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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Vídeo censurado: Mães de Maio denunciam promotora por “criminalizar” movimento

Este vídeo foi postado originalmente pelo site jornalístico Ponte e posteriormente censurado a pedido da promotora Ana Maria Frigério Molinari - ex-promotora do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) - que acusa as Mães de Maio de envolvimento com o tráfico de drogas.

A acusação, flagrantemente falsa, foi feita durante uma audiência de instrução na 3ª Vara Criminal de Cubatão. Nela a promotora responde a perguntas feitas pelo advogado de três policiais militares, Cristian David Almeida de Castro, José Roberto de Andrade e Rudney Queiroz de Almeida, acusados de “sequestro e denunciação caluniosa”. Segundo a denúncia do Ministério Público, em 2009, o trio teria sequestrado um suspeito com o objetivo de assassiná-lo no acostamento da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, mas, surpreendidos por policiais rodoviários, disseram que haviam prendido o homem por porte ilegal de arma.

As Mães de Maio são um dos movimentos sociais mais importantes, respeitados e coerentes do Brasil, com anos de luta pelo reconhecimento da responsabilidade do Estado no assassinato de seus filhos em maio de 2006 por ações de policiais militares que afirmavam combater o PCC.
"As Mães de Maio já receberam o Prêmio dos Direitos Humanos, do Ministério da Justiça, e há dois anos foram homenageadas com uma lei estadual que transformou o 12/5 em Dia Mães de Maio. Os crimes que motivaram a criação do grupo ocorreram após o PCC matar 43 agentes públicos, a maioria nos dias 12 e 13 de maio de 2006. Entre 12 e 20 de maio, o Estado de São Paulo registrou a morte de outras 493 pessoas, muitas baleadas por policiais em supostos confrontos ou por homens encapuzados.

Entre as vítimas, estava o filho de Débora, Edson Rogério Silva dos Santos, que, segundo ela, trabalhava como gari e “levava no bolso o holerite do emprego, que ficou manchado de sangue”. Outra Mãe de Maio, Vera Lúcia dos Santos, entrou para o grupo após sua filha, Ana Paula Gonzaga dos Santos, grávida de nove meses, ter sido morta por tiros que também atingiram o feto que levava na barriga, uma menina chamada Bianca que estava com a cesariana marcada para dali a três dias."
Leia mais: http://ponte.org/maes-de-maio-denunciam-promotora-por-criminalizar-movimento/

Pede-se que o vídeo seja espalhado. Repostem em suas redes sociais, em seus canais do youtube, vimeo e etc para furar a censura imposta pela justiça de São Paulo. Que a promotora Ana Maria Frigério Molinari prove suas acusações ao invés de esconder-se detrás de medidas que visam censurar a imprensa.
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quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Blog do Tsavkko apoia Jean Wyllys para Deputado Federal

Dizer que o Jean é um ativista pelos direitos LGBT é não apenas reduzir sua luta, como dividir os Direitos Humanos em pequenos núcleos que não se comunicam. Não, Jean defende os Direitos Humanos, com letra maiúscula, e nisso defende LGBTs, mulheres, indígenas, sem terra, sem teto, prostitutas... defende nossos direitos, os direitos de todos e todas.

Em 4 anos Jean lutou pela visibilidade de grupos normalmente (re)tratados com desprezo, escondidos sob o tapete ou mesmo criminalizados, mas 4 anos é muito pouco para tamanha luta. Precisamos garantir mais um mandato não apenas para ele, mas para aqueles que defendam com unhas e dentes - mas sempre com alegria - os Direitos Humanos, os NOSSOS direitos.

Jean é necessário. Mas é bom ter em mente que só ele não pode levar a bandeira dos Direitos Humanos sozinho.

Votem em candidatos e candidatas que não tenham medo de dar a cara a tapa na defesa intransigente das minorias e votem em Jean Wyllys para continuar a encabeçar esta luta.

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Bons candidatos para se votar no Rio:

Pra Federal - Jean Wyllys, Renato Cinco e Chico Alencar
Pra Estadual - Ivone Pita, Bruno Mattos, Flavio Serafini e Marcelo Freixo

E pra governador sem dúvida recomendo o Tarcísio Motta

Em São Paulo:

Pra Federal meu voto é do Givanildo-Giva Manoel
Pra Estadual meu voto é do Todd Tomorrow
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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Marina Silva continua representando o atraso, mas Dilma é ainda pior

Em 2010 me manifestei claramente sobre e então candidata Marina Silva: Ela representava o atraso.
Marina Silva não entende porque é vista, a priopri, como uma pessoa preconceituosa e fundamentalista por ser evangélica. Vamos iluminá-la? Em primeiro lugar, Silas Malafaia, Edir Macedo e RR Soares são nomes que logo vêm à mente e dizem alguma coisa. Em segundo lugar, ser contra o Aborto, Casamento/Adoção por casais homossexuais e pesquisa com células tronco dão mais uma mostra dos ideais progressistas da candidata. Realmente, porque será que ela sofre preconceito?
Sou o primeiro a admitir que não gostaria de um evangélico governando o país, mas preciso esclarecer; Me refiro não ao evangélico, ou melhor, o protestante laico, ao fiel de denominações tradicionais (em geral) e com os pés no chão, e sim ao popular "crente", ao fiel de "igrejas" neopentecostais, adeptas da tal "teologia da prosperidade", enfim, a qualquer um que orbite no entorno de Malafaia, Edir Macedo, Veldemiro, Assembleia de Deus e semelhantes.

Estes são os principais membros da chamada Bancada Evangélica (que conta também com membros de denominações protestantes tradicionais, no entanto) e são os propulsores do fundamentalismo e medievalismo no Brasil. Estes devem não apenas ficar longe da presidência, como devem ser defenestrados de qualquer cargo público, meios de comunicação e posição de poder. O Estado deve se distanciar ao máximo de religião, especialmente de fanáticos estelionatários.

Mas, enfim, Marina em 2010 era conhecida por sua claudicância em temas de direitos humanos, se opunha ao aborto, se opunha ao casamento igualitário, à adoção por casais do mesmo sexo, etc, e defendia algo absolutamente inaceitável, plebiscitos para questões de direitos humanos.

Era, apesar de todo o hype, uma candidata que representava um atraso monumental, aliado ao seu ecocapitalismo torpe e aliados que em nada se diferenciavam dos dos demais candidatos. Não havia nada de novo, senão a repetição talvez medievalizada e pseudo-moderna do que já tínhamos.

É preciso notar que hoje suas ideias não são mais a exceção. Mas a regra. A política brasileira cada vez mais se aproxima de um jogo não de soma zero, mas de resultados absolutamente negativos.

Chega 2014 e Marina tem novamente a chance de disputar a presidência. E algumas de suas posições mudaram. Acabou o papo de plebiscito pra direitos humanos, ela passou a defender (ao menos diz sua assessoria) direitos LGBTs e, no fim, seu discurso se mostra em tese mais progressista que as práticas dilmistas (esta sim um verdadeiro retrocesso em todos os sentidos).

Marina continua não diferindo em termos econômicos dos demais. Dilma, Marina e Aécio são patrocinados pelos mesmos grupos poderosos, defendem agenda econômica semelhante e cujas nuances não alteram o quadro geral - o de garantir lucros imensos aos patrocinadores e amigos e apenas garantir migalhas ao povo. Não há nenhuma diferença fundamental entre as três principais candidaturas que se apresentam este ano - e temos como o ponto mais baixo a candidatura do Pastor Everealdo, este sim que causa calafrios, mas é outro assunto.

Marina se coloca como defensora de um ecocapitalismo que, em tese, seria refratário aos anseios mais virulentos de Katia Abreu e sua turma - esta que é unha e carne com Dilma e o PT - e este é um ponto positivo, mas no fim é difícil vislumbrar, especialmente com o vice escolhido pelo PSB para ela - Beto Albuquerque, ruralista -  alguma mudança efetiva no campo, a suspensão de Belo Monte, reforma agrária e afins.

Aliás, faço um adendo, cito o Aécio neste texto, mas jamais votei ou votarei no PSDB, logo, não me demoro em sua candidatura.

Resta, então, os direitos humanos. Este era o ponto fraco de Marina, e continua, em geral, sendo, mas diante de Aécio e de Dilma, mesmo suas posições não muito progressistas gerais conseguem colocá-la à frente dos concorrentes.

Seu discurso hoje - e o de seu vice, abertamente pró-LGBT - é mais afinado com os direitos humanos e é sem dúvida mais progressista que Dilma, que foi uma franca INIMIGA dos direitos humanos: Promoveu com seus aliados genocídio indígena, homofobia, machismo, crescimento da AIDS....

Dilma se aliou, cedeu e governou com os evangélicos de tal forma que o mero fato de Marina ser evangélica ou se pautar em sua religião para governar (pese ter dado declarações em defesa do Estado Laico) se torna algo menor. Os recuos nos direitos humanos foram tão gigantescos com Dilma no poder que Marina não parece mais ser o imenso atraso que representava em 2010. Hoje o maior inimigo ou inimiga dos direitos humanos é Dilma e o PT. E isto não é teoria, não é análise de discurso, é a/na prática, ou esqueceram, por exemplo, da declaração criminosa de Dilma de que o "Estado brasileiro é Laico, mas"?

Não, Marina não se tornou simplesmente "palatável", o PT é que tomou seu lugar nas trevas.

Em outros tempos eu poderia, criticamente, chamar o voto em Marina num eventual segundo turno, mas depois do erro imenso que cometi na eleição passada ao apoiar o suposto mal menor, Dilma, não consigo repetir no erro e nem me comprometer a tal ponto.

Nesta eleição deixo claro, gostaria de ver o PT perder. O país precisa disso, a esquerda precisa disso e os movimentos sociais mais do que nunca precisam de espaço para se renovar sem a constante pressão, cooptação e violência vinda do  e patrocinada pelo PT, mas é preciso ter em mente que qualquer alternativa não é, em si, uma real alternativa, mas no máximo um período de transição que deve ser aproveitado.

