quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Brasileiro tem memória curta? A mídia e a "amnésia seletiva" - Parte 2

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Continuação do post anterior.

Programas como Big Brother e outros absurdos apenas fazem com que aflore o pior dos brasileiros, os sentimentos mais primitivos e, enquanto ligados nisto, pouco se importam com o mundo ao redor. Consomem e são consumidos pelas barbaridades televisivas e tornam coisas absurdas em lugar comum.

Fala-se que a TV passa aquilo que quer o povo, mas a verdade é que os programas são formatados para serem chamativos ao máximo, para ativarem o interesse do telespectador incauto. Estamos falando de profundos estudos de marketing e da pura exploração dos sentidos e instintos humanos. Aproveita-se de uma receptividade para então explorá-la ao máximo, enfiando Ratinhos da vida nas TV's e nas vidas do povo.

A ingenuidade criminosa (pseudo-ingenuidade, óbvio) daqueles que comandam as grandes redes de TV não surpreende. Dizem que, se um programa não é bom, que o telespectador mude de canal. Oras, como, se todos os canais seguem basicamente um mesmo padrão? E, além disso, parece que os gênios da TV esquecem de uma característica comum do ser humano: A necessidade de compartilhar, de ser parte de um grupo... Até mesmo de ter o que falar.

Aquele canal de qualidade, pouco assistido, não é assunto para as rodas, não te faz parte do grupo, logo, não há sentido em buscar maior qualidade de programação, e sim ir com os demais.

Os jornais impressos não são muito diferentes, e os portais da internet são ainda piores, oferecendo sem qualquer discernimento entretenimento de esgoto, fofocas e informações (sic) inúteis para serem consumidos em conjunto com a programação da TV. Discussões políticos ficam relegadas ao segundo plano - exceto quando há algum escândalo.

Nos momentos de crise, como enchentes, chuvas, desastres e etc a mídia se divide entre buscar mostrar das maneiras mais gráficas possíveis o sofrimento humano, a desgraça alheia - e fazem do sensacionalismo o prato do dia - e entre apontar os políticos como canalhas culpados que nunca fazem o suficiente, apontando soluções que não contribuem para qualquer tipo de debate sério sobre a função dos políticos e da política.

Parece um mundo alienígena em que os políticos estão errados ou não fazem nada e o povo deve apenas lamentar e se recriminar por não saber votar. Resta a solidariedade, o lamento, o "depois" e nada mais a ser feito, nenhuma alternativa a não ser contar com os mesmos políticos para resolver os problemas. Ou outros, apontados pela mídia e mais afinados com seus interesses.

Trata-se, enfim, de um círculo vicioso, onde cabe à mídia o papel de fazer esquecer, de lembrar o que interessa e de promover aqueles afinados com seus interesses. Urge um controle social da mídia, a fim de promover inclusão e debate político qualificado. Tratar o povo não como massa de manobra acéfala, mas como cidadãos de direito, donos de seu destino e donos, afinal, do país em que vivem.

Aptos a poder discernir, sem subterfúgios, a realidade, a não serem bombardeados por lixo, por programas que desrespeitam os direitos humanos, por notícias que abusam de nossa inteligência e por manipulações baratas.

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Post antigo do @Hupsel em grande sintonia, vale a leitura.

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Comentários (10)

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Exatamente, cara!

A TV imbeciliza o povo.

Esse tal de BBB é o mais alto nível de degradação de valores que se pode chegar na TV. Todos os PIORES instintos que se verifica na mesquinharia do cotidiano são elevados a modelos aceitáveis - quando não invejáveis - de comportamento social.

Dá a um homofóbico TOSCO como o tal Dourado o direito de proferir nojeiras contra os gays para milhões de pessoas todas as noites durante meses. Ele ganha e ainda vira herói.

Depois gays (ou supostos gays) são trucidados em plena Av. Paulista e a gRobo faz de conta que não tem nada a ver com isso.

EMBURRECEM E ESTUPIDFICAM O POVO até não mais poder e depois dizem cinicamente: "Se o programa não for bom o povo muda de canal".

Muda como, se já está acostumado e VICIADO com toda essa porcaria?

