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quinta-feira, 7 de abril de 2011

A posição do Brasil frente ao Irã: A mudança da Política Externa

Uma coisa que vem me incomodando há algum tempo é a insistência de alguns em tentar analisar aquilo que não conhecem ou, na melhor das hipóteses, analisar algo de forma enviesada, deixando transparecer claramente seu amor por um governo acima das evidências mais claras.

Falo da política externa brasileira, que vem dando sinais claros de mudança (algo explicitado até mesmo por Celso Amorim), apesar das tentativas de alguns de fingir que "não é bem assim".

Muitas das análises não tem qualquer método, confundem política interna com política externa, confundem elementos básicos de análise e transparecem uma paixão desmedida por toda e qualquer ação de Dilma, perdendo o fio da meada da análise.

Antes, nos primeiros dias do governo, o discurso era o de que não havia mudança alguma [na política externa]. Os mais entusiasmados com o governo se recusavam a aceitar que houvesse qualquer mudança, tentavam falsear a realidade a todo custo. Depois, com o mal estar causado pela entrevista de Celso Amorim à Folha e BBC Brasil, havia a tentativa de fechar os olhos, fingir que não era exatamente aquilo, que a entrevista era falha, deixava duvidas e etc, até, finalmente, o agora, em que está claro que existem sim mudanças no direcionamento da política externa. Mas para uns, isto é bom!

Oras, antes de mais nada, a discussão original não era sobre "bom" ou "ruim", mas sobre se havia mudanças.

A qualidade é um assunto que entra depois, pois, vamos nos lembrar, Dilma não foi eleita para mudar a política externa brasileira (nem vale citar a Cultura, pois é de bater desespero).

Dilma foi eleita como opção de continuísmo, logo, a idéia era a de MANTER a política externa brasileira, que vinha sendo um sucesso - algo que os Lulistas parecem ter esquecido, dada a defesa intransigente do novo modelo/direcionamento.

Aliás, é interessante ler no recente artigo de Amorim para a Carta Capital seu comentário sobre os que insistiam em dizer que não só não havia efetivamente uma condenação ao Irã, como o Brasil também estava sujeito à visita de relatores:
"Não procedem explicações que procuram minimizar a importância da decisão com comparações do tipo: “O Brasil também recebe relatores” ou “não houve condenação”.
Impecável. Pouco importa se, tecnicamente, o nome para a decisão do Conselho de Direitos humanos da ONU não seja "condenação", o que importa é a mensagem, é o sentimento de que, sim, houve condenação de alguma forma.
Não há como comparar os relatores temáticos que têm visitado o Brasil com a figura de um relator especial por país. Na semiologia política do Conselho de Direitos Humanos e de sua antecessora, a Comissão, a nomeação de um relator especial (ressalvados os casos de desastres naturais ou situações pós-guerras civis, em que o próprio país pede ou aceita o relator) é o que pode haver de mais grave. Se não se trata de uma condenação explícita, implica, na prática, colocar o país no banco dos réus.
Se o Brasil recebe relatores também não importa, o assunto não é o Brasil, mas o Irã, e a forma pela qual o país recebeu a decisão. Mais além, como reagirá. De início é improvável que o Irã aceite receber qualquer relator. Logo, a decisão torna-se meramente simbólica. E o Brasil não precisa de qualquer simbolismo deste tipo, pois tem atuado como negociador preferencial e efetivamente conseguido resultados.
Pode-se concordar ou não com ele, mas dizer que não afetará as nossas relações com Teerã ou a percepção que se tem da nossa postura internacional é tapar o sol com a peneira.
Quantos acordos os EUA e aliados conseguiram com suas condenações na ONU? Zero.

Quantos acordos (incluindo a libertação de prisioneiros e etc) conseguiu o Brasil SEM condenações, mas com NEGOCIAÇÃO e respeito? Nem preciso responder. Vejam o acordo Brasil-Irã-Turquia, a libertação da inglesa e etc.
Nos últimos meses e anos, o Brasil participou de várias ações ou empreendeu gestões que resultaram na libertação de pessoas detidas pelo governo iraniano, tanto estrangeiros quanto nacionais daquele país. É difícil determinar qual o peso exato que nossas démarches tiveram em situações como a da norte-americana Sarah Shroud ou do cineasta Abbas Kiarostami. No primeiro caso, a jovem alpinista veio nos agradecer em pessoa. Em outros casos, como a da francesa Clotilde Reiss, não hesito em afirmar que a ação brasileira foi absolutamente determinante. Mesmo no triste caso da mulher ameaçada de apedrejamento, Sakineh Ashtiani, os apelos do nosso presidente, seguidos de várias gestões no meu nível junto ao ministro do Exterior iraniano e ao próprio presidente Ahmadinejad, certamente contribuíram para que aquela pena bárbara não tenha se concretizado.
Sob Lula, a política externa se pautou pela negociação até as últimas consequências, buscou se afastar do discurso ideologizado dos Direitos Humanos - que só serve às potências e aos interessados em ampliar mercados - e adotar uma posição de negociação, de discussão. Aberto ao diálogo o Brasil passou a ser respeitado e a colher resultados carregados de simbolismo, mas também práticos.

É lamentável que, agora, tenham lulistas que parecem esquecer quem é Celso Amorim. No desespero de defender Dilma, dizem que a política externa deve mais ao Marco Aurélio Garcia e ao próprio Lula que ao Amorim, sequer recordando do Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que bancou do Itamaraty as mudanças postas em curso. Chegam ao ponto de querer reduzir sua importância, ou mesmo a de colocá-o como deselegante por discordar do que vem sendo feito.

Um absurdo!

Mas, enfim, tudo mudou. E, admitido isto, passamos para um segundo estágio, o de analisar os desdobramentos (em artigo posterior, ainda que eu já tenha analisado exaustivamente a questão).

De início, fica claro. A mudança é péssima.

A quem serve esta mudança, ou melhor, QUEM patrocina, está por trás, desta mudança?

Só não vê, quem não quer, quem está cego demais na defesa de um governo que começou mal, muito mal, nas mais diversas áreas.

Concordo com o Amorim, mais uma vez, em sue desejo final, "Oxalá eu esteja errado." mas duvido muito.
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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O Jornalixo da Veja, a Ética e a Manipulação Midiática

Recentemente o Observatório da Imprensa publicou um artigo original da revista Veja que, surpreendentemente, parecia balanceado e até mesmo honesto. Coisa rara na história da revista, havia espaço para os dois lados da questão. Mas a "honestidade" para por aí. A revista não escondeu seu próprio lado ao chamar aqueles que defendem o protagonismo das redes sociais como "ciber-utópicos".

De qualquer forma, disse a Veja sobre os "ciber-utópicos":
A turma dos ciber-utópicos fez seu début em junho de 2009, depois que os iranianos saíram às ruas para protestar contra a eleição fraudulenta que reconduziu Mahmoud Ahmadinejad à presidência do país controlado pela ditadura dos aiatolás. O assunto foi o mais comentado do ano no Twitter, superando até a morte do astro pop Michael Jackson, o que levou os utópicos a cunhar a expressão "revolução do Twitter" e a apostar que essa ferramenta seria responsável por revoluções. O trecho de um editorial do respeitado jornal americano Washington Post captou o clima (otimista) da época: "O imediatismo dos tweets foi emocionante, com um fluxo de atualizações com fotos e vídeos que mostrou um retrato de crise no país. O que estamos vendo é a chama tremulante da liberdade." Um assessor do ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush chegou a sugerir que o Twitter fosse indicado ao prêmio Nobel da Paz pelo papel na crise. O governo de Teerã, contudo, não caiu: reprimiu os protestos e bloqueou serviços de internet. O episódio deixou a impressão de que a turma dos ciber-utópicos sobrecarregara de expectativas as asas do Twitter, fazendo do microblog a panaceia anti-ditaduras.
Já do lado dos "ciber-céticos", a Veja cita o onipresente "A Revolução não será tuitada" de Gladwell - que já desmontei em post anterior - e cita ainda o pesquisador iraniano Hamid Tehrani:
A resposta dos ciber-céticos veio na mesma intensidade, em sentido oposto. O primeiro contra-ataque foi comandado pelo pesquisador iraniano Hamid Tehrani, que tentou colocar os fatos ocorridos no Irã em sua real dimensão. "Houve uma sobrevalorização do Twitter. O país contou com menos de 1.000 usuários ativos. O maior volume de informações propagadas no microblog veio do Ocidente, de pessoas que não estavam no local. Quando alguém comentou que havia 700.000 pessoas protestando em frente a uma mesquita, descobriu-se que apenas cerca de 7.000 pessoas compareceram", escreveu.
Mas esperem, Hamid Tehrani como um ciber-cético?


Para quem não conhece o Hamid, ele é um autor do Global Voices Online e seria no mínimo engraçado que um ativista que usa as redes sociais como plataforma para divulgação da realidade iraniana fosse simplesmente um cético no que tange o uso destas em processos revolucionários e revoltas. Imagine então ser colocado ao lado de alguém como Gladwell!
  
Quando vi que ele teria sido supostamente entrevistado pela Veja enviei-lhe um e-mail questionando o fato e também questionando se ele havia realmente dito aquilo em qualquer outro lugar. 

Conhecendo o histórico de manipulações da Veja, é sempre bom verificar todas as informações.

Eis o que ele me respondeu, em tradução livre:

Se havia sido entrevistado pela Veja ou por algum jornalista brasileiro - "Não, eu não dei nenhuma entrevista a um jornalista brasileiro"

Sobre a frase selecionada pela Veja -  "A questão do Twitter: Eu escrevi um artigo para o Global Voices logo depois de estourar o movimento de protesto no Irã, 'Mito e realidade sobre o Twitter no Irã'" [o artigo é este, no link, em inglês]


Sobre a interpretação de suas palavras - "O que eu disse e o que sempre digo é que você não sabe realmente quantas pessoas usando o Twitter estão baseadas no Irã. Muitos dos que põem "Irã" em suas contas vivem fora do país e/ou conseguem sua informação de fontes de segunda mão, mais por ligarem para outras pessoas do que por estarem nas ruas.
 Eu acho que a Al JAzeera certa vez mencionou que menos de 100 contas do Twitter estavam ativas em Teerã durante as manifestações de 2009.
Na verdade, o Twitter, ao contrário do YouTube e Facebook, não teve um papel significante no Irã. Nunca."


