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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Aumento das tarifas revogadas: Vencemos a batalha, falta ainda a guerra.

Haddad e Alckmin, JUNTINHOS, anunciaram a redução das tarifas pra 3 reais. Não é suficiente. Hoje temos de ir às ruas exigir que se abra a caixa-preta da máfia dos transportes e temos de exigir TARIFA ZERO!

A luta continua e não podemos nos desmobilizar depois de termos conquistado tanto e ido tão longe!

É preciso ter em mente que foi uma vitória, mas uma vitória pequena, pontual.

Alckmin e seu papagaio, Haddad, deixaram claro que a redução vem de má vontade e que irão reduzir investimentos. Quais? Porque? Nem uma palavra sobre a caixa-preta da máfia dos transportes, nem quanto de fato é o lucro dessas empresas e muito menos os valores reais envolvidos no transporte "público" de São Paulo (e do Brasil, na verdade).

Digno de nota a cara do Haddad, e sua subserviência ao tucanato. O "novo" fez papel de papagaio de pirata, esperando Alckmin aceitar reduzir tarifas para dizer que também aceitava e indo até o palácio do "inimigo" para ceder a primeira fala. Se o marketeiro e estrategistas do PT não foram demitido, fechem o partido.

Não podemos aceitar de forma nenhuma que os já parcos investimentos do Estado sejam ainda mais reduzidos enquanto o lucro do empresariado não é alterado, pelo contrário, é garantido e ampliado.

Não faz o menor sentido que o povo garanta o lucro de mafiosos do transporte às custas da exclusão de milhares, às custas do prejuízo compartilhado da população. Os protestos não começaram apenas por 20 centavos, mas pelo debate sobre qual cidade queremos, por direitos e por participação política. Ou alguém acha que 3 reais é barato? Ou mesmo que 1 real é barato para quem está desempregado ou mal tem o que comer?

Se a constituição garante o direito de ir e vir, cabe ao Estado assegurar que as pessoas possam efetivamente se locomover. Mas ao invés disso impõe barreiras, dentre elas a barreira da tarifa, à população.

Temos de continuar indo às ruas para exigir não apenas a Tarifa Zero/Passe Livre, mas para que as contas sejam abertas, para que haja transparência, e para que se debata também a qualidade do transporte "público" - que não existe.

E a Tarifa Zero é sim possível, o PT defendeu no passado, mas o PT aprendeu que é melhor contentar o empresariado que financia campanhas do que o povo. Assim também pensa o PSDB. Porém o povo nas ruas deu seu recado e continuará a lutar.

E precisamos ter em mente que não podemos permitir que a direita se aproprie das manifestações, que suas agendas reacionárias "anti-corrupção" tomem a frente, da mesma forma que não podemos deixar que pelegos ligados ao PSeudoB, PT e UNE tomem a frente, como tentaram fazer na última manifestação, na Sé.

Se por um lado a presença de partidos é legítima e até mesmo necessária, PSTU, PSOL, PCB, PCO estão desde o começo na luta, ao passo que outros, oportunistas, surgiram para tentar apenas conseguir fama e um reconhecimento indevido (PT, PSeudoB, PPL...).

Fiquemos alertas também contra infiltrações, não faltam denúncias e até a certeza de que a polícia tem infiltrado P2 nas manifestações e até neonazistas tem aparecido.

Hoje, 17h, TODXS às ruas, a mobilização não pode acabar! Alckmin e Haddad não nos fizeram favor algum, pelo contrário, foram forçados a ouvir e acatar as decisões do povo e, ainda assim, deram um jeito de defender o lucro da máfia dos transportes, e é contra isso que devemos lutar, ou por isso que devemos manter a luta.

Temos ainda a Copa, Olimpíadas, #CuraGay, PEC37, Genocídio Indígena e a própria questão do transporte, que deve ser PÚBLICO.
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quarta-feira, 19 de junho de 2013

6º Protesto Movimento Passe Livre (MPL) - E a revolta não será contida!

Chegamos na sexta grande, imensa manifestação contra o aumento das tarifas, com novas pautas sendo acrescentadas, como a luta contra a PEC37, conhecida como o Golpe do PT no Ministério Público, e contra a "Cura Gay", outro presente do PT, via aliado Marco Feliciano.

O clima na cidade - e imagino que no país - está interessante. Vibrante. Diferente. Bastava caminhar pelas ruas pouco antes da manifestação para ver que era o assunto principal das rodas de conversa, de camelôs a engravatados: E todos diziam que iriam para a Sé.

E imagino que tenham ido, pois a manifestação estava mais uma vez lotada e pacífica, animada. E foram até a Paulista em paz.
Ponto negativo ainda na Sé foi a presença de uma quantidade ridícula de bandeiras da UNE, grupo de pelegos sem qualquer legitimidade que não deram as caras em NENHUMA manifestação anterior. Nesta chegaram a querer tomar a frente. A cara de pau do PSeudoB e do PT parece não ter fim.

Mas fora isso, muita alegria nas escadarias da Sé e muitas manifestações diversas que pareciam ter se juntado em busca de visibilidade. Infelizmente um ou outro manifestante no estilo #classemediasofre reclamando de impostos ou mesmo falando de Mensalão, mas eram minoria absoluta. Em geral muitos cartazes bem humorados, reivindicativos, atacando Haddad, Alckmin e Dilma e exigindo direitos e que os políticos que elegemos obedeçam aos eleitores.

O grosso da marcha se dirigiu à Paulista, mas outro grande grupo foi para a frente da prefeitura. Fui com o segundo. No início tudo pacífico, até que a multidão começou a diminuir, pois também resolveram caminhar até a Paulista, e foi aí que o trabalho dos P2, dos agentes infiltrados da PM começou.

Gostaria de deixar claro que o Black Bloc não teve nada a ver com os atos na prefeitura de SP, como foi noticiado na Rede Record. Isto inclui o cara de branco quebrando os vidros da prefeitura, e incitando os manifestantes a fazerem o mesmo. Através de nossas pesquisas, o nome do mesmo é Tiago Ciro Tadeu Faria, o cara que rasgou os votos da apuração das escolas de samba no carvanal de SP em 2012.
Um grupo tentou invadir a prefeitura e, não conseguindo, se limitou a apedrejá-la.

Um carro da Record foi apedrejado e queimado ao lado da prefeitura e começaram as depredações às duas agências do Itaú na Praça do Patriarca, do lado da prefeitura e os saques à lojas, que foram destruídas. 


A Força Tática tentou conter os saques, mas foi afugentada pela turba. Foi um momento de sentimentos conflitantes, pois a Força tática estava APAVORADA e querendo fugir, o que não tem como não alegrar qualquer um que já apanhou dos bandidos de farda, mas ao mesmo tempo passavam uma efêmera sensação de segurança, pois no meio dos manifestantes, além dos P2, havia forte presença de bandidos de rua que ameaçavam jornalistas e queriam roubar nossas câmeras.

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terça-feira, 18 de junho de 2013

Paramos o país e não foi por 20 centavos: O que queremos?

Participei ontem dos maiores protestos que já vi agitarem o país. Ou, ao menos, que eu tenha tido o imenso prazer de participar. Paramos o país de norte a sul.

Éramos 100 mil no Rio, mais de 100 mil em São Paulo (o movimento que começou no Largo da Batata se dividiu em vários "menores", um deles ocupou toda a Brigadeiro Luis Antônio da JK até a Paulista, só ali éramos mais do que os 60 mil totais divulgados pela mídia), mais de 20 mil em Belém, milhares em Brasília, PoA, Maceió, BH, Vitória, Londrina, Juiz de Fora, Caruaru, Santos... Em dezenas de cidades no Brasil e no mundo.

Mas porque?

A revolta não nasceu por causa de 20 centavos, 10 centavos, nem 30 centavos. Ela tão somente ESTOUROU depois dos aumentos simultâneos em todo o país. Enquanto o PT prega que o país está indo às mil maravilhas, o povo nas ruas mostrou que esta imagem não é real. Não estamos sorridentes com a Copa, não estamos felizes com a educação, com a cultura, com a saúde...

Protestos contra o aumento se juntaram a protestos contra os gastos absurdos da Copa, com a insatisfação com a cidade, com a exclusão social, com as tentativas de golpe contra o judiciário patrocinadas pelo PT e aliados, como no caso da PEC37, contra a violência policial, contra a educação e saúde precárias...

