sexta-feira, 9 de abril de 2010

Greve dos Professores - Honra ante o esvaziamento?

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Dos 30 ou 50 mil professores presentes nas ruas de São Paulo no início da greve, à demonstração de absurda violência estatal nos últimos dias de greve, os professores se mantiveram firmes em seu objetivo. A greve não parou.

Ontem, quinta, frente a um esvaziamento completo - cerca de 800- 1000 professores apenas na paulista - os presentes decidiram pela suspensão da greve, um eufemismo para: Acabou!
Mesmo antes da assembleia, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial (Apeoesp) já mostrava indícios que as aulas seriam retomadas. A mudança no cenário foi a reunião de quarta-feira (7) com o secretário de Educação, Paulo Renato. Ele manteve-se sem disposição para negociar até que a greve fosse suspensa.A assembleia aprovou o fim da paralisação mas definiu a manutenção da mobilização da categoria. Isso permitiria o início das aulas após um mês de atraso e pode tornar as condições para a negociação mais favoráveis.
Não vou dizer que a greve foi um fracasso - seria mentira - , nem que o sindicato foi cooptado - não posso afirmar tal coisa -, mas é triste ver que de uma semana para outra a greve simplesmente murchou e que as lideranças sindicais aceitaram a promessa possivelmente falsa de negociação com o governo.

De fato houve uma reunião com o secretário de educação na quarta, mas como era de se esperar, um fracasso.

Possivelmente, a secretaria deu como condição para a continuidade das negociações (sic) o fim da greve. Sindicatos costumam ser facilmente cooptados, os interesses políticos são inúmeros, e esta pode ter sido a oportunidade perfeita para interrompe a greve sem parecer que houve uma simples cooptação. Não tenho a intenção de acusar frontalmente o sindicato, mas pela minha experiência com eles, as grreves raramente terminam por simples vontade dos grevistas.

Agora, me pergunto, que negociação o sindicato espera? Na primeira a secretaria deixou claro: Não irá aumentar um centavo sequer dos salários. A própria presidente da APEOESP sabe disso e disse:
"Lamentavelmente, em mais uma demonstração de total intransigência, o secretário disse às entidades que não oferecerá proposta de reajuste salarial, apesar da farta demonstração de que acumulamos perdas nos últimos anos e de que o Estado tem condições financeiras para apresentar proposta", afirma a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Noronha.
Frente à intransigência aceita-se desmontar uma mobilização gigantesca da noite para o dia e aceitar os termos dos intransigentes?

O costume de alguns movimentos grevistas, mesmo com imensa força, não é a de usar esta mesma força para pressionar, mas a de acabar por aceitar o que o patronato manda. É a famosa síndrome de vira-lata. Os trabalhadores estão abaixo, logo, não tem o poder e acabar por aceitar as ordens de cima.

Uma greve forte, e estou falando hipoteticamente, tem o poder de pressionar governos e instituições a se dobrar. Não se negocia por baixo, sempre se negocia quando você está por cima, ou com o que pressionarás? Agora falando especificamente dos professores, a pressão da greve fez acontecer, depois de um mês de tentativas, a reunião com o Paulo Renato, secretário de educação que fez o óbvio, disse que esperava o fim da greve pra negociar.

Qual a leitura que se faz? Simples, a de que o governo cedeu à pressão. Mas obviamente manteve a pose. Viu a força do movimento - que dizia não representar nem 1% dos professores -, fez seu jogo de cena e foi conversar depois que a situação ficou pesada demais para continuar.

O sindicato acatou a vontade do governo e abriu mão de sua vantagem.

Caberia ao sindicato pressionar pela continuidade da greve enquanto estavam por cima. Agora não tem mais nada, apenas a vazia ameaça de recomeçar a greve, o que não se faz do dia pro outro. A cada greve em que o resultado é negativo, a força da mobilização diminuiu.

Pelo twitter tive a oportunidade de ver outras opiniões sobre o fim da greve, as razões divergem. Rachas na categoria, repressão policial e ameaças contribuíram para o seu fim.

@israelfsilva:@tsavkko O governo tucano é irredutível, negociar com eles, concomitante a desunião da categoria é muito complicado
@israelfsilva: @tsavkko A gente sabe que o enfraquecimento do movimento, junto ao apoio da mídia incauta aos tucanos, foi fator preponderante
@conradoo: @Israelfsilva @tsavkko A repressão policial e demais técnicas de cerceamento ao direito de greve também foram importantes.