Admito uma certa hipocrisia em afirmar a necessidade de derrotar o PT enquanto não me comprometo a apoiar ninguém que efetivamente possa derrotá-lo. Sim, espero que outros o façam, pois não tenho forças para dar meu voto a Marina. Nem coragem.Ela continua representando o atraso, pese Dilma ser pior.

Para o país, uma eventual vitória da Marina nos aliviaria de mais um governo ruralista, privatizador e genocida indígena representado pelo PT, mas traria novos desafios, pois seria igualmente aliado das oligarquias, representaria interesses semelhantes.


Todos os cenários são ruins para a população e todos exigem mobilização constante, movimentos sociais fortes e atuantes que, sem o PT no poder e sem a verba ilimitada para o partido cooptar, poderiam efetivamente se reerguer. Não tenho qualquer esperança de que o PT derrotado voltaria a seu papel de oposição de esquerda. O partido se degenerou de tal forma que não resta mais ilusão. Precisa do poder e das verbas que vem com ele. Uma oposição de esquerda invariavelmente teria de nascer das ruas e dos movimentos sociais e coletivos diversos.

Uma vitória da Marina seria ruim, sem dúvida, mas seria algo como o famigerado "menos pior". É, hoje, o possível. Posso estar enganado? Sem duvida, assim como me enganei com Dilma pensando que seria ela a menos pior e, no fim, ela foi a pior presidente que o país teve desde a redemocratização.

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Alguns podem perguntar "mas e a Luciana?", bem, eu não confio. Não digo ser uma candidatura em si ruim, mas a quantidade de tetos de vidro junto com as disputas internas no PSOL com sua tendência, o MES, das quais tenho conhecimento me afastam de sua campanha. É sem dúvida uma opção no primeiro turno, faço votos que consiga superar o traço, mas de fato não me anima ou enche os olhos. E, sejamos francos, não passará ao segundo turno e quis aqui me concentrar em cenários reais entre os três candidatos com chances de serem eleitos.
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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O que os candidatos pensam sobre...?

Uma pequena lista em constante atualização de perguntas formuladas pelo @cadulorena e por mim, direcionadas aos candidatos a presidência sobre questões econômicas, de direitos humanos e sociais do país e que gostaríamos de ver perguntadas em debates:

O que os candidatos pensam sobre desmilitarização das policias?

O que os candidatos pensam sobre #CasamentoIgualitario, #CriminalizaçãoDaLGBTsfobia, adoção de crianças por casais homoafetivos e educação inclusiva?

O que os candidatos pensam sobre 10% do PIB exclusivamente e já pra educação pública?

O que os candidatos pensam sobre revisão da Lei da Anistia?

O que os candidatos pensam sobre alternativa ao modelo "desenvolvimentista" predatório e explorador financiado pelo Estado?

O que os candidatos pensam sobre privatização /concessão de bens públicos sem qualquer consulta aos maiores interessados, o povo?

O que os candidatos pensam sobre legalização do aborto e atendimento pelo SUS?

O que os candidatos pensam sobre verbas públicas do Estado financiando saúde e educação privada?

O que os candidatos pensam sobre Estado atacando manifestações e criminalizando/espionando movimentos sociais e ativistas?

O que os candidatos pensam sobre gastos públicos com a Copa, com grandes eventos esportivos e religiosos, com Olimpíadas?

O que os candidatos pensam sobre remoções forçadas de pobres pra dar lugar a obras de eventos onde quem lucra são os ricos?

O que os candidatos pensam sobre democratização dos meios de comunicação? Sobre verbas públicas gastas em propaganda?

O que os candidatos pensam sobre financiamento milionário de empresários pras campanhas partidárias, a começar pela deles?

O que os candidatos pensam sobre grandes obras hidrelétricas na Amazônia, feitas por empreiteiras e com grana pública?

O que os candidatos pensam sobre legalização da maconha e outras drogas?

O que os candidatos pensam sobre direitos indígenas, demarcação de terras, respeito às culturas tradicionais, uso de terras indígenas para
mineração/extração de gás e petróleo?

O que os candidatos pensam sobre verbas públicas nas mãos de organizações religiosas que "tratam" de dependentes químicos?

O que os candidatos pensam sobre Belo Monte, Transposição do São Francisco e outras obras megalomaníacas incluídas ou não no PAC?

O que os candidatos pensam sobre o crescimento do fanatismo religioso, em especial neopentecostal, e sua tomada de assalto de instituições públicas como câmaras de deputados, vereadores, etc?

O que os candidatos pensam sobre o Estado Laico?

O que os candidatos pensam sobre o Passe Livre nos transportes públicos?

O que os candidatos pensam sobre a superação do modelo "carrocêntrico" e pela diversificação de modalidades de transporte público?
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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Sobre Copa, otimismo, pessimismo, e uma verdadeira esperança dissidente

Guest post de Mariana Parra
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Os debates e discussões sobre a Copa, muitas vezes acalorados e polarizados, me lembraram uma aula que tive o prazer de ter com um professor da República Democrática do Congo, sobre integração africana. Ele começou a aula falando sobre os afro-otimistas e os afro-pessimistas.

Os primeiros, um grupo mais reduzido, normalmente pessoas de ONGs e missionários religiosos, exaltam as maravilhas do continente e das culturas africanas, as características de seus povos, o futuro brilhante que o continente tem pela frente. Os segundos, infelizmente mais abundantes do que gostaríamos, normalmente líderes políticos e acadêmicos europeus, profetizam que a África é um continente fadado ao fracasso, ao subdesenvolvimento e à pobreza, como se pode imaginar, usando discursos e argumentos racistas e etnocêntricos.

O meu professor, uma figura bastante reconhecida no seu país e em outros países africanos, se declarou um afro-realista, como uma pessoa que conhece bem os problemas e desafios desse continente tão castigado por séculos de colonialismo e exploração, e conhece bem também suas potencialidades, sua enorme riqueza cultural e social, sua natureza prodigiosa, que trouxe grandes desafios para o ser humano, desde o início, o início de todos nós (afinal, todos viemos da África). Ele destacou a herança maldita do colonialismo que infelizmente ainda persiste na maioria dos países africanos, e afirmou sua firme esperança num futuro melhor e mais justo para o povo africano, sua esperança baseada no enorme capital humano e cultural do continente, que precisa se recuperar de tantos anos de exploração e do cruel colonialismo.

Voltando ao Brasil, me considero bem próxima ao pensamento do professor democrático congolês. Muitos no Brasil parecem querer negar nossos problemas, parecem querer varrê-los para debaixo do tapete. Nos debates sobre a Copa, se ressentem da onda de críticas contra o evento (de qualquer que seja a origem, por certo há críticas bastante questionáveis). Reafirmam a #CopadasCopas, qualificam qualquer crítica como síndrome de vira-lata.

Querem calar as vozes que apontam para a corrupção, para as remoções, para a violência policial que já ceifou muitas vidas, sim, no contexto do evento (poderiam ser ceifadas em outros contextos, mas sabemos do que estamos falando, e as comunidades atingidas demonstraram muito bem isso com o lema: A festa nos estádios não vale as lágrimas nas favelas), além da incrível repressão policial às manifestações, com a prisão de ativistas em procedimentos totalmente ilegais (com claras irregularidades por parte da polícia e também do judiciário). Os otimistas que não toleram a dissidência querem afirmar e propagandear o Brasil que dá certo, o Brasil bonito, a festa, em troca de esconder, debaixo do tapete, a barbárie diária de massivas violações aos direitos, principalmente dos mais desfavorecidos, inclusive o básico direito à vida.

Já vi gente dizendo inclusive que críticas à organização do evento são racistas, com as comparações com países desenvolvidos. Ora, é alguma mentira que o Brasil tem mais corrupção que outros países que conseguiram avançar mais em seus mecanismos democráticos? Não coloco nenhum país em pedestal, muito menos na atual altura do campeonato, em que a crise nos países desenvolvidos demonstra a insustentabilidade total do sistema capitalista global, demonstra os limites dos avanços democráticos alcançados nesses países. Também acho que temos que valorizar nossa cultura, nossa sociedade, nossas grandes vantagens. Temos uma incrível sociodiversidade, uma cultura riquíssima, vinda do encontro de tantas culturas.

Nasci em São Paulo e me sinto privilegiada por ter crescido no cosmopolitismo da cidade. É por isso mesmo que acredito na importância da luta contra todas as barbáries e retrocessos que estamos vivendo. Síndrome de vira-lata mesmo é querer negar os próprios problemas, viver de fantasia e querer apagar a dor dos demais, é assumir um otimismo festivo que não quer saber dos problemas, aquela festividade dos que não querem que essa gente que conta os mortos atrapalhe a alegria (e nada contra quem está curtindo a Copa, muito pelo contrário, há coisas inclusive bem interessantes na Copa, o problema é os que querem curtir e não querem ouvir nenhum outro ruído, os que ainda querem calar os dissidentes, e sim, infelizmente há muitos).

Analisando outro caso de racismo em âmbito internacional: as perspectivas racistas, xenófobas e etnocêntricas em relação ao mundo árabe e muçulmano são muito disseminadas. Algumas inclusive do meu ponto de vista muito toleradas em âmbito acadêmico (assim como os afro-pessimistas). Os propagadores do "choque de civilizações" pintam os árabes como naturalmente beligerantes, lhes atribuem características essenciais, inferiores à cultura cristã ocidental. Quem conhece um pouco de história e das culturas árabes e muçulmanas sabe como isso é uma mentira completa, fruto de mentes ignorantes e fanáticas.

