Mostrando postagens com marcador Classe Média. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Classe Média. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Movimento Passe Livre: A juventude acordou, e o PT não é mais referência

Quando Lula foi eleito, eu tinha 17 anos.

Eu sabia quem eram os tucanos e, mesmo militando no PSTU na época, fiz campanha e votei no Lula.

Eu já tinha sido militante do PT, como quase todos os meus amigos de colégio, no movimento estudantil, mas acabei aderindo ao PSTU, partido no qual militei até pelo menos 2007 e, desde então, tenho me mantido apartidário apesar de, nunca escondi, ter simpatia pelo PSOL (o que não me impediu de fazer campanha para candidatos do PT ao legislativo ou de ter, me arrependo amargamente, votado na Dilma na eleição passada).

Digo isto, pois devido à minha militância, que vem de família, eu sabia quem era FHC e o que era o PSDB. Venho de uma família de sindicalistas do Banco do Brasil e Caixa e, até então, nenhum governo havia sido mais nocivo a esta categoria - e outras - quanto FHC.

Ou seja, eu vivi os anos FHC e, mesmo ainda na adolescência, vi seus efeitos em primeira mão. O discurso do "mal maior" ou do "era pior com os tucanos" fazia - felizmente não mais - efeito sobre mim.

E fez efeito sobre muita gente por muito tempo.

"Todo dia milhões de trabalhadores,
quando ligam a sua televisão,
a Globo mostra apenas coisas boas e esconde toda a podridão.
O ministro que parecia santinho,
já mostrou que faz parte da armação.
Primeiro foi Collor,
agora é Henrique,
e continua a exploração.
Já congelou, o salário que eu sei.
E me enganou, que eu vi no replay.
A Globo é quem manda no FHC,
não deixe ele enganar você"
Musiquinha que o pessoal do PT cantava quando eu era criança, contra FHC. Nunca esqueci.

O doloroso é que ainda faça algum efeito, mesmo depois de 10 anos de um governo com mais semelhanças que diferenças ao anterior, e com elementos-chave muito piores. Uma das únicas diferenças entre PT e PSDB que, no entanto, vem diminuindo, é o fato do PT bater, mas alisar antes, ou bater mais leve, sabendo que bater por mais tempo tem um efeito melhor do que dar logo uma porrada. Em outras palavras, o PSDB chega de sola, o PT finge ser seu amigo.

Não vou negar os avanços que conquistamos com o PT, como as cotas, o ProUni, o Bolsa Família e etc, mas critico o viés de tais projetos, que foram feitos com o único intuito de criar mercado consumidor e salvar a pele de investidores e empresários. Sem educação universalizada, não importa quantas cotas queiram impor, as mudanças serão cosméticas. Não importa colocar milhões de jovens na faculdade, se ela for no nível Uniban. Não importa que as pessoas possam comprar microondas, se o usam em uma casa sem saneamento básico e muito menos importa que possam comprar carros do ano e se endividar porque os juros estão (supostamente) baixos, já que ficarão presas no trânsito e ao banco.

Sim, há uma melhora na autoestima, isso é ótimo. Sim, há de fato melhora pontual na qualidade de vida, mas, infelizmente, é pontual, especialmente se considerarmos a ridícula barreira inferior aos 300 reais para se chegar à sonhada Classe Média (a mesma que Chauí e outros petistas atacam com violência).

Mas, chegando no ponto central deste artigo, preciso dizer que a juventude de hoje não conheceu FHC.

A juventude de hoje tinha 5-6 anos quando Lula foi eleito, viveram toda sua infância e adolescência sob o Lulismo. Hoje os jovens que chegam à universidade nasceram em 1994, 1995, são indiferentes ao tucanato no poder federal. A desculpa de um "mal maior" tem efeito muito mais restrito nesses jovens que não engolem, por sua vez, o papo do "pleno emprego", que são jogados como gado em universidades de péssima qualidade ou que veem seus professores entrar em greve e serem criminalizados.

A "esquerda" que o PT diz representar não encontra contraponto no PSDB que, para os jovens, é apenas imaginário.

