segunda-feira, 9 de maio de 2011

O #NaMesmaMoeda e a saga dos protestos deslocados

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Começou com o Cansei, passou pelo Fora Sarney (#ForaSarney) até desembocar no máximo da revolta classe-mediana com o Preço Justo (#PrecoJusto). E, agora, chegamos ao #NaMesmaMoeda:
Basta marcar um local e divulgar para que as pessoas possam se encontramos em algum lugar e é feito uma carreata até ao posto de gasolina escolhido.
Chegando lá, cada um abastece no máximo 50 centavos, pede a nota fiscal e tudo que você tiver direito. A intenção é tornar o custo desse abastecimento mais alto que o lucro que o posto teria com a venda do combustível. Fazendo com que sintam no bolso o quanto pesa o pagamento de impostos.
Não recomendamos, mas se quiser você pode pagar com nota da valor alto (mas isso só irá dificultar o trabalho do frentista – que não tem culpa alguma). Se o posto aceita e se voce tiver, pague com cartão de crédito.
A intenção é boa, protestar contra o preço abusivo da gasolina. Se levarmos em conta todas as cansativas e insistentes propagandas de anos atrás de que éramos auto-suficientes, não faz sentido que nosso combustível seja mais caro do que o de todos os nossos vizinhos.

Mas o problema está na forma pela qual se faz o protesto, contra os donos de postos, ou os que menos tem poder de influir no preço final.

Claro, sabemos que a prática de cartel é comum, que os postos raramente tem interesse em incentivar a competição, que muitos adulteram o combustível e etc, não quero dizer que são santos, mas no caso específico do preço da gasolina eles não são os principais culpados pelo preço elevado.

E quem diz isto é a própria Petrobrás.
Os valores da imagem acima vem do site da Petrobrás, mais atual que a do link acima. Os impostos variam em 2%.

Como de costume, o principal culpado pelo alto preço dos combustíveis é o governo e sua elevada carga tributária.Tendo isto em mente, é preciso analisar a incidência dos tributos, a forma de coleta destes e também o destino dos mesmos.

Vale lembrar que se trata de impostos não só federais (antes que a classe média acuse o PT de ser o responsável por todos os males do mundo), mas também estaduais e municipais. Pelo menos 39% do valor da gasolina, por exemplo, corresponde a impostos, enquanto os donos de postos podem ser culpados por não mais de 13% do valor.

Os donos de postos poderiam cobrar menos? Imagino que sim, mas sua margem de manobra é muito menor do que a capacidade do governo de diminuir a carga que incide sobre o produto.

Ao menos 27% do valor da gasolina, ainda, é decidido exclusivamente pela Petrobrás quando produz o combustível ou refina o petróleo. O quanto o governo poderia mexer neste valor, não faço idéia.

O valor do álcool também influencia fortemente no preço, no gráfico que se encontra neste link o valor do álcool representava 19% do valor total da gasolina, já no gráfico presente neste post o valor sobe para 21%.

É bom se notar que o Brasil é também um país que diz ser pioneiro em biodísel, na produção de álcool combustível e etc. Enfim, está claro que de ao menos 4 variáveis (Impostos, Álcool, Produção e Distribuição/Revenda) o governo (de todos os níveis) tem clara responsabilidade por 3.

Mas o importante aqui é simplesmente notar que por mais que o protesto seja bem intencionado, o alvo está errado. Criminalizar os donos de postos, por mais que não sejam santos, esquecendo que a "culpa" principal pelos preços é direta ou indiretamente o governo, é pelo menos desonesto.

É muito bom que o povo se mexa para protestar, que não fique restrito ao Twitter, mas é preciso SABER protestar e CONTRA quem é o protesto.

Será que o governo será atingido de alguma forma - ou se importará - com a eventual falência de alguns postos devido a este tipo de protesto (se a coisa chegar a este ponto)?

Sabemos que os donos de postos, em geral, não são as figuras mais confiáveis da terra, mas culpá-los exclusivamente pelo preço é errado.

Fiscalizar os postos de gasolina não é o problema - é uma atitude correta -, mas um protesto cujo alvo é quem menos influi sobre o preço da gasolina me parece deslocado.

O site da campanha Na Mesma Moeda e o blog da campanha.
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