Como tive um trabalho imenso, posto e bendito neste espaço, tentando retomar a discussão sobre a controversa visita do mandatário Iraniano e, também, trazendo a questão fundamental da presença israelense.
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A visita do presidente do Irã, Mahhmoud Ahmadinejad, ao Brasil no dia de hoje (23/11), trouxe à tona uma série de questões pertinentes não só ao Brasil, mas a todo o mundo.
A imprensa brasileira vem fazendo um verdadeiro show midiático em torno da visita de Ahmadinejad mas, curiosamente, se recusou a comentar de qualquer maneira (negativa, pelo menos) a visita do Presidente de Israel, Shimon Peres, e do Chanceler de extrema-direita, Avigdor Lieberman.
"Legislation that Israel's Arab citizens fear could limit their freedom of speech came a step closer on Sunday to becoming law. The bill, proposed by a legislator from the ultranationalist Yisrael Beitenu party of Foreign Minister Avigdor Lieberman, would withhold government money from any state-supported institutions that fund activity deemed detrimental to the state. Such activity includes "rejecting Israel's existence as the state of the Jewish people" and supporting "armed struggle or terrorist acts" against Israel."A questão fundamental no debate que acontece no Brasil é a dos dois pesos e duas medidas utilizados pela imprensa e por parte da opinião pública manipulada que se cala diante das atrocidades cometidas por Israel - em muitos casos até as aplaude -, mas se mobiliza para protestar contra a visita de Ahmadinejad que, se não é exemplo de decência, está longe de se comprar a figuras que pregam o genocídio aberto e descarado como Lieberman e seu partido ultra-nacionalista.
Tratando da questão do genocídio, é patente a posição da mídia em acusar o presidente Ahmadinejad de negar o holocausto. Há controvérsias. Virginia Tilley, no Counterpuch, traduzido pelo site Resistir.info nos informa:
Ainda assim, o sr. Ahmadinejad não disse aquilo que a Subcomité americano sobre Política de Inteligência declarou: "Eles inventaram o mito do massacre dos judeus e colocam-no acima de Deus, religiões e profetas". Na realidade as suas palavras foram: "Em nome do Holocausto, criaram um mito e consideram-no mais importante do que Deus, a religião e os profetas". Esta linguagem refere-se ao mito do Holocausto não ao Holocausto em si mesmo, ou seja, "mito" no sentido de "místico", ou aquilo que foi feito com o Holocausto. Alguns escritores, entre os quais importantes teólogos judeus, têm criticado o "culto" ou o "fantasma" do Holocausto, sem, no entanto, negarem a sua ocorrência. Em qualquer dos casos, a principal mensagem do sr. Ahmadinejad é a de que, se o Holocausto aconteceu tal como a Europa o descreve, então é a Europa, e não o mundo islâmico, a responsável por ele.O artigo ainda conta com outros "erros" de tradução (propositais?) dos discursos de Ahmadinejad, finamente manipulados para torná-lo a prórpia personificação do mal, um legítimo representante do que os EUA chamam de Eixo do Mal.
A quem interessa a constante "confusão" e erros de tradução dos discursos de Ahmadinejad?
Longe de, no entanto, defender Ahmadinejad, o que devemos levar em conta é a ampla e significativa manipulação midiática em torno deste que, se não é exemplo de honestidade e santidade - e quem o é? - também não é o defensor de genocídios pregado pelos EUA e pela mídia ocidental.
Não surpreende que no oriente exista tanta resistência à mídia tradicional do Ocidente e seu arraigado Orientalismo, ou melhor, patente preconceito contra o que não é perfeitamente ocidentalizado e nos conformes do pensamento liberal.
Com certeza Ahmadinejad tem muito mais legitimidade com seus 64% (fraudados ou não) do que George Bush, que teve 2 milhões de votos a menos que Al Gore, e ganhou a eleição por uma diferença de 147 votos (meio esquisitos) na Flórida.
A grande questão atual, porém, também passa pela taxação de que Ahmadinejad teria sido eleito de forma ilegítima, através de fraudes eleitorais, logo, seria um ditador ilegítimo. todos estes argumentos são fatos notórios, assim como a brutal repressão da população iraniana que protesta, mas se estes são argumentos válidos para a comunidade internacional e a mídia em geral repudiarem o presidente do Irã e exigirem que este nunca mais ponha os pés em qualquer país "de bem", então o mesmo deveria valer para as lideranças Chinesas - que massacram uigures e outras minorias, uma verdadeira ditadura onde inexiste qualquer liberdade de expressão - e até mesmo para os EUA - visto que a eleição de Bush filho foi flagrantemente manipulada e fraudada, sem levar em conta ainda os diversos golpes patrocinados por seus serviços secretos e o desrespeito às decisões das Nações Unidas na invasão do Iraque, parte 2.
Se "democracia" fosse item necessário para o relacionamento entre nações então as grandes democracias (sic) ocidentais teriam grandes problemas em suas mãos.
Faz parte do jogo receber presidentes legitimados pela comunidade internacional, gostemos ou não. Isso é muito diferente de receber um ditador que deu um golpe de Estado às custas de sangue, como é comum em algumas nações africanas.
Voltando aos protestos no Brasil contra a visita de Ahmadinejad, o que vemos é a mídia em polvorosa, exigindo que este não venha, que hajam protestos e dando ampla cobertura aos mesmos - verifica-se que mesma cobertura não é dada aos protestos contra Israel, pró-Palestina ou mesmo contra os desmandos da própria mídia no caso que ficou conhecido como Ditabranda.