Sim, em São Paulo todos sabem quem é Alckmin, Serra e o PSDB no poder, mas também sabem o que é o PMDB no poder (caso do Rio) e veem no PT de hoje um partido com o qual não se identificam, enfim, veem hoje o PT no poder e não pensam em termos de "é diferente do PSDB", mas sim que não é aquilo que buscam, que querem ou sonham.

Os jovens não lembram do governo Erundina, a vitrine que o PT hoje só usa para justificar seus absurdos, mas se recusa a resgatar seus bons projetos, como a Tarifa Zero.

Existe muito referencial teórico e pouca coisa palpável para que a juventude, como fazem os militantes fanáticos petistas, vejam no PT a alternativa que o partido prega ser.

Os jovens cresceram com o PT no poder federal e o PSDB no poder estadual e, ouço isso de muitos, não vêem diferenças significativas entre os dois.

E daí vem parte da explicação para o crescimento de um movimento que já existia, que esteve nas ruas em 2011 e antes, que é o MPL - apesar de tentativas torpes de petistas fanáticos de pregar um revisionismo histórico burro e irresponsável e fingir que 2011 nunca existiu.

O movimento em torno da redução das tarifas e do Passe Livre vai muito além destas reivindicações. A repressão da PM do PSDB e a conivência da prefeitura do PT fez apenas eclodir a revolta popular entre os jovens e contagiou os mais velhos. Jovens que não se importam se estão protestando contra o PT ou o PSDB, pois não enxergam em nenhum deles uma alternativa.

E não se enganem, nem todos participando dos protestos do MPL são de esquerda, há gente do PSDB revoltada com o Alckmin. Há gente apartidária e liberal nos protestos e muita gente apartidária de esquerda e, claro, há os partidários.

O Márvio fez um comentário impecável em seu blog:
Falar que as manifestações que perturbam a ordem em São Paulo, Rio e outras cidades são causadas apenas por uma diferença de R$ 0,20 é uma bobagem. É ater-se apenas a um dos sintomas de um perigo muito maior e corrosivo, que é a perda do controle da inflação.

Talvez estejamos assistindo ao primeiro grande protesto popular contra a desvalorização da moeda, o aumento trotante de preços e inconscientemente contrário à política econômica do governo Dilma. E é nisto que talvez tais protestos o representem, leitor, ligue você para os 20 centavos a mais na passagem ou não.

Economistas explicam assim o atual processo inflacionário: a melhor partilha da renda trouxe mais pessoas ao consumo – o que é ótimo –, mas não incentivou de maneira sólida a produção industrial, as exportações, a competitividade. A produção freou; o consumo não. Preços sobem, perde-se a noção do valor do dinheiro. Gasta-se mais, cobra-se mais ainda.
Não penso que a inflação seja razão única ou principal, mas vem junto, mas agrega. Estamos diante de um movimento que inicialmente pregava redução das tarifas e uma discussão mais ampla sobre a cidade, seu uso e os direitos da população, para uma discussão ampla da sociedade e de outros aspectos.

Nos grupos que convocam manifestações há debates sobre a ampliação de pautas, a inclusão da discussão sobre a PEC37, sobre cotas, sobre consumismo, sobre questão indígena, educação....

É um movimento que se expande e que não encontra amarras e cujos partidos tradicionais e especialmente os partidos no poder tem pouca ou nenhuma ingerência. É autônomo, horizontal e nasce (e cresce) de forma absolutamente espontânea.

O PT não irá conseguir contê-lo apelando para sua história, que para a maioria dos jovens é irrelevante e distante.

O importante para nós é não apenas fortalecer o movimento, mas conseguir somar pautas e ampliar as reivindicações e, talvez, até conseguir criar uma mobilização permanente que transcenda os tópicos iniciais de reivindicação.

É interessante, e penso que o movimento já conseguiu uma vitória importante: Mobilizou não apenas a juventude, mas uma parcela imensa de pessoas que nunca protestaram, ou que sempre acompanharam de longe. Recebi convites e comentários - e conheço dezenas de pessoas que tiveram a mesma grata surpresa - de pessoas insuspeitas, que nunca foram às ruas, que nunca sequer simpatizaram com mobilizações como as do MPL, mas que, devido à brutalidade policial e também às pautas, passou a aderir e mesmo querer participar.