Enfim, o povo foi às ruas contra o atual modelo de país que temos, excludente, desigual, com bilhões fluindo para a FIFA e para obras faraônicas e virtualmente inúteis, em protestos reprimidos com extrema violência e brutalidade, enquanto somos bombardeados por propagandas estatais de que "está tudo bem", "está tudo lindo". Não está.

Indígenas são massacrados e desrespeitados em suas terras, na verdade muitos sequer tem terras. LGBTs são assassinados nas ruas por simplesmente serem quem são, a periferia grita contra o genocídio que sofre, e toda a população se revolta contra a submissão a uma política de iguais, sem opções, em que PSDB e PT se revezam em acusações, mas são apenas faces da mesma moeda: Corruptos, privatistas, entreguistas, preocupados em enriquecer aos seus e não em transformar o país.

Não há imagem mais emblemática que o povo ocupando o Congresso. Pacífico, apenas demonstrando sua força e que quem deve ter medo é o poder, são os governos, e não o povo. O governo nos serve, deve nos servir e deve nos temer.

Estamos diante de uma onde sem precedentes de conservadorismo, de medievalismo religioso, de tentativas de destruir o judiciário ao invés de reformá-lo e torná-lo mais democrático. O povo estourou contra um congresso e legislativos corruptos, desconectados da realidade do povo. Enquanto pegamos ônibus, metrôs e trens lotados, políticos impõem suas pautas pessoais usando carros de luxo pagos com nosso dinheiro e vivem em mansões inalcançáveis para a ampla maioria da população.

Lutamos e fomos às ruas por dignidade. Por respeito.

Em São Paulo o que mais víamos eram cartazes contra a PEC37, a favor de um transporte público de qualidade e gratuito para todxs, e por respeito aos nossos direitos.

Sim, lutamos por direitos. Por direitos básicos, para não sermos joguete nas mãos de partidos iguais, que nada propõem, que em nada se diferenciam.

Falando especificamente de São Paulo, Haddad recuou, Alckmin recuou. A não-violência ontem se deve exclusivamente à escassa presença da PM nas ruas, pois como todos sabemos, a presença da PM é um convite para a violência e a brutalidade. Não importa se a manifestação é pacífica, a PM sempre encontra razão (sic) para exercer seu "direito" de nos violentar.

Haddad que havia apoiado a violência da PM foi forçado a mudar o discurso, mas não o suficiente para OBEDECER os paulistanos e reduzir a tarifa. Pelo visto ele terá de ser convencido nas ruas de que nós pagamos o salário dele e nós é que mandamos. Alckmin, por sua vez, foi forçado a mandar a PM recuar, e também terá de ser convencido nas ruas a obedece ao povo que mostrou ter forças e vontade.

Agora, porque todas essas manifestações pelo país?

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sexta-feira, 14 de junho de 2013

Massacre do Passe Livre: Relato do Quarto protesto contra o aumento das tarifas

Escrevo este texto logo após chegar da manifestação do Movimento Passe Livre BRUTALMENTE reprimida pela PM, pelo Choque, Tática, ROCAM e qualquer desgraça mais que a PM pudesse jogar contra nós.

Em primeiro lugar, deixo claro, Alckmin e Haddad são responsáveis pelo massacre. A responsabilidade é dos dois, em igual peso e tamanho.

Poucas vezes na vida vi repressão como esta, e estive no Pinheirinho. Fui alvo de balas no Pinheirinho, assim como fui alvo de balas hoje e nos protestos anteriores do MPL. Absolutamente NADA justifica a violência de hoje (nem de qualquer outro dia, aliás), e hoje sequer houve provocação. Nenhuma. Nenhum "vandalismo", nada.

A Polícia antes mesmo da marcha começar já tinha prendido à rodo. Quem tinha vinagre junto era preso. Jornalistas forma presos por estarem apenas indo para o protesto, ainda no Teatro Municipal.

Vou tentar narrar cronologicamente o que vi, apesar da adrenalina estar nublando um pouco as coisas, fora o ódio tremendo pela brutalidade policial e pro estes governantes assassinos que temos.

Um começo tranquilo, mais de 20 mil pessoas reunidas e os primeiros gritos contra os militantes do PT que apareceram na marcha, só depois que a direção permitiu, claro. Apareceram também militantes de outros grupos próximos ao PT que estavam totalmente ausentes dos protestos anteriores. Foram recebidos com ofensas pela maioria que estava apanhando ha pelo menos três protestos.

Seguimos até a República sob imensa provocação da PM. Logo no caminho entraram no meio da marcha para agarrar um rapaz que nada fazia e o prenderam com imensa violência. Mas seguimos. Na esquina da São Luís com a Ipiranga um ônibus elétrico precisou da ajuda de alguns manifestantes para voltar a funcionar, o cabo tinha saído do "trilho" elétrico. Um manifestante que AJUDAVA o motorista foi preso. Mas, ainda assim, seguimos.

Eu estava no fim da marcha, junto com um rapaz do MPL, Matheus, acredito, que negociava com um grupo de PMs o roteiro a seguir. O PM dizia que era pra entrarmos na Rêgo Freitas e voltar à República, algo que Matheus disse ser impossível, já que a cabeça da Marcha estava já no Mackenzie. Nesta discussão de vai ou não vai um PM no meio do grupo começou a gritar que estavam jogando pedras. Mentira pura. Estava eu e dezenas de jornalistas do lado e ninguém jogava absolutamente nada.

A provocação continuava, com PMs atiçando uns aos outros e nos provocando e querendo atacar.
Mas, novamente, seguimos. Até que de uma rua lateral surgiu um grupo do Choque, batendo nos escudos e gritando contra os manifestantes. Eles correram subindo a consolação e depois de um momento os tiros, bombas e gás começaram lá em cima. Eu estava atrás e via a fumaça subir, o fogo das armas da polícia que disparava e o pânico das pessoas correndo para a Roosevelt.

Do nada, o Choque surgiu também por trás, da República, e começou a atirar, assim como policiais que atiravam debaixo do Minhocão. Não havia outro caminho senão a Praça Roosevelt.

Mas do outro lado também tinha polícia. Estava armado um massacre.

As pessoas em desespero corriam pra praça e o Choque avançava com extrema brutalidade, atirando na imprensa do outro lado da rua, onde eu estava em dado momento, e nos jogando bombas - uma estourou quase na minha perna - sem dar mostras de que iria parar.

E não pararam.

O povo corria em desespero para a Rua Augusta, do outro lado da Praça, mas havia PM lá e os que estavam na Consolação os perseguiam com tiros, bombas e gás. Pessoas que nada tinham a ver foram atingidas e intoxicadas, e segundo relatos quem se escondia nos teatros da praça era preso, e pouco importava seque se eram manifestantes.

Na Guimarães Rosa, ainda na Roosevelt, motoristas em pânico viam os carros serem cobertos por gás, uma senhora com uma criança no carro chorava enquanto era sufocada pelo gás. Na esquina a PM jogou bombas até mesmo na radial, lotada de carros. E atirava para todos os lados.

Um professor, Daniel Keller de Almeida, foi preso por gravar a cena de um rapaz sendo agredido e preso com brutalidade pelo Choque. Outro que estava filmando também foi preso. Eu escapei pois disse ser do G1, pois o PM veio me prender. Foi a primeira prisão que escapei na noite. Um ônibus do Choque saiu LOTADO da Roosevelt.

Na Avanhandava conversei com várias pessoas revoltadas com a violência da PM, que neste momento apenas posava para fotos. E por todo o caminho que passei vi a população revoltada com a violência e apoiando a manifestação. Subindo a Augusta, atrás do Choque, uma senhora gritava de sua janela contra a PM fascista e armas foram apontadas para ela.

No caminho, uma senhora, professora, Maria Bernadete, revoltada, dava entrevista com a marca da bala de borracha em sua têmpora. Ela sequer fazia parte do protesto, mas foi, como muitos pelo caminho, alvejados pela gloriosa PM à serviço de Alckmin e Haddad.

Na Augusta o Choque subia, com direito a um desvio para aterrorizar na Oscar Freire. Ai foi minha segunda quase-prisão. Mas consegui correr de volta para a Augusta.