Tentando entender melhor esta última parte, mandei outro e-mail, questionando o papel do Facebook e do Youtube (e não só do Twitter) ao que o Hamid me respondeu - "Sim, o Facebook e o Youtube tiveram grande papel. O líder da oposição, Moussavi, tinha pelo menos 150 mil fãs no Facebook e os vídeos do Youtube estiveram muito presentes."
Apenas nesta simples e rápida troca de e-mails podemos ver que o Hamid, nem de longe, é um "ciber-cético". E tampouco deu qualquer declaração à revista Veja.

Ele tão somente criticou o ibope dado unicamente ao Twitter, mas defende a importância das mídias sociais como um todo, em especial do Facebook e do YouTube. Apenas disso já notamos que a reportagem da Veja não é apenas tendenciosa, mas foi mal feita e as informações não foram devidamente apuradas. O e-mail do Hamid está disponível para quem quiser em sua página do Global Voices e não custava nada apurar antes de publicar.

No artigo que Hamid cita em seu e-mail, há de fato uma crítica ao poder do Twitter. Fala-se que ele leva a conclusões erradas muitas vezes, mas mesmo assim Hamid o considera uma forma interessante de espalhar notícias para o mundo, de dar visibilidade aos protestos. Ele ainda afirmou que:
Twitter and Facebook along with reformist websites such as Ghlamnews help communicate the decisions of reformist leaders and pass on the message.
Ou seja, que o Twitter, o Facebook e os sites reformistas ajudaram a comunicar as decisões dos líderes reformistas e ajudaram a passar a mensagem.

Para quem ainda pensa no Hamid como um "ciber-cético", repasso:
Most people tweet what they read on websites, and have also shared useful tips and information to help Iranians circumvent internet filtering and censorship. In other words tweeting helps create an information pool.
 "Muitas pessoas tuitaram o que leram em websites, e também compartilharam dicas úteis e informação para ajudar os iranianos a contornar a censura e filtragem da rede. Em outras palavras, tuitar ajuda a criar uma rede de informações."
Mas para quem pensa que acabaram os problemas, ledo engano.

O artigo do Hamid é de 4 de julho de 2009 e muito do que foi dito por ele foi retomado em uma entrevista - aí sim, ENTREVISTA - feita pelo The Guardian em 9 de junho de 2010.

Disse Tehrani ao The Guardian:
Such hyperbole reveals more about western fantasies for new media than the reality in Iran, argues Hamid Tehrani, the Persian editor of the blogging network Global Voices.
"The west was focused not on the Iranian people but on the role of western technology," he says. "Twitter was important in publicising what was happening, but its role was overemphasised."
Tehrani estimates that there were fewer than 1,000 active Twitter users in Iran at the time of the election. "Some people did provide updates from Tehran, but many didn't check out. When someone tweeted that there were 700,000 people demonstrating in front of a mosque, it turned out that only around 7,000 people showed up."
A matéria da Veja tem uma incrível semelhança com a do The Guardian, mas curiosamente não a cita. A veja não se dá ao trabalho de citar a fonte original, o Guardian, e nem o Global Voices - coisa que o Guardian fez.

E esta não é a primeira vez que a Veja cita um autor do Global Voices mas não cita o fato (ou a fonte).

Em 2009, informa Daniel Duende, ex-editor do Global Voices em Português e atual colaborador do projeto - a Veja copiou letra sobre letra artigo sobre a Palestina - "Blogueiros em Gaza relatam o terror" - sem citar a fonte e, mesmo depois de imensa pressão da blogosfera, não se retrataram ou retiraram o artigo do ar.

Segundo a Veja, o jornalista (sic) André Pontes foi o autor da reportagem... E não o Global Voices!

Daniel Duende, com propriedade, exclamou na época:
Todos sabemos a qualidade do trabalho jornalístico (!!??) da Veja piora a cada dia. Não é supresa que eles plagiem sem citar fontes, roubem material, mintam, se façam de desentendidos. Mas não é por isso que devemos parar de reclamar ou de nos indignar frente aos absurdos cometidos por esta revista semanal sem compromisso algum com o jornalismo, e muito menos com a ética.
Continua assustadoramente atual. Ética e jornalismo, para a Veja, são coisas que não combinam.
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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Islamismo, o coadjuvante incômodo nos protesto egípcios

Os EUA e seus aliados - notadamente os comumente estridentes, mas atualmente silenciosos Israelenses - vem tentando fazer com que a opinião pública mundial olhe para os protestos no Egito não como uma Revolução Democrática em curso, contra a tirania - patrocinada por este mesmo EUA e aliados -, mas como uma cópia da Revolução Islâmica iraniana.

Nada poderia ser mais falso.

É fato que não podemos prever o futuro, o que sairá deste processo incontestavelmente revolucionário (sequer sabemos se Mubarak cairá, por mais que a torcida seja grande, mesmo dentro dos EUA), mas os indícios nos apontam para algo bem diferente do que ocorreu em 79 - e sem tomada de embaixada americana.

Os egípcios que protestam tem em comum com os iranianos de 79 apenas o fato de estarem lutando contra a opressão e a tirania e que, em ambos os casos, estes regimes foram (E são) apoiados pelos EUA. A partir daí, as histórias divergem.

Não há líder ou grupo por trás dos protestos egípcios. A Irmandade Muçulmana, tão temida pelos EUA - ainda que sem grandes fundamentos, explicarei adiante -, aderiu aos protestos dias após seu início e se boa parte da organização das manifestações (ou ao menos o início das marchas) se dá das mesquitas, é porque os protestos começam após a reza do meio-dia (a população é, afinal, majoritariamente muçulmana, ainda que os protestos contem com amplo apoio dos Coptas cristãos) e porque as mesquitas são um excelente ponto de encontro em que as forças de segurança não invadem ou batem, servindo como ponto neutro, seguro.

Não podemos esquecer que Mubarak, presidente/ditador egípcio instou os pregadores das mesquitas a discursar contra as manifestações. Apenas para constar.

Acreditar que, por várias manifestações começarem nas mesquitas, a revolução é "islâmica", é o mesmo que dizer queos EUA são uma teocracia cristão, já que todo presidente dos EUA usa deus em basicamente todos os seus discursos, na pose, em comunicados e etc.

Voltando à Irmandade Muçulmana, vale explicar brevemente o porque deste grupo dificilmente apresentar um "perigo islâmico". Em primeiro lugar - e mais importante - a Irmandade parece com o PT: Fragmentado, cheio de tendências e, assim como o partido brasileiro, tende a adotar posições mais brandas para e quando (se) chegar ao poder. Não necessariamente por esta ser uma vontade da população, mas pela própria organização interna conflituosa e diversa.

Existe na Irmandade mesmo aqueles que preferiam que o grupo sequer se apresentasse como partido. A caridade, os debates filosóficos e religiosos e a irmandade em si deveriam bastar.

Os protestos no Egito, enfim, são autenticamente populares. Não são influenciados - ao menos não de forma visível - por qualquer grupo, partido ou Estado. Mesmo a tentativa de El Baradei de se colocar como liderança esbarrou na desconfiança de muitos egípcios, que vem se organizando coletivamente para, por exemplo, distribuir comida, cuidar de feridos e proteger museus, casas e outros locais de importância.

Alguns já falam na Comuna do Cairo. Talvez uma precipitação, mas o fato é que muitos estão se auto-organizando e fazendo as vezes de Estado.

O medo do Islamismo também não se justifica na Tunísia, onde mesmo o líder do partido islamita local já declarou não defender imposição da sharia, se declara centrista e disse ainda não estar pronto para participar de eleições. Como se vê, bem diferente do perigo e terror pintados pelos EUA e pela mídia ocidental - esta que merece post a parte, em especial a ridícula e vergonhosa mídia tupiniquim.

Voltemos ao Irã: De fato a Revolução (que logo se tornaria Islâmica) era apoiada por diversos setores, desde comunistas a radicais islâmicos. Mas no país havia uma liderança clara, o Aiatolá. Havia um direcionamento, lideranças a seguir. No Egito a coisa parece ser mais ou menos autônoma e os partidos são marginais, meros espectadores em busca de espaço. Sejam eles de esquerda, direita ou religiosos.

O islamismo é apenas o perigo que aponta o ocidente para deslegitimar o anseio popular por liberdade. Estamos falando de um aliado importante dos EUA e de Israel, e não qualquer país insignificante, mas um colosso, o maior país Árabe (em população), um grande receptor de investimentos dos EUA e país estratégico em termos geográficos e políticos.

Não é pouca coisa. E a propaganda estadunidense não poderia deixar de agir.

Mas, enfim, as semelhanças com a Revolução Iraniana existem, mas não justificam o temor de uma repetição, ainda que, se se repetisse e fosse pela vontade da população, pouco poderia ser feito, ou mesmo deveria ser feito além de respeitar a vontade soberana do povo egípcio.

E os EUA, infelizmente, tem o terrível costume de jamais respeitar decisões de qualquer povo se estas forem diferentes da sua vontade, vide a vitória do Hamas na Palestina.
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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Dilma venceu. E agora? [Política Externa, novos desafios]

Tratando especificamente dos novos desafios, parece simplista dizer que cabe a Dilma manter a mesma orientação em termos de política externa e buscar apenas aprofundar os laços já estabelecidos com nossos parceiros.

Mas a questão é realmente simples. Os desafios enfrentados por Lula e Amorim foram vários, típicos de um mundo em transformação, de uma unipolaridade para uma multipolaridade de fato (EUA permanecem como potência militar única, mas sua influência diminui em outras áreas) e dentro de um processo de mudança de paradigma na nossa política externa.

Mas, enfim, o que Dilma deve fazer então daqui pra frente?

Em primeiro lugar, manter o Celso Amorim no cargo (ainda que estejam falando que ele pode assumir a pasta da Cultura) ou colocar em seu lugar alguém por ele indicado e que continue seu legado. É impensável qualquer tipo de mudança brusca em nossa política externa que ponha em perigo os avanços conquistados.

Dilma deve se aproximar ainda mais de nossos vizinhos latinoamericanos, buscando uma maior cooperação econômica e política e, quem sabe, uma aproximação mais corajosa na órbita da ALBA. Fortalecer o Mercosul é passo óbvio. Pouco fizemos de específico para fortalecer o Mercosul e é a hora de investir pesadamente num relacionamento mais forte com nossos vizinhos mais próximos.

No Oriente Médio cabe ao Brasil permanecer firme em sua defesa do programa nuclear pacífico iraniano e buscar manter-se como contraponto às políticas imperialistas na região. Quanto à questão Palestina, caberia ao país buscar ser mais incisivo e talvez iniciar conversações próprias com os lados do conflito.

