segunda-feira, 15 de junho de 2009

Lula e a farsa da defesa dos Direitos Humanos

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Engraçado que as notícias tenham saído uma atrás da outra, mas por um lado Lula afirma:
"Este conselho deve buscar no diálogo, e não na imposição, o caminho para fazer avançar a causa dos direitos humanos", acrescentou. Durante o encontro, o presidente defendeu que direitos econômicos, sociais e culturais são "essenciais" para garantir um padrão de vida digno e, sobretudo, para preservar direitos civis e políticos."
E por outro lado a HRW e a Conectas comentam que este posicionamento do Brasil apenas prejudica a ONU, o Conselho de Direitos Humanos e, no fim, as vítimas de abusos.

A piada da "agenda positiva" significa apenas que o Brasil se recusa a condenar nações genocidas, como o Sri Lanka, Israel, Sudão em prol de diálogo com ouvidos surdos e a implementação de propostas que jamais sairão do papel, enquanto milhares, quiçá milhões, morrem de diferentes e horríveis maneiras.

"O apoio do Brasil a governos abusivos está enfraquecendo o trabalho do Conselho. Em vez de falar pelas vítimas, o Brasil frequentemente argumenta que os Governos precisam de uma chance e que a soberania das nações é mais importante que os direitos humanos", afirmou Julie de Rivero, diretora da HRW em Genebra.

"O fracasso do Brasil em se opor ao desvio dos objetivos do Conselho e, às vezes, sua própria cumplicidade no processo são alarmantes", disse, por sua vez, a ONG brasileira Conectas Direitos Humanos."

O Brasil se apega a interesses torpes e interesses ditos comerciais com países da relevância do Sudão ou Congo, se recusa a referendar sanções à nações que costumeiramente desrespeitam os direitos humanos e acaba se colocando ao lado de EUA, Israel e outros países sem qualquer compromisso com os DH.

De uma posição histórica de combate à abusos, o Brasil de Lula vem sendo conivente com estes o que é preocupante e alarmante. Tal política precisa ser urgentemente revista sob pena do País ficar completamente desacreditado e se tornar apenas mais um que apóia os abusos aos DH ao não se opor diretamente à eles, numa política torpe de "não-intervenção"ou "não ingerência".

Não intervir, nestes termos significa apoiar, concordar. Não tem escapatória.

"Ambas as ONGs lembraram que o Brasil se absteve nas resoluções sobre a Coreia do Norte, que condenavam as violações dos direitos humanos no país, e na da República Democrática do Congo (RDC), que buscava o reforço do papel dos investigadores das Nações Unidas e condenava o uso da violência sexual e o recrutamento infantil.

"Durante a sessão especial sobre a situação no Sri Lanka, o Brasil foi copromotor de uma resolução que afirma o desacreditado princípio da não ingerência em assuntos internos. Essa resolução ignorou as afirmações da própria alta comissária dos Direitos Humanos, Navi Pillay, de que no conflito cingalês tinham sido cometidos crimes de guerra", lamentou a HRW.

"Com sua posição, o Brasil retrocedeu seis anos ao enaltecer o princípio de não interferência", acrescentou a Conectas."

Acompanhei todo o desenrolar da situação no Sri Lanka neste blog e, acreditar que o Brasil não viu qualquer indício de abusos é acreditar que Israel realmente quer a paz com os Palestinos, ou seja, é acreditar em duendes e fadas, em um conto de fadas, uma mentira.

Tudo isso é medo de ser também conedado pelos abusos constantes cometidos pela polícia contra a população, pela falta de vergonha de parlamentares, pela situação carcerária absurda e pela violência galopante no país? Apenas um pensamento vago....

O pior de tudo é ainda ver a cara sorridente do Lula defendendo a não-ingerência, como se isso fosse maravilhoso, defendendo uma pseudo-agenda positiva, quando todos sabem da piada que é esta agenda. Enquanto isso, milhões morrem no Sri Lanka, no Sudão.... E Lula continua sorrindo e achando que está ajudando o povo.

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Update:

Lula, aliás, perdeu outra oportunidade de ficar calado e resolveu se meter em assuntos iranianos:

"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que as manifestações contra o resultado das eleições no Irã são "demonstrações de quem perdeu". "Ele recebeu mais de 60% dos votos. Isso é algo expressivo", afirmou Lula, em Genebra, na Suíça. "Essas manifestações são de quem perdeu. Eu mesmo já participei de muitas assim", disse. O presidente brasileiro afirmou que visitará o Irã em 2010 e que o convite para Ahmadinejad ir ao Brasil está de pé."

Mais um desserviço à política externa brasileira, aos Direitos Humanos e à democracia.

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Comentários
2 Comentários

2 comentários:

Luis Henrique disse...

Além da (sur)realpolitik (como bem definiu o Hugo), tem um complicador: intervir como? Declarar guerra? Aplicar sanções e bloqueios comerciais que acabam só piorando a já vida do povo?

Raphael Tsavkko Garcia disse...

(sur)realpolitik é uma das definições mais fantásticas que vi nos ultimos tempos... Isso é fato, haha!

Sabe, eu até concordo que sanções por si só não resolvem nada - vide Coréia - mas se abster ou votar contra qualquer coisa que condene abusos também já é um absurdo.

Veja o caso do Congo, que citei no meu post, a resolução não era para criar sanções e sim para reafirmar o papel de observadores da ONU e condenar abusos. Qual a razão da abstenção do Brasil?

Eu até concordo que existem casos em que sanções só prejudicam - volto à Coréia - mas em outros talvez não prejudiquem tanto e sejam uma forma de manifestar repúdio ecortar financiamento e armas, como no caso do Sri Lanka. Cada caso é um caso e o Brasil vem assumindo o papel dedefensor de abusos da maneira como se porta.

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