segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

José Genoino e a "elite carcerária": Os pobres continuam na entrada de serviço

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Apesar de duas juntas de médicos terem declarado que Genoíno não tem razão para pedir aposentadoria da Câmara e nem teria direito a regalias como prisão domiciliar por não padecer da doença grave que alega ter, eis que surge uma entrevista emocionante (ironia mode on) com Miruna, sua filha.
Preso desde o dia 15 de novembro, Genoino tem alegado problemas graves de saúde. Para a filha, ele não vai durar na prisão por muito tempo, já que tem piorado. “Quando as pessoas falam que ele vai ficar alguns meses no semiaberto e depois já pode pedir progressão da pena, penso que não sei como ele vai chegar. Em uma semana eu vi como ele piorou, como eu vou pensar em meses? Oito meses? Ele não vai durar isso na prisão. Não vai”, disse.
Estamos falando de regime semiaberto, ou seja, Genoíno não ficará ou sequer está em uma ala comum, com outros presos, desde assaltantes de galinha a assassinos perigosos, visto que a cadeia brasileira não é pensada para ressocializar, mas sim para servir de escola do crime. Enfim, Genoino não é um preso comum. Não porque seria "preso políticos", isso não passa de #mimimi de fanáticos pagos para gritar, mas sim porque não é tratado como um preso comum: Preto, Pobre, sem dignidade, sem direito a justiça. Ele é tratado a pão de ló, com regalias, com direito a visita a hospital particular, a junta de médicos para o avaliarem, com direito a receber respostas sempre que as faz.

Para o pobre preso, resta calar a boca e tentar sobreviver. Não tem entrevista com a filha, com a mãe ou com ninguém. Ele cala a boca e espera. Reza.

O preso comum, o pobre, o geralmente preto, não tem "regime semiaberto", tem a brutalidade, tem a violência dos carcereiros e de outros presos, tem as celas superlotadas, tem o medo, o desespero e tem que "aprender" a ser pior para sobreviver.

Genoíno não passará por nada disso.

Aliás nem sua filha passará pelo que outras filhas são submetidas. Revistas vexatórias e humilhantes, ameaças, descaso... Não, a filha do Genoíno entra e sai numa boa, não precisa tirar a roupa e se abaixar na frente de um espalho na frente de dezenas de pessoas para descobrirem se carrega algo enfiado em seu ânus.

Não, este tipo de tratamento dispensamos aos pobres, aos pretos, aos menos importantes.
Parentes dos presos do presídio da Papuda, na maioria mulheres, protestam contra os privilégios da gente diferençada que ali recém-chegou em decorrência das sentenças do STF no processo do mensalão. Os visitantes dos novos presidiários estão imunes às demoras e humilhações a que são regularmente submetidos os visitantes dos outros presos, especialmente mães, irmãs, esposas ou companheiras. Todas tratadas como suspeitas, revistadas, examinadas, fiscalizadas, além do martírio da longa espera, que começa de madrugada nas filas intermináveis.
Genóino pode ainda receber caravanas de deputados petistas, o pobre tem sorte se conseguir chegar vivo à área de visitas.

O pior de tudo é que, pese o "medo" da filha de Genoíno pela vida de seu pai, ela ainda comente que o crime compensa.
"se esse é o preço que tem que pagar para que o projeto do governo Lula e Dilma funcione, ele paga".
Realmente, como sentir qualquer pingo de simpatia?

Não acho que o tratamento dado ao Genoíno e sua família seja errado, pelo contrário. Errado é o tratamento dado a TODOS os demais. Errada é a exclusividade dada ao preso-celebridade em detrimento dos direitos humanos de milhares de outros.

Quantos estão presos sem julgamentos? Quantos estão realmente doentes, a ponto e morrer em cadeias por falta de atendimento e de condições mínimas de se viver em buracos superlotados e abandonados?

Mas não, abrimos espaço na mídia para a lamentação do 1%, que tem orgulho de seus crimes, de comprar votos, de financiar privatizações e crimes de lesa-pátria, mas ainda reclama do sabor do caviar.

Genoíno teve uma "crise de pessão alta", mas  pobre não tem isso. Se tem, morre, não vai pra hospital de luxo ser atendido.

Esta talvez fosse a oportunidade de se discutir mais seriamente o sistema carcerário brasileiro, mas sabemos que isto não acontecerá. Genoíno, Dirceu e outros são responsáveis pela manutenção desse sistema assassino. Não moveram uma palha, e agora são vítimas (sic) desse mesmo sistema. E reclamam, com razão, pese estarem em uma situação muito melhor que seus pares menos ou nada famosos.

Este episódio, porém, não servirá para nada. Nada será alterado no sistema penal/carcerário, da mesma forma que o PT não aprendeu nada com os protestos de junho (e os demais partidos) e mantém as mesmas práticas e o mesmo desrespeito pela população de sempre.

Não derramo uma única lágrima por Genoíno, por Dirceu e por outros que tem o máximo orgulho de terem roubado e corrompido para impor um projeto privatista e lesa-pátria do PT e que reclamam de barriga cheia, reclamam enquanto são tratados como príncipes frente ao resto do populacho que morre nas cadeias sem poder dizer um ai.
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