terça-feira, 12 de julho de 2011

Combate à Miséria: A Equivocada política correta do PT

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O título do post parece contraditório, mas não é.

O combate à miséria é uma bandeira importantíssima, e a primeira que alçou Lula ao panteão dos grandes estadistas, e o fez ser respeitado em todo mundo.

Não se constrói um país onde o povo passa fome e não tem condições de viver e não sabe se estará vivo no dia seguinte (claro que com a violência das polícias o favelado, em geral negro, continua vítima de sua condição, mas é outro assunto), mas da mesma forma, não se constrói um país APENAS com a bandeira do combate à miséria, deixando pra lá políticas de inclusão efetivas para quem SUPEROU a situação de miséria.

Este é o retrato do governo do PT.

Políticas efetivas de combate à miséria mas que, no fim, acabam se voltando contra o próprio partido quando consideramos que a população agora come, mas continua conservadora, sem educação e refém de Marginais da Fé e enganadores semelhantes. Não se emancipou.

O caso do Salário Mínimo no começo do ano é emblemático. Amplia-se o Bolsa Família mas achata-se o salário de quem conseguiu caminhar para o patamar acima.

O ProUni, um bom programa, peca em aceitar toda e qualquer UniEsquina, formando profissionais de má qualidade que, muitas vezes, já chegaram nessas universidades em estado de quase analfabetismo funcional, pois não houve nenhum investimento sério em educação básica.

Os investimentos são feitos quase que exclusivamente na etapa final do processo educacional, abandonando as primeiras etapas onde o jovem, a criança, aprende a pensar, forma sua identidade e adquire pensamento crítica. A idéia é apenas formar para o mercado. Não é emancipar, não é efetivamente educar, mas formar mão de obra (nem tão) qualificada.

Outra ferramenta importante para a emancipação do povo, hoje, é a internet.

Inclusão digital, desde que feita com método e acompanhamento (novamente, educação) é uma forma impressionante de empoderar a população, mas na hora de criar um plano para levar internet ao povo o governo me sai com a piada do PNBL entregue para as teles, sem qualidade e feito quase como forma de humilhar o pobre, como se este não merecesse respeito e um serviço digno.

Como dar dignidade ao povo se enfiam uma Ana de Hollanda no MinC? Uma figura que quer afastar ainda mais a cultura do povo, dificultando acesso e compartilhamento?

Mas, além disso, é preciso também lembrar qual é a base social história do PT e também compreender os efeitos do crescimento da classe C.

O PT é historicamente um partido de classes médias urbanas, de intelectuais, de operários qualificados que, com Lula, conseguiu atrair o "povão" mas, nem de longe, conseguiu(e) controlá-lo ideologicamente, ou mesmo seuduzí-lo ideologicamente.

O faz pelo bolso.

Enquanto houver dinheiro entrando, enquanto for possível consumir, votarão nos candidatos do PT, mas nem isso somente é garantia, vide o sufoco de Dilma quando o discurso conservador entrou em campo e a configuração absolutamente conservadora do congresso nacional (que em grande parte é culpa do próprio PT e de suas alianças com figuras deploráveis, Marginais da Fé e afins).

Hoje, com a maior parte dos brasileiros na Classe C, ou seja, na Classe Média, a insistência na quase exclusividade de políticas contra a Miséria (ao menos políticas sérias e efetivas, coisa que o PNBL não é, por exemplo), que não atingem mais esta Classe C, são um tiro no pé.

Não, não falo que devamos abolir estas políticas, jamais, a questão é tê-las como prioridade, mas não como exclusividade. É preciso recuperar o tempo perdido e buscar conquistar a nova classe não só pelo bolso, pelo consumo, mas buscando meios de reformá-la, de dotá-la de identidade.

É preciso uma política cultural que permita o acesso livre à cultura em todas as camadas. O MinC dificultando a vida dos Pontões de Cultura é um exemplo do que não deve/pode ser feito.

Uma política de inclusão digital é mais que necessária, mas o PNBL é lastimável. Uma política de acesso universal à educação é talvez o mais necessário, mas não investe-se em educação básica, apenas no final do processo, visando exclusivamente a formação de mão de obra mais ou menos qualificada e uma sensação ilusória de inclusão através do diploma, o que efetivamente não existe.

O processo de retirada do povo da miséria, enfim, não se deu pelas vias da inclusão, mas do consumo. E aí está o grande erro do governo Lula, perpetuado e até ampliado por Dilma, que conseguiu destruir até mesmo as boas políticas iniciadas ou incitadas por ele.

O combate à miséria é uma bandeira essencial, sem isso não se pode dar dignidade ao povo e construir uma nação, mas ao mesmo tempo o modelo de desenvolvimento escolhido pelo PT é completamente equivocado.

Privilegiar os excluídos é diferente de praticamente abandonar aqueles que não estão exatamente incluídos, mas ascenderam socialmente. E tampouco dar migalhas (como o PNBL) achando que se estáplantando as sementes da revolução.











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