segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Brasileiro tem memória curta? A mídia e a "amnésia seletiva" - Parte 1

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Brasileiro tem memória curta ou a mídia é que nos ajuda a ter amnésia seletiva? A mídia se beneficia da amnésia ou memória seletiva, manipulando as massas a votar naqueles que melhor se alinham a seus interesses.

Não surpreende que a Globo sempre tenha se colocado contra o PT, ao tempo em que a Record, que se beneficiou durante o governo, tenha feito um jornalismo mais isento - e por vezes tendencioso ao PT, mas de forma muito mais discreta que a concorrência pro outro lado - e nem de longe alinhado com a bandalheira geral.

Por detrás da (falsa) desculpa de que a mídia serve para fiscalizar e denunciar, as grandes redes de TV e grandes jornais e revistas patrulharam, fizeram falsas denúncias, praticaram denuncismo torpe. Mas este é outro assunto.

A mídia, ao escolher candidatos, ao tomar partidos, deixa claro que seu interesse é não o de defender os interesses do país, mas os seus próprios e o de grupos ligados a si. Basta ver apenas que boa parte da mídia é controlada pelos próprios políticos eleitos ou por sua família, ou ainda por famílias com íntimas ligações com o poder.

Como poderiam, então, não legislar em favor próprio?

Por vezes a mídia é forçada a sacrificar dos seus - vejam o Arruda em Brasília - mas fazem um esforço colossal para que seja algo isolado, que não respingue nos demais de seu grupo - como o Serra.

Mas mesmo o Arruda é passível de ser reabilitado, não seria a primeira vez. A mídia faz circos buscando pintar todos os políticos como canalhas desonestos, mas isto não é contraditório, é apenas a forma de esvaziar o debate político, de tornar a política algo tão abominável que não é levada à sério pelo povo e, claro, para igualar os políticos e não acabar com a chance de seus representantes serem vistos como únicos canalhas.

Ao rebaixar tudo ao mesmo nível de corrupção e canalhice, a mídia manipula duplamente.

Primeiro, consegue apagar ou ao menos esconder as piores máculas de seus candidatos preferenciais, pois todos são iguais, todos são ruins. Você tem que votar em alguém, afinal esta é uma "democracia", então se todos são ruins, vamos votar naqueles que a mídia ao menos dá maior atenção, nos que tem mais holofotes e aparentemente são menos piores.

Este discurso, aliás, voltou-se contra a própria mídia que tentou reverter o discurso na campanha contra Lula e contra o PT, fazendo Serra e cia posarem de defensores da moral e dos bons costumes contra os terríveis e ditatorias petistas. O discurso não pegou, depois de anos reduzindo tudo ao mesmo e menor denominador.

E, segundo, e pior, a mídia conseguiu esvaziar de sentido o discurso político e a discussão. Se todos são tão ruins, qual o propósito em perder tempo discutindo? Deixem que a mídia faça a escolha, selecione os menos piores e aponte em quem votar.

Isto fez o PT demorar tanto a chegar ao poder.

A mídia sempre demonizou com especial atenção os petistas, buscando apontar aqueles menos piores do lado do Tucanato, ou seja, os ligados a seus interesses. Uma vez no poder a mídia começou a pesada campanha para denunciar casos de corrupção verdadeiros ou falsos do PT, mas esbarrou em um especialista em mídia maior do que todos os demais: Lula.

Mas mesmo Lula não conseguiu, depois de tantos anos de doutrinação, destruir a imagem criada pela mídia de que políticos em geral não prestam. Ele elegeu sua sucessora, mas o PT só teve sucesso coligado com forças do atraso como PMDB e PR, que antes eram apontados como "menos piores" pela mídia.

A questão é interessante. De um lado um político como Lula conseguiu escapar da demonização da mídia - não por falta de tentativas e nem para toda a população -, mas em geral os políticos continuam estigmatizados.

Não que a franca maioria não seja feita de ladrões e de gente da pior espécie (a classe política também não ajuda), mas em geral os piores políticos são donos de empresas de comunicação ou tem fortes ligações com estes grupos e, ou conseguem esconder seus piores momentos ou simplesmente contam com a ajuda da mídia para se re-erguerem quando necessário.

Mesmo que a Globo, por exemplo, faça uma matéria falando mal do político A, este mesmo pode usar a mesma Globo - que eu seu estado pode ser dele a retransmissora ou de um amigo - para voltar ao topo, para apagar o que aconteceu antes e apenas divulgar suas realizações (sic).

Obviamente que a mídia sozinha não pode tudo. Compra de votos, intimidação, ajuda de amigos políticos e etc também fazem sua parte, mas é inegável que a mídia tem papel crucial no esvaziamento político e intelectual da população.
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