quinta-feira, 31 de maio de 2012

Brasil: O país da classe média de 300 reais!

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Como muitos dos meus leitores sabem, sou bolsista de mestrado - por mais um ou dois meses, acredito - e ganho algo em torno de 1500 reais. Se eu não pagasse praticamente o mesmo (um pouco mais, na verdade) para a Cásper Líbero eu teria de viver com este exato valor. Por sorte recebo ajuda da família e vivo com minha namorada, que banca algumas despesas e ganha bem mais que isso.

Mas vejamos, com 1500 reais eu deveria poder pagar meu transporte (com passagens a 3 reais), comprar livros (comprei pelo menos 60 livros durante o mestrado, pois é praticamente impossível encontrar livros sobre o que eu estudo no Brasil, em bibliotecas acessíveis), me vestir, comer todos os dias (de preferência), fazer compras, pagar aluguel/prestação, condomínio, luz, telefone, internet, água, gás...

Lazer? Bem, esqueça, mestrando em geral não tem dinheiro para lazer.

Enfim, teria de manter uma casa com o valor irrisório de 1500 reais.

Mas, segundo a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, eu que ganho 1500 dilmas por mês sou... RICO! Tudo bem, eu seria da "baixa classe alta", mas ainda assim, rico!

Vejam o absurdo:
As pessoas com renda familiar per capita entre cerca de R$ 291 e R$ 1.019 são as que formam a classe média brasileira, segundo uma nova definição aprovada ontem por uma comissão da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República).
De acordo com a secretaria, essa classe representa 54% da população brasileira e é a maior do país.
Dentro da classe média, foram definidos três grupos: a baixa classe média, com renda familiar per capita entre R$ 291 e R$ 441, a média, com renda familiar per capita de R$ R$ 441 a R$ 641 e a alta classe média, cuja renda familiar per capita fica entre R$ 641 e R$ 1.019.
A classe alta estaria acima de R$ 1.019 e também foi dividida em dos grupos. A baixa classe alta ficaria entre R$ 1.019 e R$ 2.480 e a alta, que fica acima deste valor.
Os extremamente pobres têm renda per capita familiar até R$ 81 e os pobres, de R$ 81 a R$ 162. 
Em outras palavra... Pois é, não tenho nem palavras!

Uma pessoa que ganha a miserabilidade de 291 reais por mês, MUITO menos que o salário mínimo, é considerado "classe média" pelo governo. Assim é muito fácil dizer que somos um "país de classe média" quando colocamos alguém que ganha o "suficiente" pra não morrer de fome (e ainda tenho minhas dúvidas) como classe média que, em tese, seria uma classe mais privilegiada, com algum acesso à educação, bens de consumo e etc...

Estamos falando de pessoas em situação de penúria colocados artificialmente na classe média, enquanto quem ganha um salário igualmente ruim de 2 mil reais virou rico!

Deve ser aforma de Dilma criminalizar greves, mostrando como ganham bem os funcionários públicos nesta faixa, ou os professores de federal, que ganham 3-4 mil iniciais até seus 7 mil. São marajás!

Mas nada se fala dos salários iniciais do judiciário, ou mesmo os cargos de aspones do governo federal, estadual e municipal, que ganham o triplo que um professor com uma década de estudos a mais.

Não é possível chegar a outra conclusão que não a de que o governo ao invés de melhorar efetivamente o padrão de vida da população, preferiu fabricar índices para mascarar sua incapacidade. Não, amigos, quem ganha 300 reais não é classe média, quem ganha 300 reais vive em uma situação de desespero. Quem ganha 1500 reais também não tem esse padrão de vida todo, não com os preços das coisas e exigências outras.

Estamos muito, mas MUITO, longe de um padrão aceitável de vida, tanto para quem Dilma considera de classe média, quanto pra quem ela considera rico. Experimente ganhar 3 mil reais (riquíssimo para os padrões do governo Lula/Dilma) e ter que colocar um filho em escola particular de qualidade, de idiomas, viver numa casa confortável, ter um carro, ter momentos de lazer... Não, simplesmente não dá.

Mas a falta de qualidade e o jeitinho são características de um governo que acredita que dar bolsas para estudar na Uniban é garantir educação para a população, que passar por cima da biodiversidade e dos direitos humanos é "progresso".

Agora eu posso ver os "avanços" do governo Dilma, este imenso país de classe média. Ao invés dos salários crescerem, das pessoas terem mais direitos, garantias e condições de vida, mais fácil rebaixar os índices e fingir que quem era pobre ontem, agora virou rico, não porque ganha mais, mas porque os índices "se adequaram à realidade".

E tome ufanismo e fanatismo dos que são pagos pra apoiar! É realmente muito fácil encher a boca e "comemorar" que somos todos de classe média. O pior de tudo? Não é piada, mas apenas mais um insulto a nossa inteligência.

Dentro em pouco seremos um país de classe média faminta e totalmente privatizado, mas de um jeito inovador. ao invés de apenas vender empresas públicas, Dilma resolveu inovar.

A moda agora é privatizar a aposentadoria, tornar os salários de certas categorias onde há imensa presença do setor privado em algo irrisório e tornar poibitivo para qualquer pessoa ser funcionária pública, pois o etor privado, por pior que seja, se tornará mais atrativo (ou o público será tão tosco que nem valerá a pena). E não achem que estou delirando, basta ver como Dilma trata dos professores e, agora, os médicos do SUS, que tiveram seus salários reduzidos pela metade com uma canetada.

Tudo para a alegria dos tubarões do ensino da uniban e semelhantes e para as ma´fias dos planos de saúde e hospitais particulares.
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