quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Partidos Fracos, Exotismo, Ideologia e Sistema Partidário Brasileiro - Parte 2

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Tratando das propostas contidas no artigo que citei logo no post anterior, devo, prontamente, me colocar contra a idéia de listas fechadas. Vão no mesmo sentido do coeficiente. Você vota em um candidato, mas acaba elegendo outro que, talvez, você abomine. Com as listas fechadas fica ainda pior. Você sequer vai saber em quem está votando e será forçado a escolher entre um ou outro partido fisiológico e não em quem, talvez, possa escapar.
"Esse tipo de candidato só existe em lista aberta. Eu sou muito a favor de fechar a lista, porque você não teria mais os exóticos. Outra razão é a pluralidade de partidos", diz David Fleischer, cientista político da UnB (Universidade de Brasília).
Obviamente o ideal seria o voto em legenda, mas para isto seria necessário que os partidos fossem minimamente honestos e decentes. E centralizados. Colocar a Europa como exemplo é o mesmo que comparar o Brasil com o Congo. Não há como comparar.

Ao votar em um partido na Europa você espera que todos os eleitos ajam mais ou menos da mesma forma e sigam agendas minimamente comuns. Esperar isto no Brasil oscila entre a inocência e a má fé. E dou um exemplo da impraticabilidade no país: Voto para Deputado Federal no Paulo Teixeira, do PT, mas JAMAIS aceitaria votar em Palocci, Dirceu ou Genoínos da vida. Fosse lista fechada eu jamais poderia votar no candidato que quero, seria forçado a votar no bolo, diretamente nos que abomino.

Infelizmente o coeficiente eleitoral acaba tornando a situação hoje parecida com a de um mundo de listas fechadas, mas ainda existem diferenças.

Enfim, a lista fechada seria a forma pela qual os partidos imporiam suas frutas podres de forma ainda mais indecente. Tiriricas talvez sumissem, mas o plantel de "políticos sérios" já comporta um número significativo (majoritário?) de piadas prontas. Aliás, recomendo a leitura deste post do @viniciusduarte sobre o fenômeno Tiririca.
"No Brasil o partido é muito fraco. O partido não está preocupado com a imagem, está preocupado em eleger deputados", concorda o cientista político Rubens Figueiredo, da USP (Universidade de São Paulo). Em países como Espanha, Uruguai, Alemanha e Itália o sistema vigente é o de lista fechada. "Nesse sistema não há Tiririca", diz Fleischer.
Fato, na Europa não existem Tiriricas, mas figuras como Le Pen,  Jörg Heider ou Geert Wilders conjugam tosquice com perigo fascista. E figuras como o Maluf me soam tão toscas e repugnantes quanto um Tiririca.

O Brasil não é a Europa. Uma coisa é ter modelos, outra é acreditar que a simples emulação resolverá todos os nossos problemas. Mariátegui sabia disto há mais de 100 anos.

Algo que passou ao largo, mas que é extremamente válido, é a idéia de financiamento público de campanha.

Inegavelmente, um dos grandes problemas de nossa "democracia", hoje, é a prostituição em busca de financiamento. É político se vendendo pra empreiteira, pra banco, pra multinacional... E, pior, fingindo que nada disto existe. O problema, na verdade, não é o político ser eleito para defender os interesses de um setor, de uma classe, de um grupo, mas fazê-lo deforma subterfugiosa. Os candidatos da Esquerda, do PSOL, por exemplo, deixam explícitas suas posições e a classe que defendem. Alguns do PT fazem o mesmo.

E não há problema nisso.

A questão é quando se fala em defender o povo, mas se recebe financiamento de empreiteira e o mandato passa a existir apenas em função destes interesses. Não declarados, ilegais, que passam por cima dos interesses da população.

Outros problemas menores também devem ser objeto de discussão, como a disparidade do tempo de TV e na mídia que é simplesmente absurdo. Não só força a política de alianças vazias e pontuais, sem real comprometimento com agendas e ideologia, mas também privilegia sempre os mesmos grupos, sempre os mesmos políticos de grandes grupos e facilita a piada, a comédia sem noção, a prostituição em troca do voto pelos 3 segundos de tempo de TV.

Aliás, retomando o problema geral das listas fechadas, é interessante acreditar que os candidatos "exóticos" iriam ser limados, mas a verdade é que, em muitos casos, estes "exóticos" procuram os partidos e seu lugar na política. Como fazer? Claro, eles podem ser empurrados para o fim das listas, mas nada garante a eliminação completa. E, ademais, volto a repetir, um Tiririca me parece mais inofensivo que um Tuma ou um Maluf ou qualquer outro "Pastor, Bispo, Apóstolo ou Missionário" que usa a religião para enganar o povo e se eleger.
"Por outro lado, se você botar a lista fechada, só vão entrar os mafiosos do partido, só quem domina a máquina. Você não vai ver o candidato que está na rua", diz o cientista político do IBEP, que não vê maiores contratempos na existência desse tipo de candidato.
A política brasileira passar por uma crise que vai muito além do que se pensa, é de credibilidade, de honestidade. Não importa que os novos sistemas propostos criem listas fechadas, eliminem os pequenos e acabem com o "exotismo". Os políticos tradicionais, "sérios", não deixarão de roubar, de corromper e de serem corrompidos. Podemos apresentar propostas, mas precisamos mais ainda pressionar e fiscalizar constantemente, sem sossego.

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