A juventude acordou, e com ela muitos estão indo atrás. E o PT não é mais a referência deste jovens, pelo contrário, virou, junto com o PSDB, um inimigo a ser combatido.
------

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Brasil: O país da classe média de 300 reais!

Como muitos dos meus leitores sabem, sou bolsista de mestrado - por mais um ou dois meses, acredito - e ganho algo em torno de 1500 reais. Se eu não pagasse praticamente o mesmo (um pouco mais, na verdade) para a Cásper Líbero eu teria de viver com este exato valor. Por sorte recebo ajuda da família e vivo com minha namorada, que banca algumas despesas e ganha bem mais que isso.

Mas vejamos, com 1500 reais eu deveria poder pagar meu transporte (com passagens a 3 reais), comprar livros (comprei pelo menos 60 livros durante o mestrado, pois é praticamente impossível encontrar livros sobre o que eu estudo no Brasil, em bibliotecas acessíveis), me vestir, comer todos os dias (de preferência), fazer compras, pagar aluguel/prestação, condomínio, luz, telefone, internet, água, gás...

Lazer? Bem, esqueça, mestrando em geral não tem dinheiro para lazer.

Enfim, teria de manter uma casa com o valor irrisório de 1500 reais.

Mas, segundo a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, eu que ganho 1500 dilmas por mês sou... RICO! Tudo bem, eu seria da "baixa classe alta", mas ainda assim, rico!

Vejam o absurdo:
As pessoas com renda familiar per capita entre cerca de R$ 291 e R$ 1.019 são as que formam a classe média brasileira, segundo uma nova definição aprovada ontem por uma comissão da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República).
De acordo com a secretaria, essa classe representa 54% da população brasileira e é a maior do país.
Dentro da classe média, foram definidos três grupos: a baixa classe média, com renda familiar per capita entre R$ 291 e R$ 441, a média, com renda familiar per capita de R$ R$ 441 a R$ 641 e a alta classe média, cuja renda familiar per capita fica entre R$ 641 e R$ 1.019.
A classe alta estaria acima de R$ 1.019 e também foi dividida em dos grupos. A baixa classe alta ficaria entre R$ 1.019 e R$ 2.480 e a alta, que fica acima deste valor.
Os extremamente pobres têm renda per capita familiar até R$ 81 e os pobres, de R$ 81 a R$ 162. 
Em outras palavra... Pois é, não tenho nem palavras!

Uma pessoa que ganha a miserabilidade de 291 reais por mês, MUITO menos que o salário mínimo, é considerado "classe média" pelo governo. Assim é muito fácil dizer que somos um "país de classe média" quando colocamos alguém que ganha o "suficiente" pra não morrer de fome (e ainda tenho minhas dúvidas) como classe média que, em tese, seria uma classe mais privilegiada, com algum acesso à educação, bens de consumo e etc...

Estamos falando de pessoas em situação de penúria colocados artificialmente na classe média, enquanto quem ganha um salário igualmente ruim de 2 mil reais virou rico!

Deve ser aforma de Dilma criminalizar greves, mostrando como ganham bem os funcionários públicos nesta faixa, ou os professores de federal, que ganham 3-4 mil iniciais até seus 7 mil. São marajás!

Mas nada se fala dos salários iniciais do judiciário, ou mesmo os cargos de aspones do governo federal, estadual e municipal, que ganham o triplo que um professor com uma década de estudos a mais.

Não é possível chegar a outra conclusão que não a de que o governo ao invés de melhorar efetivamente o padrão de vida da população, preferiu fabricar índices para mascarar sua incapacidade. Não, amigos, quem ganha 300 reais não é classe média, quem ganha 300 reais vive em uma situação de desespero. Quem ganha 1500 reais também não tem esse padrão de vida todo, não com os preços das coisas e exigências outras.

Estamos muito, mas MUITO, longe de um padrão aceitável de vida, tanto para quem Dilma considera de classe média, quanto pra quem ela considera rico. Experimente ganhar 3 mil reais (riquíssimo para os padrões do governo Lula/Dilma) e ter que colocar um filho em escola particular de qualidade, de idiomas, viver numa casa confortável, ter um carro, ter momentos de lazer... Não, simplesmente não dá.

