quinta-feira, 12 de abril de 2012

Direção alcoolizada: Apenas parte do problema em meio à ausência de alternativas

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Sei que estarei sendo simplista neste texto, mas acredito que preciso comentar sobre um dos aspectos - dos vários - que reforçam o uso do carro por pessoas potencialmente embriagadas, causando os acidentes e mrotes que nós já, infelizmente, estamos acostumados a ver.

Falo da completa ausência de alternativas - durante a noite e madrugada - de transporte público (de qualidade). Em muitos casos depois da meia noite até 4-5 da manhã não há efetivamente nenhum alternativa, não há ônibus ou metrô disponível, e muitos "points" de bares - como a Vila Madalena, em São Paulo - são pessimamente servidos por transporte público a qualquer hora do dia.

Há em alguns momentos/lugares a total falta de transporte público e em outros a ineficiência cmpleta daqueles que prestam serviço nos locais mais badalados.

Ampliar penas e multas para quem bebeu e está dirigindo, como vem sendo discutido pela Câmara não faz nada além de ampliar uma criminalização muitas vezes inócua. Já se viu que pouco tempo depois da lei mais dura passar a valer os índices de acidentes, de apreensões e afins continuam altos. A violência no trânsito não diminui devido a estas medidas - talvez - draconianas.

Temos uma mania persistente de achar que tudo no país se resolve através de leis e de medidas duras, de punição simplesmente, mas não damos nenhuma alternativa viável para que se evite cometer o crime/infração.

Direção alcoolizada muitas vezes não é uma opção, não é algo que o motorista simplesmente decide. "Hoje eu vou dirigir bêbado porque é legal". Muitas vezes a pessoa vai num bar, na casa de um amigo e não tem como voltar para casa. Numa cidade como São Paulo em que já se paga absurdos em um bar, não é factível esperar que se percorra grandes distâncias em um taxi com bandeira 2. A "solução" é dirigir, torcer para não ser pego e, claro, para não fazer nenhuma besteira.

É óbvio que não aprovo tal comportamento, tão somente descrevo a realidade.

É óbvio que apenas transporte público de qualidade, 24h por dia, não resolve ou resolverá todos os problemas. Há sempre o playboy que quer exibir seu carro, há o total inconsequente, e quem simplesmente não queira seguir a lei porque pouco se importa com ela.

É uma questão até engraçada considerar que estar bêbado torna-se um crime no momento em que se entra num carro - mas não em qualquer outra situação -, mas em nenhum momento alguém - poder público - para para pensar que cabe também a ele tomar medidas não apenas punitivas para evitar o "problema".

É muito mais fácil punir, condenar e lavar as mãos, colocar todos os problemas apenas em irresponsabilidade e na bebida - que é uma droga lícita, com aval do Estado, é sempre bom lembrar, e até incentivada, visto que o governo faz questão de agradar a FIFA liberando bebida em estádios, logo, fazendo propaganda de seu uso - do que enxergar a profundidade da questão.

O que se vê é a total falta de preocupação com alternativas e com solução. Pune-se o motorista (novamente, não digo que está certo beber e dirigir), mas não se oferece nenhuma alternativa.

Acredito ser necessário pensar em alternativas, em ampliação do transporte público durante à noite, em campanhas sérias de conscientização que possam ir além da mera criminalização e medo de punição e em medidas para reforçar que direção alcoolizada é, antes de tudo, um perigo para o pedestre e também para o motorista, mais do que apenas pintar o motorista como um assassino inconsequente - mas consciente.

Claro que ainda seria necessário uma série de medidas como reformar a polícia - é muito fácil escapar de punição com uma not de 20 ou 50 dadas a um guarda -, reformar o transporte público que é um lixo mesmo durante o dia, reformar a cidade e evitar a concentração de polos de lazer em poucos locais obrigando s pessoas a grandes deslocamentos e por aí vai.
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