Quem conhece história sabe que enquanto a Europa estava mergulhada nas trevas da Idade Média, as ciências e as artes floresciam em países do Oriente. Quem conhece um pouco sobre política internacional sabe que a radicalização de grupos islâmicos se deve, em grande medida, às políticas desastrosas dos Estados Unidos durante a Guerra Fria, e marcadamente depois do 11 de setembro. Quem conhece todo esse contexto, porém, não irá fingir que o Oriente Médio é hoje um paraíso. Quem conhece as causas e raízes dos conflitos no Oriente Médio não vai querer tapar ou negar que, muito tristemente, a região está hoje à beira de um conflito generalizado, com parte da sua população sendo submetida à um sofrimento extremo.

Acredito que a verdadeira luta por um mundo melhor prescinde de uma verdadeira disposição para encarar a realidade. Como lutar contra a opressão sem reconhecê-la? O imperialismo europeu e estadunidense ainda dominam o mundo, levaram à consequências desastrosas, com as quais lidamos até hoje. Promoveu a escravidão, genocídios, massacres, sociocídios (onde o tecido social e as bases morais e culturais de uma sociedade são destruídas, muitas vezes com gerações e gerações submetidas à exploração e à conflitos). O sistema internacional ainda é baseado em grande medida nessas antigas ordens, embora tenha mecanismos e uma aparência de consenso e democracia, e embora tenha, de fato, mecanismos democráticos (que infelizmente funcionam cada dia menos), e algum senso de humanitarismo.

O mesmo vale para o Brasil (e hoje as fronteiras entre o local e o global são cada vez mais tênues. Nossa situação é muito parecida à de muitos outros países, com repressão, militarismo, violência, desigualdades extremas, etc.). Os que querem esconder o sol com a peneira apenas contribuirão para a manutenção do status quo, esse status quo que tentam apagar (apagando, também, suas vítimas diárias). Talvez seja esse mesmo o objetivo destes. Prefiro seguir, como colocado nessa entrevista com Chomsky, uma esperança dissidente, que acredita na força dos que lutam diariamente, dos que atrapalham a festa, para um dia também poderem sorrir plenamente.

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O grande Plínio de Arruda Sampaio faleceu um dia após esta postagem ser feita e suas considerações finais durante o último debate para a presidência em 2010 caem como uma luva e nos faz pensar.
Descanse em paz, Plínio. Você será sempre lembrado por nós. Plínio presente!
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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Estado Espanhol tortura até os mortos... no Brasil!

CRUELDADE EM SOLO BRASILEIRO

Como alguns de vocês devem se lembrar, no dia 18 de Janeiro de 2013, o cidadão espanhol (basco) JOSEBA VIZAN GONZALEZ foi preso no Rio de Janeiro por portar documentos falsos. A sua prisão repercutiu em diversos veículos de imprensa, não pelo porte dos documentos falsos, mas sim por estar sendo acusado de pertencer a um grupo militante armado na Espanha.

Joseba foi solto depois de 2 meses na prisão, o seu caso está muito longe de ser um caso policial. Joseba foi preso e torturado na Espanha por acreditar na liberdade do seu povo e do seu País, o País Basco. Joseba é um perseguido político, porém para a sua pátria mãe, a Espanha, ele seria um fugitivo, mesmo nunca tendo sido julgado nem condenado.

Um dia após sua prisão no Brasil, os pais de sua esposa (sogros de Joseba) vieram a socorro de sua filha e neta no Brasil, para lhes prestar apoio e ajuda neste momento tão difícil. Ambas se encontravam desamparadas em solo brasileiro, sem qualquer apoio diplomático. Contando apenas com a ajuda de alguns amigos que aqui fizeram nos 16 anos em que aqui viveram.

Os sogros de Joseba iriam embora hoje, dia 02 de Abril, após 2 meses de muita luta e sofrimento, mas iam felizes, pois Joseba estava fora da cadeia, cumprindo pena alternativa, conforme lhe foi sentenciado por um tribunal brasileiro, pois sua prisão era desproporcional ao único crime ora cometido: falsidade ideológica, que se fez necessário devido a sua situação de perseguido político em solo Espanhol.

JOSÉ MARCO MUYOR, sogro de Joseba se preparava ontem, dia 01 de Abril, para fazer sua última caminhada pelas ruas do Rio de Janeiro, para se despedir da cidade. Estava com sua esposa e JOSEBA, quando sofreu um ataque cardíaco fulminante. Joseba tentou sem sucesso reanima-lo, ajudado por alguns bombeiros, e depois por agentes do SAMU. Foi encaminhado para a UPA – Unidade de Pronto Atendimento de Botafogo por uma ambulância, mas já chegou na unidade em óbito.

Mal sabíamos todos que o sofrimento maior ainda estaria por vir. Uma família que fazia pouco tempo foi destroçada por uma prisão injusta, sem julgamento ou condenação, que passou as amarguras de buscar ajuda entre cidadãos brasileiros pois não encontrou apoio no governo do seu país, começava um novo calvário.

Neste dia 02 de Abril, acompanhei a esposa de Joseba na árdua missão de liberar o corpo do pai no IML – Instituto Médico Legal no Rio de Janeiro, lá fomos informados pelo policial civil JOSÉ que o corpo de JOSÉ MARCO MUYOR só poderia ser liberado mediante uma autorização do CONSULADO GERAL DE ESPANHA, do Rio de Janeiro. Por se tratar de um cidadão estrangeiro, o procedimento seria padrão. Ainda lhe perguntei se o Consulado Geral da Espanha saberia do que eu iria lhes pedir, no que ele nos respondeu: “Com certeza, o plantão consular de todos os países sabem que é procedimento padrão e para tanto será um documento muito simples”. Estávamos de posse do passaporte de JOSE MARCO MUYOR e da sua identidade Espanhola.

Rumamos eu e a esposa de Joseba para o Consulado Geral de Espanha, situado na Torre Rio Sul em Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro. Chegamos ao local por volta das 12:30 do dia 02 de Abril, explicamos o que precisaríamos para que o corpo de JOSÉ MARCO fosse liberado pelo IML.
Fomos atendidas pelo Sr. Afonso Castilho que nos informou que tal procedimento não existe.
Colocamos o agente da Polícia Civil no telefone com os agentes consulares espanhóis, quem sabe eu não estávamos lhes pedindo o documento correto? De nada adiantou.

O Consulado Geral de Espanha disse que em nada poderia nos ajudar neste assunto. Que apenas cuidaria de algum assunto administrativo.

Voltamos a Polícia Civil do IML para entendermos o que poderíamos fazer para acabar com este sofrimento, mais uma vez o agente JOSÉ, estarrecido com a reação pouco usual por parte do Consulado Geral da Espanha, o policial Civil brasileiro nos deu duas opções:

- Entrar na justiça brasileira através de um plantão judiciário para a liberação do corpo
OU
- Aguardar o prazo de 72 horas de entrada no IML para que na presença dos familiares e de outras duas testemunhas o corpo fosse liberado SEM IDENTIFICAÇÃO, como INDIGENTE.

Não bastasse o sofrimento da perda de um pai, um sogro, um avó, a família ainda passa pelo profundo desgosto de ser IGNORADA POR AQUELES QUE DEVERIAM PRESTAR APOIO: O corpo Consular do seu próprio País.

Em nenhum momento NENHUM MEMBRO DO CONSULADO ESPANHOL se dispôs a tentar ajudar no problema, nunca foi lhes dado um só telefonema, nenhum facilitador, nenhuma palavra, nenhum apoio, nada.

À família ESPANHOLA lhes resta pedir SOCORRO ao GOVERNO BRASILEIRO para tentar enterrar seu pai que TINHA SIM UM NOME, não é um indigente, É UM CIDADÃO ESPANHOL, portador de todos os seus documentos.

Essa atitude CRUEL, DESUMANA do Governo Espanhol para com esta família me revolta, me entristece, me envergonha como SER HUMANO. SE ESTA FAMÍLIA NÃO ESTÁ SOFRENDO UMA PERSEGUIÇÃO POLÍTICA POR PARTE DO GOVERNO ESPANHOL, NÃO SEI MAIS O QUE ISSO PODE RIA SER.

Com profunda tristeza suplico a ajuda do GOVERNO BRASILEIRO, suplico AJUDA DOS DIREITOS HUMANOS, suplico ajuda dos órgãos competentes para que possamos não só como pátria, mas como SERES HUMANOS, ajudar a cessar tamanho sofrimento que aflige esta família.

Com esperança me subscrevo,

Irina Faria Neves
Rio de Janeiro, 02 de Abril de 2013

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A notícia não surpreende, por mais que seja inaceitável e asquerosa. O Estado Espanhol tortura mesmo aos mortos e suas famílias. Em sua vingança pessoal conra Joseba, um lutador pela independência de sua pátria, o regime espanhol tortura sua família, nega a seu sogro um enterro decente, nega o mero reconhecimento deste.

É simplesmente inaceitável que um Estado se preste a um ato cruel de vingança como este.

Joseba é um herói. Um lutador de sua pátria e de seu povo e por isto foi torturado e hoje sua família é torturada. Toda minha solidariedade a ele e a sua famílii e amigos.
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Atualização 04/04:
De Irina Neves, no Facebook:
Como o governo espanhol não conseguiu deportação de JOSEBA para que fosse torturado na Espanha, tenta agora a tortura psicológica. Mais uma vez conseguimos fazer justiça, e JOSÉ MARCO, nosso querido Aita, vai poder ser enterrado de forma digna. Obrigado a todas as manifestações de carinho e apoio. 
 
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terça-feira, 26 de março de 2013

Há algo de positivo na eleição do Feliciano...

A eleição do Feliciano para a CDH - com apoio do PT, diga-se de passagem, não adianta tentarem esconder ou disfarçar - tem um ponto que, penso, é positivo.