Seria impossível citar todos os pontos relacionados à política externa, à posição do país frente aos organismos internacionais, na ONU, aos organismos financeiros ou mesmo em relação aos mais diversos países com os quais mantemos, hoje, relações mito mais fraternais, o importante, no entanto, é deixar clara a necessidade de manter a política externa intacta ou, no máximo, permitir alguns pequenos ajustes pontuais.

Hoje já não depende apenas de nós uma vaga no Conselho de Segurança, mas na boa vontade das potências porque, de forma geral, o Brasil vem construindo uma ampla e sólida base de apoio que conta até mesmo com o apoio de nossos vizinhos argentinos, históricos rivais pela hegemonia regional (por mais engraçado que isto possa parecer).

O aprofundamento de nossas alianças com países não-alinhados aos EUA pode, por um lado, propiciar um amplo apoio, mas por outro pode dificultar as coisas com os EUA propriamente dito e com capachos de ocasião ou não de seus interesses. É o multilateralismo militante contra o conformismo envergonhado.

Uma vaga, enfim, no Conselho de Segurança seria o ponto alto de todo um processo de revisão da nossa política externa e do nosso amadurecimento político e, obviamente, do reconhecimento do país como uma potência média, mas atuante no cenário internacional e com interesses que vão além da mera influência periférica ou local.

Resumidamente, a política externa de Dilma deverá se pautar pelo continuísmo sem, porém, cair no imobilismo ou em uma zona de conforto. Deve lutar duramente para manter sua proeminência internacional, para se manter atuante.
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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dilma venceu. E agora? [Política Externa, um panorama histórico]

Em termos de política externa o Brasil, em geral, teve uma posição quase impecável. Pese alguns deslizes (que no fim foram coerentes com as diretrizes do Itamaraty), a política externa do governo Lula e de Celso Amorim foi a melhor que tivemos desde Rio Branco e da política Getulista da Segunda Guerra (onde tentava conseguir o melhor seja da Alemanha, seja dos EUA).

O Barão do Rio Branco não só foi um dos artífices da expansão e consolidação de nossas fronteiras nacionais (vide a Questão do Acre), mas também aquele que, com a ajuda de um relutante Joaquim Nabuco, transferiu nosso centro de referência da Inglaterra para os EUA antes mesmo da decadência do Império Inglês estar visível a aparente para todos.

O pioneirismo de Rio Branco lhe vale até hoje lembrança e homenagens por ter sido o primeiro a enxergar que o mundo estava mudando. A partir da Primeira Guerra e especialmente após a Segunda a ousadia de Rio Branco se  provou correta e os EUA emergiram como principal ator internacional no ocidente.

Getúlio Vargas e seu chanceler, Oswaldo Aranha, pouco antes e no começo da a Segunda Guerra jogou de forma extremamente inteligente com os interesses tanto da Alemanha Nazista quanto dos EUA e, o segundo, em troca de nosso apoio, promoveu nossa primeira grande onda de industrialização.

Depois deste período em que nossa política externa primava pela ousadia e pela inteligência, oscilamos períodos negros de colaboracionismo com os EUA e de alguma independência sem, porém, grande brilhantismo.

Um dos períodos, sem dúvida, mais vergonhosos e mais subservientes aos interesses yankees foi, sem dúvida, o período que marca o aprofundamento do neoliberalismo e o auge das privatizações: O governo FHC com seu chanceler-capacho Celso Lafer.

Golpe final na moral brasileira e o fim de qualquer respeito que podíamos ter na arena internacional foi a estupidez de Celso Lafer retirar seus sapatos em um aeroporto estadunidense durante uma de suas visitas.


Fernando Henrique Cardoso e Celso Lafer conseguiram transformar o país em uma piada e praticaram a política externa mais vergonhosa e subserviente possível de se imaginar.

Foi a humilhação máxima que poderíamos passar e que só foi apagada pela política corajosa e ousada de Lula e Amorim.

Celso Amorim, juntamente com Samuel Pinheiro Guimarães no Itamaraty foram os artífices de uma nova mudança de eixo na nossa política externa, dos EUA para o terceiro mundo. Para os países em desenvolvimento, para a África, para a América Latina.

Se é fato que tivemos um início confuso e digno de muitas críticas - uma política errante de acordos com países africanos em que pouco ganhávamos em em termos financeiros ou mesmo políticos, com Lula chegando a desfilar até com ditadores como Omar Bongo - com o tempo a posição brasileira fez sentido e passou a ser amplamente respeitada.

Lula ser chamado por Obama de "o cara" foi apenas o reconhecimento final de uma política que já vinha sendo capitaneada com maestria há anos.

Ampliamos nossas alianças estratégicas com a África, fincamos nossa presença no Oriente Médio com o acordo Brasil-Irã-turquia que merece ser lembrado como um marco não só na diplomacia brasileira, mas mundial, desafiamos os EUA em muitos assuntos, nos colocando fora de sua órbita imediata de influência.

Mas, acima de tudo, corrigimos erros históricos na America Latina, ampliando e fortalecendo o Mercosul, apoiando a criação da Unasul (Unasur), marcando presença no Banco do Sul e apoiando politicamente nossos vizinhos latinoamericanos (vide a posição brasileira no golpe em Honduras).

O Brasil hoje abandonou parte de seu sub-imperialismo e passou a agir mais como parceiro na construção de uma identidade sul-americana, buscando parcerias com seus vizinhos e a construção de uma relação sólida.

O Brasil abandonou a subserviência aos EUA passando até mesmo a opor-se aos seus interesses.

O acordo Brasil-Irã-Turquia é o exemplo perfeito da situação em que o Brasil se colocou no espectro oposto aos dos interesses yankees, assim como a relação forte entre o nosso governo e o iraniano, ou mesmo com o governo venezuelano. A última novidade foi a oferta por parte do Brasil para mediar os acordos no Oriente Médio entre a Palestina e o Estado Genocida de Israel.

O Brasil, corretamente, defende o direito do Irã de ter um programa nuclear pacífico. Se o Irã tem interesses além é questão a ser discutida em outro foro, na ONU e com provas e não enfiado goela abaixo como quer/faz os EUA. Daí a importância do acordo Brasil-Irã-Turquia não só para o Irã, mas para a posição brasileira no mundo.

Com Amorim e Lula abrimos dezenas de embaixadas e ampliamos nossa atuação no cenário internacional e nos aproximamos cada vez mais de uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, ainda que, ao menos moralmente, estejamos desempenhando já um papel de membro-permanente, ao participar das grandes rodadas internacionais.

Saímos de uma situação de subserviência, de aparelhamento e emparelhamento automático com os EUA, de uma potência tímida, até mesmo repudiada pelos vizinhos latinoamericanos para uma posição de liderança mundial, de país admirado por sua independência e proatividade.

Hoje somos respeitados e mais, presença habitual nas mais altas esferas internacionais. Celso Amorim será, nos próximos anos, lembrado como grande artífice da política externa brasileira do início do século XXI.
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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Irã e Brasil: Mídia e Questão de Estado

A mídia vem fazendo um excelente trabalho em confundir questões de Estado com questões de governo e, como consequência, conseguem embaralhar a opinião pública. Usam o Irã como arma para atacar o governo, mas escondem a realidade dos aliados do Império, logo, do patrão.

De uns tempos para cá pululam notícias relacionadas aos abusos cometidos pelo regime Iraniano e, sem dúvida, existe direta relação com os acordos que vem sendo feitos entre este país e o Brasil. Nenhum problema na divulgação do que acontece no Irã, que é efetivamente uma ditadura repressiva com sérios problemas de respeito aos direitos humanos, a questão é quando isto acaba por respingar na correta política externa do governo brasileiro para a região.

É curioso notar que raramente ouvimos uma voz dissidente entre a imprensa mundial quando os EUA fazem acordos com qualquer ditadura, ou mesmo há reclamação do relacionamento do Brasil com a China ou a Arábia Saudita.

Num mundo ideal, as Ditaduras seriam isoladas, no mundo real, algumas ditaduras são toleradas e, ainda, outras são repudiadas mas alguns interesses permanecem.

No caso do Brasil, a política externa vem tentando evitar uma guerra nuclear ou, pelo menos, uma guerra injusta e desigual. Os EUA e Israel não querem atacar o Irã por ele ser uma suposta ditadura, mas porque tem interesses claros na região. Não há qualquer interesse democrático, mas sim o de impor sua supremacia. Aliás, não cabe aos EUA nem a Israel ou qualquer aliado decidir "democratizar" país algum apenas por sua vontade, que fique claro.

O Brasil, neste ponto, vem se colocando como um mediador honesto e confiável que busca reduzir as tensões, muito distante do explícito apóio a uma ditadura, como gosta de pintar a imprensa.

A posição de Lula ao oferecer asilo à iraniana condenada a morrer por apredrejamento é louvável. A partir do momento em que tal condenação - ainda que brutal - faz parte do código penal iraniano, não cabe a nenhum país abertamente criticá-la sob pena de ter suas relações cortadas. Se a prática se configura como um abuso dos direitos humanos, existem meios para se conseguir conversar com o regime que impôs a pena.

Nunca vi qualquer país repudiando os EUA por condenarem à cadeira elétrica doentes mentais incapazes. Nem a imprensa grita de ódio quando isto acontece. E estamos falando de um atentado contra os direitos humanos da mesma monta.

O Brasil, ao escolher o caminho da negociação, manteve o padrão. Quando o presidente Lula se dirigiu ao presidente Ahmadinejad e pediu clemência e, depois, o Itamaraty ofereceu o asilo à iraniana, todos os trâmites forma seguidos corretamente. No mínimo a imprensa esperava uma invasão ao estilo dos EUA com marines indo resgatar a pobre coitada no melhor estilo Chuck Norris.

Ridicularizaram o presidente Lula quando este, se dizendo cristão, pediu clemência à iraniana. A atitude do presidente foi a correta. Ele fez um meio de campo considerável para, então, acionar o Itamaraty sem que nada parecesse uma imposição. Há todo um trâmite diplomático a ser seguido em vista de não melindrar o país a quem se pede clemência, uma forma específica de negociar com o objetivo de alcançar um objetivo humanitário sem que isto signifique ferir a soberania de outro Estado. são conceitos que o PIG dificilmente compreenderia.

O caso mais recente a figurar na imprensa é o do jovem acusado de ser gay  (é risível usar o termo "acusado", como se ser gay fosse crime, mas...) e, por isto, condenado à morte. É algo grotesco, fato, mas eu gostaria de saber da imprensa porque cabe ao Brasil e apenas ao Brasil, a condenação? Porque cabe apenas ao Brasil tomar alguma atitude sobre o caso?

