ascendia um alerta nos Evistas para o perigo da manipulação eleitoral.

Aparentemente, porém, a eleição foi tranquila e Morales venceu com folga, com ou sem algum tipo de manipulação mas, ainda assim, é difícil acreditar que oi separatismo foi sufocado completamente. Ele talvez tenha perdido seu amplo apóio e qualquer legitimidade que porventura pudesse ter - até mesmo aos olhos da comunidade internacional e de países que costumam apoiar este tipo de golpe, como Espanha e EUA -, mas legitimidade nunca foi fundamental para as elites tomarem suas decisões.

A presença maciça na votação - apenas 10% de abstenção -, sem dúvida ajuda Morales a garantir uma incontestável legitimidade tanto interna quanto externa e qualquer tentativa de separação poderia, agora, ser sufocada com muito mais facilidade e qualquer reforma proposta por ele teria muito mais rápido trânsito e aceitação entre a população e o congresso.

Mas o golpismo não desaparece por completo:
"Manfred Reyes Villa e Evo Morales são os dois protagonistas da eleição presidencial ocorrida ontem Bolívia. Ambos mostraram confiança, apesar da grande distância que separava Villa do atual presidente, Morales, 20 pontos percentuais à frente.
Principal candidato da oposição, Reyes Villa, do Plano Progresso para a Bolívia (PPB), pediu aos bolivianos que decidam entre "a ditadura e a liberdade" e reiterou estar confiante de que poderá levar a disputa ao segundo turno. Reyes Villa é o segundo colocado distante nas pesquisas de intenção de voto, que davam ao atual presidente, Evo Morales, vitória ampla já no primeiro turno. O candidato do PPB convocou os cidadãos do país a "cuidarem de seu voto" e lembrou as denúncias de uma "fraude monumental", independentemente do novo censo biométrico - com fotos e digitais - exigido pela oposição para a realização do pleito.
Reyes Villa demonstrou ainda estar seguro de que as eleições presidenciais serão definidas no segundo turno. "Vou ser um presidente que respeitará a lei. Se as pessoas quiserem, teremos paz e liberdade. Seremos uma alternativa diferente de paz, unidade e sem exclusões", declarou."
A insatisfação golpista não morreu aqui. A direita adotou de vez o termo "ditadura" para qualquer governo legítimo de esquerda que derrote de forma acachapante os neoliberalis e os candidatos da elite. Obviamente que este discurso só encontra eco na imprensa mais conservadora - Veja, Falha, Rede Globo, etc -, mas ainda assim é perigoso e demonstra que internamente ainda existem sérios conflitos, por menores que sejam.

Estamos falando de uma população reduzida, mas com o poder econômico.

Nos resta esperar o resultado oficial e definitivo para ver a real força de Morales. Superando os 60% a situação será muito mais tranquila.
Reduto da oposição encolheu

O impressionante apoio do eleitorado se refletiu na votação para presidente. A opisição só ganhou no seu reduto de Santa Cruz e no departamento amazônico de Bení (veja o mapa).

Mesmo assim, Evo aumentou sua votação nos dois departamentos em relação ao plebiscito de agosto do ano passado. Alcançou 40% dos votos em Santa Cruz e 35% em Bení (Reyes Villas teve respectivamente 54% e 49%), sempre segundo as projeções.

Dois departamentos que em 2008 votaram com a oposição desta vez ajudaram a vitória de Evo: Tarija, onde o presidente teve 45% dos votos (contra 36% do seu oponente principal), e Chuquisaca, onde alcançou 54% (contra 28%).

Os departamentos andinos e indígenas que são a base do governo popular confirmaram a sua preferência. Em La Paz o escore foi de esmagadores 73% a 10%. Em Cochabamba, 66% a 23%. Em Oruro, 65% a 10%. Em Potosí, 68% a 6%.

No departamento amazônico de Pando, já na fronteira com o Acre, as projeções não permitem indicar um venedor: Evo e Reyes Villas aparecem empatados, com 47 dos votos cada um.

O resultado geral do 6 de dezembro aponta duas tendêncas: Primeiro, uma consolidação da popularidade do governo popular, antiimperialista e socializante. E segundo uma gradual porém sensível erosão da força oposicionista nos departamentos oposicionistas da chamada 'Meia Lua' (Santa cruz, Bení, Tarija e Pando).
Como se vê, apesar de diminuir a distância, Morales ainda perde em Santa Cruz e Tarija e tem dificuldades em Pando. São as regiões mais problemáticas do separatismo elitista boliviano: Branco, rascista e perigoso.
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