Os movimentos Negro, LGBT, Indígena e Feminista sempre, para mim, pareceram isolados. Em outras palavras, quando um se manifesta, quando um reivindica, os outros esperam sua vez. Não há uma coordenação entre esses movimentos de minorias, não há uma pauta comum expressada - ainda que a pauta de todos seja a mesma, a da busca por inclusão e respeito.

Mas eu vejo todos esses diferentes grupos juntos contra o Feliciano, contra o oportunismo do PT em colocar esse querido aliado na presidência da CDH.

Aliás, vejo no Jean Wyllys - gay, negro e nordestino - também um ponto de encontro. Não apenas pelas características (se é que podemos chamar assim, talvez "não apenas pelo que ele é"), mas pela sua luta que acaba agregando diferentes setores minorizados em uma frente comum. Não surpreende que um dos líderes da insurgência contra o Feliciano seja exatamente o Jean que é, aliás, o mais apto a assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos, ainda que saibamos que as alianças e trocas de favores políticos tornem tal possibilidade uma ilusão.

Enfim, acredito que o Feliciano conseguiu unir grupos absolutamente diversos e que muitas vezes não saem dos seus quadrados e que é preciso pegar este gancho e buscar mais pautas em comum (para além das óbvias) e formar frentes de luta em comum.

Não se pode falar em direitos humanos enquanto gays não tiverem os mesmos direitos que os héteros, enquanto mulheres continuarem a ganhar menos mesmo trabalhando o mesmo ou mais até que os homens, ou enquanto indígenas forem expulsos com violência de museus ou assassinados em um verdadeiro genocídio e, falando em genocídio, que usa a PM para massacrar a juventude negra nas periferias.

E TUDO com apoio governamental, seja ele do PT ou do PSDB, que são farinha do mesmo saco, de um governo que é homofóbico e não faz "propaganda de opção sexual", que veta proposta de igualdade salarial para mulheres e se recusa a discutir aborto e que deixa aliados matarem indígenas para criar latifúndios ou aplaude quando aliados os tratam como lixo e os expulsam com violência ( com direito a militante fanático apoiar a pancadaria ou criar teoria estúpida de conspiração) ou ainda quando usa as forças policiais para matar a população negra.

São todas lutas em comum, por sobrevivência, dignidade, direitos. E lutas que não podem ficar desconectadas.

Ou seja, estamos diante não só de uma luta contra uma figura nefasta, mas também diante de uma oportunidade. A oportunidade de discutir pautas em comum entre diferentes grupos (e citei apenas alguns, talvez os mais visíveis, ou com os quais estou mais familiarizado, mas existem outros) e buscar formas de se lutar contra inimigos comuns.

Pensemos nisso.

E não se enganem, além de uma oportunidade, trata-se de uma NECESSIDADE. Apesar de fingir se oporem a Feliciano, membros de outros partidos "cristãos" e a Bancada Evangélica tem uma agenda muito semelhante a dele e estão unidos. São contra direitos para minorias, qualquer direito, qualquer minoria. Todos que não são como eles, são "coisa do demônio" e devem ser combatidos.

E não são poucos, tem poder, oras, controlam o governo federal. Ou seja, precisamos de toda a força e de toda a união para fazer frente a ele e aos seus.

Não pensemos apenas, vamos agir.
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sexta-feira, 1 de março de 2013

PT entrega ao PSC de Marco Feliciano a Comissão de Direitos Humanos [update]

O PSC - Partido Social Cristão, de extrema-direita que não deveria existir em um Estado Laico - presidirá a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDH ou CDHM) da Câmara dos Deputados muito provavelmente na pessoa do homofóbico e racista pastor Marco Feliciano, para quem gays são doentes e negros são amaldiçoados.

Porque o minúsculo, irrelevante e medieval PSC conseguiu esse cargo? Porque o PT abriu mão da presidência sob a desculpa de que a CDH é menos importante dentro de seu projeto de poder. Exclusivo projeto de poder.

Que o PT abandonou a defesa dos direitos humanos há anos todos sabemos. Belo Monte, "propaganda de opção sexual", PNDH3 abandonado e outras ações e declarações deixaram claro já há muito que da cúpula do partido não sairia nada que prestasse. Mas ainda tínhamos um ou outro deputado sério, como a Erika Kokay, tentando remediar os crimes cometidos pela direção do PT e demais parlamentares contra o povo.

Não resta mais nada.

Mesmo moderados conhecidos não conseguiram segurar a revolta com o caso, ao passo que não faltaram governistas que pagam de defensores dos direitos humanos a se calar ou mesmo justificar.

Marco Feliciano, claro, se fez de vítima, posição favorita dos bandidos krents que, se pudessem, estariam nas ruas matando gays - matam, mas AINDA é ilegal, pese o desprezo de Dilma e do PT por esta minoria.

Em outros termos, teremos na presidência da CDH um membro da Bancada Evangélica que inventiva, em suas pregações, a morte de minorias, o preconceito, o medievalismo. É esta corja que dominará a Comissão de DIREITOS HUMANOS da Câmara dos deputados.

É um panorama simplesmente assustador. Com uma tacada só o PT contenta seus aliados medievais, contenta os desejos de Dilma, que é claramente homofóbica, e se livra de vez de qualquer responsabilidade na área dos direitos humanos. Com a presidência, o PSC, aliado do PT, poderá travar discussões e votações importantes potencialmente constrangedoras para o governo.

O PT escolheu as comissões de Constituição e Justiça e de Cidadania, de Seguridade Social e Família e a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional. Coerente. Em especial a de Seguridade Social, onde o partido pode facilitar a tramitação de seus projetos de privatização da previdência, algo que já conseguiram com a dos funcionários públicos, usando projeto original de FHC.
 

Meus parabéns, PT, por fazer o possível para deixar claro a todos e todas que direitos são só para aqueles que vocês e seus aliados consideram humanos e que a luta pelo poder é mais importante que a dignidade humana. Triste de quem, apesar de tudo, continua achando que há o que ser disputado ou, pior, dentro do PT, justificando e apoiando.

Quem se surpreende com a notícia ou com o fato do PT ter penhorado de vez os direitos humanos, e logo aos aliados krents, tem que fazer urgente um reality check e verificar por onde andou nos últimos 2 anos, pelo menos.

A decisão do PT deixar com o PSC a presidência da CDH é, talvez, comparável à declaração homofóbica de Dilma de que não faria "propaganda de opção sexual" em termos de repercussão e feitos. A declaração de Dilma, apesar de simbólica, veio junto com retrocessos históricos em políticas LGBTs e no aumento significativo da violência e assassinatos ao passo que a desistência do Pt de presidir a CDH entregando ao PSC terá consequências diretas nos DH do país.

Sintomático, aliás, que a última entrevista do presidnete do PT, Rui Falcão, a palavra "direitos humanos" não tenha sido citada uma única vez. A palavra "direitos humanos" não consta da entrevista, ao passo que o termo "direitos" vem unicamente atrelado ao consumo:
"O segundo desafio é assimilar as novas demandas dessa sociedade que ascendeu de classe social, daquelas pessoas que conquistaram direitos e foram incorporadas ao mercado de consumo;"
E aos "direitos autorais" da página do político. Sintomático, pois.
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E é oficial. O PSC indicou o Feliciano para a presidência da CDH. Parabéns, PT.
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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A eleição no Senado e as lições da conjuntura ou Textos que justificam tudo: O governismo de direita

O artigo do mestrando da USP Antônio David, publicado pelo Vi o Mundo e do qual seleciono parte que posto a seguir é emblemático para entender como o PT abandonou todas as usas bandeiras históricas e hoje luta apenas para remediar algumas mazelas - e em muitos casos porcamente.

Não há ideologia mais por detrás, apenas a conformidade com o capitalismo em doses liberais e neoliberais. Tudo que diferencia o PT do PSDB, hoje, é o sucesso das medidas que, em muitos casos, são semelhantes. O PT apenas soube aplicar melhor medidas criadas e idealizadas pelo PSDB e se beneficiou da incapacidade da oposição se recriar, da incapacidade da oposição denunciar crimes que, afinal, cometia e comete quando consegue uma parte do poder.

O PT encontrou terreno livre para re-aplicar as teses do PSDB, mas não encontrou a oposição que, por exemplo, fazia.
Qual é o problema? O problema é que criticar a política de alianças do PT é fácil, sobretudo quando a crítica é no varejo. É fácil criticar o apoio a Renan na eleição. Qualquer um critica. O problema é que crítica séria tem de ser no atacado, ou seja, o problema não é apoio, eleição, mas a estratégia do PT. E aí a coisa complica. Porque a estratégia que prevê alianças com a direita, que fortalece o agronegócio, que financia a imprensa golpista com publicidade etc., é a mesma que está aumentando o emprego e a massa salarial, diminuindo a pobreza e a desigualdade, viabilizando a expansão do ensino, cotas nas universidades etc.
É possível jogar fora alianças com a direita, e seguir avançando? É possível jogar fora a “governabilidade”, e seguir avançando? É possível corrigir os erros, mudar tudo o que tem de atraso na política do governo, e seguir avançando no que tem de bom, sem “governabilidade”, sem maioria no Congresso?
Para a esquerda, essa é a questão central, ou uma das questões centrais. Não tenho resposta pronta no bolso. O que eu sei é que não dá para se acomodar, como se a estratégia de conciliação e de composição fosse boa, como também não dá para dar uma resposta simplista, como uma parte da esquerda faz.
Realmente, é fácil criticar o fato do PT apoiar um bandido e inimigo histórico do partido e dos trabalhadores com entusiasmo e pregando que ele "mudou", que é um cara legal, comprometido e decente. Manter a ética e a coerência é, de fato, fácil.

Mas mais fácil ainda é fechar os olhos, se embrenhar no fanatismo e chamar todos os picaretas inimigos históricos de "companheiros" se estes pagarem o preço correto.