Subimos até próximo da Paulista, quando o Choque, ofendido pelos vários manifestantes que ficaram pra trás, e por quem simplesmente estava revoltado com a brutalidade, se virou bruscamente e vários jornalistas comigo tiveram de correr e se abrigar do lado da Kiss, onde fomos alvo de muito gás, mesmo gritando desesperados pra PM que éramos imprensa. Isso apenas os atiçou.

Resolvemos correr por uma brecha entre a PM e o prédio ao nosso lado e foi minha terceira quase prisão, mas a quantidade de jornalistas em volta (e um soco dado no pescoço dele ajudou) fez o PM largar meu braço, mas infelizmente prenderam uma professora que gritava no meio da rua, sem se intimidar pelo gás e pelas balas, que dava aula para os filhos deles. Seu nome é Regina Célia.

Já na Paulista, a porrada estancando. De todos os lados. No MASP manifestantes estavam cercados e sendo alvejados e se refugiando nas paralelas, como a alameda Santos.

De lá grupos saiam esporadicamente para atear fogo em lixo (ainda que a PM, segundo relatos, tenha tacado fogo no lixo também para culpar manifestantes) e para serem recebidos com violência.

Um jogo de gato e rato que durou várias horas. Detalhe era o sorriso no rosto da PM a cada tiro, quando acertavam alguém ou quando intimidavam a todos, incluindo imprensa.

Fui caminhando para a Cásper Líbero e estudantes do Objetivo estavam presos lá dentro e revoltados com a ação da PM, que chegou a atirar na Cásper. Pessoas eram revistadas, qualquer um carregando uma mochila, ao lado da Fnac. Por toda a Paulista pessoas aplaudiam a PM, ironicamente, e gritavam "Vergonha". Era a deixa para mais ataques e mais violência.

Em dado momento reverberava pela avenida os gritos de "Vergonha" e os aplausos, era lindo de se ver. Pessoas saíam dos prédios, engravatados, e aplaudiam. Toda a população estava contra a brutalidade policial. E eram recebidos com mais brutalidade.

A Polícia atirava a esmo, para todas as direções sem que fosse preciso qualquer provocação (palmas nunca foram provocação, sejamos honestos). Pessoas gritavam, sem ter nada a ver com o protesto. Crianças choravam, idosos passavam mal e pessoas eram atingidas e violentadas por uma ação criminosa perpetrada por milhares de BANDIDOS de farda, assassinos pagos pelo Estado.

De volta à região da Augusta/Consolação, ao lado do Center 3, dois grupos do choque, vindos dos dois lados da paulista atiravam e jogavam bomba, quase matando um senhor que corria em desespero. Ameaçaram atirar no grupo da imprensa que estava no local, ameaçaram repórter do CQC e seguiram com a barbaridade. A adrenalina era tanta que não me segurei e xinguei a PM, e acabei sendo filmado pelo CQC. Só depois reparei que tinha dado uma entrevista, mas de tanta raiva, nem reparei na hora.

E a coisa continuou, com jornalistas correndo pra todos os lados e a PM barbarizando. Só depois das 11 da noite que tudo se acalmou finalmente. Com direito ainda a pessoas encurraladas no MASP levando tiros por gritarem, a todo momento, por paz e "sem violência". A polícia parecia alimentar seu ódio do grito desesperado pelo fim da violência.

Qualquer grupo com mais de 10 pessoas era alvo de tiros, sem sequer a necessidade de perguntar quem eram.

Depois, via um jornalista da Globo e outros, soube que a PM também desceu a Angélica. Manifestantes fugiam e as bombas eram jogadas no meio de carros, de ônibus... A intenção era matar, estivesse o alvo na manifestação ou apenas tivesse tido a infelicidade de ser pego no meio dela. Vidros foram quebrados pela PM que aterrorizou Higienópolis.

Muitos vídeos foram gravados com denúncias da PM quebrando os vídeos dos próprios carros para acusar os manifestantes, dentre outros.

É importante lembrar: Não houve NENHUMA provocação por parte dos manifestantes, não houve qualquer vandalismo real ou imaginário. A PM espalhou boatos entre ela e para a mídia e começou a atirar por puro prazer e sadismo. O que vimos foi um massacre, em que PMs sorriam a cada tiro que davam e estavam felizes em ter alvos fáceis para tentar matar.

Eu estive no Pinheirinho, já participei de dezenas de manifestações em São Paulo e Recife, já fui banhado por pimenta, já atiraram em mim (nunca acertaram, felizmente) e já vi efetivos policiais absurdamente grandes, mas hoje São Paulo virou uma praça de guerra. Hoje é um dia para ser lembrado como o Massacre do Passe Livre, patrocinado por Alckmin e Haddad, dois bandidos no poder.

Comentei no Facebook e mantenho:
Acabei de voltar do protesto. Eu tô abismado. Eu raras vezes vi tamanha repressão. O que fotografei, gravei e os relatos que ouvi de colegas jornalistas são chocantes. O Choque atirava em quem aplaudia (ironicamente), atirava na imprensa, em qualquer coisa que se movesse.

Foi um massacre e a intenção de Alckmin e Haddad era clara: Matar. Não adiantou os pelegos da Juventude do PT se juntarem à marcha, foi porrada pra todo lado. Não houve NENHUMA

provocação, NENHUMA violência do nosso lado. Fomos agredidos de graça, cercados, emboscados na consolação e na Augusta.

A violência durou horas e horas, correu a Paulista, a Angélica, a Consolação, Augusta e a porra da região toda.

Alckmin e Haddad são responsáveis!
A violência foi tão grande que até a Folha e a Globo foram forçadas a destacar. Como você vai mentir quando jornalistas da empresa foram alvejados e poderiam ter sido mortos, e quando estavam eles próprios revoltados?

Amanhã vai ser maior! Hoje fomos mais de 20 mil, pois vamos juntar 50 mil!

Segunda, 17h, no Largo da Batata!
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Fotos do ato de ontem, no Flickr
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Vídeos:
Início pacífico da Marcha, gritos e palavras de ordem e muitos gritos contra os pelegos do PT que resolveram dar as caras no protesto.
No início da Marcha, a PM provocava, levou dois rapazes presos sem qualquer razão. Um cometeu o crime de estar andando no meio do povo e foi arrastado para um canto pela PM. Outro ajudava um motorista de Trólebus a tirar o ônibus do meio da rua, foi preso por isso com imensa brutalidade.
PM/Choque atacando manifestantes na PRaça Roosevelt e na Augusta com imensa violência. Num carro uma mulher com uma criança chora em desespero. Com extrema brutalidade a PM prende um rapaz e, logo depois, um advogado que filmava e uutro rapaz que filmava a brutalidade. Escapei por pouco de ser preso. Muitos tiros, bombas e violência.
PM brutalizando na rua Augusta, atirando em jornalistas, em quem protestava, prendendo uma professora por protestar... Simplesmente violência insensata e sem qualquer motivo. Jornalistas foram encurralados e alvejados.
Mais cenas de violência na Av. Paulista. População gritando por paz, pedindo para a PM parar com a violência e sendo alvo de tiros, de bombas e gás. Desespero na Paulista.

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quinta-feira, 13 de junho de 2013

Fotos e vídeos da repressão contra o 3º protesto do Movimento Passe Livre

Vídeos e fotos da imensa repressão policial contra os manifestantes. Agressão, prisões arbitrárias, tiros, bombas e gás. Alckmin e Haddad são co-responsáveis por tudo.

Seleção de fotos no Flickr .

O início da marcha:
Brutalidade policial no Terminal PArque Dom Pedro
PM atirando no nada, na Sé, apenas para aparecer para as câmeras
Dois rapazes que apenas caminhavam pela Sé foram presos pela PM
As declarações do comandante da PM em dois momentos (e suas mentiras)
A violência extrema, desmedida e inaceitávee da PM pela Avenida Paulista. Tiros e gás para todos os lados.
Manifestantes são ATROPELADOS por um doente em um Fiat Uno. Depois a Globo, em seus jornais, "inocentou" o bandido atrás do volante dizendo que ele foi forçado a avançar.
No fim da manifestação chega a ROCAM e começa a espancar manifestantes e depois a Força Tática para "limpar" a área com mais tiros e gás.




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quarta-feira, 12 de junho de 2013

O protesto contra as tarifas de 11 de junho: Hoje foi maior e amanhã será maior ainda!


Cheguei na Avenida Paulista pouco antes das 6 da tarde, praticamente no começo da marcha que reunia, naquele momento, pelo menos 10 mil pessoas. O caminho inicial seria a Consolação até o centro, e nem a chuva forte que caiu poucos minutos depois intimidou os participantes, apesar de ter atrapalhado - e muito - os fotógrafos e equipes de TV.

