sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Os vídeos sobre Belo Monte: Quando números substituem pessoas

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Não faltam vídeos sobre Belo Monte. Aparentemente os atores da Globo em seu fraco vídeo do movimento Gota d'Água acabaram por fazer estourar a barragem (com trocadilho) e vídeos pipocam. Um que causou bvoa discussão foi o de alunos da UNICAMP, de engenharia civil e economia, coordenados por um professor estatístico.
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O vídeo dos globais:


O vídeo dos alunos da Unicamp:


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Interessante, mas a discussão vai pelo caminho errado. E isto também é culpa dos globais, que tentaram mexer com dados e, por vezes, usaram dados errados.

Os alunos da Unicamp, assim como em outro vídeo que encontrei em que vemos uma defesa de Belo Monte tendo como base exclusivamente visões baseadas em estatísticas, economia e "viabilidade econômica", "esquecem" apenas de um detalhe: Do ser humano.

É fácil falar em "tempestade num copo d'água" quando você está fora do copo e será apenas - em teoria - beneficiado.

O vídeo dos globais, em si, não é bom. E também não representa o pensamento da Globo, isto está claro. 

Mas o vídeo dos alunos da UNICAMP é simplesmente assustador.

Do @Ldecf , no Facebook:
Interessante notar como é fácil para esse pessoal responder a videos frágeis como esse, mas os mesmos se mostram incapazes de responder Célio Bermann, Oswaldo Sevá, Felício Pontes, Andréa Zhouri e tantos outros especialistas em algum aspecto da hidroelétrica de Belo Monte.
O vídeo que linkei acima começa com o argumento mais tosco possível, que a região de alagamento de Belo Monte (pouco mais de 500 kilômetros quadrados), proporcionalmente à Amazônia Legal , é pequeno. Não é uma mentira. Mas o assunto NÃO pode ser reduzido a números. E o argumento da maioria dos vídeos e textos que defendem Belo Monte se centra neste aspecto. No quantitativo, no tamanho, no custo, nos gastos. A parte "humana" fica relegada. Diz-se resolvida.

Estamos falando de vidas, de culturas, de GENTE. Se formos fazer Belo Monte no meio da cidade de São Paulo, ela vai ser pequena em comparação com o estado, mas vai matar quanta gente? Não importa o número, importa ONDE e QUEM atinge e que, enfim, ATINGE.

Se nos focarmos no tamanho, na viabilidade puramente técnica (ainda que esta seja motivo de boas discussões) e afins, iremos empacar, pois mesmo que ambos os lados usem números corretos, tudo não passa de uma questão de ponto de vista quanto à viabilidade e impacto dos números.

O problema central, no entanto, é com as vidas atingidas, é com o "depois", mas também com os impactos que já vem sendo sentidos, como o aumento no abuso sexual de crianças e no processo de favelização de altamira, principal cidade da região.

Isso sem falar no aumento dos preços de imóveis em Altamira, e também no saldo posterior, tendo a Transamazônica como modelo, onde milhares de trabalhadores foram deixados lá, sem qualquer perspectiva, no meio da Amazônia, depois de verem as promessas do governo descumpridas.

Mas estamos falando de desenvolvimento mesmo?

Não entendo como "desenvolvimento" possa fazer par com o ato de deslocar milhares de pessoas, destruir o modo de vida das tribos locais, potencialmente secar a Volta Grande do Xingu durante meses e meses do ano, destruir um ecossistema único local, criar imensas dificuldades para a navegação, escassear pesca, deslocar tribos... Uau, que belo desenvolvimento!

E tudo isso pra uma usina cuja função primordial é sustentar a indústria de alumínio de Belém e região, que não só "bebe" eletricidade como é absurdamente poluidora, ao ponto de países como o Japão terem decidido manter sob controle e vetar o crecimento deste tipo de indústria... E, de quebra, ainda tem um valor agregado baixo em comparação com o produto final que, claro, não produziremos, afinal, o Brasil só serve pra fazer matéria primária, destruir nossos recursos e fazer a alegria dos "lá de fora".  

É óbvio que toda matriz energética tratá problemas, trará algum tipo de impacto, o que se discute não é o desejo do surgimento mágico de um modelo 100% livre de problemas, mas sim a crítica ao modelo atual que não leva em conta os problemas regionais, a vontade da população atingida e, finalmente, o modelo em si de desenvolvimento escolhido pelo país.

Devemos realmente defender um modelo quase exclusivo de geração de energia via usinas hidroelétricas?


Devemos realmente defender exclusivamente os interesses de empreiteiras ou mesmo os mesquinhos interesses energéticos da indústria e tratar populações inteiras como marginais?


Devemos mesmo defender um modelo energético e industrial imposto pelo sul//sudeste ao norte, sem ter em mente os reais potenciais regionais da Amazônia?


E tantas outras questões....

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Claro que há um problema em focar na parte "humana", pois sabemeos que o grosso da "classe média way of life", assim como a ampla maioria dos governistas e petistas que apoiam cegamente o governo de direita de Dilma simplesmente não se importam com índios mortos ou com ribeirinhos pobres à mingua.
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Para uma resposta contundente ao vídeo dos alunos da UNICAMP, recomendo a leitura do link.
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Depois de escrever o post soube de mais um vídeo, agora de alunos da UnB... Se a academia está nesse nível, é melhor fechá-la. Falam para "verificar os fatos", mas dão como links para consulta, acreditem, o site da Norte Energia e blogs em defesa de Belo Monte.

Esse vídeo consegue ser pior que o dos estudantes da UNICAMP. Ao menos no caso do povo de Campinas, se limitaram a fingir que não tem gente na região, os da UnB simplesente mentem.

Novamente, verifique os fatos, mas defenda a morte da população local. Só importa dinheiro e "desenvolvimento", vidas não são relevantes.


Admito não ter aguentado ver o vídeo inteiro tamanhos absurdos ditos. Logo no começo a afirmação bombástica: Nenhuma terra indígena será alagada.


Oras, e quem disse que seriam?


As terras indígenas sofrerão da seca da Volta Grande do Xingu. SECA.

E os "estudantes" afirmam que os indígenas foram sim ouvidos... Engraçado, os indígenas estão mentindo? O cacique Megaron Txucarramãe está mentindo (aliás, ele foi DEMITIDO da Funai por se opor a Belo Monte)?


E, por fim, o jornalista Ruy Sposati, que está no Pará, está mentindo quando afirma:

Mas pouco importa para os "acadêmicos do século XXI".
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