Mas a falta de qualidade e o jeitinho são características de um governo que acredita que dar bolsas para estudar na Uniban é garantir educação para a população, que passar por cima da biodiversidade e dos direitos humanos é "progresso".

Agora eu posso ver os "avanços" do governo Dilma, este imenso país de classe média. Ao invés dos salários crescerem, das pessoas terem mais direitos, garantias e condições de vida, mais fácil rebaixar os índices e fingir que quem era pobre ontem, agora virou rico, não porque ganha mais, mas porque os índices "se adequaram à realidade".

E tome ufanismo e fanatismo dos que são pagos pra apoiar! É realmente muito fácil encher a boca e "comemorar" que somos todos de classe média. O pior de tudo? Não é piada, mas apenas mais um insulto a nossa inteligência.

Dentro em pouco seremos um país de classe média faminta e totalmente privatizado, mas de um jeito inovador. ao invés de apenas vender empresas públicas, Dilma resolveu inovar.

A moda agora é privatizar a aposentadoria, tornar os salários de certas categorias onde há imensa presença do setor privado em algo irrisório e tornar poibitivo para qualquer pessoa ser funcionária pública, pois o etor privado, por pior que seja, se tornará mais atrativo (ou o público será tão tosco que nem valerá a pena). E não achem que estou delirando, basta ver como Dilma trata dos professores e, agora, os médicos do SUS, que tiveram seus salários reduzidos pela metade com uma canetada.

Tudo para a alegria dos tubarões do ensino da uniban e semelhantes e para as ma´fias dos planos de saúde e hospitais particulares.
------

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A #Horadoplaneta, ou a estupidez do "consumismo cool"

O fenômeno da #Horadoplaneta é apenas um “gancho”, mas se encaixa perfeitamente em outros (ou todos) os movimentos de sofá promovidos pela classe média para tentar mudar o mundo sem sair do lugar.

Por mudar o mundo, compreende-se o de fazê-los ter mais tempo ou mais possibilidades de consumir, passando a ideia de que o fazem de forma responsável, mesmo que, no fim, não mude em nada as relações de produção ou mesmo a mentalidade classe mediana de seus impulsores.
Consumo ou consumismo sem culpa. Uma contrapartida inócua que, de quebra, ainda os fazem sentir-se como parte de um grupo que se importa com o mundo — mas não com as pessoas.
"A #Horadoplaneta é tipo, vamos criticar consumismo, mas só por 1h enquanto usamos nosso iPad para dizer ao mundo o quanto cool nós somos."
Tuitei isso em resposta a um camarada, no Twitter, que disse: "Vem cá, lógico q apenas isso ñ ajuda em nada, mas qual o problema de aproximar pessoas ao tema e fazê-las repensar p/ serem + sustentáveis?".
Se não ajuda em nada, já temos um problema, pois a ideia é vendida como se desse algum resultado. Só isto resolverá metade dos problemas do mundo.
Mas, não pensemos em termos de "sucesso material" e sim na ideia de "fazer repensar para serem mais sustentáveis". Isto, meus amigos, é o novo mantra do "ambientalismo de butique" que Marina Silva vende tão bem. No caso dela realmente de butique, lembram-se da Natura. Ela ainda carrega um algo mais de exotismo, ao juntar o fanatismo evangélico na jogada, mas é apenas para atrair ainda mais adeptos.
É aquele ambientalismo que joga tinta em modelos com casacos de pele, mas usa camisas descoladas de empresas com trabalho escravo. Mas a camisa foi feita com algodão orgânico — plantado por crianças pobres da Guatemala. Não agride à natureza — só ao ser humano.

É a substituição do ser humano pelos animais, em alguns casos, como uma ONG que surgiu das trevas ha algum tempo defendendo o suicídio coletivo da humanidade para não criarmos problemas para a natureza. Até hoje não sei se era "séria". Até onde o termo permite, claro.