O editorial do jornal Folha de São Paulo intitulado “Limites a Chávez” foi publicado em 17 de fevereiro deste ano. O veículo de comunicação exerceu um direito óbvio e que não se questiona, o direito de opinar. Criticar o resultado do plebiscito recente na Venezuela ou emitir qualquer outra opinião, portanto, jamais estimularia nossa Organização a protestar de forma tão solene e veemente se não fosse a tentativa de revisão histórica que afirmou que o regime dos generais-presidentes teria sido “brando”, pois tal afirmativa constituiu-se em dolorosa bofetada nos rostos dos que sobreviveram, em verdadeiro deboche dessas vítimas expresso por meio do termo jocoso “ditabranda”, corruptela do único termo possível para identificar aquele regime, o termo ditadura.
Nos protestos propriamente ditos o que vemos é um desfile completo de ignorância. Bandeiras de Israel lado-a-lado com cartazes pedindo paz. Nada mais contraditório seria possível.
A mídia e as "pessoas de bem" ignoram as atrocidades cometidas por Israel contra o povo Palestino. Os cerca de 1400 palestinos assassinados por Israel - maioria de mulheres e crianças - não são mais que nota de rodapé e não valem um protesto. Ignoram a farsa eleitoral patrocinada por Israel e pelos EUA que obrigaram os Palestinos a realizarem eleições e, com a vitória do Hamas em eleições legítimas, passaram a assediar ainda mais a população local desrespeitando aquilo que eles mesmos haviam comandado. As eleições só valem se o resultado for favorável ao Sionismo e seus interesses.
Uns manipulam, outros gostam de ser manipulados.
A visita de Lieberman ao Brasil ha alguns meses não suscitou qualquer protesto, qualquer repúdio midiático, não importa que este tenha defendido por diversas vezes o genocídio e a limpeza étnica dos Palestinos. A recente visita de Shimon Peres, por outro lado, foi até comemorada pela mídia e por parte da classe média como oportunidade de negócios. Não à toa, o Israelense veio oferecer tecnologia e trocas nesta área. Por tecnologia podemos bem compreender as armas de destruição, as mesmas usadas para assassinar diariamente crianças palestinas.
Segundo, a tentativa dos poucos em torno da grande mídia (o velho PIG) de tentar tornar irrelevante a visita, de tentar colocar panos quentes. Oras, a visita de Ahmadinejad era caso de polícia, mas a de um genocida não é nada, é normal, até irrelevante?Outro ponto interessante na discussão é a do isolamento enquanto ferramenta viável e segura para que nações "inimigas" se comportem. Este instrumento é o favorito dos EUA que há mais de 40 anos defende e reafirma o embargo contra Cuba na esperança de que algum dia esta ilha volta a ser o cassino que já foi um dia.
Contra o Irã pairam pesadas sanções que resultam em quedas de aviões, em fraca infra-estrutura, em pobreza extrema em diversas regiões e em um grande isolamento do país - uma das razões da atual visita ao Brasil é a de escapar do isolamento imposto pelo "ocidente democrático".
Pois isolá-lo, na atual conformação internacional, significa colaborar para levar o Irã a um duplo radicalismo: o da extremamente conservadora teocracia panárabe; e, como líder-mártir que ousou confrontar o Império norteamericano e como uma das principais forças políticas contrárias a Israel, ao do terrorismo internacional patrocinado pela Al-Qaeda.
Conta todas as previsões - da diplomacia, obviamente - qualquer tipo de bloqueio permanente tem efeitos contrários. Cuba continua firme e forte, a Coréia do Norte continua a desenvolver suas armas e a massacrar seu povo e o Irã continua a ter Ahmadinejad como presidente - ao tempo em que o povo é espancado e perseguido pelas ruas, em que manifestantes são presos e condenados à morte e o povo morre em decorrência da escassez de vários produtos.
As sanções mais pesadas ao Irã fazem menção ao plano nuclear do país. O Irã afirma ser pacífico, os EUA afirmam ter por objetivo a fabricação de armas. A verdade pouco importa. O Irã tem tanto direito de produzir armas quanto Israel tem de esconder as suas e ser beneficiada pelas vistas grossas das nações "democráticas" ou a Índia e o Paquistão tem de se matar com as mesmas.
O fato curioso é que Israel não vê qualquer problema em atentar contra a Soberania do Líbano, mas sobe nas tamancas quando a questão é a sua soberania, ou melhor, a soberania que acha ter e não tem, não passa de desrespeito e prepotência.A diferença reside em quem é aliado, quem se alinha com a política ocidental. Quem apóia o povo Palestino ou vai contra Israel é inimigo, logo, não pode ter os mesmos direitos que os aliados.
E aqui no Brasil, claro, a mídia quer ser aliada, jamais inimiga do poder do norte e faz seu jogo, demonizando Ahmadinejad e fazendo loas à Israel ao mesmo tempo em que finge não ver o genocídio que ocorre em Gaza e na Cisjordânia.
O que está em jogo, portanto, é mais um passo no realinhamento da posição do Brasil no mundo, de forma particular em relação aos Estados Unidos, país que, por razões diversas – notadamente suas relações com o grande capital judaico, neste momento delicado da economia norteamericana - não pode e não quer adotar publicamente uma política soft power em relação ao Irã.Àqueles que empunham bandeiras de Israel para repudiar o Irã são nada mais que farinha do mesmo saco, são iguais. Repudiam aquilo que defendem.
Intolerável é tentar justificar os crimes de Israel ao protestar contra o Irã, como se houvesse qualquer contraponto aceitável ou como se a atitude beligerante de um justificasse o genocídio de outros. E, vale lembrar, muito do que se imputa a Ahmadinejad é, na verdade, característica do regime iraniano, da conotação islâmica do Estado, da deturpação do que é de fato o Islamismo.
Ahmadinejad não é santo, tampouco o demônio que pinta a mídia e que nos quer fazer crer os EUA.