Para alguns - em especial o NeoPT - caráter e ideologia são algo desimportante, mas para muitos, para a esquerda, ainda vale alguma coisa.

"a estratégia que prevê alianças com a direita, que fortalece o agronegócio, que financia a imprensa golpista com publicidade etc., é a mesma que está aumentando o emprego e a massa salarial, diminuindo a pobreza e a desigualdade, viabilizando a expansão do ensino, cotas nas universidades etc."
Pois é. Em suma, o PT está disposto a apoiar o agronegócio, apoiar a medievalização do país, defender o extermínio dos povos indígenas, abusar dos direitos humanos, privatizar tudo o que puderem em troca de... emprego?

Vamos garantir os maiores lucros históricos aos bancos e empresários em troca de salários e uma classe média que não chega a ganhar 300 reais? Vamos diminuir a pobreza e a desigualdade garantindo que os ricos ganhem mais? E, pior, falamos em "expansão" do ensino sem questionar a qualidade deste ensino?

 O PT e seus militantes entraram na fase do "é ruim, mas tem". E a isto chamam de "avanço".
Renan é sujo igual a todos os outros – inclusive o outro candidato – mas a diferença é que todo mundo (inclusive a classe média) sabe que Renan é sujo.
Como o candidato do governo foi um candidato descaradamente sujo, a oposição aproveitou a oportunidade para posar de preocupada com a Ética e a moralidade pública. A imprensa ajudou, e eles de certa forma conseguiram o que queriam. O que eles queriam não era ganhar a eleição. O objetivo era alimentar, na classe média, a ideia de que eles são éticos, preocupados com a moralidade. E de fato saíram com pontos positivos junto à classe média. Graças a Deus, o povo não se preocupa com eleição de presidente do Senado.
O argumento aqui é basicamente, "apoiamos um bandido sujo, mas... GRAÇAS A DEUS o povo não se preocupa com isso". Tudo podemos enquanto o povo continaur amortecido na TV que fingimos odiar, mas financiamos.

Há forma mais direta de justificar safadeza do que isso?

Não vou perder meu tempo com os ataques ao PSOL do fim do texto porque não me interessam, mas o texto além de ser uma defesa intransigente do "fazemos o que queremos porque o povo não se importa" denuncia claramente que o PT busca avidamente trocar suas bandeiras históricas por emprego, salários baixos, consumo e educação de qualidade duvidosa.

Tudo que pode para contentar as classes mais baixas com um "cala boca" paliativo enquanto administra e garante as riquezas do andar de cima. Não há nenhum teor emancipatório, apenas a justificativa de alianças com figuras sujas e nefastas através de migalhas dadas ao povo.

E sim, são migalhas, porque se o PT resolvesse governar com o povo, estatizar, realizar a reforma agrária, defendesse os direitos humanos e combatesse os corruptos dentro e fora de suas estruturas nós teríamos condições melhores no país como um todo. Mais emprego, mais salário, educação de qualidade...

Mas não interessa pois é mais difícil e poderia dificultar o culto perfeito à personalidade do deus Lula.

O texto, porém, tem um mérito. Ataca de graça o PSOL ao final porque sabe que, assim, irá angariar o apoio dos fanáticos governistas que passarão mais tempo xingando o partido do que raciocinando (sic) sobre o próprio PT e o conteúdo do texto. Coisa de gênio.
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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Governismo, a vertente tupiniquim do Stalinismo e o Sopão dos pobres

É interessante notar que desde que começamos, eu e o @elcapeto, a alimentar o tumblr Governismo, a doença infantil... as pérolas fanáticas dos governistas não deram pararam de chegar, na verdade a coisa vem piorando, chegando ao machismo, racismo e outros preconceitos lamentáveis e teorias conspiratórias sem pé nem cabeça.

Mas algo tem me chamado a atenção há alguns dias, que é a guerra civil que começa a crescer no seio dos governistas. Não que não sejam todos fanáticos, mas parece que há gradações. Desde bestas completas que não tem problema algum em passar por cima de qualquer um pelo dito desenvolvimento dilmista, através, por exemplo, da defesa fanática de Belo Monte, até quem critique pontualmente, por exemplo, aliança com Maluf ou o PP na Habitação de São Paulo - sem que isto abale seu apoio geral a tudo que faz ou manda o partido.

A questão é que, agora, estes que criticam minimamente tão sido ferozmente atacados pelos mais fanatizados, por aqueles que acham que Lula é deus e que o caminho lulista é a única resposta para os problemas da humanidade. Gente que sempre foi governista e/ou petista tem sido duramente atacada por essa horda de acéfalos que apenas sabem repetir ordens da direção. Uns chegam a sr chamados de Cabo Anselmo!

E a coisa é realmente feia, com acusações de traição, de falso-petismo e rompimento de amizades e relações. Não à toa o Governismo tem tido menos pérolas nos últimos dias: Os esforços parecem concentrados nos expurgos que os fanáticos tentam orquestrar contra os mooderados (se é que podem ser chamados assim).

E chamar de "expurgo" não é de graça. A semelhança não apenas com o stalinismo, como com outras ideologias de supremacia (ideológica, racial, étnica, etc) é clara. Repete-se fanaticamente, sem qualquer crítica, aquilo que vem de cima, da direção. Mesmo que as ordens sejam para que se esqueça todo o passado, tudo que se defendia antes - privatizações, direitos humanos, etc. Limite-se a obedecer e encontrar maneiras de justificar - memso que seja impossível - porque seu partido, sua direção e mesmo você mudaram de ideia, ou melhor, se neguem a aceitar que mudaram de idéia.

O ponto alto é dizer que SEMPRE defenderam o que estão fazendo, no máximo alterem o nome (chamar privatização de concessão) e, quando for impossível defender, mudar o nome ou disfarçar, ataquem o interlocutor de tucano, de vendido, de anti-patriota e etc....

Quando não for possível sustentar a defesa de algo tão absurdo quanto, por exemplo, remoções forçadas para obras feitas sob medida para a máfia da FIFA, a máfia do PMDB e etc, acusem o interlocutor.

Caso recente é o da re-privatização das empresas do setor elétrico patrocinada por Dilma. A maioria dos fanáticos e dos portais ligados ao PT, ao invés de criticar a privatização repetida - e desta vez pior, pois sequer o congresso é consultado -, se limita a acusar o PSDB de não querer se juntar à farra.

É óbvio, como já disse em artigo passado, que o PSDB se recusa a se juntar à farra por birra, mas é sintomático. O PT copia FHC sem o menor problema, mas seus militontos garantem o discurso de que são diferentes, mascarando a realidade e criando um mundo de fantasia que só eles enxergam - mas tentam forçar aos demais.

Meu temor é que estes expurgos acabem por piorar a situação. Mesmo que caminhando para o fanatismo e cegos para muitas coisas, os mais moderados tem o papel de, ao menos, servir como uma barreira de contenção apra o fanatismo pior. Mas estão falhando e sendo suplantados.

Podemos chamar estes fanáticos de stalinistas, mas outros termos servem da mesma forma. Como querem posar de esquerda, mesmo que não sejam, e que no fim apenas acabem denegrindo a imagem da esquerda, uso o termo.

Governo privatiza? O discurso é que vai "salvar" o povo, que ñão é privatização, é concessão. Governo é co-responsável pelos massacres contra indígenas? Oras, quem se importa com aqueles nômades invisíveis?

A ideologia por detrás nada mais é que o Lulo-Dilmismo (uma mistura de teoria lulista com praxis dilmista, talvez?). Ideologia esta que se entende por um misto de sopão dos pobres com incentivos pesados ao capitalismo, aliado com um entreguismo ímpar.

Em outras palavras, entrega-se ao pobre aquilo que é mínimo para sua sobrevivência, o básico do assistencialismo (que é necessário, diga-se de passagem), mas chega um ponto em que fica só nisso e tudo que vem depois é precarizado, feito nas coxas - vide ProUni que de boa ideia descambou pra garantir crescimento de UniEsquinas ao invés de forçar educação de qualidade.

E, passadas as necessidades mais básicas, resta o consumismo. O incentivo perpétuo a se ter mais, acumular. Ter uma TV de LCD e computador ultramoderno, mas morando em favela sem saneamento básico. Afinal, saneamento é caro, a TV é mais barata e, quem sabe, serve como cala-a-boca e garante votos.

De um necessário assistencialismo passamos para o consumismo incentivado e defendido com orgulho.

Uma classe média de 291 reais - que não é classe média nem aqui e nem no inferno - mas cujo mantra é repetido à exaustão até que vire verdade.

Se não pode convencer sem argumentos, repita incansavelmente até que, por osmose, sigam o que a direção do partido mandar.

E é óbvio que o assistencialismo - via Estado - tem outras intenções. O povo com mais dinheiro consome, gasta dinheiro com os parceiros e financiadores de campanha do Partido. Partido este que, além de incentivar o consumismo, garante o princípio do toma-lá-dá-cá com seus patrocinadores através de projetos megalomaníacos tirados da Ditadura ou fazendo vista grossa a abusos sitemáticos aos direitos humanos.

Aliás, um aparte: A Maria do Rosário é uma das figuras mais patéticas e cínicas da república com seu discurso simplesmente inverossímel de defesa dos Direitos Humanos ao passo que genocídios são lugar comum no país e o governo não prepara uma única política para melhorar a situação. Indígenas, LGBts, população negra... Nada. Dilma pessoalmente faz questão de agradar aliados e vetar políticas a favor de índios e LGBT's.

Um governo aliado de Katia Abreu, Bolsonaro, Malafaia, IURD e cia, não pode governar para o povo e para as minorias. Não faz "propaganda de oção sexual" enquanto gays morrem como moscas e ultrapassamos o récorde de mortes, não demarca terras e garante a segurança das diversas tribos ameaçadas pelo país, oras, índio atrapalha o progresso. Bom mesmo é que suas terras sejam usadas para mineração, soja ou hidrelétricas mil. E não surpreende almoço com militares e afagos aos bandidos enquanto quem fou torturado, perdeu amigos e parentes continua nas ruas tentando reparação e justiça.