Milhares de pessoas gritavam "vem, vem pra chuva vem, contra o aumento" e a alegria estava estampada na cara dos presentes que sabiam ter reunido um número imenso de participantes e, acima de tudo, sabiam da justeza de suas reivindicações.

Mas logo a marcha sofreu o primeiro racha.

O caminho decidido era o de descer o túnel da Radial Leste/Minhocão. Muitas pessoas, surpresas, se recusaram a descer. Muitas com medo de serem emboscados pela polícia - que acompanhava em grande número, com viaturas da força tática, motos e até um carro de bombeiros - desistiram e acabaram realizando um mini-protesto pela Praça Roosevelt e região.

Os que foram adiante caminharam até o viaduto da 23 de maio, quando o movimento empacou para decidir o caminho a seguir. Como nota pessoal, achei péssima a escolha da rota, pois atrapalhamos o trânsito na Radial (nada contra, só constatando), mas ficamos isolados do resto da cidade e com poucas opções de caminho a seguir.

Empacados, o trânsito voltou a correr, e acabamos seguindo pela Av. Liberdade até a Sé. Na Liberdade a animação dos presentes voltou à toda e a marcha, pouco menor que no começo, ainda era muito grande.

Caminhamos em direção ao Terminal Dom Pedro, numa marcha pacífica que, porém, quase viu o primeiro confronto (ou a primeira violência policial) quando um pequeno grupo resolveu atear fogo em um ônibus parado e vazio nas proximidades do terminal. De forma surpreendente a polícia se limitou a apagar o princípio de incêndio (ainda que o ônibus tenha sido quebrado e pichado) e não investiu contra os manifestantes. Provavelmente porque a maioria dos presentes se revoltou contra a atitude do pequeno grupo e muitos ajudaram a polícia a apagar o fogo que começava a tomar corpo.

Eu não tenho, em princípio, nada contra atear fogo a um ônibus (vazio, obviamente), o problema é fazê-lo apenas como provocação à polícia que, até aquele momento, tinha apenas acompanhado. E atear fogo quando a MAIORIA claramente não apoiava o ato.

Violência em manifestações é legítima, mas como resposta, não como incitação ou, no máximo, quando a maioria dos presentes está de acordo e há razões para o uso da violência.

Não há (havia) razão para incitar a violência da PM contra milhares de pessoas que protestam pacificamente e, naquele momento, com amplo apoio popular. Penso - posso estar errado, mas é minha opinião - ser contraproducente iniciar incêndios e "vandalizar" buscando uma resposta da polícia.

O correto, penso, é utilizar a violência e a resistência apenas quando atacados, não dando espaço para manipulações midiáticas (ou reduzindo sua capacidade de distorcer) e, acima de tudo, sem alienar a população.

Uma coisa é a justa revolta pela violência sofrida, outra é incitá-la CONTRA a maioria.

De forma alguma afirmo ou mesmo acho que a reação da PM é justificável, mesmo com o vandalismo, mas é inocência ou estupidez achar que não haverá reação e quem não tem nada a ver, quem não cobre a cara, não vai acabar apanhando.

Continuamos a marcha por mais alguns metros até o terminal, quando a marcha novamente estacou. Colegas jornalistas na cabeça da marcha disseram que o movimento demorou demais para decidir se invadiria o terminal, naquele momento com poucos policiais o guardando, e quando finalmente decidiram pela ação a força tática já havia chegado, e houve reação.

Pessoas na cabeça da marcha tentaram passar pela polícia e atiraram objetos e mesmo fogos, e a resposta foi o gás. Fomos perseguidos pela PM por todo o centro, até a catedral da Sé. Em dado momento centenas de policiais fechavam diversas ruas e enchiam de gás a Sé inteira, mas curiosamente atiravam no vazio ou mesmo em repórteres desgarrados. Um colega jornalista comentou ter ouvido de repórter da Globo, este falando a um PM, que eles queria imagens de conflito para ficar bonito na TV e daí a PM atirava bombas no vazio. Pura pirotecnia.

Após alguns minutos desta demonstração inútil de força, recebemos a informação de que um imenso grupo havia escapado ao cerco e se dirigia à Paulista via Brigadeiro. Pegamos o metrô, eu, uma amiga e alguns jornalistas, e fomos até o local.

Chegamos na Brigadeiro no exato momento em que milhares de pessoas (pelo menos 3 mil, acredito) paravam uma das vias da avenida.

Reparei que faltavam as tradicionais bandeiras dos partidos: PSOL, PCO, PSTU... Vi apenas uma ou outra do PCB e, creio, da LER-QI e uma quantidade imensa de encapuzados.

Faço esse comentário por notar que o "tom" do protesto mudou um pouco sem certo controle por parte dos partidos. Apesar de um ou outro incidente pontual antes da reação da PM, agora alguns grupos se sentiram mais livres para atuar. Talvez 20-30 indivíduos frente a milhares que ainda marchavam pacificamente.

Vi de perto uma agência do Bradesco e outra do Itaú terem os vidros quebrados com pedradas por um pequeno grupo, que recebeu o repúdio do grosso da manifestação. A polícia apenas acompanhou.

Este pequeno grupo se adiantou à cabeça da marcha e começou a parar o trânsito e, infelizmente, começou a ameaçar motoristas, chegando a quebrar um carro (ao menos o vidro traseiro e as lâmpadas traseiras ) que se viu preso no meio da marcha.

Chegando no MASP, a polícia tentou fazer um cordão de isolamento para que os manifestantes fossem para o Vão e lá ficassem, encerrando a marcha. Um grupo negociou com a PM, mas os encapuzados novamente tomaram a frente, começaram a xingar e a cercar e começou a confusão. Vi um rapaz ser preso - me informaram depois que ele tentou dar uma flor a um PM - e levado para a base da PM na frente do Parque Trianon e foi aí que a confusão começou.

Manifestantes jogaram objetos na polícia que jogou bombas no vão do MASP e na Paulista. Formou-se uma linha da Força Tática que cometeu talvez o grande erro da noite, deixou o grupo original de vândalos avançar em direção à Consolação derrubando lixeiras de concreto (outro grupo menor passou a levantá-las, recusando a ação que era puro vandalismo e não a construção de barricadas) e começou a atirar nos milhares que se manifestavam pacificamente e tiveram de correr em direção ao Paraíso onde, me contam, houve mais violência depois.

A polícia, completamente descontrolada, começou a atirar no meio de carros, apavorando a população e enchendo a Paulista com gás.

Algumas pessoas tentavam dialogar com os encapuzados que praticavam puro e desnecessário vandalismo, e a resposta deles era que eram "contra o Estado" e "contra a burguesia e o capitalismo".

Acho justo, mas este NÃO era o foco da manifestação. E não afirmo isto de forma leviana, mas para mostrar que haviam grupos que não compactuavam com o foco da marcha - redução das tarifas - e resolveu protestar por contra própria, por suas próprias razões, e todos pagamos o pato no final.

Quisessem usar lixeiras como barricada, justo. Parar o avanço da polícia era legítimo. Mas apenas derrubá-la, enquanto gritavam desafios ao vento não significava nada.

Estes inclusive protagonizaram uma cena ridícula ao xingarem uma equipe da TV Brasil achando que era a Record e continuando a xingar e até ameaçar com violência a equipe apesar deles gritarem que eram TV pública e não a Record ou qualquer outra.

Depois de dispersar este grande grupo, a PM se virou para nosso lado e começou a avançar, jogando gás e dando tiros de borracha em direção aos carros que tentavam desesperadamente fugir da região e apavorando quem ainda estava nos ônibus parados. A corrida durou até a Consolação, quando o grupo se dispersou.

Cerca de 30 pessoas, depois, se reuniram na esquina da Paulista com Haddock Lobo e pararam o trânsito. Equipes da Record e da Globo foram intimidadas por encapuzados, mas nada demais aconteceu. Enquanto o pequeno grupo tentava parar o trânsito em uma esquina larga, um fiat uno preto avançou à toda e atropelou pelo menos 3 pessoas, uma delas a 2 passos de mim. Felizmente ninguém ficou ferido, só escoriações.