Se existem violações dos DH no Irã - e existem - cabe à ONU condenar. O problema é que, palco das manipulações imperiais, a efetividade da condenação seria limitada. Outro grande problema é que, de que adianta condenar exclusivamente o Irã por práticas que são ainda mais cruéis e comuns em países aliados dos EUA e que, por isso, nada sofrem ou sofrerão?

Essa seletividade retira qualquer força de condenações morais. E sanções apenas se provam ineficazes quando seguem a mesma motivação.

O engraçado é que, caso recente de brasileira de 14 anos condenada nos Emirados Árabes por fazer sexo e que a mídia ainda não gritou que é um absurdo o Brasil ter relações com tal país bárbaro. A mídia não fará tal coisa, afinal, os Emirados Árabes Unidos são ricos e aliados de primeira hora dos patrões, os EUA.

Enfim, não cabe a um Estado, o Brasil, fazer críticas pontuais a ações ou decisões de governos ou de órgãos subsidiários, como a justiça do Irã. Seria o mesmo que o Estado Iraniano criticar o governo Lula pelo Mensalão ou FHC pelas privatizações.

Obviamente existem exceções, mas esta não é uma delas. O Brasil poderia ter condenado o golpe dado por Ahmadinejad para vencer as eleições, da mesma forma que condenou Honduras pelo golpe de Micheletti e até hoje se recusa a reatar relações, mas se não fez, passou o tempo, a história caminhou e a realidade hoje é outra. As ações de um governo contra sua população, amparadas pela Constituição e códigos legais do país não são assunto de outro Estado. No máximo pode haver uma intermediação, uma troca de mensagens e uma intenção de buscar solucionar algo que não parece certo ou correto para uma das partes. O resto é intervenção indevida em assuntos internos de outros países, algo que os EUa são mestres em fazer par,a depois, invadir os países que lhes desagrada.

Puro e simples crime.
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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O que significa o (suposto) atentado contra Ahmadinejad?

À medida em que avança o dia chegam mais notícias sobre o suposto atentado cometido contra o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad.

Até o momento, apenas incertezas, notícias desencontradas e uma festa de um lado anunciar e o outro desmentir.

O mais importante neste momento, porém, mais do que saber se efetivamente houve um atentado, é saber das consequências de toda esta história.

Creio que estejamos diante de dois cenários possíveis que se ramificam em múltiplas conjecturas e possibilidades:


1. Hipótese de um Atentado Real

Se houve efetivamente um atentado, é importante saber quem foi o responsável, as motivações e, acima de tudo, o que isto representa para o futuro.


1.1. Quanto aos responsáveis, podemos pensar em 4 grupos principais:

a) Pjak: Grupo Curdo financiado próximo ao PKK da Turquia e alegadamente financiado pelos EU, ao menos até Obama colocar o grupo na lista de "terroristas". O grupo luta por uma região autônoma curda no Irã e por maio respeito às minorias curdas, azeris, árabs e etc.
b) Balochis: Importante minoria étnica que vive entre o Irã, Afeganistão e Paquistão, os Balochis ou Baluchis vivem em conflito com o governo central dos respectivos países e grupos como o Jundallah poderiam ter o interesse de matar o presidente iraniano.
c) EUA/Israel, CIA/Mossad: Opção mais que provável, dispensa grandes comentários.
d) Outra oposição interna, Verdes, Progressistas: Outra hipótese possível é a de que algum grupo obscuro ou mesmo algum dissidente ligado aos Verdes, ou as Árabes do Kuzestão possa ter cometido o atentado.e) finalmente, a opção menos provável, um atentado "interno". Grupos radicais extremamente conservadores buscando impor uma liderança ainda mais conservadora. O processo fraudulento que levou Ahmadinejad ao poder criou tensão mesmo entre os conservadores, fazendo com que grupos extremamente conservadores deixassem claras suas posições. Nunca se descarta também a participação da guarda Revolucionária, ainda que Ahmadinejad tenha saído de suas fileiras.

É difícil saber até que ponto o programa nuclear é consenso e que grupos, mesmo conservadores, podem se sentir prejudicados pelas políticas governamentais. A dança de cadeiras no início do segundo governo pode contribuir para a hipótese de que uma elite conservadora se sentiu atacada.

1.2. Quanto às motivações e objetivos, estão claras. Cada grupo defendendo seus próprios interesses, seja a independência de uma região (caso dos Balochis), autonomia e respeito ao direito das minorias (Pjak), substituição por uma liderança mais moderada ou conservadora ou mais ligada aos interesses de um ou outro grupo ou mesmo a pura e simples confusão.A grande insatisfação com os rumos do governo parece estar presente nos mais diversos setores.

1.3. Finalmente, quanto ao que isto representa para o futuro. Dois são os cenários:
a) O atentado pode significar uma maior abertura, algo pouco provável, que seria fruto de pressões por um maior diálogo depois de uma radicalização contra o governo
b) Uma retração ainda maior do país, uma radicalização tanto interna quanto externa. Possivelmente, em caso de maior repressão, o país poderia rachar devido à grande pressão ainda exercida pelos Verdes e pela oposição insatisfeita com a atual situação política, social e econômica do país.

Em termos macro, como bem disse o Gustavo Chacra hoje pela manhã em seu blog, poderíamos ter guerra.
Guerras começam em eventos menores. São os chamados estopins, que colocam fogo em um barril de pólvora. O Oriente Médio está pronto para explodir. E a poda de uma árvore quase acabou em uma escalada militar entre o Líbano e Israel. Foi por muito pouco. Se uma cerca for derrubada, como em briga de vizinhos, o conflito pode eclodir e, como disse ontem, Beirute e Tel Aviv se destruiriam inutilmente.
Hoje foi a vez de uma tentativa de atentado contra Mahmoud Ahmadinejad. Provavelmente, a ação foi organizada por opositores internos. Mas e se atingissem o seu objetivo? Nós teríamos acordado com o presidente do Irã morto. É a velha história do cisne negro.
Um cenário que é bem possível. Se Ahmadinejad tivesse morrido, poderíamos estar diante de uma guerra,  o que iria de encontro aos interesses dos EUA e de Israel.

Agora, não se pode descartar a hipótese de que não houve atentado algum, como atesta o Irã e sua agência oficial.

2. Hipótese de que não houve qualquer atentado:

É preciso analisar, antes de mais nada, o que motivaria a criação de um boato deste tamanho e, posteriormente, analisar as consequências de tal boato. Apesar de algumas fotos e relatos, alguns sustentam a versão de fogos e não de uma bomba.

2.1. Tudo não passa de um boato. A quem serviria?

a) Primeiramente, logo pensamos em Israel/EUA ou mesmo em qualquer outro grupo já descrito na hipótese anterior, e neste caso a resposta é simples:? Confusão. Uma tentativa dos inimigos do Irã buscarem capitalizar em cima do boato, procurando mostrar que há uma grande insatisfação com o governo. Poderia servir até mesmo como desculpa para uma intervenção, a falsa idéia de que haveria apoio a um ataque contra o Irã mesmo dentro do país, visto que chegaram até a tentar matar o presidente. Seria o boato perfeito para justificar uma ação militar desastrosa. Sendo coisa apenas de grupos locais, o país não sairia de sua normalidade e possivelmente aumentaria a repressão contra as minorias locais.
b) Por outro lado, não podemos descartar a possibilidade de o próprio governo ter lançado mão deste boato como forma de criar um inimigo para justificar suas políticas repressivas. Seja ele interno ou externo (EUA/Israel), seria a justificativa para um programa nuclear efetivo (e não apenas para fins pacíficos, como declaram). Esta hipótese não é muito provável, visto que o governo prontamente buscou negar o fato.

2.2 Finalmente, as consequências são diversas.
Vão desde um descrédito simples das agências internacionais, até a humilhação dos responsáveis por vazar tal informação, supostamente falsa dentro da hipótese. Descobrindo-se que o boato foi criado pelo Irã, o governo se encontraria com sérios problemas, se mostraria fraco e precisando criar factóides para sobreviver, o mesmo pode-se dizer dos EUa/Israel, que se veriam novamente envoltos em uma crise ligada às suas agências. A CIA falhou no 11 de Setembro e o Mossad vem cometendo lambanças pelo Oriente Médio.

No fim das contas, ainda é cedo para saber o que realmente aconteceu e, mesmo com fontes oficiais, a história ainda permanecerá envolta em mistério. O melhor é esperar até que alguma fonte independente, um blogueiro ou jornalista independente, apresente provas do que aconteceu - ou não aconteceu.

Até lá, tudo não passa de conjectura.

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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Blogs, Internet e democracia no Irã

Nos últimos oito anos, vários blogueiros e ativistas iranianos vem sendo vítimas de perseguições e prisões por causa de seus trabalhos e opiniões
Por Raphael Tsavkko Garcia

Os nomes Hossein Derakhshan, Hussein Rongah Melki, Majid Tavakoli, Koohvar Godarzi ou Omid Reza Mir Sayafi provavelmente não significam nada para os brasileiros, mas são um símbolo de resistência para o povo iraniano.

Os quatro primeiros encontram-se presos, em um regime de reclusão sufocante. O último está morto. Em comum, o fato de serem blogueiros e líderes estudantis, e também o de estarem ou terem sido presos, torturados, terem passado por greves de fome e por humilhações. Tudo pelo simples direito à liberdade. E estes cinco são apenas parte dos blogueiros e ativistas presos por expressarem suas opiniões.

Derakhshan, mais conhecido como Hoder, está preso desde 1 de novembro de 2008 e apenas recentemente começou a ser julgado. Ele é um dos principais e mais influentes blogueiros do Irã e, como tal, constantemente vigiado e perseguido pela temida polícia local.

Majid cometeu o terrível crime de lutar pelos direitos humanos e ser uma das principais lideranças jovens nesta área. Godarzi foi preso por pedir aos leitores de seu blog para o ajudarem a parar uma execução. Melki era uma das principais lideranças do projeto Iran Proxy, que luta contra a censura e filtragem de conteúdo no pais.

Sayafi tinha 29 anos de idade morreu na prisão de Evin, em Teerã, em 18 de março de 2009. Era blogueiro, jornalista e dissidente. Ousou levantar a voz contra a opressão.

