segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Chile: Pinochet de volta?

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A notícia veiculada pela BBC Brasil sob o título "Três em cada quatro jovens no Chile não votarão em eleição" é bastante ilustrativa para entender o resultado das eleições de domingo no Chile, que levaram o neo-pinochetista Piñera ao poder, depois de 20 anos de domínio da Concertación.

Obviamente este não foi o único problema, talvez o primeiro tenha sido a escolha tola e burra da coalizão - na verdade uma imposição dos Democrata-Cristãos que custou caro ao partido e ao chile - em lançar Eduardo Frei, homem de direita, conservador, numa lista supostamente de esquerda ou, ao menos, de centro-esquerda.

Para boa parte do eleitorado, era votar na mesmice, mas agora com cores de direita, representada por Frei ou votar em algo novo, também da direita, ou seja, no Piñera.
Holzmann lembrou que neste país de pouco mais de 15 milhões de habitantes, cerca de 11,5 milhões têm idade para votar, mas somente 8,2 milhões estão registrados e na hora da votação só comparecem 6,5 milhões.
Em países onde votar não é obrigatório o número de votantes costuma não ser tão elevado, em um país onde praticamente inexiste alternância de poder ou quando uma eleição não traz novidades - caso da atual da direita contra a direita - não se pode esperar índices massivos de votação. E de fato, foi o que vimos.

Voltando aos jovens, cabe sempre lembrar que a maior parte deles não viveram os anos mais pesados do regime genocida de Pinochet, a maioria só conhece o governo da Concertación e, sem dúvida, muitos se mostram insatisfeitos, da mesma forma que não enxergam na oposição uma real alternância de poder.

Temos por resultado uma eleição onde boa parte da juventude desacredita da política e dos políticos - semelhante aos jovens da maior parte do mundo - e que não vê muito propósito em votar, deixando para os mais velhos a decisão final. Saudosos da ditadura e militantes de Esquerda em meio ao mundo de "apolíticos" e "indecisos".

Pouco mais da metade dos chilenos com direito ao voto foram às urnas, quantos desses serão jovens desiludidos - não sem razão?

Os erros começaram pelo próprio desânimo da Concertación cuja líder e atual presidente Bachelet sequer apoiou o candidato Frei no primeiro turno, quando a Esquerda lançou mais dois candidatos em uma demonstração clara de fragmentação.

E se os erros começaram pela aliança ainda governista, terminam na falta de mecanismos de participação popular e na falta de instrumentos para mobilizar a população.

O medo, agora, é de uma volta do Pinochetismo - ao menos das cores e das idéias mais gerais -impostas aos chilenos devido à apatia especialmente dos jovens e, acima de tudo, da inépcia política daqueles que estavam no poder.
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Comentários
5 Comentários

5 comentários:

Marcelo Delfino disse...

Eu já deveria ter imaginado o chororô dos esquerdistas diante desta vitória não tão contundente do presidente Piñera. Eu dei gargalhada com essa pergunta lançada: "Pinochet de volta?".

Se o amigo Tsavkko não sabe ou finge não saber, nem toda a direita chilena é pinochetista. É evidente que nesses 20 anos de Concertação ela foi injustamente engolfada pelos gorilas pinochetistas. Mas a hora da queda da Concertação chegaria um dia. E chegou.

Se a moda chilena pega, este ano será muito divertido. O chororô dos esquerdistas será constante ao longo de 2010. Só comparável ao chororô dos direitistas diante do fracasso do picolé de chuchu em 2006.

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Nem toda direita - diz-se, é pinochetista, mas o Piñea, mesmo fingindo se afastar das idéias do Pinochet terá em seu governo diversos elementos que fizeram parte do regime Pinochet. Isto é o bastante.

Marcelo Delfino disse...

Vou me ater aqui apenas à realidade local chilena. Já analiso a realidade brasileira no meu blog.

Se haverá membros da equipe de Augusto Pinochet no novo governo, é um fato que merece registro. Mas, como seguro morreu de velho, convém observar. Vai que os caras se redimem, como fez Getúlio Vargas, que foi ditador, mas depois foi eleito democraticamente e foi um presidente democrata.

Não podemos torcer para que Piñeda reproduza fielmente o modelo troglodita de Pinochet só para ficarmos dizendo "Tão vendo? Nós avisamos!".

Daniel Reiner disse...

Pinochet está morto! Está na hora da esquerda apresentar os reais motivos por estarem insatisfeitos com a vitória do Piñera. Manter vivos os fantasmas da Ditadura é uma tática que já não dá mais resultado.

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Marcelo: Não existe isto de "se redimir". Lugar de Pinochetista é na cadeia e não num governo. Não vi nenhum dos possíveis pinochetistas no governo (inclusive o que era secretário de Pinochet) jamais se arrependendo por terem apoiado os crimes da época. Não o fizeram antes, não vão fazer agora.

Tenho muita pena do Chile.

Daniel: Sim, Pinochet está morto - não digo "felizmente" porque ele não sofreu como deveria na cadeia - mas os pinochetistas e o pinochetismo não estão.

A Esquerda repudia, obviamente, que saudosos do governo assassino de Pinochet tenham ganho uma eleição baseada na completa apatia da juventude.

Os fantasmas da ditadura estão vivos por sí próprios.

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