A equipe da Globo gravou a cena e aparentemente a mostrou no Jornal da Globo. A placa do carro é EUZ1807 e, algum tempo mais tarde, passei a informação para o comandante da PM no local, que até o momento nada sabia.

É interessante que a PM tenha toda ido perseguir manifestantes no Paraíso e tenha deixado um atropelamento acontecer do outro lado. Ao invés de realizar seu trabalho, reprimia um protesto legítimo.

Pouco após o atropelamento, coisa de 20 minutos, chegaram as motos da ROCAM e começaram a descer a porrada nos manifestantes, prendendo um rapaz, Theo, que tinha a mochila lotada de bixigas com tinta. De quebra a ROCAM desceu o cacete no rapaz. Vergonhoso.

Chegou então o "reforço" da força tática que, com mais algum gás, "controlou" a situação e a marcha começou a finalmente dispersar.

A esta altura eram quase 11 da noite. Paramos a cidade por mais de 5 horas e pese a ação burra de alguns "revolucionários" (protestando por razões próprias em uma marcha que não era deles), foi um sucesso. Imensa, animada e persistente.

É difícil descrever a exultação de ver tanta gente que, mesmo depois de apanhar, tinha seguido valentemente pela Brigadeiro até a Paulista e continuava a gritar e reivindicar.

A violência usada pela PM foi, sob qualquer ponto de vista, excessiva, desproporcional. Não havia razão para perseguir a manifestação por todo o centro da cidade, nem usar a quantidade imensa de bombas e gás - e balas de borracha. Se por um lado havia uma presença considerável de vândalos que protestavam por razões completamente diferentes das reivindicações da marcha, razões aceitáveis e que concordo em grande parte, mas não cabiam naquela marcha, a PM simplesmente atirou em todos, violentou a todos e conseguiu PIORAR a situação.

Se o problema era a Paulista ocupada, já ao fim da marcha, a PM conseguiu espalhar o grande grupo em pequenos grupos revoltados com a agressão sofrida e que continuaram a "atrapalhar" o trânsito.

Da mídia, de quem não se esperava nada, não saiu nada. Criminalização, nenhum manifestante ouvido de verdade e a mesma ladainha de merda de sempre.

Quinta, dia 13 de junho (amanhã), as 17h no Teatro Municipal há uma nova manifestação, a quarta grande manifestação contra o aumento das tarifas. Estaremos todos lá de novo. E espero que sejamos mais que os dez mil de ontem! Que o protesto cresça!

Seremos milhares e iremos persistir em nossa luta.
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Mais tarde estarão no ar todas as minhas fotos, no Flickr, onde já é possível encontrar centenas de fotos dos protestos anteriores. E irei postar vídeos em meu canal do Youtube.
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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Ônibus, trilhos e possíveis soluções para o trânsito de São Paulo

Abismado com a falta de noção dos vários candidatos a prefeito de São Paulo com promessas mirabolantes de criar MAIS faixas exclusivas para ônibus de quilômetros e quilômetros para ligar extremos da cidade, não parei de pensar em soluções muito mais práticas e funcionais.

É fato que o metrô é lento para se construir e a cidade não pode esperar parada, mas há diversas outras alternativas sob trilhos que podem e merecem ser tentadas. Algumas até trazidas de volta à cidade.

Falo em bondes (VLTs), metrôs de superfície e semelhantes. E mesmo BRTs, sistemas de ônibus rápidos totalmnetne diferentes do feijão com arroz de "mais faixas exclusivas".

Hoje o metrô é o principal meio de transporte de longa e curta distância, ao passo que os ônibus acabam por vezes exercendo a mesma função. Ambos lotados. No caso dos ônibus, muitos são precários, lentos e se pode passar horas e horas parado nos intermináveis engarrafamentos.

Porque, então, não se pensar em diversificar os transportes da cidade?

Bondes (VLT) poderiam servir para o transporte dentro dos bairros, junto com ônibus e micro-ônibus, ao passo que ao invés de apenas criar mais faixas de ônibus - um transporte relativamente lento, passível de mais acidentes e etc - poderíamos pensar em VLTs e em metrôs de superfície concorrendo no espaço ou mesmo tirando espaço de carros e deixando vias exclusivas para o transporte público via trilho e asfalto.

Na Europa, bondes estão por todo lugar.

Desde os que param em sinais vermelhos e funcionam quase como ônibus - ainda que mais organizados, maiores, com horários mais corretos - até os mais rápidos, sempre com ligação ao sistema rodoviário e aos metrôs (quando existem) e se pensarmos que a população de cidades como Amsterdã ou Budapeste é infinitamente menor que a daqui, podemos chegar à conclusão de que em bairros e cercanias poderíamso ter satisfatoriamente sistemas de bondes concorrendo com os de ônibus, pois as populações seria semelhantes e haveria mais de uma modalidade para abarcar (e embarcar) estas populações.

Para grandes distâncias dependemos do metrô, mas ao invés de faixas exclusivas de ônibus e fura-filas, podemos ter metrô de superfície ou outras modalidades sob trilhos mais rápidas para se construir e mais rápidas para se locomover - e mais seguras e confortáveis. Monotrilhos são uma boa pedida, e mesmo BRT's, que não são a mesma coisa que simples ônibus em faixa exclusiva.

Esbarramos, claro, no preço - trilhos acabam sendo mais caros para produzir - e na máfia dos transportes, além do que sempre é mais demorada a troca/implantação de um modelo sob trilhos. Ficam muito melhor na fita dos políticos pavimentar uma rua e comprar 200 ônibus - para ficarem parados em fila nos engarrafamentos - que demorar um pouco mais e construir algo duradouro e melhor.

Apenas visualizem - para os que são de São Paulo - a parada da Faria Lima, no cruzamento com a Rebouças, às 18h. não importa que existma dois lados para "descarregar e carregar" passageiros, há sempre uma imensa fila de ônibus esperando sua vez. É fato que na faixa exclusiva se anda mais rápido - em relação aos carros ao lado - mas ainda assim este "rápido" é lento, trabalhoso, e poderia melhorar.

Imaginemos o centro da cidade. Em ruas com uma única pista, poderíamos restringir a passagem de carros e liberar para ônibus e bondes. Em duas pistas a mesma coisa, bonde e ônibus cada um em sua faixa e eventuais carros (moradores da região, por exemplo, taxis, ambulâncias...) e com três psitas teríamos uma para carros e uma para cada outra modalidade.

A questão é incentivar o uso do sistema de transporte público que teria mais opções, diferentes velocidades e com as diferentes distâncias a ser percorridas por cada modalidade, quem apenas quer atravessar o centro (via bonde) não precisaria competir com quem quer ir pra longe, seja de ônibus ou de metrô.


Claro que precisaríamos ter uma grande sincronização entre os diferentes meios de transporte, assim como convergências de pontos finais e de conexão, mas não é algo inimaginável. Mas seria necessário um prefeito e um governador interessados em encarar a empreitada que causaria transtornos no começo, mas compensaria no futuro.

Recomendo que leiam este ótimo artigo da Carta Capital sobre o assunto que acabeid escobrindo após escrever emu artigo. Nele, há uma análise sobre a necessidade de novos modelos - VLT, BRT, Monotrilhos, etc -e de diversificação.

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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Pedágio Urbano: O lucro sem fim da prefeitura de São Paulo

Muito interessante o artigo de Marcelo Cardinale Branco na Folha de sábado, em especial quando este critica a "cultura rodoviarista" do Brasil em uma cidade onde o transporte público vai do péssimo ao precário. Falar em investimento público nos transportes é mais fácil do que efeivamente fazer alguma coisa, e isto nós que vivemos em São Paulo sabemos muito bem.

Em alguns momentos cheguei a gargalhar, tamanho o absurdo do discurso do capacho do Kassab:
A discussão sobre limitação de tráfego nas cidades deve ser realista e objetiva. 
Já começou errado. Com Kassab, PSD, PSDB e cia isso não é possível.
Para minimizar os custos associados à circulação de veículos individuais, o caminho mais efetivo é favorecer a utilização do espaço pelo transporte público, aperfeiçoar e ampliar o transporte de massa, disciplinar e restringir o tráfego, inclusive com cobrança de pedágio urbano, e retirar da região central os veículos de cargas pesadas. 
Sem dúvida a intenção é SEMPRE a de minimizar os custos para o Estado, repassá-los ao povo e garantir o lucro da iniciativa privada. Nisto se encaixam as estradas privatizadas (ok, concedidas) do estado, nos aeroportos concedidos (novamente a novilingua do PSDB/PT) por Dilma e por aí vai. Em que momento o povo lucrará com tais ações? Nunca.

