quarta-feira, 6 de junho de 2012

Pedágio Urbano: O lucro sem fim da prefeitura de São Paulo

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Muito interessante o artigo de Marcelo Cardinale Branco na Folha de sábado, em especial quando este critica a "cultura rodoviarista" do Brasil em uma cidade onde o transporte público vai do péssimo ao precário. Falar em investimento público nos transportes é mais fácil do que efeivamente fazer alguma coisa, e isto nós que vivemos em São Paulo sabemos muito bem.

Em alguns momentos cheguei a gargalhar, tamanho o absurdo do discurso do capacho do Kassab:
A discussão sobre limitação de tráfego nas cidades deve ser realista e objetiva. 
Já começou errado. Com Kassab, PSD, PSDB e cia isso não é possível.
Para minimizar os custos associados à circulação de veículos individuais, o caminho mais efetivo é favorecer a utilização do espaço pelo transporte público, aperfeiçoar e ampliar o transporte de massa, disciplinar e restringir o tráfego, inclusive com cobrança de pedágio urbano, e retirar da região central os veículos de cargas pesadas. 
Sem dúvida a intenção é SEMPRE a de minimizar os custos para o Estado, repassá-los ao povo e garantir o lucro da iniciativa privada. Nisto se encaixam as estradas privatizadas (ok, concedidas) do estado, nos aeroportos concedidos (novamente a novilingua do PSDB/PT) por Dilma e por aí vai. Em que momento o povo lucrará com tais ações? Nunca.

Continuamos a pagar impostos para melhoria das estradas, mesmo as privadas e o dinheiro das "concessões" nunca ninguém viu (a não ser os donos de meia dúzia de contas na suíça e afins) e, no caso dos aeroportos, o Estado arcará com uma parte imensa do valor das concessões, perderemos controle sobre importante aspecto de nossa soberania e, de quebra, poderemos enfrentar subida de preços nas taxas praticadas.

É um jogo em que nós sempre perdemos.
Isso levará à redução dos congestionamentos, o que tornará o transporte por ônibus mais atrativo, com maior oferta de lugares, velocidade e conforto.
Nesta parte eu até engasguei. De fato, sem carros o congestionamento será menor, não é preciso ser gênio, mas notem: MENOR. Nada garante que acabe(m). Mas NADA nesse mundo tornará atrativo o transporte de ônibus da forma como ele é hoje. Pagamos absurdos 3 reais mesmo que para andar 500 metros (e hoje sabemos que 500 metros pode levar até 2 horas a depender da hora) e os ônibus estão constantemente lotados. Sem carros a tendência (uma obviedade que só "administradores" públicos com motorista particular não notam) é a de que os ônibus fiquem MAIS cheios, tornando o que hoje é insuportável, um calvário com direito à momentos de puro desespero.

A parte do conforto eu nem levo em conta, vou fingir que de tanto rir e engasgar estava com os olhos cheios de lágrimas e não li tamanho absurdo. E quanto ao aumento de oferta, mais uma piada de péssimo gosto.

O que está por trás disto é simples: Lucro para patrocinadores dos políticos ligados ao Kassab, PSDB e, claro, PT - wannabe aliado de Kassab.

O lucro para os amigos do rei com os pedágios nem precisa ser analisado. São milhões, até bilhões em benesses eternas, sem grandes custos ou exigências, uma verdadeira farra. O Estado passa a economizar com fiscalização, manutenção de ruas e etc e isto o digníssimo secretário nem fez questão de esconder:
Em São Paulo, por décadas, os recursos públicos para manter as ferrovias ou investir no transporte de massa e nos corredores de ônibus foram inexistentes ou escassos. Pareceu sempre mais econômico abrir e ampliar estradas e avenidas e deixar que os interessados procurassem os meios de locomoção.
E sejamos honestos, os investimentos em transporte público continuarão escassos. Mera questão de observação.

Voltando aos lucros, os donos de estacionamentos irão prosperar como nunca, assim como a prefeitura e amigos que pode ter seus laranjas dominando redes de estacionamentos e, claro, é sempre possível criar, no entorno das áreas de pedágio, uma imensa área azul, garantindo mais alguns bilhões à pobre prefeitura paulistana.

É mais dinheiro para corrupção, para os amigos e aspones em geral.

Teremos pedágios privados para garantir o lucro de empresários e o entupimento final dos parcos serviços públicos à nossa disposição, com metrô e ônibus na casa dos três reais (e logo virão novos aumentos injustificáveis), quanto sairá o pedágio?

Quem mora mais longe do centro terá de pegar seu garro, gastando gasolina e demais custos do mesmo, estacionar perto de alguma praça de pedágio onde acredita-se haverá acesso a transporte público e então chegar ao trabalho. Pagará pelo carro e pelo transporte público e pelo estacionamento ou área azul para deixar seu carro. Ou então pagará o pedágio e dada a qualidade (sic) do transporte coletivo, muitos preferirão pagar, para a alegria da prefeitura e seus quarenta ladrões, que lucrará como nunca.

Nem vale entrar também num ponto óbvio, que é o seguinte: Porque a prefeitura e seus aspones ficam colocando a culpa no transporte individual para investir no coletivo? É preciso TIRAR carros da rua para que a prefeitura e demais governos invistam em ônibus e metrô? Não seria mais inteligente investir em qualidade e conforto no coletivo para que, assim, as pessoas tivessem motivos para largar o individual?

Claro que tem gente que simplesmente quer ter seu carro e dane-se o mundo, e os constantes incentivos federais à indústria de carros - que parece ser nossa única - pioram a situação das grandes cidades, as entupindo ainda mais, mas será que uma parcela IMENSA não estaria disposta a usar o transporte coletivo se este tivesse o mínimo de qualidade?

Mas é mais fácil, muito mais fácil buscar formas de nos roubar para fingir que estão investido em qualidade de vida e transporte coletivo. ao invés de buscar limitar à força o uso do transporte individual, que tal tornar o coletivo atraente?

Às vezes só podemos rir da incompetência e desfaçatez de nossas "administradores" públicos

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Atualização:

Qual não foi minha surpresa ao descobrir que Dilma acaba de aprovar lei que prevê pedágios urbanos pelo país como forma de incentivar o transporte público. Como se vê, a estupidez Kassabiana é contagiosa. Ao inv´s de investir em transporte público de qualidade para servir como incentivo à troca do transporte individual pelo coletivo, faz-se o contrário, proíbe-se o individual para superlotar o já lotado, saturado e péssimo transporte coletivo.
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