Tavakoli, preso em dezembro de 2009, foi fotografado em roupas femininas pelas autoridades. Uma tentativa de humilhá-lo que, como resposta, foi seguida por uma onda de blogueiros e ativistas postando fotos vestidos de roupas femininas, num sinal claro de apoio.

Nos últimos oito anos, vários blogueiros e ativistas vem sendo vítimas de perseguições e prisões por causa de suas opiniões e trabalhos. Alguns foram presos por poucos dias. Outros foram condenados a vários anos e, ainda, alguns não aguentaram até o fim de suas sentenças e morreram nas prisões sem sequer a chance de um julgamento justo.

As acusações costumam ser as de fazer propaganda contra a República Islâmica, a de se associar a elementos provocadores ou agentes estrangeiros ou a de insultar líderes religiosos. Em praticamente todos os casos as acusações não passam de farsas pessimamente apresentadas.

A onda de prisões de blogueiros teve início em 2003, com a prisão de Sina Motalebi – hoje exilado na Holanda -, ainda sob a presidência de Mohammad Khatami, considerado por muitos como um reformista, e apenas cresceu desde que Ahmadinejad assumiu o cargo, em 2005. De lá para cá, dezenas de blogueiros foram interrogados, presos e mortos enquanto lutavam pro uma ampla reforma na República Islâmica do Irã.

Há quase uma década os governos conservadores vêm prestando bastante atenção na internet e em seu potencial transformador. Durante o conturbado processo eleitoral de 2009, em que Ahmadinejad foi acusado de fraudar as eleições para vencer seu adversário reformista Mir Hossein Mussavi, o Twitter e outras plataformas eleitorais foram o fio condutor da revolta.

Em meados de junho, o blog jornalístico coletivo Huffington Post iniciou sua cobertura em tempo real (liveblogging) dos protestos pós-eleitorais do Irã. Desde então, uma forte censura foi baixada no país, contando com a expulsão de jornalistas credenciados para cobrir o processo eleitoral e, para os que puderam ficar, um cerco feroz contra suas atividades, proibição de sair às ruas e de divulgar o que acontecia no país: Protestos violentos entre manifestantes e a polícia e a famigerada Milícia religiosa Basij.

Através de blogs, Twitter, Facebook, Youtube e outras redes sociais, a população iraniana pôde expressar seu descontentamento com a situação, não só eleitoral, mas social de um país governado por milícias religiosas e constantemente sofrendo boicotes e sanções

Aqueles blogueiros e ativistas engajados em divulgar as manifestações e em encontrar formas de burlar a censura foram brutalmente perseguidos e os que já estavam presos se viram em uma situação ainda mais difícil.

Através de sites como o Global Voices Online, e comunidades no Facebook, amigos, familiares e ativistas buscam mostrar a o mundo o que acontece, na tentativa de angariam apoio e pressionar a comunidade internacional a agir e intervir.

Hamed Sabe, foto-blogueiro preso recentemente é um exemplo desta mobilização. Preso sem qualquer tipo de acusação conhecida, seus familiares e amigos iniciaram uma campanha mundial pela sua libertação e pedem, no mínimo, um julgamento justo.

Outro caso emblemático é o de Sakineh Mohammadi Ashtiani. Condenada a morte por apedrejamento por supostamente ter cometido aldutério, esta iraniana de 43 anos encontrou salvação – ao menos temporária – na pressão internacional tanto através da mídia tradicional, quanto da mídia social e de ativistas espalhados por todo mundo. Seus filhos e amigos criaram um site para dar visibilidade ao seu caso e a notícia logo se espalhou. Da mesma forma que o Twitter serviu para mobilizar as massas em apoio à Revolução Verde de Mussavi, a rede serve agora para salvar a vida de uma mulher comum.

Apesar de pequeno em termos de conquistas, o poder da internet no Irã vem sendo sentido e começa a assustar seriamente os donos do poder. A mobilização em prol dos direitos humanos e da liberdade de expressão no país vem crescendo a olhos vistos e, se ainda não foi capaz de transformar profundamente a sociedade, ao menos consegue espalhar a ideia de democracia pelo mundo e denunciar os abusos e crimes cometidos contra o povo.

Raphael Tsavkko Garcia é jornalista e blogueiro: http://tsavkko.blogspot.com


Publicado originalmente no site da revista Caros Amigos, em 30 de julho de 2010.
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sexta-feira, 11 de junho de 2010

A força e o efeito das sanções contra o Irã


Qual seria a força e o efeito das sanções - novamente e criminosamente - aplicadas contra o Irã pelos EUA e sua organização de fachada, a ONU?

Ao contrário do que esperam os EUA e Israel em sua política suicida e absolutamente burra, os efeitos são exatamente o contrário do que esperam. De fato o Estado pode sentir algum desconforto econômico, mas quem realmente sofre é a população - mas não tanto. Mesmo países, como a Rússia, que apoiaram as sanções, já disseram que não vão suspender o comércio com o país ou alterar significativamente sua relação. A Rússia, retomo, continuará a cumprir o contrato de venda de mísseis ao país como se nada tivesse acontecido.

O alvo preferencial das atuais sanções - é a quarta rodada de ações do tipo - é a Guarda Revolucionária, suas empresas, ativos, contas bancárias e transações. Se as sanções anteriores contra o Estado não funcionaram, esta provavelmente terá o mesmo resultado: Fracasso. O Irã e a Guarda sempre encontram meios de furar o bloqueio e ainda encontram na Rússia e na China importantes parceiros comerciais que dificilmente se sacrificariam pela efetividade de sanções impostas pelos EUA.

Mas o ponto principal na questão é que o único efeito de tais ações é o crescimento do ódio. A população iraniana apenas aprende a odiar ainda mais os EUA e a posição das alas mais radicais islâmicas da República se fortalecem, logo, o efeito das sanções é o inverso ao esperado.

Mas o parágrafo acima é enganador. Nós, tolos, pensamos que a pacificação do Irã é o que Israel e EUA querem, mas o Iraque é um caso emblemático. Sanções foram aplicadas inúmeras vezes e, ainda assim, os EUA se sentiram no direito de fabricar provas de supostas armas de destruição em massa para, finalment,e invadir o país.

No Irã não é diferente. Era o sonho de Bush, é o sonho de Obama. O Império não sobrevive sem invadir e destruir um inimigo. Nenhum governo estadunidense pode dizer que fez alguma coisa se não levar destruição para algum lugar do mundo.

A aplicação de sanções cria um efeito contrário ao que os inocentes esperariam. É óbvio. Reforça o radicalismo de governo, faz aumentar o apóio a este governo e faz crescer o ódio em todas as esferas.

Os oposicionistas verdes anti-governo apenas se enfraquecem quando vêem que o ocidente está mais preocupado em puní-los do que efetivamente levar uma proposta de mudança, do que apoiar uma mudança.

Desta forma os oposicionistas ficam cada vez mais isolados, vistos cada vez mais como inimigos, como agentes estrangeiros, como perigo à república islâmica. Estamos falando de Realpolitik. A oposição pacifista e democrática é esmagada, desacreditada, logo, o "mundo" perde as esperanças em uma mudança vinda de dentro. Só há a saída "de fora". É preciso acalmar os radicais, colocá-los no lugar, até "salvar" os pobres democratas acuados! Sejamos humanos, ora bolas!

A aplicação eterna de sanções é cara, é desconfortável, causa problemas à aliados, ao comércio, é politicamente caro e, no mundo, causa revolta. Por mais que os EUA se importem apenas com seu público interno e não com o resto do mundo, seus aliados devem responder ao povo de seus respectivos países, e ser aliado dos EUA traz custos políticos. Sanções injustas e criminosas causam prejuízos políticos.

Um teatrinho chamado Conselho de Segurança é o responsável, com aconivência de 12 países, a vergonhosa abstenção do Líbano (curioso como os Árabes/Muçulmanos - afinal o Irã não é Árabe e sim Persa - não se juntam jamais, se limitam a gritar juntos, mas na hora do "vamos ver" acabam vendo o que lhes parece mais favorável no momento) e a posição firme de Brasil e da Turquia (que de santa não tem nada, vide o assunto Curdo).

Os EUA, historicamente, são partidários da ação, da violência, adoram reforçar sua indústria armamentista e, acima de tudo, não toleram que qualquer país não esteja aos seus pés. E usam a ONU para seus propósitos sujos. Quando nao conseguem nem dobrar a ONU (caso do Iraque), vão à guerra de qualquer forma.

Assim como Israel, as ações dos EUA jamais são punidas. Podem matar, dar e patrocinar golpes, derrubarem governos, cometerem genocídios... Nada acontece.

O acordo alcançado por Brasil e Turquia com o Irã era a saída - ao menos o início ou a tentativa - do "problema" iraniano. Mas não foi feita pelos EUA, mas por países periféricos. E o acordo não obrigava o Irã a se ajoelhar.

Os EUA são como um gato que encurrala um rato. Não comem de vez, mas brincam com ele até o golpe final. As sanções são isto. Um ensaio, uma brincadeira sádica até que, finalmente, haja a mordida, a invasão, a conquista.



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quarta-feira, 19 de maio de 2010

O Acordo Brasil-Irã-Turquia

A celeuma em torno do acordo feito por Irã, Turquia e Brasil é simplesmente lamentável.

Longe de me colocar do lado dos patriotas e ultranacionalistas que bradam de alegria frente ao acordo, colocando o Brasil no céu, como nação da paz e etc, devo dizer que, querendo ou não,  a posição brasileira merece aplausos.

Ao contrário de metade do mundo, que simplesmente engole a cartilha dos EUA e que quer com unhas e dentes promover mais uma guerra e afogar o Irã em seu próprio petróleo, o Brasil soube ser ponderado, proativo e responsável. Celso Amorim é um estrategista e negociador de fazer inveja e o Brasil jogou as cartas certas e conseguiu convencer o Irã a aceitar um acordo nos mesmos moldes do proposto anteriormente pela ONU (via conselho de Segurança) e pelos EUA de que o urânio iraniano seria enriquecido fora de suas fronteiras - dentre outros detalhes.

Notem bem, o Brasil, junto com a Turquia, conseguiu convencer o Irã a aceitar praticamente o MESMO acordo proposto anteriormente e, mesmo assim, os EUA sentem falta de sangue e se recusam a aceitar este acordo.

Os EUA impuseram um acordo com armas na mão, queriam forçar o Irã a se ajoelhar. Como de costume, foram derrotados. O Brasil apresentou acordo semelhante, mas com diálogo, negociação, argumentos, e saiu-se vencedor. A força das armas comumente usada pelos EUA já há muito não vem surtindo efeito.