Continuamos a pagar impostos para melhoria das estradas, mesmo as privadas e o dinheiro das "concessões" nunca ninguém viu (a não ser os donos de meia dúzia de contas na suíça e afins) e, no caso dos aeroportos, o Estado arcará com uma parte imensa do valor das concessões, perderemos controle sobre importante aspecto de nossa soberania e, de quebra, poderemos enfrentar subida de preços nas taxas praticadas.

É um jogo em que nós sempre perdemos.
Isso levará à redução dos congestionamentos, o que tornará o transporte por ônibus mais atrativo, com maior oferta de lugares, velocidade e conforto.
Nesta parte eu até engasguei. De fato, sem carros o congestionamento será menor, não é preciso ser gênio, mas notem: MENOR. Nada garante que acabe(m). Mas NADA nesse mundo tornará atrativo o transporte de ônibus da forma como ele é hoje. Pagamos absurdos 3 reais mesmo que para andar 500 metros (e hoje sabemos que 500 metros pode levar até 2 horas a depender da hora) e os ônibus estão constantemente lotados. Sem carros a tendência (uma obviedade que só "administradores" públicos com motorista particular não notam) é a de que os ônibus fiquem MAIS cheios, tornando o que hoje é insuportável, um calvário com direito à momentos de puro desespero.

A parte do conforto eu nem levo em conta, vou fingir que de tanto rir e engasgar estava com os olhos cheios de lágrimas e não li tamanho absurdo. E quanto ao aumento de oferta, mais uma piada de péssimo gosto.

O que está por trás disto é simples: Lucro para patrocinadores dos políticos ligados ao Kassab, PSDB e, claro, PT - wannabe aliado de Kassab.

O lucro para os amigos do rei com os pedágios nem precisa ser analisado. São milhões, até bilhões em benesses eternas, sem grandes custos ou exigências, uma verdadeira farra. O Estado passa a economizar com fiscalização, manutenção de ruas e etc e isto o digníssimo secretário nem fez questão de esconder:
Em São Paulo, por décadas, os recursos públicos para manter as ferrovias ou investir no transporte de massa e nos corredores de ônibus foram inexistentes ou escassos. Pareceu sempre mais econômico abrir e ampliar estradas e avenidas e deixar que os interessados procurassem os meios de locomoção.
E sejamos honestos, os investimentos em transporte público continuarão escassos. Mera questão de observação.

Voltando aos lucros, os donos de estacionamentos irão prosperar como nunca, assim como a prefeitura e amigos que pode ter seus laranjas dominando redes de estacionamentos e, claro, é sempre possível criar, no entorno das áreas de pedágio, uma imensa área azul, garantindo mais alguns bilhões à pobre prefeitura paulistana.

É mais dinheiro para corrupção, para os amigos e aspones em geral.

Teremos pedágios privados para garantir o lucro de empresários e o entupimento final dos parcos serviços públicos à nossa disposição, com metrô e ônibus na casa dos três reais (e logo virão novos aumentos injustificáveis), quanto sairá o pedágio?

Quem mora mais longe do centro terá de pegar seu garro, gastando gasolina e demais custos do mesmo, estacionar perto de alguma praça de pedágio onde acredita-se haverá acesso a transporte público e então chegar ao trabalho. Pagará pelo carro e pelo transporte público e pelo estacionamento ou área azul para deixar seu carro. Ou então pagará o pedágio e dada a qualidade (sic) do transporte coletivo, muitos preferirão pagar, para a alegria da prefeitura e seus quarenta ladrões, que lucrará como nunca.

Nem vale entrar também num ponto óbvio, que é o seguinte: Porque a prefeitura e seus aspones ficam colocando a culpa no transporte individual para investir no coletivo? É preciso TIRAR carros da rua para que a prefeitura e demais governos invistam em ônibus e metrô? Não seria mais inteligente investir em qualidade e conforto no coletivo para que, assim, as pessoas tivessem motivos para largar o individual?

Claro que tem gente que simplesmente quer ter seu carro e dane-se o mundo, e os constantes incentivos federais à indústria de carros - que parece ser nossa única - pioram a situação das grandes cidades, as entupindo ainda mais, mas será que uma parcela IMENSA não estaria disposta a usar o transporte coletivo se este tivesse o mínimo de qualidade?

Mas é mais fácil, muito mais fácil buscar formas de nos roubar para fingir que estão investido em qualidade de vida e transporte coletivo. ao invés de buscar limitar à força o uso do transporte individual, que tal tornar o coletivo atraente?

Às vezes só podemos rir da incompetência e desfaçatez de nossas "administradores" públicos

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Atualização:

Qual não foi minha surpresa ao descobrir que Dilma acaba de aprovar lei que prevê pedágios urbanos pelo país como forma de incentivar o transporte público. Como se vê, a estupidez Kassabiana é contagiosa. Ao inv´s de investir em transporte público de qualidade para servir como incentivo à troca do transporte individual pelo coletivo, faz-se o contrário, proíbe-se o individual para superlotar o já lotado, saturado e péssimo transporte coletivo.
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quinta-feira, 12 de abril de 2012

Direção alcoolizada: Apenas parte do problema em meio à ausência de alternativas

Sei que estarei sendo simplista neste texto, mas acredito que preciso comentar sobre um dos aspectos - dos vários - que reforçam o uso do carro por pessoas potencialmente embriagadas, causando os acidentes e mrotes que nós já, infelizmente, estamos acostumados a ver.

Falo da completa ausência de alternativas - durante a noite e madrugada - de transporte público (de qualidade). Em muitos casos depois da meia noite até 4-5 da manhã não há efetivamente nenhum alternativa, não há ônibus ou metrô disponível, e muitos "points" de bares - como a Vila Madalena, em São Paulo - são pessimamente servidos por transporte público a qualquer hora do dia.

Há em alguns momentos/lugares a total falta de transporte público e em outros a ineficiência cmpleta daqueles que prestam serviço nos locais mais badalados.

Ampliar penas e multas para quem bebeu e está dirigindo, como vem sendo discutido pela Câmara não faz nada além de ampliar uma criminalização muitas vezes inócua. Já se viu que pouco tempo depois da lei mais dura passar a valer os índices de acidentes, de apreensões e afins continuam altos. A violência no trânsito não diminui devido a estas medidas - talvez - draconianas.

Temos uma mania persistente de achar que tudo no país se resolve através de leis e de medidas duras, de punição simplesmente, mas não damos nenhuma alternativa viável para que se evite cometer o crime/infração.

Direção alcoolizada muitas vezes não é uma opção, não é algo que o motorista simplesmente decide. "Hoje eu vou dirigir bêbado porque é legal". Muitas vezes a pessoa vai num bar, na casa de um amigo e não tem como voltar para casa. Numa cidade como São Paulo em que já se paga absurdos em um bar, não é factível esperar que se percorra grandes distâncias em um taxi com bandeira 2. A "solução" é dirigir, torcer para não ser pego e, claro, para não fazer nenhuma besteira.

É óbvio que não aprovo tal comportamento, tão somente descrevo a realidade.

É óbvio que apenas transporte público de qualidade, 24h por dia, não resolve ou resolverá todos os problemas. Há sempre o playboy que quer exibir seu carro, há o total inconsequente, e quem simplesmente não queira seguir a lei porque pouco se importa com ela.

É uma questão até engraçada considerar que estar bêbado torna-se um crime no momento em que se entra num carro - mas não em qualquer outra situação -, mas em nenhum momento alguém - poder público - para para pensar que cabe também a ele tomar medidas não apenas punitivas para evitar o "problema".

É muito mais fácil punir, condenar e lavar as mãos, colocar todos os problemas apenas em irresponsabilidade e na bebida - que é uma droga lícita, com aval do Estado, é sempre bom lembrar, e até incentivada, visto que o governo faz questão de agradar a FIFA liberando bebida em estádios, logo, fazendo propaganda de seu uso - do que enxergar a profundidade da questão.

O que se vê é a total falta de preocupação com alternativas e com solução. Pune-se o motorista (novamente, não digo que está certo beber e dirigir), mas não se oferece nenhuma alternativa.