Não discordo das posições acima, especialmente porque o @israelfsilva é professor da rede estadual e sabe melhor do que eu como funcionou a greve, mas pela minha experiência em sindicatos, acredito que podemos também falar em cooptação, em erro estratégico... 

Desânimo, medo, falta de credibilidade, razões são múltiplas. Talvez todas tenham relação, talvez apenas uma. Agora, pode-se falar, acredite, em vitória tanto do governo - acabou com a greve - quanto dos professores - abriram negociação. Em maio veremos quem ganhou de verdade.

Difícil, quase impossível, o prognóstico imediato. só o tempo dirá o que realmente aconteceu e acontecerá. A única certeza é a de que a cada greve malsucedida, o movimento enfraquece mais e mais e cada vez mais torna-se dfícil a mobilização.
A assembleia aprovou o fim da paralisação mas definiu a manutenção da mobilização da categoria. Isso permitiria o início das aulas após um mês de atraso e pode tornar as condições para a negociação mais favoráveis. Uma nova assembleia foi marcada para dia 7 de maio, na Praça da República, região central da cidade.
Até essa data, a categoria promete organizar concentrações em frente ao prédio da Secretaria de Educação do estado sempre que houver rodadas de negociação. Os sindicato orientou os professores a voltar às escolas para organizar a categoria e promover manifetações com pais e alunos.
Certeza, porém, é a de que o Sindicato está rachado - a Folha de São Paulo fez festa ao noticiar o fato em notícia que posto abaixo - e a de que a desistência da greve logo após a saída de Serra dá mais munição aos que consideravam a greve política e com o único objetivo de atacar o candidato DemoTucano - visto que o sindicato é ligado ao PT. Seja como for, a atitude do sindicato é simplesmente lamentável, em todos os sentidos.

Munição para a imprensa golpista, nenhum ganho real aos professores, prejuízo geral à candidatura do PT com a acusação quase assumida de greve política e desserviço à própria instituição da greve como instrumento legítimo.

Só um detalhe, a Falha coloca o salário dos professores de SP como o "14º maior do país"... Como se fosse grande coisa! Só rindo!

Professor encerra greve com 0% de reajuste
Sem conseguir nenhuma de suas reivindicações, categoria suspendeu paralisação que durou um mês durante assembleia tumultuada

Após votação, presidente da Apeoesp, Maria Izabel Noronha, saiu escoltada em meio a empurra-empurra e xingamentos entre docentes

DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os professores da rede estadual decidiram ontem encerrar a greve iniciada há um mês. Ao final da assembleia, houve empurra-empurra entre docentes que defendiam a manutenção do protesto e os que queriam terminá-lo. A PM estimou em 1.500 o número de manifestantes na avenida Paulista.
Os professores saem da greve sem conseguir nenhuma de suas reivindicações -a principal era reajuste salarial de 34,3%, que recuperaria perdas desde 1998. O salário inicial dos docentes estaduais é de R$ 1.835 (jornada de 40 horas semanais), o 14º maior do país.
A posição do governo estadual foi a de negociar apenas após o fim do movimento. Para a gestão tucana, o protesto era político. A própria presidente da Apeoesp (maior sindicato da categoria), Maria Izabel Noronha, afirmou que pretendia "quebrar a espinha" do governo José Serra (PSDB).
A greve termina uma semana após Serra deixar o governo para concorrer à Presidência.
A presidente da Apeoesp defendeu no ato o fim da paralisação -ela teve de deixar a assembleia escoltada por seguranças, em meio à confusão entre os manifestantes, que se xingavam e se empurravam. Houve divisão na votação que definiu o fim da protesto.
"A nossa greve já é vitoriosa, se colocou contra o governo de São Paulo", discursou. Depois, disse que "o autoritarismo do governo levou a um refluxo [diminuição] do movimento. Mas agora vamos negociar."
No dia anterior, os sindicalistas se reuniram com o secretário da Educação, Paulo Renato Souza. Foi o primeiro encontro desde o início do movimento. O governo disse que negociaria, desde que a greve acabasse.
"Não era a hora de terminar a greve. Não ganhamos nada. O governador mudou, era a hora de pressionar. A diretoria do sindicato é vendida, não tem disposição para lutar", afirmou o professor Edmar Oga, que integra uma corrente ligada ao PCO, que faz oposição à presidente da Apeoesp, filiada ao PT.
Uma nova assembleia foi marcada para o dia 7 de maio. Se o governo não atender os pedidos, a greve pode retornar.
O governo afirma que o reajuste desorganizaria as finanças do Estado. A prioridade tem sido dar dinheiro extra a docentes bem avaliados.
Os dias parados deverão ser descontados dos professores e pagos apenas após a reposição.
Durante a assembleia, a Paulista, entre a rua Pamplona e o Masp, foi interditada. Houve congestionamento. (FÁBIO TAKAHASHI e NÁDIA GUERLENDA CABRAL)

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Comentários
2 Comentários

2 comentários:

Eduardo Prado disse...