Dilma só recebe quem tem poder - e farda.

Democratização das comunicações? Respeito aos direitos humanos? Desmilitarização da Polícia? Memória e justiça e revogação da Lei da Anistia? Direitos reprodutivos? Direitos LGBT's? Direitos Indígenas? Educação de qualidade para todos e todas? Salários decentes para professores?

Assuntos irrelevantes no entender governista. Mais importante é privatizar e garantir lucros ao Eike.

Mas, voltando, o Lulo-Dilmismo conseguiu o que parecia impossível. FHC apenas conseguia contentar os ricos, deixando trabalhadores com ódio e pobres abandonados, mas o Lula e a Dilma, com pesada propaganda e dinheiro para a grande mídia e para seus parceiros, conseguiram unir políticas assistencialistas eficazes e necessárias com lucros históricos para todos os principais setores capitalistas do país, ao passo que, graças ao esforço imenso dos seus fanáticos pagos e não-pagos, retira direitos atrás de direitos dos trabalhadores - privatização da previdência dos funcionários públicos e pretenção de flexibilizar a CLT.

Chegamos num ponto, porém, em que o processo de aprofundamento do capitalismo do mais violento no país acabou por causar algum desconforto entre as hostes menos fanáticas do governismo. É o momento em que veremos qual grupo prevalecerá. Pessoalmente não tenho dúvida de que o mais fanatizado irá prevalecer, e os mais moderados irão ter de se contentar a serem sacos de pancada ou terão de abandonar o Partido.

Para a maioria prevejo a conformação e a piada de que "lutam internamente", um eufemismo para "iremos fingir discordar internamente, mas votaremos TUDO com o governo", só que cada vez mais enfraquecidos, cada vez menores e cada vez menos eficazes e conscientes.

Estamos beirando um totalitarismo dentro do chamado "campo governista" e meu temor é que se espalhe, que transcenda esse campo já tão frágil em temros de resistência. Sou e sempre serei defensor de democratização das mídias, mas o que vemos hoje, em geral, é uma luta entre a mídia próxima do PT e a grande mídia, com raras exceções no meio. Lutas sociais são colocadas de lado em nome da governabilidade, direitos humanos são relativizados e, neste cenário, temo que tipo de processo de "democratização" possa vir de um governo que governa pro capital dando migalhas ao povo.

O mesmo vale pra "reforma política". Oras, com esta base aliada que tudo pode, que tudo ganha mesmo que não se preocupe em votar com o governo para justificar todas as benesses (e tem quem fale em voto de cabresto apenas exigir que "aliados" sejam... aliados! Na hora de privatizar o PMDB não vota "errado", mas pra questões populares...) , imaginem a maravilha que sairia a tal reforma!

Ano que vem a Dilma já declarou que seu objetivo é reduzir impostos. Educação? Direitos Humanos?

Não, reduzir impostos. E pra isso não se importa em privatizar, em subsidiar lucros das empresas, em manipular discursos sem, no fim, realizar uma necessária reforma tributária. É o Estado renunciando arrecadar, mas sem mexer no lucro dos amigos empresários. Temos a produção de carro mais barata do mundo, para dar apenas um exemplo, mas pagamos o valor mais alto do mundo pel oproduto final. O governo? Oras, reduz IPI, ou seja, impostos, pra baixar o preço de forma irrisória ao invés de FORÇAR uma menor margem de lucro às montadoras.

O Estado renuncia arrecadação (no caso criando um caso em municípios), mas mexer no lucro dos empresários? NUNCA! Isso seria ser de esquerda!

Militontos não cansam de xingar STF, não cansam de xingar qualquer opositor dentro ou fora do partido, mas batem palmas para higienismo e políticas genocidas repetindo cegamente que "quem não está conosco, é de direita", mesmo que o PT de hoje cause invejas ao PSDB que nunca conseguiu manipular tão perfeitamente as massas. É um nível de fanatismo que beira ou roça no totalitarismo.

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O blog entra hoje de férias e retorna em janeiro.
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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

PCC versus o Estado: Uma guerra de soma zero

Perto de 200 pessoas, entre uma ampla maioria de civis, foram mortas em menos de um mês de violência extrema na periferia de São Paulo e na região metropolitana - em uma onda de violência que começa a se espalhar pelo interior.

No ano, foram 90 os policiais mortos em serviço ou durante folga.

Como pano de fundo a queda de braço, mais uma vez, entre PCC e governo do estado, onde as vítimas costumam ser preferencialmente os que nada tem a ver com a superlotação nas prisões, o tráfico de drogas ou as relações perigosas de elementos do governo e a facção.

Esta onda de violência lembra a que tivemos em maio de 2006, que resultou na morte de 41 policiais que "responderam" assassinando 564 pessoas, praticamente todas negras e pobres. A PM admitiu ter matado "apenas" 108 em 10 dias. A maioria dos chamados Crimes de Maio não foram, até hoje, solucionados e nenhum dos responsáveis foi preso. Por sua vez, os familiares das vítimas, em especial as Mães de Maio, lutam por justiça desde então e tem motivos de sobra para temer os recentes ataques.

São mais de 700 pessoas assassinadas em dois surtos de violência, uma guerra que envolve policiais corruptos, um grupo criminoso com grande força local e uma infinidade de civis pegos no fogo cruzado. Sobre o PCC, sua origem e os crimes de maio de 2006, Débora Silva, fundadora das Mães de Maio, disse em entrevista ao Correio da Cidadania:

"De forma orquestrada, ele [Alckmin] e o secretário de segurança disseram que o PCC não existia. Como não existia, se foi o poder público que o criou, à base de sua corrupção? Porque o PCC foi criado de dentro dos presídios pra fora, não de fora pra dentro. Se fosse de fora, não iríamos atribuir os crimes de maio à corrupção de Estado. E foi através dessa corrupção que os crimes de maio surgiram, graças a um monstro que o Estado criou e que contra ele se rebelou um dia."

A mídia, por sua vez, adota o discurso oficial de negar a existência ou a força do PCC, ao mesmo tempo em que não debate a situação carcerária do país, a falida guerra contra as drogas que causa apenas vítimas e pinta um quadro de pobres policiais sendo mortos e "reagindo" à violência. Não se descarta, e isto é discutido mesmo nos meios policiais, que as vitimas policiais não sejam exatamente inocentes, mas queima de arquivo e lião para outros ficarem calados sobre suas relações com o grupo criminoso. Do outro lado, civis são massacrados por bandidos e PM's de forma indiscriminada.

As causas para os recentes casos de violência são vários, mas é impossível deixar de esbarrar em alguns pontos fundamentais, como a própria origem da Polícia Militar e da Rota, instrumentos de repressão criados e usados para "domesticar" as classes pobres, instrumentos de tortura estatal usada de forma indiscriminada contra negros, pobres e pessoas que foram abandonadas pela sociedade. Esta força policial vem sendo usada constantemente na repressão às drogas, na política burra de proibir ao invés de incentivar o consumo consciente e legal.

O PCC nasce como uma resposta a isto e também contra um sistema carcerário que ao invés de recuperar, aprofunda a barreira social e as feridas abertas na sociedade. Neste caldo indigesto ainda convivem policiais corruptos, muitos deles vivendo nas favelas e nas áreas mais pobres, exercendo esta "dupla função" de serem repressores daqueles que, no fim, são parte de sua própria classe.

Não é fácil saber ou identificar o real inimigo. Na dúvida, o estado comanda ações repressivas que vitimam exclusivamente os mais pobres ao passo que os que se sentem excluídos revidam de forma violenta - e não é possível esquecer, também, da ação de grupos de extermínio composta por policiais que ajudam a azedar ainda mais a situação. No meio, fica a população, perdida, com medo e acuada. Uma parcela fazendo coro ao estado e exigindo mais repressão e a imensa maioria, presa no fogo cruzado.

Em uma situação de exclusão e de ausência do Estado - não enquanto repressor, mas enquanto promotor de políticas sociais -, o caminho fica livre para o surgimento de facções que se beneficiam dessa ausência e do rancor causado, e também o surgimento de milícias, algo que vem sendo importado do Rio de Janeiro e que ajuda também a entender a atual escalada de violência no estado de São Paulo.

A solução para o atual conflito não é simples, pois passa pela própria estrutura do Estado e de suas forças repressivas, por suas políticas no trato das drogas e na exclusão social de outras tantas políticas higienistas. É a forma pela qual o Estado lida não apenas com seus problemas, mas quando lida com sua população como se esta fosse o problema.

A exclúi, criminaliza, trata como bandido baseado em sua cor de pele e classe. Acedita ser justo e simples remover populações inteiras a fim de contentar os patrocinadores do Estado - empreiteiras e afins - através de incêndios criminosos em favelas e da expulsão pelo medo e pela força de áreas degradadas para outras piores.

Uma solução ao menos inicial para os problemas enfrentados não só por São Paulo, ams pelo Rio e utros estados passaria pela federalização dos crimes contra os direitos humanos, milícias e crimes cometidos por facções criminosas - e especialmente dos crimes cometidos pela polícia contra a população -, mas o que se vê é a total ausência de interesse por parte do governo federal de se incluir no processo.

Publicado originalmente na edição impressa do Jornalismo B nº 49 da 2ª quinzena de novembro.
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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Massacre do Carandiru, vinte anos depois. Fotos e vídeos do ato.

Participei, no dia 2 de outubro, dos protestos que marcam os vinte anos do Massacre do Carandiru.