Acredito ser necessário pensar em alternativas, em ampliação do transporte público durante à noite, em campanhas sérias de conscientização que possam ir além da mera criminalização e medo de punição e em medidas para reforçar que direção alcoolizada é, antes de tudo, um perigo para o pedestre e também para o motorista, mais do que apenas pintar o motorista como um assassino inconsequente - mas consciente.

Claro que ainda seria necessário uma série de medidas como reformar a polícia - é muito fácil escapar de punição com uma not de 20 ou 50 dadas a um guarda -, reformar o transporte público que é um lixo mesmo durante o dia, reformar a cidade e evitar a concentração de polos de lazer em poucos locais obrigando s pessoas a grandes deslocamentos e por aí vai.
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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Lugar de pobre é na rua, andando...

...e não no transporte "público".

Aliás, "público"? Um direito de todos? Garantido pelo Estado?

Não em São Paulo, e sem dúvida não em muitos outros estados e cidades.

No final do ano tivemos o segundo aumento de tarifas do ano (sim, a tarifa do ônibus sobre duas vezes, mas a do trabalhador só uma - e olhe lá!), e agora chegou a vez de mais um reajuste, só que desta vez dos trens e metrô.


Do mesmo metrô lotado, ineficiente e sujo (e agora com linha privatizada e precarização de mão de obra) e trens que servem à população obrigada a andar MUITO para chegar até a cidade (normalmente de classe mais baixa e que terá imensa dificuldade em pagar as novas tarifas) e que normalmente precisam combinar o trem com outro tipo de transporte para chegar a seu destino final.

Mas isto pouco importa pra prefeitura e para o governo do estado. Se o governo não se preocupa sequer em evitar enchentes, porque iria se preocupar com o direito de ir e vir e o direito a um transporte de qualidade e acessível para o povo?

O sistema público de transportes em São Paulo é um lixo. Pra dizer o mínimo. Ônibus lotados, poucos corredores de ônibus, trânsito insuportável, poucas linhas para lugares cruciais, metrô com malha ridiculamente pequena, e por aí vai. Mas, mesmo assim, pagamos proporcionalmente a um serviço de luxo.
Engravatados da av. Paulista estão mais apertados dentro do metrô do que moradores de Carapicuíba, Itapevi ou Itaquaquecetuba, na Grande SP, que usam trens para ir ao centro da capital.

O efeito "lata de sardinha", com que a periferia convive há anos, atingiu a linha 2-verde a ponto de a lotação encostar no limite do que é considerado aceitável, informa a reportagem de Alencar Izidoro publicada na edição desta segunda-feira da Folha (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL)

Ela saiu de um patamar de 4,7 passageiros por m2, em 2009, para 5,9 por m2, em 2010, nos horários mais críticos do dia. O nível máximo de desconforto projetado é de seis usuários por m2.

A lotação da linha 2 do metrô nos picos passou a ser pior que a de três das seis linhas de trens que atendem a periferia.
O Blog Festival de Besteiras da Imprensa acertou em cheio, é o programa "Vá a pé" do governo de São Paulo (cidade e estado). A classe média deve estar pensando neste momento em como é sortuda! De uma só vez conseguiu expulsar a pobretada dos ônibus (que eles pegam em dia de rodízio, claro) e do metrô!

Realmente é coisa de gênio. O partido que sempre governa pros ricos (o DemoTucanato, que não pode ser entendido senão como um partido só) encontrou uma forma de aumentar ainda mais o apartheid social. Com esses preços o pobre via ter que decidir se vai de transporte público (sic) ou se volta, porque os dois tá difícil!

A inflação do ano passado foi de 5,83% e apenas no SEGUNDO aumento do ano do ônibus o absurdo foi de 11%, basicamente o DOBRO. Se contarmos o primeiro aumento de 2010, de 17%, só podemos ficar abismados com um aumento de quase CINCO vezes a inflação.

Junto a isso, mais um aumento do metrô. Agora de 2,56 pagaremos absurdos 2,90! Pegar um ônibus e um metrô ou trem (ida e volta) custará ao trabalhador 11,80, praticamente o valor de um almoço! Se contarmos cerca de 22 dias úteis por mês, o trabalhador gastará perto de 260 reais apenas para se locomover.

E para quem vier falar da tal integração ônibus/metrô, lembro que o trânsito e as distâncias muitas vezes inviabilizam para muitos esse "arrego" do governo.

E, apesar de tudo isto, ninguém fala nada. 3, 4 mil estudantes vão às ruas, a população até se mostra simpática... Mas os índices de aprovação do Kassab continuam altos. Os do Alckmin na mesma. Eles continuam a se eleger, o DemoTucanato continua forte - e agora Kassab vai pro PSB, tem apoio do PCdoB... E o povo? Na merda - literalmente!

Agora o Paulistano e o Paulista que precisa vir à São Paulo, se for pobre, poderá se beneficiar de uma boa caminhada de algumas horas, no meio de um delicioso ar poluído, porque o transporte público é para quem pode pagar, não é um direito.
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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Comitê de luta contra o aumento das passagens de ônibus realiza manifestação nesta quinta-feira

Comitê de luta contra o aumento das passagens de ônibus realiza manifestação nesta quinta-feira
 
Será realizada nesta quinta-feira, 03/02, mais uma manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo. A concentração começa às 17h00, no vão livre do MASP. O ato é organizado pelo Comitê de luta contra o aumento.

Histórico: a jornada de luta contra o aumento contou com cinco manifestações em 24/11, 16/12, 13/01, 20/01 e 27/01. No dia 13, mais de mil manifestantes marcharam pelo centro da cidade e sofreram forte repressão policial com gás lacrimogênio, balas de borracha e bombas de efeito “moral”, com saldo de 31 detidos e ao menos 10 feridos. Mesmo assim, a população paulistana voltou às ruas em uma marcha na Avenida Paulista, que contou com mais de três mil participantes. No último ato, os manifestantes decidiram refazer o trajeto que havia lhes sido impedido pela repressão policial no dia 13. Dessa vez, com mais de 4 mil manifestantes, o trajeto pode ser concluído.

O Comitê de luta contra o aumento está sendo construído como um espaço de articulação de movimentos sociais, organizações políticas, sindicatos e indivíduos que tem como intuito barrar o aumento da tarifa no transporte público de São Paulo.


ATO PÚBLICO CONTRA O AUMENTO DA TARIFA
Quinta-feira, 03 de fevereiro
Concentração às 17h00, no vão livre do MASP (Avenida Paulista). 

Mais informações:
Pedro Lopes – 9996 1963
Marco Magri – 9272 1918

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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O Trânsito, sempre o maldito trânsito ou a criminalização do direito ao protesto

Já há muito que eu venho notado - e comentado - sobre a capacidade incrível dos jornalões de tentarem retirar a legitimidade de todo e qualquer protesto que não seja do interesse deles (protesto de cansados, de estudantes manipulados anti-ENEM e etc) sempre através da mesma desculpa: Atrapalhou o trânsito.

A magistral música de Chico Buarque "Construção" me vem logo à mente. E não é à toa. Não importa o protesto, a morte, o problema é morrer na contra-mão atrapalhando o tráfego. É protestar e impedir o direito divino da classe média e da elite de sair do trabalho em seus carros e passar "só" 2h no trânsito, parados.

2h e meia é demais, um disparate! Para um bando de baderneiros protestar por coisas absurdas como Passe Livre, contra aumento de passagens, por dignidade, contra a Homofobia, por salário.... Que absurdo!

Pois bem, que jornalões com interesses claros - ainda que finjam imparcialidade (e nós fingimos acreditar) - continuem com esses absurdos de a cada protesto reclamar do trânsito não surpreende, o problema é quando um blog de respeito começa a repetir a mesma ladainha.

Criminalização do protesto

Pierre Lucena, no Acerto de Contas, faz uma enquete perguntando aos leitores se estes concordam com os protestos que param o trânsito, discordam ou concordam com exceções.

De início, a situação já impõe um complicador: Estamos falando de protestos pequenos, onde se via para a rua para ter visibilidade, ou de protestos com milhares de pessoas que, invariavelmente, precisariam ocupar as ruas para caber a todos?

Nem entrei ainda no mérito da legitimidade, apenas do tamanho. Se tomarmos o segundo caso como modelo, toda a idéia de "concordar" ou "discordar" se torna inviável.