O Conselho de Segurança está disposto a passar por cima de todo o longo processo de negociação dos últimos meses e do acordo extremamente favorável do Brasil apenas para agradar ao Império.

Os EUA não conseguiram pressionar, assustar ou condenar o Irã, o Brasil, com boa vontade e conversa, conseguiu. O Império, então, se recusa a aceitar que um primo pobre tenha feito seu trabalho, e sem sujar as mãos.

Se o Irã irá efetivamente respeitará este acordo - e aqui sigo o mesmo raciocínio do ministro Celso Amorim - são outros quinhentos. Cabe à ONU e outros organismos zelarem pelo acordo, pela efetividade do que foi assinado ou ao menos acordado. O que interessa saber é que o acordo foi alcançado, com pressão diplomática e negociação, e não com a força das armas ou ameaças inconsequentes.

Infelizmente, vivemos em um mundo de cartas marcadas, enquanto o Brasil negociava, os países que compõem o CS já haviam escrito um documento exigindo que o Irã se ajoelhe, cortando financiamentos, fechando e bloqueando contas e tornando ainda mais difícil a vida dos habitantes do país.

Ao contrário do que se pensa, do senso comum, a aplicação de sanções serve apenas para radicalizar ainda mais a oposição, serve apenas para acirrar ainda mais os ânimos e inviabilizar qualquer tipo de negociação franca e justa. A aplicação de sanções, vale lembrar, prejudica a população, o povo iraniano, não só radicaliza os radicais, mas também aumenta o sofrimento dos que sentem na pele a escassez causada pelos cortes que se seguem à punição.

Talvez eu esteja me adiantando, mas o que vemos é, talvez, o ponto de ruptura do atual sistema internacional. Caminhamos para uma multipolaridade em que nem os EUA e nem a Europa detém o poder máximo de convencimento. De fato, o poder militar final é ainda dos EUA - vide o Iraque, invadido contra a vontade da ONU e da ampla maioria dos países do mundo -, mas o poder moral já não está nas mãos dos EUA ou mesmo da Europa que, em um período em que se esperava um crescimento de sua importância no cenário internacional com a União Européia, à ponto de enfrentar o poderio dos EUA em diversas áreas, se mostra nada mais que um capacho dócil das vontades dos EUA - e a Inglaterra que o diga!

Hoje, os EUA não tem mais o poder de estalar os dedos e ter sua vontade respeitada. Nem a ameaça das armas vem funcionando, vide o Irã ou a Coréia do Norte.

Contra o Iraque foram forçados a invadir o país, o mesmo vale para o Afeganistão em que suas armas não vem ganhando dos Talibãs e seu escolhido para governar, Hamid Karzai, é um fantoche inquieto e pouco confiável. Estamos diante, neste começo de século XXI, se me permitem profetizar, do fim do poderio americano como conhecemos durante boa parte do século XX.
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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ahmadinejad quer EUA fora da AIEA ou Hipocrisia Nuclear


Já tratei deste assuntos algumas vezes, mas a capacidade dos EUA de serem hipócritas surpreende.

Estou longe de apoiar o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, um verdadeiro ditador que levou no bolso as últimas eleições iranianas, mas, da mesma forma, são intoleráveis os ataques feitos contra o Irã por parte dos EUA. Especialmente no que concerne os supostos armamentos nucleares que o Irã supostamente vem tentando construir para supostamente ameaçar o mundo e supostamente causarem uma guerra mundial.

Ahmadinejad discursou ontem na reunião do TNP e pediu para que os EUA fossem expulsos da organização (AIEA) por terem sido os únicos a utilizar uma bomba nuclear e ainda utilizarem armamento com urânio empobrecido, causando prejuízos incontáveis aos alvos - normalmente habitantes de países pobres invadidos ilegalmente por eles.
"O governo dos EUA não deve ser um membro do conselho de diretores da AIEA, pois além de ter usado bombas atômicas durante a guerra contra o Japão (1941-1945), adotou a mesma estratégica contra o Iraque por meio de munições de urânio enfraquecido”
“Na nova política, eles dizem que não irão desenvolver armas, mas vão aumentar a capacidade de reforço o que significa dar maior capacidade de armas nucleares para matar e destruir sem ser testado
Seus questionamentos são mais que válidos:
"Como pode o Governo dos EUA ser membro do Conselho de Governadores (da AIEA) se, além de ser o único país que lançou uma bomba atômica contra o Japão, usou também armas com urânio empobrecido no Iraque?", perguntou Ahmadinejad.

O líder iraniano pediu também o "fim de toda cooperação nuclear com os países que não são membros do TNP", em referência ao que chamou de "regime sionista" israelense, que não é signatário do tratado.
Israel não faz parte do TNP, então porque não é pressionada pelos EUA a se desarmar? A receber inspeções? O Irã não nega enriquecer urânio, diverge apenas dos fins que lhe são atribuídos pelos EUA. E por isto é ameaçado constantemente.

Ahmadinejad, corretamente, critica o fato dos EUA ameaçarem usar seu poderio nuclear contra seus inimigos. Oras, o Irã não pode ter tecnologia nuclear, mas os EUA podem usar suas armas para ameaçar quem quiser? A Nova doutrina militar dos EUA não deixa dúvidas:
1. Segundo esta nova declaração, antes, qualquer país poderia ser vítima de ameaça (chantagem) nuclear por parte dos EUA. Agora é que mudaram de idéia.
2. Os EUA se comprometem a não usar ou ameaçar países que se enquadrem em alguns quesitos, logo, não renuncia ao uso de armas nucleares em qualquer hipótese e afirma que pode utilizá-las em alguns casos, o que mantém o perigo nuclear.
3. Dentre as exceções para o uso destacam-se a não-disposição de armas nucleares (sem, porém citar os países sob os quais existem apenas suspeitas) e que CUMPRAM as obrigações dentro do TNP.
As declarações de Ahmadinejad - seja quais forem as críticas, justas ou não, feitas à ele - são corretíssimas! Os EUA e seus aliados tem o direito divino de ameaçar, de possuir armas, de sequer assinar o TNP (Israel, Paquistão, Índia) e nada acontece.
"El OIEA presiona a países que no tenemos armas nucleares bajo la excusa de la no proliferación mientras que es complaciente con los países que sí tienen armas nucleares y que quieren conservarlas para mantener su superioridad sobre los demás"
Os inimigos não podem nem pensar em enriquecer urânio, nem que seja para a medicina! Mesmo que a AIEA declare que não tem qualquer prova para condenar o Irã, não importa, da mesma forma que invadiram o Iraque sob acusações falsas, a bola da vez é o Irã.

Mais engraçado foi, quando vi na Globonews e depois li no site da FoxNews a notícia de que um deputado democrata quer processar e prender Ahmadinejad por supostamente incentivar um genocídio contra Israel...
"New York Rep. Steve Israel called for Mahmoud Ahmadinejad to be arrested and tried for "incitement to genocide" following the Iranian president's speech Monday at the United Nations in which he tried to vilify the United States and its allies. The Democratic congressman argued that Ahmadinejad's past calls for the destruction of the state of Israel -- specifically his call in 2005 for Israel to be "wiped off the map" -- constitute a violation of the United Nations' genocide convention.
"Incitement to genocide is a punishable act and instead of giving him another platform at the U.N., he should be tried," the congressman said in a written statement.
Calls for Ahmadinejad to be hauled before an international court are not new. The U.S. House of Representatives passed a resolution in 2007 calling for the U.N. Security Council to charge him. Israeli diplomats have called for similar charges. "
Só mesmo rindo! Um deputado dos EUA, país que apoia Israel e incentiva, financia e comemora o genocídio contra os Palestinos querendo acusar processar alguém por crimes semelhantes! E, pior, um deputado do país terrorista, do país que é o maior criminoso internacional querendo ter direitos sobre o chefe de Estado de outro!

Aliás, qualquer tipo de processo que tivesse por base as traduções grotescas e manipuladas feitas sobre as palavras do Ahmadinejad já seria nulo. Se bem que os EUA já invadiram o Panamá, desrespeitando qualquer lei internacional conhecida, e prenderam seu ex-aliado, o Noriega... Tudo é possível, mas o Irã não é o Panamá.
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quarta-feira, 7 de abril de 2010

A nova estratégia militar dos EUA, quem acredita?

A nova estratégia militar dos EUA no que concerne suas armas nucleares e seu uso não trouxeram nenhuma grande novidade. Bravatas e continuidade do que já existia. Tanto EUA quanto a Rússia já haviam se comprometido em reduzir seus arsenais, nenhuma novidade ate aí. O que muitos colocaram como surpresa foi a declaração seguinte:
Dentro da nova estratégia, os Estados Unidos se comprometem a "não utilizar nem ameaçar com armas nucleares" os países que não dispõem desses arsenais e cumpram suas obrigações dentro do Tratado de Não-Proliferação.
Deve-se notar alguns detalhes:

1. Segundo esta nova declaração, antes, qualquer país poderia ser vítima de ameaça (chantagem) nuclear por parte dos EUA. Agora é que mudaram de idéia.
2. Os EUA se comprometem a não usar ou ameaçar países que se enquadrem em alguns quesitos, logo, não renuncia ao uso de armas nucleares em qualquer hipótese e afirma que pode utilizá-las em alguns casos, o que mantém o perigo nuclear.
3. Dentre as exceções para o uso destacam-se a não-disposição de armas nucleares (sem, porém citar os países sob os quais existem apenas suspeitas) e que CUMPRAM as obrigações dentro do TNP.

Analisando uma a uma.

1. Os EUA admitiram o que todos sabiam, que seu arsenal nuclear sempre foi usado para chantagear outros países, seja quais forem, sem discriminações. Qualquer um poderia ser vítima de suas armas. Por mais que fosse fato conhecido, é assustador esta admissão, ainda que involuntária. Mas, de qualquer forma, o que fica é a contínua ameaça o uso de armas nucleares, e entremos no segundo ponto.

2. OS EUA não renunciaram, pelo bem da humanidade, ao uso de armas nucleares, mas criaram uma escala, um limite. Continuam, porém, a ameaçar seus desafetos com seu poderio destrutivo. Os EUA, passando por cima de qualquer organismo, decidiram criar seus próprios limites e pouco importam críticas ou reclamações de quem quer que seja. Fazem o que querem, como querem.

3. Quanto às exceções, o grande perigo. Os EUA se comprometem a não ameaçar e usar armas nucleares em países que comprar com suas obrigações dentro do TNP e que não tenham armas, logo, temos um espaço amplo para conjecturas.