Massacre este cujos autores não apenas não forma punidos, como muitos foram promovidos e condecorados. No Brasil, e especialmente em São Paulo, matar pretos e pobres merece prêmio e honrarias.
Éramos poucos, é verdade, sabemos que muitos oportunistas (políticos e militantes) se escondem nas épocas eleitorais e aparecem apenas depois, para tentar lucrar com os movimentos que o ano inteiro, o tempo inteiro, dedicam suas vidas, seu suor e por vezes seu sangue por suas causas - e não por um cargo.
Éramos poucos, mas éramos e somos fortes. Reunidos na Catedral da Sé e caminhando até a Secretaria de Segurança Pública, cantamos, discursamos, declamamos poesia mas, acima de tudo, demonstramos nosso repúdio, insatisfação e revolta contra a política de extermínio da população pobre, negra, abandonada deste estado e deste país.
Que o Carandiru seja sempre lembrado como mais um exemplo do genocídio em curso contra a população pobre do país. Que não se repita e que seja o marco da mudança.




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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Dilma e PT: Um governo de direita a ser combatido

A repressão, violência e absurdos petistas/governistas não dão trégua. Em uma mesma semana um show de bizarrices, de declarações e ações de extrema-direita que fazem o governo FHC parecer de extrema-esquerda e revolucionário.

O Brasil inteiro está em greve. De professores a Polícia Federal, e nenhuma categoria dá mostras de desistir de suas reivindicações, pese o peleguismo de certos setores e grupos, como o Proifes.
Segundo a Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal, que representa 80% do funcionalismo, cerca de 350 mil servidores de 26 categorias aderiram à greve.
Os professores estão parados ha mais de 3 meses e as duas propsotas apresentadas não apenas não chegam perto das reivindicações, como PRECARIZAM ainda mais a carreira. E Dilma jura que não é brincadeira.

Para os descontentes, sobra a violência da polícia dilmista que, em mais uma série de mentiras de campanha, havia dito que não iria dar porrada em trabalhadores. Aliás, de promessas falsas de campanha Dilma e o PT estão cheios.

Ainda recentemente o feliz anúncio de mais privatizações. Agora das estradas. Petistas fanáticos e governistas doentes estão calados, fingindo que este absurdo é diferente das "concessões" do PSDB das estradas de São Paulo. Quando é o PSDB, a grita é geral, quando é o PT, é "diferente".

De fato, há diferenças, com FHC no poder havia oposição. Uma oposição de esquerda combativa. Hoje, esta esquerda migrou para o neoPT, também conhecido como PSDBdoB.

Ainda sobre as greves, é interessante notar o discurso de Dilma e seus aspones de que "não há dinheiro" pois há uma crise internacional. Vejamos, não há dinheiro para dar salários dignos aos professores e demais categorias nem pra reestruturar carreiras, mas sobram 40 bilhões pra um inútil trem bala que apenas a elite terá condições de pegar, e outros tantos bilhões para desenvolver um submarino nuclear tupiniquim.

Já que estamos falando em Forças Armadas, também conehcidos como milicos ditadores e assassinos - os melhores amigos da Dilma - sia a notícia de que não contente em precarizar servidores públicos, Dilma vai ainda botar os milicos na rua pra "proteger" a população destes vândalos terríveis!
Dilma não só mandou cortar o ponto dos grevistas como aprovou um projeto do Exército para garantir a integridade dos prédios públicos e a oferta de serviços essenciais em caso de ameaça externa (improvável) e principalmente de greves (que se multiplicam). 
Fica a dúvida, terão permissão pra atirar contra os perigosíssimos servidores caso estes se manifestem durante suas greves? E lembrando, pra esse projeto psicótico de repressão vão mais alguns bilhões que Dilma diz não ter para pagar salários.
Mas, a presidente Dilma Rousseff, que conheci em outubro de 1969 como a companheira  Vanda  da VAR-Palmares, não tem o direito de ser ingênua. Nenhum dos que estávamos naquele congresso tempestuoso --realizado numa mansão alugada em Teresópolis, simultaneamente ao sequestro do embaixador Charles Elbrick pela ALN-- e sobrevivemos, tem o direito de ser ingênuo.

É simplesmente estarrecedor ela haver aprovado um projeto em que o Exército se propõe a garantir a integridade de prédios público e a oferta de serviços essenciais em situações de greve!

Chama-se Proteger. Resta saber quem nos protegerá dele...

Dilma não sabe mais distinguir o sibilar das serpentes? 
Não se deu conta de que esta missão ficaria muito melhor nas mãos de efetivos estaduais (pulverizados, portanto, o que dificulta articulações golpistas), como a Guarda Nacional dos EUA, submetida à autoridade dos governadores de cada um dos 50 estados? 
Que colocar 13.300 alvos estratégicos sob a  proteção  do Exército é dar um passo enorme no sentido de tornar permanente a presença dos militares no cotidiano da sociedade civil?

Não preciso de bola de cristal para prever que, em choques entre soldados e grevistas, haverá mortes. É a ordem natural das coisas.

Mas não para por aí, pois sempre que há Dilma no meio, a coisa piora! Caminhamos para uma flexibilização da CLT, algo que FHC passou anos tentando fazer e o PT de Dilma lutou contra. Mas como no poder o PT virou PSDBdoB, apenas com uma cor rosa pra camuflar, adotaram o projeto como fizeram com a privatização da previdência dos funcionários públicos.

Já deu pra notar que o funcionalismo público virou inimigo jurado do PT. Eles devem esperar que a Classe C do IPI reduzido seja suficiente para mantê-los no poder.

Na área ambiental, continuamos com Belo Monte, cuja obra já foi contestada nacional e internacionalmente e o Brasil já foi condenado a parar. Mas porque Dilma, nossa Querida Líde, se preocuparia com estes detalhes tão insignificantes? Direitos Humanos? Pffff... Direito Internacional? Pffffffffffffffffffffff!!!

Mas, na dúvida, melhor é tentar dar um tom de legalidade nas ações, mesmo que forçando o IBAMA a passar por cima de regras e leis. E, como carta na manga, mais projetos para dizimar índios e acabar com a biodiversidade brasileira a fim de produzir mais alumínio pros gringos.

Dilma conseguiu arrasar os bons projetos de Lula no poder e piorar aqueles que já eram ruins. O saldo é absolutamente negativo. Um governo de direita, beirando a extrema-direita, que desrespeita sistematicamente os direitos humanos básicos da população, mas que a mantém sob controle na base das miçangas, do IPI reduzido e de um discurso falso de combate contra uma mídia cujos militantes chamam de golpista, mas que é aliada sempre que a intenção é atacar o povo.

Dilma é um câncer a ser combatido pelos movimentos sociais e o PT, enquanto alternativa, acabou, ou melhor, virou uma alternativa de voto para a direita que, aliás, está quase toda aliada. Aos poucos - raríssimos - que se mantém resistentes, um aviso: Vocês serão engolidos. Votarão no Maluf, em milicianos...

Isto enquanto dão sustentação a este governo que atua contra o povo, contra os movimentos sociais. É tempo de escolher um lado.

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Acreditem ou não, TODAS as notícias - e absurdos - descritos acima eu tive conhecimento apenas NESTA SEMANA! Agora somem o tempo de Dilma no poder e vejam o estrago.
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quarta-feira, 4 de abril de 2012

São Paulo Mundo Cão

São Paulo, quinta-feira, dia primeiro de março, por volta das 20 horas. 

Saio de um hospital próximo da Avenida Paulista com minha namorada depois de passar o dia com meu avô, que irá passar por uma operação no dia seguinte para remover de vez um maldito câncer contra o qual vem lutando. Nada pior do que, no auge de seus 76 anos, ter de passar por algo assim.

Então saímos do hospital para uma curta caminhada até a Consolação para tomar um ônibus para casa, tensos, preocupados, mas esperançosos pelo dia que viria. Nem bem demos alguns passos e de forma quase alegórica, avistamos uma sem-teto seminua, apenas com uma camisa roxa e mais nada, sem dentes e aparentemente sofrendo de graves problemas mentais deitada - ou mesmo estatelada - ao lado do prédio do Banco Central.

Curioso, até alegórico uma situação tão absurda ao lado do centro de poder econômico e financeiro da nossa economia, a sexta do mundo, mas de uma desigualdade gritante e absurda. Abjeta.

A mulher, que nos disser não ter sequer 50 anos, parecia ter 70 - ou mais. Perdida, morava na rua desde que pode se lembrar. Baiana, mais uma vítima da cidade de São Paulo, que sabe atrair nordestinos, engolí-los sem mastigar e depois defecá-los, como pedaços de merda. Mas não só nordestinos, claro. Negra, como a maior parte daqueles que sofrem até hoje nas mãos da elite branca.

Encostada numa parede, mais exatamente na porta de uma agência bancária - outra ironia cruel - a pobre sem-teto gritava contra inimigos invisíveis, dizia repetidamente que tinha "gente" querendo sair pelas suas pernas cobertas de machucados e que, por isso, havia tirado sua saia em algum lugar da cidade e se encontrava daquele jeito. Exposta, vulnerável e ignorada.

Pessoas passavam e olhavam com um sorriso irônico, um "freak-show" tipicamente paulista. Clientes do banco onde ela em frente jazia olhavam ora com desprezo, ora com indiferença e sacavam seu dinheiro ao passo que tudo parecia caminhar na mais completa e total normalidade.

Nos aproximamos e começamos a conversar com ela. Minha namorada tentava tirar informações dela: Nome, onde vivia - na rua -, porque estava naquela situação - era a "gente" que saía dela -, se queria ir a um hospital - havia saído naquele dia de um, mas não sabia qual. Sem dúvida deveria ser denunciado. Conseguimos pouca coisa.

Eu tuitava, denunciando a situação e buscava telefones para saber pra quem poderíamos ligar em auxílio.
Ligamos para o SAMU (192) e este nos respondeu... 5 horas depois. E tiveram a cara de pau de perguntar se a pobre mulher ainda estava lá. Talvez se não tivéssemos dito que se tratava de uma sem-teto o atendimento fosse mais rápido. Mas não quero tirar conclusões precipitadas pois sei do trabalho que faz o SAMU e de como são ocupados. Mas mesmo assim...

