sexta-feira, 7 de outubro de 2011

PT, Reforma Política e o "me engana que e gosto"

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Já ha algum tempo o PT vem incessantemente falando da necessidade de uma reforma política.

Concordo. Mas acredito que minhas razões sejam diferentes das dos dirigentes petistas.

Acredito que precisamos de amplas reformas na política brasileira, como introduzir o financiamento público para campanhas, ampliar a fiscalização, punir mensalões e caixas 2 com rigor extremo, procurar um melhor sistema que proporcione representação real à população....

Mas acima de tudo é preciso garantir um mínimo de democracia partidária, para que a população não seja refém de burocracias e direções partidárias viciadas e corruptas.

Mas sabemos como é a política brasileira. Boas intenções e idéias costumam mascarar os reais interesses dos "do andar de cima", que raramente são os mesmos dos nossos.

O PT é um dos partidos que defende o sistema de voto em lista fechada, ou seja, em que os filiados do partido em teoria decidiriam os candidatos e sua ordem. Caberia ao povo apenas votar no partido:
Proposta do PT que é defendida por boa parte da esquerda, propõe que os votos para deputado sejam dados aos partidos, que definiriam listas determinando a ordem de entrada dos candidatos a deputado definidos pelo partido, de acordo com a proporção de votos.
Neste sistema, uma ampla democracia interna seria minimamente necessária. Mas se isto seria pedir demais para o DEM e o PSDB.. e mesmo para o PT!

Ao mesmo tempo em que a direção do partido defende este modelo, caminha a passos largos para neutralizar a militância de esquerda, tornando o PT um partido de caciques e consolidando a social-democracia de suporte ao capitalismo como ideologia central. Um socialismo cor-de-rosa, em que o capitalismo é sustentado sob o falso manto de um Estado de bem-estar e de consumismo/endividamento popular.

Nas palavras do Rui Amaro, "O PT caminha no sentido de se tornar um partido monolítico de centro-esquerda", mas cada vez mais ao centro, e na minha opinião, para a direita em diversas questões cruciais.

E segue:
Com a saída dos “esquerdistas” que organizaram os seus próprios partidos (PSTU, PCO e PSOL) a linha da tendência majoritária (Construindo um Novo Brasil –CNB) vem se apropriando de todas as instancias partidárias e levando consigo o grupo menor denominado de Mensagem ao Partido. O que demonstra que a outrora “democracia petista” vai, aos poucos, sendo sepultada e em seu lugar vai sendo edificada a política do pensamento único, monolítico. Não há mais lugar para velhos debates teóricos e programáticos e nem para as disputas ideológicas que marcaram a história do PT.

O PT do século 21 é uma sombra desfigurada daquele partido que conseguia aglutinar milhões de trabalhadores, estudantes e a juventude em geral. O PT deste século é o partido do “lulismo” e do “dilmismo”. É o partido das alianças espúrias, dos acordos secretos e dos conchavos com as classes dominantes. Mais que partido da ordem o PT é o partido do pragmatismo radical. Danem-se antigas bandeiras, antigos sonhos e princípios. O que guia o partido não é mais o velho sonho socialista. Em seu lugar cresceu uma espécie de monstro institucional calcado no maquiavelismo distorcido pelos interesses políticos e econômicos dos atuais donos da legenda. Até podemos afirmar que o PT é hoje uma pequena oligarquia.

Por trás desta defesa das lideranças do PT ao sistema de voto em lista fechada, se esconde um profundo processo de burocratização e "desempoderamento" da militância.

O PT de hoje, de seu IV congresso, é o PT que mantém Ana de Hollanda destruindo a Cultura, que aposta em um PNBL que garante apenas o lucro das teles em detrimento dos interesses do país e da população, que investe em latifundiários e em obras faraônicas ao invés de na Reforma Agrária e no real desenvolvimento do país, e que investe em educação privada sem qualidade em detrimento de um ensino público de qualidade e mancipatório, precarizando a mão de obra dos professores.

No papel alguns lampejos do antigo PT, como a tese do controle social da mídia, mas sabemos que tudo não passa de balela. É o pão e circo da direção petista para uma militância cada vez mais apáticae cordata.

Alguns efetivamente vendidos.

Questões cruciais, como o direito das mulheres sobre seu corpo (aborto, por exemplo), Reforma Agrária, democratização da mídia, direitos LGBT's e etc ficam bonitos no papel, mas de lá não sairão. Os evangélicos, Garotinhos e Magno Maltas que o digam!

Mas uma das maiores demonstrações da falsidade do discurso das lideranças petistas está na Reforma Política.

Ao mesmo tempo em que defendem as listas fechadas, sob a tese de que automaticamente levariam a uma maior democracia interna e comprometimento dos políticos com as teses dos partidos (eliminando diferenças e suprimindo tendências, ao invés de garantir a pluralidade responsável), propõem uma diminuição significativa e absurda da democracia interna partidária ao dificultar e virtualmente eliminar a possibilidade de prévias internas.

A partir de agora, os diretórios municipais ou estaduais poderão barrar as prévias caso haja apoio de dois terços dos dirigentes.
Neste caso, o candidato do PT a prefeito, senador, governador ou presidente será definido em encontro de delegados do partido, e não por voto direto dos filiados.
A mudança atende a desejo da ala majoritária do partido. Em São Paulo, o ex-presidente Lula tenta convencer outros prefeitáveis a abrir mão da disputa em favor do ministro Fernando Haddad (Educação). 
E, segundo a RBA:
A definição sobre o sistema de escolha de candidatos criou, na prática, dois tipos de prévias. O sistema atual de prévias fica mantido, com consulta a todos os filiados. Nos casos em que 2/3 do Diretório Municipal decidir pela não realização de prévias, será feita uma eleição de delegados do partido na cidade. Os delegados então escolherão o candidato, numa prévia indireta.
Dilma foi escolhida por Lula para ser presidente, não pelo partido ou pelos militantes. Apenas a vontade de um ou um grupo de dirigentes se impôs sobre todo o partido e sua história, e agora tudo se torna oficial. As direções irão decidir os candidatos, sem prévias, com o consentimento forçado da militância.

É realmente uma festa da/de democracia.

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E será ainda maior se apoiarem o PSD do Kassab. O Congresso do PT não vetou a possibilidade de coligação.
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Recentemente o Paulo Teixeira comentou sobre a iniciativa do PT em defender o Voto Proporcional Misto, ou seja, modelo proporcional de voto em lista fechada e em candidato. Além disso, é preciso lembrar que o PT, ao menos, faz a defesa da paridade entre homens e mulheres, ou seja, um candidato homem para uma candidata mulher, o que é louvável e, claro, não surpreende que tenha vindo do Paulo, um político competente e honesto.
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