quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Apoio governamental ao coronelismo?

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Quando achamos que, no natal, teremos uma folga dos absurdos quase diários do governo Dilma, eis que mais uma novidade surge. Dilma irá suspender um dos melhores programas criados por Lula, o Programa Um Milhão de Cisternas.

O projeto parece simples, mas está na base do Keynesianismo que o governo deveria ter adotado em diversas outras áreas do Brasil. Consiste, grosso modo, na construção de cisternas de cimento para armazenamento de água e que, apesar de parecer pouco, garante ao mesmo tempo trabalhalho para os mais pobres e os livra do comando dos Coronéis, que estão quietos, mas não mortos nos grotões do nordeste.

O resultado deste esforço entre governo federal e sociedade civil organizada foram 371 mil cisternas de cimento, envolvendo 12 mil pedreiros e pedreiras das comunidades e beneficiando mais de 2 milhões de brasileiros em 1.076 municípios. Algo grande, muito grande, para quem acompanha a história do Nordeste brasileiro. Basta andar pelo semiárido para ver que, quando há vontade política, é possível fazer milagres de gente. A presença da água, com a implantação coletiva de uma simples cisterna, tem mudado não apenas a economia, mas a autoestima do povo que vê florescer a vida e também a possibilidade de reescrever sua história – desta vez como autor, e não mais como personagem.
Agora, de uma tacada só, Dilma suspendeu o convênio com as ONG's que tocam o projeto, com a intenção de repassar a responsabilidade do projeto para os governos estaduais e municipais - EXATAMENTE as instituições dominadas por coronéis - e irá substituir as ciscertas de cimento por, pasmem, de plástico!

Imaginem só cisternas feitas de plástico, no calor do sertão. Se não derreterem, se deteriorarão com uma velocidade absurda.Nem precisa comentar que as cisternas de plástico são ainda mais caras que as construídas hoje. Oras, algum amigo ou parente de político da "Base Aliada" deve ser dono da fábrica, tem que ser privilegiado de alguma forma, não?
Enquanto a Articulação no Semiárido (ASA) reivindica os recursos previstos para a continuidade de suas ações, o governo federal vai investir R$ 1,5 bilhão na instalação de 300 mil cisternas de plástico. O valor gasto pelo governo corresponde a mais que o dobro do que a ASA gastou para construir 371 mil cisternas de placas no Semiárido.
De uma só vez, Dilma eliminou o trabalho da construção de cisternas, sua durabilidade e a independência em relação aos coronéis. Tudo substituído pela total subserviência e assistencialismo, marcas registradas de seu (des)governo que, até o momento, coleciona erros grotescos.



Nada contra assistencialismo em si, enquanto políticas emergenciais de curto/médio prazo, o problema é trocar um projeto que emancipa, por políticas de apoio ao retorno do coronelismo e que substituem a autonomia da população e sua independência, dando-lhes dignidade.
A desconstrução do Programa Um Milhão de Cisternas em favor do mercado e contra a organização popular é só mais uma faceta de que o que interessa é o assistencialismo eleitoreiro.
Eu não tenho nem mais palavras para descrever os retrocessos desse governo, que privilegia políticas sem qualidade, feitas nas coxas, com a única intenção de privilegiar empresários e multinacionais.

Vamos calcular quantos coronéis do interior do nordeste, hoje, não são da "Base Aliada"?

Cansei de questionar os governistas, que não conseguem sequer responder uma pergunta das dezenas que fiz e muito menos apontar avanços que venham em conjunto com a emancipação do povo.

Consumimos mais. Ponto. É tudo que conseguem repetir, como robôs acéfalos, programados pelo governo.

Vejam, o povo está consumindo! Isto é tudo. PNBL, direitos para os LGBT, Estado Laico, distribuição de renda (com taxação de fortunas e diminuição do abismo social), Direitos Humanos e tantas outras questões abandonadas, deixadas pelo caminho.

Enquanto escrevo o texto, Stédile, do MST, é entrevistado. Critica o governo, mas em momento algum pensa em romper com quem privilegia Kátia Abreu e Código Florestal ao invés da Reforma Agrária.

Há muito dinheiro, muito cargo em jogo. Pode criticar de leve, mas não romper.

E tudo isso com apoio de uma militância fanática, sempre pronta a dizer "amém" para tudo ou, no máximo, criticar vírgulas, mas apoiando sentenças.

Temos remoções nas cidades-sede da Copa? Problema dos removidos, a militância não tem nada a ver com isso. Aplaude entusiasmada. Há problemas com os direitos humanos em Belo Monte? Problema dos índios, que morram. Aliás, estão morrendo, mas no Mato Grosso do Sul. A militância não se importa.

PNBL é lixo? P`roblema dos pobres que usarão, o governo fez o que pôde - garantiu o lucro exorbitante das teles. PSDB privatizou, a militância reclama, mas o PT privatizou aeroportos e ninguêm acha isso ruim.

E por aí vai. É cegueira demais.

O PT hoje é um partido de direita, igual a PSDB, PMDB e qualquer outro lixo aliado ou pseudo-inimigo. O triste é que não temos mais oposição. Movimentos sociais cooptados, com cargos e dinheiro, enquanto os retrocessos são deixados de lado na construção de um país do futuro. Só não sei que futuro.

A conclusão da Eliane Brum é perfeita:
De minha parte, chego ao fim deste ano perplexa. Cresci ouvindo que o Brasil era o país do futuro, mas não podia acreditar porque passei a infância e a adolescência numa ditadura que torturava gente como a então jovem Dilma Rousseff. Participei dos comícios das “Diretas Já” e cobri como jornalista as primeiras eleições da redemocratização. Muito mais tarde, testemunhei e escrevi sobre a eleição de Lula e o comício da vitória, em 2002. Nos últimos anos, já madura, ouço que o futuro chegou. E estava começando a acreditar, pelo menos em alguns aspectos. E não é que agora, às vésperas de 2012, anunciam com eufemismos que podemos estar voltando ao passado também no sertão nordestino? Não há de ser por saudades da literatura de Graciliano Ramos e de João Cabral de Melo Neto, porque esta é a única que com certeza não voltará.
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