Um senhor que passava tentou ligar para a Assistência Social da prefeitura. Depois de ficar pendurado no 156 (telefone dos serviços da Prefeitura) e de ter a ligação cortada e números errados passados, conseguiu ligar para acabar com uma atendente que o chamava de grosso e dizia que não poderia fazer nada, que a pobre mulher é quem deveria pedir ajuda!

Ele, corretamente, dizia que cabia ao Estado fazer seu papel, de garantir auxílio à ela e que não estava sendo grosso, apenas exigindo ser ouvido e que se fizesse algo. Não faço idéia se a Assistência Social fez algo ou se simplesmente ignorou completamente, com faz o poder público de São Paulo.

Aliás, minto, São Paulo não ignora seus sem-teto, seus mendigos. Os trata como lixo e os marginaliza ainda mais. Prefeitura os criminaliza, população não os vê, ou se os enxerga, ri, passa sem se preocupar. Não é com eles. O sofrimento humano é apenas algo normal, alguns devem ficar pra trás.

Uma senhora que acompanhava tudo foi até uma loja do outro lado da rua e comprou uma calcinha e um vestido para a pobre mulher, e um lanche numa lanchonete próxima.

Engraçado é que tanto o senhor, quanto a senhora que, sem dúvida, fizeram aquilo que achavam que podiam, só se aproximaram da pobre mulher no chão quando nós o fizemos. Não penso mal deles por isso, mas compreendo. Há um distanciamento claro entre "nós" e os "párias" sociais. Há um estranhamento que dificilmente é superado. É preciso um pequeno passo, uma pequena demonstração de humanidade e finalmente algo se move.

Posso estar errado. Sem duvida. Mas me permito ao menos tentar entender.

Neste meio tempo um homem, também sem teto, se aproximou, perguntando se iríamos a levar para casa. De início achei ofensivo, mas ele explicou: A pobreza extrema leva a loucura. O abandono, a solidão. Ou seja, nada do que fizéssemos alteraria a realidade. Poderíamos dar comida, dinheiro, roupas... Mas nada alteraria sua realidade de sofrimento. Sua história.

Dei dez reais a ele. Mas acho que o principal foi ouví-lo. Dizia ser solitário, ter sido abandonado até pelos pais e há 20 anos vivia na rua. sofria todo tipo de preconceito, de violência e ameaças de morte apenas por existir. Depois da curta conversa ele me estendeu a mão, meio receoso que eu fosse talvez sentir nojo, afinal, eu, um rapaz de classe média apertar a mão de um sem teto que não tomava banho ha dias!

Apertei com gosto e senti vontade de abraçá-lo. De ouví-lo mais. De poder... fazer alguma coisa. por ele e por todos em uma situação simplesmente incompatível com a ideia de humanidade.

Alimentada dentro do possível naquele momento e vestida, com a promessa de que esperaria pela ajuda, a deixamos, com os corações apertados. voltamos para nossas casas confortáveis, para nossas vidas e deixamos tudo pra trás, toda a degradação da sociedade e da cidade, toda a miséria e a tristeza que só um mundo cão pode proporcionar.

Seu nome, caso interesse a alguém, era Adriana, pelo que ela nos contou. Mais uma vítima de São Paulo, do Brasil, do Capitalismo e do descaso. Um ser humano com nome e com direito à dignidade. Mas este direito lhe foi negado, como a milhões de brasileiras e brasileiros, abandonados neste boom econômico que a tantos nubla a visão e a capacidade crítica.

No momento em que escrevia, na madrugada do mesmo dia, não sabia se ficariam bem. Felizmente hoje, um mês depois, sei que meu avô se recupera, mas nada sei da Adriana...

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segunda-feira, 26 de março de 2012

Neonazis na Sé: Pró-Vida, a deles.

Vocês não acham engraçado e curioso como todo defensor da vida (sic) - cristãos fanáticos em sua maioria - também defendem pena de morte, "direitos humanos para humanos direitos", porte de armas e afins?

E não conseguem notara menor contradição naquilo que pregam - bem, acreditam em Adão e Eva e que Maria não pulou a cerca, então a gente aceita qualquer coisa.

A Vice publicou uma pequena matéria recheada de fotos de uma manifestação de extrem-adireita "pró-vida", contra o aborto e provavelmente contra a democracia, pela imposição de uma teocracia neonazi no país.  E não digo "neonazi" por brincadeira.

A matéria, inclusive, linka um post meu quando cobri a manifestação dos neonazis, fascistas, integralistas e mais toda a corja da minúscula, mas barulhenta extremíssima direita paulista e qaula não foi minha surpresa ao encontrar dois "velhos amigos" em fotos de ambas as manifestações!

Reparem nestas duas fotos da Vice:
Agora reparem nesta foto que eu tirei no protesto dos neonazis:
O rapaz simpático da segnda foto da Vice é, claramente, o mesmo que segura o cartaz extremamente cristão contra os direitos humanos (coitados dos cristãos de verdade, claro, e não estes fundamentalistas acéfalos). Seu nome é Eduardo Thomaz do grupo neonazi Ultra Defesa.

Já o neonazi pimpão da primeira foto da vice, com boné do UFC e uma tatuagem na cabeça onde se lê "Oi", estilo de música adorada pelos neonazi (mas não só, Garotos Podres é uma banda Oi e são comunistas), e a cruz nas mãos, é o camarada de paletó e barbinha, atrás do colega de mochila.

Sim, como eu sei disso? Por esse vídeo que publiquei no Vimeo e que fez algum sucesso. Não produzi o vídeo que, porém, contém vários vídeos que eu fiz no dia. Dêem uma olhada no minuto 03:35 momentos mágicos do Thomaz e no minuto 4:50 você vê a tatuagem da mão do rapaz de boné, possivelmente irmão do Thomaz e logo depois a tatuagem em sua cabeça. Vejam o vídeo:


Aliás, gravei também um vídeo do simpático neonazi Thomaz falando sobre o que mais gosta: Direitos Humanos:


Gente da melhor estirpe, todos cristãos, defensores da "vida" - desde que eles decidam qual vida. Amigos e adoradores de Bolsonaro e da mais extremíssima direita paulista.  Suas bandeiras são o uso de violência contrat todo grupo que discorde deles - ou mesmo que concorde, afinal, eles odeiam a tudo e todos em seu supremacismo estúpido.

O triste é verificar a proximidade ideológica destes "manifestantes" com as ações e discurso do governo federal, já que o governo é contra o aborto (que é muito mais pró-vida que estes canalhas, visto que defende a vida da mãe e não de um amontoado de células), é contra os direitos LGBTs e vem se mostrando contrário aos Direitos Humanos (se serve para o "desenvolvimento" a Maria do Rosário não acha que é abuso, né?).

Triste, muito triste.
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sábado, 24 de março de 2012

Maria do Rosário, a oportunista ou a prisão dos bandidos do SilvioKoerich.org

Dois dos "controladores" do site homofóbico, machista, racista e incitador da violência "SilvioKoerich.org", Marcelo Valle (em Brasília, e figura já conhecida da blogosfera e reincidente no crime) e Emerson Rodrigues (em Curitiba) foram presos depois de uma ampla campanha nas redes sociais e também de uma mobilização de ativistas e mesmo políticos (em especial de Jean Wyllys, que foi ameaçado de morte por vários perfis fakes controlados pela gangue) que foram até a Polícia Federal e à Polícia Civil abrir inquéritos e buscar justiça.

A Safernet recebeu quase 70 mil denúncias de perfis relacionados à gangue e também direamente do site criminoso. O ativista @Caribé realizou uma ampla pesquisa - que juntei ao inquérito que o MP abriu em meu nome na Polícia Civil contra o Marcelo Valle - coletando diversos perfis do Twitter ligados à gangue, ao passo que o pessoal do Anonymous realizou outra grande pesquisa e entregou os dados para o Jean Wyllys que acionou a Polícia Federal.

Só para se ter uma noção, po exemplo, do trabalho feito pelo @Caribe, ele conseguiu linkar os perfis @frontnacional, @JuTedesco, @psycl0n, @danihallac, @homofobiasim, @Anjooslava, entre outros, a perfis no Orkut e de outras redes.

Assim como o Jean, também fui ameaçado de morte por perfis ligados ao Valle e Rodrigues e vários outros blogueiros e ativistas sentiram o gosto das ameaças covardes do grupinho. Pode-se falar efetivamente em uma mobilização para caçar estes criminosos e agora temos de manter a pressão e levar todos os processos e inquéritos em frente.

Agora, depois das prisões efetuadas, a surpresa: A Ministra da SEDH resolveu surfar na ação da PF e tomar para si os louros da prisão dos dois bandidos racistas e homofóbicos.

Não há sequer como disfarçar que a intenção da Maria do Rosário é  de disfarçar a completa inércia de sua secretaria, em especial no combate à homofobia. Existe a possibilidade de a SEDH ter se movido minimamente depois de anos de denúncias na Safernet, na polícia e etc, vendo a oportunidade de fingir que combatem a homofobia? Claro. Mas nada disso muda o quadro geral, de homofobia institucionalizada e oficial no governo Dilma.

Aliás, se o blog SilvioKoerich.org pregasse o ódio apenas contra gays - como fazem milhares de sites de Marginais da Fé e seus trouxas fiéis  - nada aconteceria. Mas como há ódio contra mulheres, pedofilia e incitação clara à violência e assassinato, alguém teve de se mover.

Vejam alguns comentários no Twitter:

Como se vê, a maioria não é "psolista", como gostam os governistas de chamar quem se opõe ao governo ou a setores deste.

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Por orientação de meu advogado, retirarei do ar a Representação Criminal que havia postado.
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