segunda-feira, 15 de abril de 2013

O que podemos compreender/aprender da eleição venezuelana?

Pin It
Nicolás Maduro não é, nem de longe, Hugo Chávez.

Apoiá-lo, porém, torna-se necessário frente a uma oposição que, por décadas, manteve a Venezuela no mais completo atraso. Neoliberais, fascistas, uma elite racista e preconceituosa que por décadas se apegou ao poder e pensou jamais largar. Uma elite que ha mais de uma década não sabe o que é ter o poder. E por isso deram até golpe.

Mas, constatar o perigo que representa a direita venezuelana não significa ficar totalmente satisfeito com o que a esquerda apresentou. Chávez era um líder nato, Maduro é apenas o que restou de anos de personalismo de um líder que se considerava invencível e que não preparou sua base e nem conseguiu encontrar um sucessor à altura. Não conseguiu ou mesmo não quis.

O grande problema do Chavismo é, em si, o Chavismo, ou seja, o culto à personalidade de um líder e não a força de um movimento político organizado. E a eleição última, com a vitória apertada de Maduro sobre Capriles (51% a 49% arrendondados), é a prova de que o povo votava em Chávez, mas não em si na ideologia Chavista. Votavam no líder, se identificavam com o líder, mas não com sua base institucional/ideológica.

Mesmo com todos os problemas que o país ainda enfrentava, o povo via em Chávez o líder que resolveria os problemas. Maduro não é Chávez, e isto resume muita coisa.

Em 2007, quando Chávez ganhou seu referendo com 50% dos votos ele disse, textualmente, que era um "triunfo de mierda". Ele sabia que o país estaria dividido e que seria difícil governar.

A história se repete. Maduro terá pela frente um governo complicado depois de uma "vitória de merda" em que a oposição se fortaleceu a tal ponto que Capriles se recusa a reconhecer o resultado.

Foram, fala-se, menos de 300 mil votos de diferença.

Falar em fraude é uma besteira, se assim fosse a margem provavelmente teria sido maior, garantindo assim um governo (mais) fácil e evitando exatamente todo o processo de recontagem e de dúvidas.

Se por um lado o caudilhismo e o culto à personalidade de líderes carismáticos (Perón, Vargas, etc) é um traço da política latinoamericana, por outro Maduro buscou reforçar esta característica, chegando ao ponto de "receber" um pássaro que, segundo ele, era o próprio Chávez que dizia que a vitória estava garantida.

Criou-se, com total respaldo dos dirigentes remanescentes do PSUV, um culto quase religioso (senão religioso em si) em torno de Chávez. E um culto perigoso especialmente para o Chavismo, visto que enaltece a figura de um líder, mas não ajuda (como não ajudou) a reforçar seu legado e impulsionar seu sucessor.

A Venezuela passa hoje por problemas econômicos significativos (ainda que ampliados ao extremo pela oposição, dona dos principais meios de comunicação - mas que não é financiada pelo governo, como no Brasil), como a alta inflação, a violência e o fato de que o dinheiro do petróleo (cujo barril não vale o mesmo que valia dez anos atrás) foi usado largamente em projetos sociais e mesmo de propaganda, mas pouco para o desenvolvimento sustentável de uma indústria ou mesmo de uma agricultura forte no país.

Política sociais são necessárias e na Venezuela eram urgentes. Escolas, hospitais, alimentação, qualidade de vida, mas políticas sociais precisam de uma base, de uma (infra)estrutura para se fixar, para que seus reflexos se perpetuem, e isto o Chavismo não foi capaz de garantir.

Deu-se o pão, até se ensinou a fazer o pão, mas não foram dados ou facilitados os meios para produzir o pão.

E com Maduro será ainda mais difícil, tanto por seu messianismo em torno da figura de Chávez, quanto pelas dificuldades devido ao resultado ruim nas urnas. Este pode ser revertido, caso Maduro demonstre estar a altura do desafio, mas por enquanto a situação se mostra complicada.

Capriles, por sua vez, é aquilo que Chávez mais temia, um adversário vivo, eloquente, que consegue se conectar com as massas e não é apático ou mesmo um representante legítimo das elites venezuelanas (ao menos não representa a *imagem* tradicional desta) como os demais candidatos tentados pela oposição antes.

É um líder nato, mas que não conseguia sair das sombras de Chávez, mas agora encontra uma situação enfraquecida, fragilizada e em uma próxima eleição pode vir a surpreender, caso Maduro não consiga pôr em prática as medidas necessárias para ganhar respeito e admiração do povo.

As portas para o diálogo estão fechadas. Maduro deixou claro que não iria negociar com a "burguesia" venezuelana (deixando claro que "empresários patriotas" não estão na lista, claro), ao passo que a recusa de Capriles em reconhecer o resultado sela de vez a porta.

De qualquer forma, a Venezuela se tornou ainda mais polarizada, com dois lados absolutamente distintos, um no poder, mas com sérias dificuldades em se manter em pé, e outro que já passou séculos no poder e quer voltar, mas suas políticas são apenas as mesmas de sempre e sua popularidade se baseia somente na negação do Chavismo.

O cenário ideal para o país seria o surgimento de novas lideranças capazes de quebrar esta polarização e que estejam prontas e dispostas a ouvir a população, sem endeusamentos, sem cultos à personalidade ou personalismos. Enfim, um movimento político (ou movimentos) capaz de agregar o país ou ao menos de diminuir a pressão formada por dois polos absolutamente distintos e que cada vez menos conseguem  ou mesmo querem dialogar.
------