É a treva.
Ótimo, como sempre!
"os programas são formatados para serem chamativos ao máximo, para ativarem o interesse do telespectador incauto"

É o mal do capitalismo. Tudo tem que servir para ganhar dinheiro, e o interesse público, social, fica em segundo plano.
Raphael Garcia, eu concordo totalmente com você no primeiro e no segundo artigo quanto ao papel da mídia e vejo em você extrema lucidez. E gostaria muito que esta permeasse a nossa mídia de resistência. Mas infelizmente, na minha modesta opinião as esquerdas continuam subestimando a mídia hegemônica e neoliberal. Eu só gostaria de acrescentar à tua análise, no que se refere tanto a eleição de Lula quanto a da Dilma, algumas ponderações. Eu vejo nas duas eleições, o fator do desempenho na economia, como o principal motivo do sucesso do PT. No caso do Lula, nem a mãe do FHC aguentava mais tanta desesperança, fome e desemprego dos governos que antecederam Lula. Mesmo assim graças a mídia, o PT foi obrigado a fazer concessões(Hélio Costa), jogar o jogo sujo das campanhas eleitorais(Duda Mendonça) além de outros sacrifícios que lhe custou várias deserções. E quanto a Dilma, esta só conseguiu vencer e mesmo assim no segundo turno, devido ao bom desempenho na Economia do governo Lula. O povo continua desmiolado pela mídia, mas agora compra carro, TV, geladeira, a sua casa e tem emprego. E da miséria foram 28.000.000 que conseguiram se safar. Para mim aí está o motivo da popularidade dele. Tenho muito medo desta crise que se inicia agora na Europa e também do fato de não sentir por parte do PT o empenho que eu gostaria de ver no que se refere a democratização dos meios de comunicação, coisa que ocorreu na Argentina e Venezuela por exemplo. No mais gostaria de te parabenizar de verdade pelos artigos.
2 respostas · ativo 741 semanas atrás
Concordo com tua análise. E só posso lamentar pela realidade!
Um abraço para você e muita saúde.
"E, além disso, parece que os gênios da TV esquecem de uma característica comum do ser humano: A necessidade de compartilhar, de ser parte de um grupo... Até mesmo de ter o que falar.
Aquele canal de qualidade, pouco assistido, não é assunto para as rodas, não te faz parte do grupo, logo, não há sentido em buscar maior qualidade de programação, e sim ir com os demais."

Isso eu sinto na pele. Por diversas vezes meu irmão me recomendou ver novelas da Globo e outros programas-esgoto populares pra ter um acervo decente de assunto pra pôr nas conversas entre amigos. Eu ouço calado ele dizer, mas nunca aceito a sugestão - minha mente não é pinico pra me render à TV-esgoto que temos.
3 respostas · ativo 741 semanas atrás
Pois é. Se começam a falar disso perto de mim eu me afasto e dependendo da insistência revejo a amizade.
É por isso que o meu relacionamento com o PIG(globo e seus clones) é muito simples: Eles não me mostram o que eu preciso ver, e eu não vejo o que eles precisam me mostrar. Me informo na Internet, nas TVs públicas, nas TVs comunitárias e universitárias. A tragédia é que isto ainda é um privilégio de poucos. Com a universalização da banda larga e digitalização das TVs, o povo brasileiro será liberto desta mídia ditatorial, censurada e hegemônica que tomou todo o espectro analógico. E que insiste em não cumprir o seu papel social enquanto serviço público que é. Deles só os imóveis e os equipamentos, a licença para operar TV e Rádio, nos pertence, é outorgada pelo estado brasileiro e pode ser renovada ou não dependendo da qualidade do serviço prestado. Só que até o momento como as leis do setor desde a constituinte de 1988 não foram regulamentadas eles fazem o que querem com o indefeso consumidor brasileiro. E qualquer tentativa por parte de quem quer que seja de por ordem na casa, regulação que ocorre normalmente em outros países, é imediatamente taxado de "atentado às liberdades de expressão", "censura" e outras histerias do gênero. E o engraçado que vindo de quem apoiou um assalto ao país em 1964 que resultou numa ditadura sangrenta de vinte e uma anos. E que até hoje nos atormenta.
Não sou tão otimista com a Banda Larga. Sem educação não adianta, estaremos dando internet, mas as pessoas irão acessar a mesma Globo, Folha e etc, pois não sabem mais pra onde ir. Não todos, claro, mas a franca maioria. PNBL tem que vir com educação e conscientização, ou não muda muita coisa. Tem que ensinar a pescar.

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