Para os EUA, o Irã se não as tem, as planeja, o que é razão suficiente para a contínua ameaça ao país. Para os EUA cabe apenas inventar uma história, inventar provas e acusar o país que bem quiserem de possuir as tais armas. A nova estratégia foi feita com a intenção de enquadrar, desde o início, Irã e Coréia do Norte.

E isto não é apenas um quadro ideal ou impossível, as razões para atacarem o Iraque foram exatamente estas, as de que Saddam possuía armas de destruição em massa. O que era uma mentira gigantesca. Mesmo assim, o país foi invadido.

E, para piorar, se não foram usadas armas nucleares em si por parte dos EUA, foram usadas balas de urânio empobrecido que até hoje deixam sequelas na população local. São armas com potencial nuclear, querendo ou não.

O cerne da questão, na verdade, vai além. O mundo está disposto a aceitar as bravatas dos EUA? O mundo está disposto a acreditar na boa vontade do Império que tem mais invasões e casos de abuso e desrespeito aos Direitos Humanos e às normas internacionais do que o Iraque tem de areia em seu território?

O El País é direto:
Según el documento, el nuevo plan nuclear propone una condición importante: que los países no estarán sujetos a una posible respuesta nuclear estadounidense si cumplen con el Tratado de No Proliferación Nuclear. Es aquí donde Irán y Corea del Norte no están incluidos.
"Esencialmente nos referimos a países como Irán y Corea del Norte, que no cumplen (con el Tratado de No Proliferación), y básicamente todas las opciones están sobre la mesa cuando se refiere a naciones en esa categoría junto con organizaciones no estatales que pueden adquirir armas nucleares", ha dicho el jefe del Pentágono, Robert Gates a los periodistas. En este último punto, la mayor preocupación es la continua evidencia de que Al Qaeda y otros grupos radicales están interesados en adquir armas de destrucción masiva.

As declarações dos EUA apenas confiram sua vontade de ditar as regras no ambiente internacional, de fazer as coisas ao seu modo, passando por cima de tudo e todos. Se aventam no direito de usar e ameaçar quem tenha armas nucleares, MESMO que estas armas sejam só uma ilusão na cabeça dos yankees, ou seja, se dão o direito de ameaçar e chantagear quem bem entenderem, bastando apenas plantar informações falsas e fazer sua população majoritariamente estúpida acreditar em tudo.

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Aliás, eu me perguntei se alguém cairia no conto da bondade estadunidense e... Ban Ki-Moon, obviamente, caiu. A ONU, como de costume, é a primeira a ser enganada - ou se enganar propositadamente.
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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A visita de Ahmadinejad ao Brasil

Este texto iria ser publicado no Global Voices, mas por diversos problemas, acabou sendo engavetado.

Como tive um trabalho imenso, posto e bendito neste espaço, tentando retomar a discussão sobre a controversa visita do mandatário Iraniano e, também, trazendo a questão  fundamental da presença israelense.

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A visita do presidente do Irã, Mahhmoud Ahmadinejad, ao Brasil no dia de hoje (23/11), trouxe à tona uma série de questões pertinentes não só ao Brasil, mas a todo o mundo.

A imprensa brasileira vem fazendo um verdadeiro show midiático em torno da visita de Ahmadinejad mas, curiosamente, se recusou a comentar de qualquer maneira (negativa, pelo menos) a visita do Presidente de Israel, Shimon Peres, e do Chanceler de extrema-direita, Avigdor Lieberman.
"Legislation that Israel's Arab citizens fear could limit their freedom of speech came a step closer on Sunday to becoming law. The bill, proposed by a legislator from the ultranationalist Yisrael Beitenu party of Foreign Minister Avigdor Lieberman, would withhold government money from any state-supported institutions that fund activity deemed detrimental to the state. Such activity includes "rejecting Israel's existence as the state of the Jewish people" and supporting "armed struggle or terrorist acts" against Israel."
A questão fundamental no debate que acontece no Brasil é a dos dois pesos e duas medidas utilizados pela imprensa e por parte da opinião pública manipulada que se cala diante das atrocidades cometidas por Israel - em muitos casos até as aplaude -, mas se mobiliza para protestar contra a visita de Ahmadinejad que, se não é exemplo de decência, está longe de se comprar a figuras que pregam o genocídio aberto e descarado como Lieberman e seu partido ultra-nacionalista.

Tratando da questão do genocídio, é patente a posição da mídia em acusar o presidente Ahmadinejad de negar o holocausto. Há controvérsias. Virginia Tilley, no Counterpuch, traduzido pelo site Resistir.info nos informa:
Ainda assim, o sr. Ahmadinejad não disse aquilo que a Subcomité americano sobre Política de Inteligência declarou: "Eles inventaram o mito do massacre dos judeus e colocam-no acima de Deus, religiões e profetas". Na realidade as suas palavras foram: "Em nome do Holocausto, criaram um mito e consideram-no mais importante do que Deus, a religião e os profetas". Esta linguagem refere-se ao mito do Holocausto não ao Holocausto em si mesmo, ou seja, "mito" no sentido de "místico", ou aquilo que foi feito com o Holocausto. Alguns escritores, entre os quais importantes teólogos judeus, têm criticado o "culto" ou o "fantasma" do Holocausto, sem, no entanto, negarem a sua ocorrência. Em qualquer dos casos, a principal mensagem do sr. Ahmadinejad é a de que, se o Holocausto aconteceu tal como a Europa o descreve, então é a Europa, e não o mundo islâmico, a responsável por ele.
O artigo ainda conta com outros "erros" de tradução (propositais?) dos discursos de Ahmadinejad, finamente manipulados para torná-lo a prórpia personificação do mal, um legítimo representante do que os EUA chamam de Eixo do Mal.

A quem interessa a constante "confusão" e erros de tradução dos discursos de Ahmadinejad?

Longe de, no entanto, defender Ahmadinejad, o que devemos levar em conta é a ampla e significativa manipulação midiática em torno deste que, se não é exemplo de honestidade e santidade - e quem o é? - também não é o defensor de genocídios pregado pelos EUA e pela mídia ocidental.

Não surpreende que no oriente exista tanta resistência à mídia tradicional do Ocidente e seu arraigado Orientalismo, ou melhor, patente preconceito contra o que não é perfeitamente ocidentalizado e nos conformes do pensamento liberal.
Com certeza Ahmadinejad tem muito mais legitimidade com seus 64% (fraudados ou não) do que George Bush, que teve 2 milhões de votos a menos que Al Gore, e ganhou a eleição por uma diferença de 147 votos (meio esquisitos) na Flórida.

A grande questão atual, porém, também passa pela taxação de que Ahmadinejad teria sido eleito de forma ilegítima, através de fraudes eleitorais, logo, seria um ditador ilegítimo. todos estes argumentos são fatos notórios, assim como a brutal repressão da população iraniana que protesta, mas se estes são argumentos válidos para a comunidade internacional e a mídia em geral repudiarem o presidente do Irã e exigirem que este nunca mais ponha os pés em qualquer país "de bem", então o mesmo deveria valer para as lideranças Chinesas - que massacram uigures e outras minorias, uma verdadeira ditadura onde inexiste qualquer liberdade de expressão - e até mesmo para os EUA - visto que a eleição de Bush filho foi flagrantemente manipulada e fraudada, sem levar em conta ainda os diversos golpes patrocinados por seus serviços secretos e o desrespeito às decisões das Nações Unidas na invasão do Iraque, parte 2.

Se "democracia" fosse item necessário para o relacionamento entre nações então as grandes democracias (sic) ocidentais teriam grandes problemas em suas mãos.
Faz parte do jogo receber presidentes legitimados pela comunidade internacional, gostemos ou não. Isso é muito diferente de receber um ditador que deu um golpe de Estado às custas de sangue, como é comum em algumas nações africanas.

Voltando aos protestos no Brasil contra a visita de Ahmadinejad, o que vemos é a mídia em polvorosa, exigindo que este não venha, que hajam protestos e dando ampla cobertura aos mesmos - verifica-se que mesma cobertura não é dada aos protestos contra Israel, pró-Palestina ou mesmo contra os desmandos da própria mídia no caso que ficou conhecido como Ditabranda.
O editorial do jornal Folha de São Paulo intitulado “Limites a Chávez” foi publicado em 17 de fevereiro deste ano. O veículo de comunicação exerceu um direito óbvio e que não se questiona, o direito de opinar. Criticar o resultado do plebiscito recente na Venezuela ou emitir qualquer outra opinião, portanto, jamais estimularia nossa Organização a protestar de forma tão solene e veemente se não fosse a tentativa de revisão histórica que afirmou que o regime dos generais-presidentes teria sido “brando”, pois tal afirmativa constituiu-se em dolorosa bofetada nos rostos dos que sobreviveram, em verdadeiro deboche dessas vítimas expresso por meio do termo jocoso “ditabranda”, corruptela do único termo possível para identificar aquele regime, o termo ditadura.

Nos protestos propriamente ditos o que vemos é um desfile completo de ignorância. Bandeiras de Israel lado-a-lado com cartazes pedindo paz. Nada mais contraditório seria possível.

A mídia e as "pessoas de bem" ignoram as atrocidades cometidas por Israel contra o povo Palestino. Os cerca de 1400 palestinos assassinados por Israel - maioria de mulheres e crianças - não são mais que nota de rodapé e não valem um protesto. Ignoram a farsa eleitoral patrocinada por Israel e pelos EUA que obrigaram os Palestinos a realizarem eleições e, com a vitória do Hamas em eleições legítimas, passaram a assediar ainda mais a população local desrespeitando aquilo que eles mesmos haviam comandado. As eleições só valem se o resultado for favorável ao Sionismo e seus interesses.

Uns manipulam, outros gostam de ser manipulados.

A visita de Lieberman ao Brasil ha alguns meses não suscitou qualquer protesto, qualquer repúdio midiático, não importa que este tenha defendido por diversas vezes o genocídio e a limpeza étnica dos Palestinos. A recente visita de Shimon Peres, por outro lado, foi até comemorada pela mídia e por parte da classe média como oportunidade de negócios. Não à toa, o Israelense veio oferecer tecnologia e trocas nesta área. Por tecnologia podemos bem compreender as armas de destruição, as mesmas usadas para assassinar diariamente crianças palestinas.
Segundo, a tentativa dos poucos em torno da grande mídia (o velho PIG) de tentar tornar irrelevante a visita, de tentar colocar panos quentes. Oras, a visita de Ahmadinejad era caso de polícia, mas a de um genocida não é nada, é normal, até irrelevante?
Outro ponto interessante na discussão é a do isolamento enquanto ferramenta viável e segura para que nações "inimigas" se comportem. Este instrumento é o favorito dos EUA que há mais de 40 anos defende e reafirma o embargo contra Cuba na esperança de que algum dia esta ilha volta a ser o cassino que já foi um dia.