Mas, entrando na legitimidade, pergunto: Porque seria o trânsito mais importante que reivindicações legítimas? Porque o suposto "direito" de pessoas se locomoverem está acima do direito de quem quer se locomover, mas não tem direito?

Em São Paulo a coisa é ainda mais engraçada. Difícil achar quem leve menos de 1h para chegar em casa, se chover o tempo pode chegar até 2, 3, 4h ou até mais, e está tudo bem, é a vida. Mas se perdem mais 10 minutos, mais meia hora porque alguém está protestando para que TODOS tenham o mesmo direito a se locomover aí não pode.

O início...

O artigo do Pierre no Acerto de contas foi uma resposta a outro, no mesmo blog, do Robson Fernando (que escreve no Arauto da Consciência), que criticava a posição do Diário de Pernambuco (grande jornal de Pernambuco junto com o Jornal do Commercio) de, como Folha, Globo, Estadão e cia, se preocuparem mais com o trânsito do que com o protesto em si, com as razões.

O Diário, aliás, foi ainda mais criminoso e tendencioso do que eu poderia imaginar, muito pior até que a Folha em seus "bons" momentos. Leiam o post do Robson e sintam nojo.

Comentários ponto a ponto
 
Mas, voltando ao caso, Pierre retira totalmente a legitimidade dos protestos ao sequer questionar a validade dos mesmos. É intolerável. Além disso, pra piorar, ainda faz um comentário sobre a "liberdade de imprensa" que só podemos apontar e rir.
Antes de tudo, é preciso deixar claro que o jornal tem o direito de se posicionar como quiser. Inclusive, acredito ser um avanço o jornal emitir opinião a respeito de um tema, sem ficar sob a máscara da imparcialidade.
Começar o texto com este comentário grotesco já praticamente invalida os argumentos seguintes, mas sejamos valentes. Acho engraçado alguém achar bom um jornal opinar, que ele tenha este "direito", levando em conta que é basicamente isso que eles fazem, ou melhor, o que só fazem. Mas, pergunte aos editores e donos e eles dirão que são imparciais. Esta é a liberdade de Empresa, que querem chamar de imprensa. A liberdade de dizer que é imparcial mas dizer o que bem lhe convém - sempre contra os movimentos sociais.

Seria lindo se os jornais não se limitassem a dar só sua opinião e não proibissem a todos os demais o mesmo "direito" garantido unicamente por seu poder econômico. Mas, quando convém, dizem que não é opinião, é imparcialidade pura! E nós acreditamos....
Mas voltando ao assunto, no ano passado tivemos vários protestos que pararam a cidade. Tivemos desde alguns mais conhecidos, como o protesto do MST, fechando a Agamenon, até o pitoresco #caosnopina, quando um grupo de moradores da Comunidade do Bode resolveram fechar a Herculano Bandeira para protestar pela prisão do traficante da região.
Outro ponto engraçado é querer comparar protestos legítimos com bandidagem. É a típica tática dos jornalões de péssima qualidade do país.

O MST para o trânsito para exigir reforma agrária, qualidade de vida, respeito, apuração de crimes cometidos contra os sem-terra... Mas deve ser tão legítimo quanto o "protesto" em defesa de um traficante - que, aliás, merece julgamento justo e apuração dos supostos crimes.
O que estes protestos têm em comum? O fechamento de vias públicas, causando transtorno à população que precisa se deslocar.
Pois é, só isto que tem em comum. Nenhuma discussão além. É isto que fazem os jornalões, a não ser quando o Cansei resolve sair às ruas, ou de repente a Liga das Senhoras Católicas resolve reeditar a Marcha da Família com Deus....
Esta semana tivemos o protesto do aumento das passagens, que promete continuar por mais alguns dias. Obviamente também fechou algumas vias de tráfego, causando grande transtorno a quem precisa se deslocar. E para aqueles que pensam que causam transtornos apenas aos que estão de carro, é preciso dizer que a maioria dos atingidos está dentro dos péssimos ônibus que circulam pela nossa cidade.

E, nossa, estudantes pararam o trânsito para protestar contra a passagem de ônibus que MUITOS não poderão pagar. Cada vez que se aumenta a passagem a exclusão também aumenta.

É extremamente mesquinho - para dizer o mínimo - se preocupar mais com sua locomoção do que com direitos básicos e fundamentais para boa parte da população - como o MST ter direito à terra ou os estudantes a ter condições de se locomover num transporte decente.

E essa noção de "não interessar à maioria" é relativo. Por mais que muitos não participem do protesto, uma manifestação contra o aumento de passagens beneficia à todo o conjunto da sociedade.

Sim, ninguém nega que o protesto cause transtorno, mas se limitar a isto para então deslegitimar um protesto é ridículo. É a típica tática da elite que quer e precisa manter a população excluída e a todo custo deslegitimar suas lutas para, então, se manter no poder e ser a única com acesso aos direitos que deveriam ser de todos.

E voltando novamente ao tema do post, a pergunta correta é: até que ponto os protestos são justos, quando causam transtorno à maioria da população, que não necessariamente tem interesse no protesto?
Dizer que o fato de causar por um lado transtorno não significa, por outro, que a reivindicação não atinja a toda a população. Estamos falando de protestos por direito ao transporte, um direito de todos, mas que é negado a cada vez mais pessoas graças aos sucessivos aumentos de passagem.

Conclusão

Em São Paulo estamos passando pela mesma situação, aliás, com uma passagem de 3 reais e um custo vergonhoso e assustador mensal para o trabalhador. E o protesto último foi recebido por balas da polícia de São Paulo.



A criminalização do protesto acaba nisso: Violência policial sem qualquer resposta. Legitima a violência contra a população, não importa quais sejam as razões. Será que é ilegítimo o protesto, mas não há problema na repressão?
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Em São Paulo repressão, estudantes rendidos (aqui, aqui e aqui) e obrigados a apagar fotos e vídeos da repressão policial e em João Pessoa também violência policial contra manifestantes pelo Passe Livre e contra os aumentos das passagens.

Vejam o que me enviou o pessoal do Movimento Passe Livre:
A manifestação marcada para a tarde de hoje contra o aumento da tarifa de ônibus, organizada pelo Movimento Passe Livre de São Paulo, começou com clima de descontração. Muitos estudantes e militantes de diversas entidades cantavam e tocavam com muita animação. Após sair pacificamente em passeata, os cerca de mil manifestantes percorreram diversas ruas do centro da cidade divulgando a luta para a população.
Ao chegar à praça da República, no entanto, os presentes viram um pequeno tumulto com policiais transformar-se em desculpa para o início de agressiva repressão, majoritariamente pela Força Tática. A violência atingiu rapidamente maiores proporções, apesar das tentativas dos manifestantes de se reunir e retomar a caminhada pacífica. Bombas de gás lacrimôgenio e de efeito-moral foram lançadas indiscriminadamente contra o protesto, assim como atiradas balas de borracha, que atingiram até mesmo repórteres e fotógrafos. Sprays de pimenta e cassetetes também foram usados para agredir diversas pessoas. Apesar de apenas uma pessoa ter sido detida durante o ato, outras 30 foram presas um bom tempo após a dispersão, enquanto caminhavam pelo centro em grupos menores e procuravam conhecidos. As 31 encontram-se encarceradas no 3º DP. Até agora foram contabilizados cinco feridos.
O Movimento Passe Livre de São Paulo marcou para o próximo sábado (15) um debate com tema “Por que lutar por um transporte público?” às 15h no espaço Ay Carmela! (R. Das Carmelitas, 140 – Sé). A próxima manifestação foi convocada para o dia 20 de janeiro (quinta-feira), com concentração às 17h na esquina da R. da Consolação com a Av. Paulista.

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É óbvio que, com a posição tendenciosa (independente? faz-me rir) da mídia a criminalização acaba se entranhando mesmo nas camadas que seriam beneficiadas pelo protesto, ou melhor, pelo resultado satisfatório do protesto.

Mas, claro, porque isto importaria à elite? Só seria um problema se a empregada não pudesse mais chegar na casa do patrão. Até lá, que a exclusão seja mantida e os protestos criminalizados.

Quando um blog passa a defender a mesma posição criminosa e elitista da grande mídia, começo a me preocupar. Temos um problema.

Colocar o direito divino de alguns chegarem rápido (sic) em casa acima do direito a que TODOS possam ter acesso ao transporte e, enfim, chegar em casa, é inaceitável.

Só pra completar, fotos do protesto em Recife.
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