Mas vejamos, com 1500 reais eu deveria poder pagar meu transporte (com passagens a 3 reais), comprar livros (comprei pelo menos 60 livros durante o mestrado, pois é praticamente impossível encontrar livros sobre o que eu estudo no Brasil, em bibliotecas acessíveis), me vestir, comer todos os dias (de preferência), fazer compras, pagar aluguel/prestação, condomínio, luz, telefone, internet, água, gás...
Lazer? Bem, esqueça, mestrando em geral não tem dinheiro para lazer.
Enfim, teria de manter uma casa com o valor irrisório de 1500 reais.
Mas, segundo a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, eu que ganho 1500 dilmas por mês sou... RICO! Tudo bem, eu seria da "baixa classe alta", mas ainda assim, rico!
Vejam o absurdo:
As pessoas com renda familiar per capita entre cerca de R$ 291 e R$ 1.019 são as que formam a classe média brasileira, segundo uma nova definição aprovada ontem por uma comissão da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República).Em outras palavra... Pois é, não tenho nem palavras!
De acordo com a secretaria, essa classe representa 54% da população brasileira e é a maior do país.
Dentro da classe média, foram definidos três grupos: a baixa classe média, com renda familiar per capita entre R$ 291 e R$ 441, a média, com renda familiar per capita de R$ R$ 441 a R$ 641 e a alta classe média, cuja renda familiar per capita fica entre R$ 641 e R$ 1.019.
A classe alta estaria acima de R$ 1.019 e também foi dividida em dos grupos. A baixa classe alta ficaria entre R$ 1.019 e R$ 2.480 e a alta, que fica acima deste valor.
Os extremamente pobres têm renda per capita familiar até R$ 81 e os pobres, de R$ 81 a R$ 162.
Uma pessoa que ganha a miserabilidade de 291 reais por mês, MUITO menos que o salário mínimo, é considerado "classe média" pelo governo. Assim é muito fácil dizer que somos um "país de classe média" quando colocamos alguém que ganha o "suficiente" pra não morrer de fome (e ainda tenho minhas dúvidas) como classe média que, em tese, seria uma classe mais privilegiada, com algum acesso à educação, bens de consumo e etc...
Estamos falando de pessoas em situação de penúria colocados artificialmente na classe média, enquanto quem ganha um salário igualmente ruim de 2 mil reais virou rico!
Deve ser aforma de Dilma criminalizar greves, mostrando como ganham bem os funcionários públicos nesta faixa, ou os professores de federal, que ganham 3-4 mil iniciais até seus 7 mil. São marajás!
Mas nada se fala dos salários iniciais do judiciário, ou mesmo os cargos de aspones do governo federal, estadual e municipal, que ganham o triplo que um professor com uma década de estudos a mais.
Não é possível chegar a outra conclusão que não a de que o governo ao invés de melhorar efetivamente o padrão de vida da população, preferiu fabricar índices para mascarar sua incapacidade. Não, amigos, quem ganha 300 reais não é classe média, quem ganha 300 reais vive em uma situação de desespero. Quem ganha 1500 reais também não tem esse padrão de vida todo, não com os preços das coisas e exigências outras.
Estamos muito, mas MUITO, longe de um padrão aceitável de vida, tanto para quem Dilma considera de classe média, quanto pra quem ela considera rico. Experimente ganhar 3 mil reais (riquíssimo para os padrões do governo Lula/Dilma) e ter que colocar um filho em escola particular de qualidade, de idiomas, viver numa casa confortável, ter um carro, ter momentos de lazer... Não, simplesmente não dá.
Mas a falta de qualidade e o jeitinho são características de um governo que acredita que dar bolsas para estudar na Uniban é garantir educação para a população, que passar por cima da biodiversidade e dos direitos humanos é "progresso".
Agora eu posso ver os "avanços" do governo Dilma, este imenso país de classe média. Ao invés dos salários crescerem, das pessoas terem mais direitos, garantias e condições de vida, mais fácil rebaixar os índices e fingir que quem era pobre ontem, agora virou rico, não porque ganha mais, mas porque os índices "se adequaram à realidade".
E tome ufanismo e fanatismo dos que são pagos pra apoiar! É realmente muito fácil encher a boca e "comemorar" que somos todos de classe média. O pior de tudo? Não é piada, mas apenas mais um insulto a nossa inteligência.
Dentro em pouco seremos um país de classe média faminta e totalmente privatizado, mas de um jeito inovador. ao invés de apenas vender empresas públicas, Dilma resolveu inovar.
A moda agora é privatizar a aposentadoria, tornar os salários de certas categorias onde há imensa presença do setor privado em algo irrisório e tornar poibitivo para qualquer pessoa ser funcionária pública, pois o etor privado, por pior que seja, se tornará mais atrativo (ou o público será tão tosco que nem valerá a pena). E não achem que estou delirando, basta ver como Dilma trata dos professores e, agora, os médicos do SUS, que tiveram seus salários reduzidos pela metade com uma canetada.
Tudo para a alegria dos tubarões do ensino da uniban e semelhantes e para as ma´fias dos planos de saúde e hospitais particulares.