A hora do planeta passa a mensagem de que as pessoas — e não as grandes companhias — são responsáveis pelos problemas de "sustentabilidade", de energia, de água e etc. É a ideia de que meia dúzia de adolescentes são responsáveis pelas agruras do mundo e que, apagando a luz por uma hora, ou usando papel higiênico duas vezes, dos dois lados, vão mudar o mundo, quando o problema está em todo um modelo econômico e na gestão dos meios de produção.

A ideia central deste ambientalismo cool é que você nem precisa sair de casa pra mudar o mundo. Pode apenas tuitar que fez a diferença enquanto apaga a luz — mas usa baterias de lítio no celular — e muda o mundo.

Pra que sair às ruas e exigir uma mudança efetiva de sistema? Ou melhor, a maioria sequer sabe o que significa o sistema capitalista! O interesse é usar uma "ecobag" com alguma marca chique, mostrar pras amigas e amigos e esperar pelo lançamento do mais novo iPod ou iPad no mercado. Mas sempre exigindo que estes consumam menos energia ou não maltratem os cavalos exóticos da Mongólia — mas se for trabalho escravo de crianças na China não tem problema, eles tem muitas crianças lá!

Este tipo de "manifestação" passa a imagem errada de "revolução do sofá", sem crítica ao modelo e ao consumismo em si. Na verdade sem crítica alguma que faça a diferença.

Artigo completo pode ser lido na Revista Bula.

------
------

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Preço Justo Já e a falta de crítica da classe média #PrecoJusto

Felipe Neto é um camarada que faz sucesso na internet ao postar vídeos em que, com linguagem carregada de palavrões, mas não sem certa inteligência, critica a tudo e a todos (e sem precisar de milhões em incentivos, viu Maria Bethânia?).

No vídeo que virou a campanha #Precojusto ele corretamente protesta contra os impostos abusivos que pagamos por basicamente tudo, sem recebermos absolutamente nada em troca. Nossa saúde é uma lástima, nossa educação pública é uma piada, segurança é risível (e segurança é encarada como "bater em pobre" apenas).... Concordo com ele na crítica à imbecil campanha contra a pirataria promovida pelo governo. Mas não só pelo preço dos produtos devido aos impostos, mas como crítica à indústria em si.

Tudo correto. Revolta correta - ele ainda, no começo, comenta que a única coisa que "fazemos" é protestar no Twitter. Bingo! Realmente, o estilo classe-média de protesto é achar que sentar no sofá e xingar nas redes sociais muda o mundo.

O grande problema do vídeo, porém, é a ampla generalização dos políticos, colocados todos no mesmo grupo: corruptos e canalhas. E, claro, o de se basear na noção divina do "direito ao consumo", sem qualquer tipo de crítica.

Os protestos classe-medianos tem, todos, uma configuração muito semelhante, não importam as intenções: Colocam a política institucional num limbo completo. Não presta, não serve.

Há, entre a juventude, a idéia firme de que partidos políticos são o mal para o país, são o problema único. Na verdade, boa parte do problema é que este distanciamento acaba por abrir exatamente o espaço que estes partidos precisam para fazer das suas. É exatamente essa ojeriza por grande parte da juventude, os afastando da política institucional, que facilita aos partidos com elementos corruptos roubar descaradamente.

E, ao mesmo tempo, cria-se a aura de que política e política institucional são a mesma coisa. Trata-se de uma juventude classe-mediana facilmente manipulável e óbvia.

Não acreditam na política institucional e, como consequência, se afastam de toda e qualquer política, tornando-se presas fáceis para manipuladores experientes.

Me lembra muito absurdos como o #ForaSarney, de 2009, em que pseudo-celebridades resolveram protestar contra o Sarney, como se ele tivesse aparecido para a política apenas naquele ano. A manipulação midiática sobre o "protesto" era clara. Adolescentes alienados que em sua maioria nunca haviam ouvido falar em Sarney foram levados por sub-celebridades da estirpe de Tico Santa Cruz (quem?) a protestar Sarney não nasceu em 2009, não nasceu aliado de Lula.

Não lembro do DEM ou da Veja apoiarem protestos contra Sarney quando este era aliado de FHC. Isso diz tudo. Semelhanças com o Cansei não são coincidência.