Contra o Irã pairam pesadas sanções que resultam em quedas de aviões, em fraca infra-estrutura, em pobreza extrema em diversas regiões e em um grande isolamento do país - uma das razões da atual visita ao Brasil é a de escapar do isolamento imposto pelo "ocidente democrático".
Pois isolá-lo, na atual conformação internacional, significa colaborar para levar o Irã a um duplo radicalismo: o da extremamente conservadora teocracia panárabe; e, como líder-mártir que ousou confrontar o Império norteamericano e como uma das principais forças políticas contrárias a Israel, ao do terrorismo internacional patrocinado pela Al-Qaeda.

Conta todas as previsões - da diplomacia, obviamente - qualquer tipo de bloqueio permanente tem efeitos contrários. Cuba continua firme e forte, a Coréia do Norte continua a desenvolver suas armas e a massacrar seu povo e o Irã continua a ter Ahmadinejad como presidente - ao tempo em que o povo é espancado e perseguido pelas ruas, em que manifestantes são presos e condenados à morte e o povo morre em decorrência da escassez de vários produtos.

As sanções mais pesadas ao Irã fazem menção ao plano nuclear do país. O Irã afirma ser pacífico, os EUA afirmam ter por objetivo a fabricação de armas. A verdade pouco importa. O Irã tem tanto direito de produzir armas quanto Israel tem de esconder as suas e ser beneficiada pelas vistas grossas das nações "democráticas" ou a Índia e o Paquistão tem de se matar com as mesmas.
O fato curioso é que Israel não vê qualquer problema em atentar contra a Soberania do Líbano, mas sobe nas tamancas quando a questão é a sua soberania, ou melhor, a soberania que acha ter e não tem, não passa de desrespeito e prepotência.
A diferença reside em quem é aliado, quem se alinha com a política ocidental. Quem apóia o povo Palestino ou vai contra Israel é inimigo, logo, não pode ter os mesmos direitos que os aliados.

E aqui no Brasil, claro, a mídia quer ser aliada, jamais inimiga do poder do norte e faz seu jogo, demonizando Ahmadinejad e fazendo loas à Israel ao mesmo tempo em que finge não ver o genocídio que ocorre em Gaza e na Cisjordânia.
O que está em jogo, portanto, é mais um passo no realinhamento da posição do Brasil no mundo, de forma particular em relação aos Estados Unidos, país que, por razões diversas – notadamente suas relações com o grande capital judaico, neste momento delicado da economia norteamericana - não pode e não quer adotar publicamente uma política soft power em relação ao Irã.
Àqueles que empunham bandeiras de Israel para repudiar o Irã são nada mais que farinha do mesmo saco, são iguais. Repudiam aquilo que defendem.

Intolerável é tentar justificar os crimes de Israel ao protestar contra o Irã, como se houvesse qualquer contraponto aceitável ou como se a atitude beligerante de um justificasse o genocídio de outros. E, vale lembrar, muito do que se imputa a Ahmadinejad é, na verdade, característica do regime iraniano, da conotação islâmica do Estado, da deturpação do que é de fato o Islamismo.

Ahmadinejad não é santo, tampouco o demônio que pinta a mídia e que nos quer fazer crer os EUA.
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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Lula e os Ditadores ou a Mídia versus Lula


Está oficialmente aberta a temporada de caça à Lula. Todos os veículos do PIG à postos para atacar o presidente de todas as maneiras possíveis e imaginadas visando minar a campanha de Dilma no ano que vem.

Serra já mostra as garras e demonstra que vai ser na base do ataque desleal, da mentira e da farsa que tentará chegar ao poder e vender o país.

A capa da Falha do dia 24 estampava na manchete que Lula defendia o programa nuclear iraniano (o que significa apenas respeitar o direito de todo e qualquer país de desenvolver energia nuclear com fins pacíficos e não só os amigos do império). Já a capa do dia 26 do mesmo veículo do PIG estampava foto de Hondurenho acusando Lula de ser responsável pelos crimes e atrocidades cometidos pelos golpistas pelo correto apóio que Lula deu ao presidente democraticamente eleito e então deposto, Manuel Zelaya.

As elites e a Classe Mé(r)dia do Brasil e de Honduras se entendem.

Junto com a polêmica - e manipuladora foto - a notícia de capa, novamente, acusando o governo. A Falha não compreende e não tolera que Lula tenha vetado mais privatizações, agora dos aeroportos! Mas, afinal, os DemoTucanos não privatizavam tudo sempre que podiam? O PIG não consegue compreender, se revolta e ataca!

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O Uol, braço virtual da famiglia Civita (Abril) não poderia deixar barato e acusa Lula de se encontrar "demais" com Ditadores... Mas, no bolo, "esqueceu" e incluiu alguns amigos íntimos dos EUA, como China, Jordânia e Paquistão.

Porque não fazem os mesmos gráficos para Bush, Obama ou qualquer outro presidente? Na verdade o que o PIG vem pregando é o velho isolacionismo estúpido. Vamos abrir o comércio e as pernas para os EUA e Europa e esquecer que o resto do mundo existe.

Mas o tiro no pé do veículo do Grupo Abril é claro:
"A política externa brasileira é universalista, que enfatiza as relações sul-sul. É atenta para tudo que se passa na África, na Ásia e na América Latina. Essa é uma marca distintiva do governo do presidente Lula" Disse o professor da UERJ Williams da Silva Gonçalves
E, como golpe de misericórdia:
"As pessoas têm que se acostumar: um país que é interlocutor obrigatório se envolve em questões polêmicas. Não podemos confundir as coisas e pensar que vamos ter um relacionamento externo pautado por princípios e morais. O relacionamento do Brasil com o Irã é político. O Brasil não vai ser diferente dos demais. O nosso comportamento tem que ser pragmático, não somos um país de anjos no meio de um universo de demônios. No meio internacional, esses encontros não arranham nosso prestígio, porque demonstram a capacidade da diplomacia brasileira. Algumas situações são polêmicas, mas isso faz parte e não acontece com países irrelevantes"
Acuado e indefeso, o veículo do PIG ataca e se perde, birra pura e infantil.
"Por que nós vamos ficar contra o uso pacífico? Nós aqui, por exemplo, temos que ter o submarino atômico, temos um litoral vastíssimo e precisamos defender isso. Se eles não puderem nós também não podemos? Essa é uma questão que nos diz respeito", afirmou.
A Constituição brasileira veda a exploração de energia nuclear para fins bélicos, o que não acontece na teocracia iraniana.
Realmente, o Irã é o satã.
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Continuando a série de ataques direitos e gratuitos ao governo, o Esquerdopata nos traz artigo com capa d'O Globo acusando Lula de ser responsável por uma suposta escassez de produtos no mercado por barateá-los e incentivar sua compra. Nada mais absurdo e criminoso.


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Por fim, vale à pena dar uma olhada no artigo do Maurício Caleiro sobre o papel ridículo da Folha de São Paulo em sua acusação de que Lula seria um estuprador ou ao menos tenha tentado sê-lo, "Cesinha na Folha: a ética no lixo". Jornalismo sem ética, sem decência.
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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Lula defende programa nuclear iraniano. Porque não?


A Falha em sua capa do dia 24/11 anuncia, com ares de estarrecida e contrariada, que Lula defende o direito do Irã de er um programa pacífico de energia nuclear.

As palavras de Lula, segundo o folhetim foram "O que temos defendido há muito tempo é que o Irã possa produzir urânio para desenvolvimento de energia". Perfeito! Irretocável!

O mesmo direito que o Brasil tem - enquanto signatário do TPI - de enriquecer urânio e ter suas usinas nucleares, como Angra I e II, o Irã também tem de ter sua usina em Isfahan!

Ambas as nações são signatárias do TPI e declaram ser para fins pacíficos seus programas nucleares, diferente por exemplo de Israel que sequer é signatária do pacto e os EUA estão perfeitamente satisfeitos em financiar seu programa nuclear ilegal, ou o Paquistão e a Índia que fazem o que bem entendem sob as vistas yankees.

Mas qual o problema do Irã?

Simples, ameaçam atacar Israel caso sejam atacados - legítima defesa, diga-se de passagem -, apoiam a luta Palestina - novamente uma causa justa e digna - através do Hamas e Hizbollah e se recusam a se submeter, lei-se abrir as pernas, ao poder Estadunidense.

São inimigos pois não aceitam serem dominados. O problema não é por serem uma ditadura, por serem islâmicos, afinal a Arábia Saudita se inclui perfeitamente nessa categoria, aliás, são o berço dos grupos terroristas que mais ferozmente combatem os EUA (ou ao menos é isto que nos diz a propaganda do norte).

O Irã combate Israel, frustra os planos dos EUA de dominar toda a região, não se sujeitam. Então não podem ser tratados da mesma forma que qualquer outro país que queira ter energia nuclear. E, claro, a mídia não poderia deixar de aderir à causa como uma forma de atacar o governo, ao mesmo tempo em que estampa a bandeira do Estado de Israel em sua capa. Dá a deixa, reafirma seu lado.
"A política externa brasileira é balizada pelo compromisso com a democracia e o respeito à diversidade. Defendemos os direitos humanos e a liberdade de escolha de nossos cidadãos e cidadãs com a mesma veemência com que repudiamos todo ato de intolerância ou de recurso ao terrorismo", disse Lula.
A atitude de Lula está correta. Em muitos pontos discordo do presidente nas políticas públicas, em como este resolve certos problemas e como ele encara a corrupção de seu próprio partido mas, em questões internacionais, salvo pequenos deslizes, não posso deixar de aplaudir suas posições e feitos.

Ahmadinejad, por seu lado, deu seu recado, correto e direto:

 "A estrutura principal do CS é contra a paz porque é baseada na discriminação. Por que alguns países têm direitos de veto? Basta olhar para os conflitos no mundo nesses 60 anos e teremos a intervenção destes países, que nunca foram julgados. Foram mortas milhares de pessoas, e os autores destes males no mundo têm direito a imunidade"
Enfim, o jogo de imagens da Falha em sua capa não passam despercebidos, nem seu apóio ao Estado Genocida. Fiquemos alerta e sempre denunciemos.
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