Conversando com minha mãe hoje, criei o ânimo que precisava para escrever este artigo que, para muitos, pode parecer politicamente incorreto.
No telefone, minha mãe me liga revoltada falando de algo que viu no Derby, na frente do Quartel do exército, não longe da Ilha do Retiro, estádio do Sport Recife.
O quartel, assim como batalhões e delegacias da PM estão recolhendo donativos para serem enviados ao Haiti, entre roupa, alimentos e o que mais for. Nada contra isto, muito pelo contrário. O grande problema é que, do lado, observando tudo, tinham diversos miseráveis, pobres passando fome e necessidade observando tudo sem poder fazer absolutamente nada, ou, ainda pior, observando tudo e sabendo que tudo aquilo ia para um país distante do qual nunca ouviram falar enquanto as pessoas que passam ou passavam na rua apenas os olhavam como lixo, como um estorvo e nada faziam para ajudá-los.
Cenas como esta já cansei de ver também. Mobilização maciça em prol do Haiti mas nenhum esforço para salvar os nossos. Longe de mim criticar a ajuda ao Haiti em si, ela é necessária e bem-vinda, o problema é quando nos esquecemos do que acontece do nosso lado. Nos sensibilizamos com o sofrimento distante mas o mesmo não acontece com o sofrimento de quem está aqui do nosso lado, que vive numa eterna situação de catástrofe.
O Haiti foi atingido por um terremoto, os nossos pobres e miseráveis são atingidos pelo descaso dos órgãos públicos e pela invisibilidade frente à sociedade. Me surpreende que possamos nos sensibilizar e nos organizar para ajudar os necessitados à milhares de quilômetros, mas sejamos incapazes de fazer um quinto deste esforço aqui do nosso lado: Em nossa cidade, bairro ou mesmo esquina.
Eu sinto a mesma... Revolta? Não sei se seria este o nome correto, pois compreendo e apoio que o Brasil tome a frente no processo de reconstrução do Haiti e, mais importante, no salvamento e apoio às vítimas imediatas da catástrofe, mas, da mesma forma, fico indignado com o descaso que vemos aqui do nosso lado.
No Brasil tivemos inúmeras catástrofes causadas pelas chuvas e, ao contrário do Haiti, raramente vimos ajuda militar e muito menos disposição do governo para reconstruir o que havia sido destruído. Na verdade, os que perderam tudo terão que usar seus fundos de garantia, seu próprio dinheiro ou algum outro meio milagroso para recomeçar suas vidas. Onde está o governo para ajudar os seus em uma hora dessas?
Mas voltando ao foco central, eu fico vendo tanto dinheiro indo facilmente para o Haiti mas nem uma pequena porcentagem deste indo para resolver o nosso problema de fome e miséria. E isto faz falta.
Enfim, a questão aqui não é criticar a ação no Haiti - que está correta -e sim tentar entender, se indignar acima de tudo, o porque de tanta boa vontade com o povo haitiano e o total desprezo para com o povo brasileiro.