"Eu
não sei se eu sou pró WikiLeaks, eu sei que eu sou anti-anti-Wikileaks".
Ethan Zuckerman, GV
"Vazamentos são inevitáveis na era digital"
EM BOSTON
Ethan Zuckerman é um pioneiro da internet 2.0. Criador de projetos como o Global Voices e o Media Cloud, ambos com a meta de melhorar o fluxo de informação na rede, conhece Julian Assange desde 2008. Embora declare não querer julgar os propósitos do WikiLeaks por ora, Zuckerman se diz "chocado" com a reação no governo americano, que, a seu ver, deixará a vida de gente como ele bem mais difícil. (LC)
Folha - O que se pode esperar do governo americano agora?
Ethan Zuckerman - A reação até agora foi de pânico, descuidada e muito perigosa. Para quem vê a internet como espaço público, é um lembrete de que ele é conduzido por empresas privadas.
A Primeira Emenda impede o Congresso de restringir a liberdade de expressão, mas as empresas podem fazê-lo ao recusar serviço a quem quiserem.
É perturbador que uma empresa como a Amazon, sob pressão, ceda e deixe de postar conteúdo delicado.
Já para o governo americano, a maior consequência é para a defesa do Departamento de Estado à liberdade de acesso pelo mundo. Que credibilidade vamos ter com a China ou o Vietnã?
Você reclamou que, com esse episódio, a vida de quem defende a livre informação na rede ficará mais difícil. O WikiLeaks ou a reação do governo é um empecilho?
Vou dissociar as duas coisas. O vazamento de segredos era inevitável, é algo da era digital. Vazar 250 mil documentos não exige mais uma multidão de máquinas xerox nem um caminhão.
O governo americano achou que a mudança trazida na comunicação pela internet não o afetaria?
É embaraçoso para o Departamento da Defesa. Pensaram que as consequências para um indivíduo que vazasse seriam tão graves que esqueceram que, quando você tem 3 milhões de pessoas com acesso, é mais fácil alguém quebrar a regra.
Você espera uma maior limitação da internet ou que os EUA busquem apoio externo para isso?
A reação aqui foi exagerada. O governo não tinha um meio legal para exigir que as pessoas fechassem a porta ao WikiLeaks, então pressionaram [as empresas].
E aí o WikiLeaks migrou para a Europa, onde a pressão é menos efetiva, pois se exige provas de que [o que o site faz] viola a lei.
O que parece agora é que os EUA vão tentar arrumar um meio de denunciar Assange e pedir sua extradição. Se conseguirem, isso nos dará pistas sobre como agirão no futuro em outros casos.
Isso abre um precedente delicado. Onde traçar o limite?
Pois é. Há gente no governo estudando como acusá-lo. Não sei se é uma boa ideia [para o governo], nem sei se as acusações vão colar, mas acho que vão insistir.
Que lição você gostaria que o governo tirasse?
A questão maior é como essa informação vazou, e não o fato de ela parar no WikiLeaks. A segunda lição é que uma vez que vazou, não há como recuperá-la. Qualquer tentativa só aumentará o interesse pelo material.