Caso semelhante foi o da quantidade imensa de votos de Marina Silva nas últimas eleições. Tradicionalmente alheios à política tradicional (e em muitos casos qualquer política), foram seduzidos pelo discurso pseudo-ambientalista tão em moda da candidata, legítima representante do atraso (neo)pentecostal.

Trate-se, enfim, de modismo, de ser "hype", de estar ligado ao assunto do momento. A classe média, vazia politicamente, precisa encontrar um tema, um grupo, algo para se destacar e ao mesmo tempo fazer parte de um grupo, uma comunidade. E, facilmente manipuláveis, estes jovens são atraídos pelas idéias e pessoas que brilham mais, que conseguem fazê-los pensar que podem ser "legais" sem mudar nada em suas vidas.

É o velho "fique rico sem fazer esforço", mas neste caso ao invés de rico, você fica "popular".

No fim das contas, o que poderia ser uma reclamação justa e honesta contra os impostos e contra a péssima qualidade dos serviços prestados pelo Estado (aí também entram os péssimos serviços prestados pelas empresas que foram privatizadas, mas neste ponto a classe média não toca), acaba se tornando uma besteira tremenda.

E, lembrando, não toca no ponto principal, que não são os impostos em si o problema, mas sim a "socialização" dos impostos. Rico não paga imposto no país. O problema não é a classe média pagar imposto, mas pagar demais enquanto os ricos não pagam quase nada e, no fim, pouco lhes importa a carga tributária, pois ou ganham o suficiente para não se preocupar com isso ou simplesmente sonegam.

A grande questão a ser debatida não é em si a carga tributária, mas QUEM paga.. E, claro, nem pensar na "campanha" tocar em outros problemas, como o valor dos salários, a precarização do trabalho que também influem na questão.

Segundo Felipe Neto, o problema não é do povo, a culpa não é do povo, mas dos políticos.

Errado.

A culpa também é do povo que vota nos políticos canalhas - em muitos casos SABENDO disso, ou Maluf não seria eleito - e do povo que não fiscaliza, que não participa e mesmo dos que não votam não por ideologia, mas por achar que são só um bando de canalhas. Depois ficam reclamando no Twitter.

É difícil você ter o discernimento para escolher um bom candidato quando se passa fome, quando um saco de arroz faz tanta diferença que você vende seu voto esperando não morrer de fome. Mas qual a justificativa da classe média estudada em colégio particular e que sempre teve de tudo, senão a tentativa de manter seus privilégios e garantir outros?

Política, meus caros, não é só votar, ainda que faça parte, mas ir às ruas, se politizar, compreender o mundo que os cerca, participar de organizações da sociedade civil, de debates no movimento estudantil... Não é fazer parte de um grupo que quer salvar as focas da patagônia achando que vão mudar o mundo, mas participar de conselhos locais, nas escolas, na faculdade... Não é fácil, te afasta do Wii e do PlayStation, mas é isto que faz a diferença.

Aliás, para terminar, alguém duvida que se o objetivo da campanha fosse criticar o preço do arroz e feijão e não do iPad ou dos videogames a classe média way of life não daria a mínima?

A idéia central é o consumo. Não se trata do básico, mas daquilo que os diferencia do resto, da patuléia. A indústria não é a culpada, mas o governo e os impostos. O governo, controlado em muitos casos pelos interesses da... indústria! Cujos industriais fazem de tudo para garantir que não pagarão os impostos e os repassarão para a classe média e para os pobres!

Aliás, convido os revoltados a ir pesquisar como são os impostos na escandinávia. Pois é. Ninguém diz que os impostos no país não são abusivos - eles são -, o problema é o quão deslocada é a crítica. Ou melhor, a crítica alienada que beira o absurdo.

Ser "cool" e descolado pra classe média alienada é protestar unicamente por aquilo que lhe interessa diretamente. Felipe Neto, porém, tem razão, o poder está nas mãos do povo. Mas pena que engajamento só exista quando há reflexos pessoais imediatos.

---
Atualização: O blog Imprença fez uma postagem interessante sobre o assunto.
------