Tsavkko,

O que torna esse episódio lamentável nem é o fim da greve, mas a forma como isso foi decidido. A greve começo a fazer água quando entrou para a terceira semana, logo após o epsódio do Morumbi. Como você diz no post, o fim da greve já era uma realidade mesmo antes de ser "decidido" oficialmente.

O problema é que a APEOESP procurou garantir esse resultado levando para a assembléia (em onibus cedidos pelo sindicato) professores das diretorias regionais que tinham decidido pelo fim da greve, concentrando esse grupo _ que não era pequeno _ estratégicamente no vão livre do MASP, de modo a garantir que só os votos vindos desse lecal contassem para a decidão final.

Não saberia dizer se havia mais professores sob o Masp ou na Paulista, mas o fato é que estes últimos não sabiam que tudo já estava decidido e que, seja lá o que expressassem, seus votos não valeriam nada.

Para mim o que pegou mesmo foi a questão da legitimidade da assembléia. Os professores que delas participam de forma espontanea são os mais engajados e tendem a votar pela continuidade do movimento. Aqueles que individualmente já decidiram voltar ao trabalho geralmente deixam de comparecer as manifestações, o que torna difícil aprovar o fim da greve numa assembléia. Isso explica, mas não justifica a manobra do sindicato. Ao ignorar os votos de partre dos professores presentes (os dirigentes sequer se viraram para eles), a APEOESP reforça o que muita gente (aqueles que não se fazem representar, por isso não se sentem representados) pensa a respeito de associações como ela, que sua representatividade junto aos trabalhadores não é legítima.

cicero disse...

Rafael,

A direção do sindicato (Articulação-Artnova-PT e PcdoB) chamava a greve (antecipou inclusive) por interesses eleitorais para fazer campanha para Dilma e desgastar a figura do Serra, não tratou de elaborar ou construir planos de luta para além disso (quando da saída do Serra, etc) e neste um mês foi desarticulando a greve rebaixando nossa pauta para apenas a questão salarial para que saíssemos com alguma migalha negociada. Esta é a forma petista/sindicalista de militar em que atua a direção do sindicato, carros de som onde só falam eles, palanques para discursar e nenhum verdadeiro plano de luta.. Muitos professores que estavam com disposição para lutar contra os ataques do governo Serra, encontram-se hoje cansados e voltaram para a sala de aula desperançosos de qualquer possibilidade de negociação. Sentimento compreensível quando chegamos no 30° dia de greve sem que tivesse um movimento real de greve construído pela base dos professores para que elaborássemos um plano efetivo de luta e pudéssemos triunfar. Esta greve foi encaminhada de maneira superestrutural por parte da direção do sindicato, aonde as assembléias regionais e estaduais são grandes atos aonde apenas a direção e oposição possuem voz, sem nenhuma representatividade da base dos professores. Essa forma de atuar por parte da direção tem como objetivo controlar o movimento dos professores para que não se desenvolva desde a base e alcance uma dimensão política que questione e destitua o poder da direção do sindicato.
Este texto é dos meus companheiros(as) professores, que milito com eles no movimento.
Sua licença para o site: http://www.ler-qi.org/spip.php?article2286

Acabou no que já prevíamos, é claro. Realmente do jeito que levaram e acabou não havia como.
Mas muitos professores(as) "novos" surgiram na luta, dispostos a lutar e mudar essas coisas.
Então agora força para construirmos (coisa que a direção já devia ter feito antes) a luta na base, com os pais e alunos (estudantes), e até com outras categorias em luta contra o gov. Serra, como nós da Sabesp, o Metrô, das Universidades Estaduais, etc, chamados estes que cansamos de fazer (inclusive para a oposição de lá) mas os burocratas não fazem isso nem a pau (em 16 anos de tucanato que esles tanto xingam, nunca unificaram as categorias estaduais!), são os principais responsáveis pelo fracionamento e divisão da luta na categoria (que tem efetivos, temporários e precarizados) e sempre isolam estes setores, e de outras categorias.

Gostei do seu post e acompanhamento da questão.
Um abraço, e até.

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