quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Quem financia/patrocina o #EuVotoDistrital?

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Em meio ao debate da Reforma Política - que nunca chega e cujas propostas são confusas e/ou ruins - surgiu o movimento organizado #EuVotoDistrital que conta com site bem produzido, equipe uniformizada para coletar assinaturas (é a idéia que fotos no site passam) e contatos excelentes (em termos de alcance, não de qualidade, que fique claro!), mas que não deixa claro de onde vem o dinheiro para manter tamanha estrutura.

O que diz o site sobre o grupo:
Somos um movimento de pessoas e não funcionamos hierarquicamente. Acreditamos que quanto mais distribuída for a rede mais democrático seremos. As redes distribuídas proporcionam conexões ilimitadas entre pessoas – esse principio garante a duração e fortalecimento do movimento, pois dependemos apenas de pessoas interagindo e não de uma estrutura.
"Pessoas bem intencionadas" me cheira a "pessoas de bem", ou seja, a DemoTucanato, Juventude do PSDB e semelhantes. Não surpreende que recentemente tenham até emplacado artigo na Folha de São Paulo para defender "seu modelo" - o mesmo que o defendido pelo PSDB.

O Chico Capeta (@Chcapet) possui um artigo instigante sobre os diferentes modelos em debate. O PT defende o sistema de lista fechada, o PMDB o "distritão" e o PSDB um modelo mais light, mas ainda distrital:

Distrital: Proposta do PSDB que é pintada como o Diabo do Inferno por boa parte da esquerda, o voto distrital consiste em dividir o país em distritos com mais ou menos o mesmo número de eleitores (ou não, parece que a coisa na Venezuela é meio esquisita, mas como a fonte é a Veja não afirmo nada). Em todo caso, entre os exemplos de países que adotam o sistema distrital podemos listar os EUA, Reino Unido e França. Nos dois primeiros, a eleição é decidida por maioria simples, na França a eleição é decidida em dois turnos. A alegação clássica contra o sistema distrital é que ele leva a um sistema eleitoral bipolarizado, a exemplo do que acontece nos EUA com a briga estilo Tom & Jerry entre Republicanos e Democratas, ou mesmo na Inglaterra, onde a disputa eleitoral ficou por anos polarizada entre Conservadores e Trabalhistas e só recentemente os Liberais-Democratas conseguiram abrir uma brecha nesse contexto. No entanto, notem que tanto nos EUA como na Inglaterra não é exigida a metade mais um dos votos do distrito como é na França. E, justiça seja feita, nos países onde vigora esse sistema é muito mais fácil pro governo conseguir maioria. Por outro lado, esse sistema permite práticas detestáveis como o Gerrymandering, que distorce a representatividade do voto popular, ao permitir que os distritos sejam arranjados de acordo com interesses políticos.
Os problemas do sistema são óbvios, mas se encaixam no modelo de poder da direita tradicional: O coronelismo.

Em um país como o Brasil, em que corrupção parece ser algo universalmente aceito (taí a cambada de "progressistas" que não me deixam mentir), e que o "jeitinho" impera, distorções e manipulações serão a regra. Políticos poderão facilmente criar e controlar distritos, que serão repartidos como feudos e entregues a aliados por um bom preço - não muito diferente do que já ocorre, mas o trabalho será facilitado - e governarão soberanos, enquanto candidatos ligados aos movimentos sociais serão imediatamente sufocados. Aliás, se hoje muitos políticos costumam ter propensão a governar para seus feudos (mas roubar sem restrições), a coisa será ainda mais escancarada: Governarão para seus distritos.

Mas o objetivo do artigo não é o de citar a significativa perda de representatividade que o modelo distrital proposto traz, e sim colocar em questão um movimento que não se identifica ou mostra o que está por trás de suas atividades.

Aliás, é fácil demais apontar as falhas claras do movimento em sua defesa ao voto distrital, como a piada de dizer que o fato de proporem votação em dois turnos ajude na representação de minorias e afirmar que o fato da maior parte da população ser urbana eliminaria o coronelismo, como se este fosse um fenômeno exclusivo de áreas rurais. O Maranhão/Amapá de Sarney e a Bahia de ACM (felizmente falecido) são apenas dois exemplos extremos.

Deixo claro que nenhum dos modelos apresentados pelos partidos majoritários me agrada, defendo um modelo distrital-misto, que abarque múltiplas opções, mas ainda estou aberto à discussão.

Mas voltando à questão, é impossível achar no site qualquer menção a financiadores, mas tão somente a imensa lista de dois apoiadores: Marcelo Tas e Luciano Huck, duas conhecidas figuras DemoTucanas, animadores de palco de festinhas "Democratas".

Seria suficiente para considerar o movimento como uma verdadeira piada. Mas sem graça, pois no momento em que escrevo, mais de 51 mil pessoas já assinaram seu "manifesto". Acredito que mesmo o modelo distrital como proposto pelo PSDB mereça  discussão, mas a maneira pela qual o movimento se posiciona, escondendo suas reais intenções, financiadores e figuras-chave torna a discussão uma farsa.

Vale lembrar, aliás, que o movimento deixa explícito em seu site o apoio ao PLS 145/2011 de autoria do senador Aloysio Nunes do... PSDB!

A cereja do bolo, no entantanto está no que o movimento diz NÃO ser:
Uma organização
Um partido político
Uma ONG
Uma ação de governo
Projeto de uma empresa
Um movimento de esquerda ou de direita
Um grupo de políticos
Associação de classe
Igreja ou religião
Contra alguém ou algum grupo
Apenas a direita tem medo de se identificar e tem a mania incômoda de se dizer acima de "ideologias", como se a defesa do capital e da desigualdade social não fossem, em si, uma forma de ideologia perversa.

O mais infeliz é que mesmo pessoas insuspeitas acabam caindo no conto do PSDB disfarçado.
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Eu achava que não podia piorar... me enganei!
Reinaldo Azevedo para animar a turma.... Fui ali vomitar....

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O perfil do movimento nem de centro, nem de esquerda e nem de direita (ops, esse é o PSD do Kassab) "respondeu" sem dizer nada no twitter aos meus questionamentos:
O @Flewvio deu a resposta perfeita:
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