quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Impeachment contra Dilma? Duvido, mas desde já lavo minhas mãos e preparo a pipoca

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Eu não poderia me importar menos com um possível impeachment de Dilma, o que me preocupa, no entanto, é a incapacidade política do brasileiro de ser político e de fazer política.

Dilma foi incontestavelmente eleita pela maioria dos brasileiros, uma quantidade significativa iludida por suas promessas falsas de campanha. Se por um lado suas mentiras (ainda que óbvias) são uma parte da razão para eu não me importar caso ela venha a cair, por outro estas mesmas mentiras são um expediente absolutamente comum na política (e não apenas brasileira).

O estelionato eleitoral é a forma mais comum de se fazer política. Não há nada de novo aí. Claro, Dilma tem chegado em um nível extremo de estelionato, dado que foi eleita pela esquerda, mas governa igual ou até de maneira pior que Aécio, seu adversário. E digo pior pois ela conta com a conivência de sindicatos e movimentos cooptados e trabalhados/silenciados/amaciados pelo PT nestes 12 anos de poder.

Se Dilma cair, nada mudará. O PT seguirá seu caminho natural para o lixo da história, o PMDB continuará efetivamente no poder, onde sempre esteve desde o fim da Ditadura, e o PSDB continuará também seu caminho logo atrás do PT para o mesmo lugar.

Notem que ir para o lixo da história não significa desaparecer, mas sim deixar de representar efetivamente anseios e grupos organizados, mas se tornar definitivamente apenas mais um em meio à total indigência político-partidária brasileira.

Só existe um cenário inaceitável em que efetivamente as coisas piorariam: A volta dos militares; E como isso não passa de agenda de um punhado de dementes fascistas e de algumas viúvas da Ditadura, não há possibilidade de termos algo (muito) pior que Dilma, Levy e cia.

A polarização PTxPSDB serve, hoje, apenas para mantê-los relevantes enquanto o PMDB efetivamente dá as cartas. Uma vez quebrada a polarização ambos serão relegados ao lugar que merecem. A queda de Dilma, pois, apenas acertaria as contas ou entregaria o país definitivamente a quem manda, ao PMDB de Michel Temer.

E não importa o #mimimi petista de que Temer seria horroroso (sim, seria e é), foram eles que o escolheram como vice, que deram ainda mais força e poder ao PMDB, não há do que reclamar. Jogar a carta do "Temer feio e malvado" talvez colasse se ele não fosse o vice escolhido pelo PT para Dilma.

Esta cartada é sempre usada para denunciar inimigos e aliados sempre que convém e, até agora, infelizmente, tem convencido a muitos, mas cada vez menos.

Eduardo Cunha é um horror! Verdade, mas, novamente, é aliado do PT. Renan Calheiros é um horror! Incontestável, mas, novamente, aliado do PT, eleito com seus votos até no Senado. Collor é terrível! Sem dúvida, mas quem fez campanha para sua reeleição em Alagoas? Sim, o PT. E o mesmo vale para TODOS os aliados, de Kassab a Katia Abreu que tem apoio, confiança e se brincar até amor do PT, mas que são usados vez ou outra pelos membros da Seita (não podemos chamar aquilo de "militância") ou pela direção partidária para justificar recuos e canalhices.

Dilma nomeou um neoliberal para a fazenda, tem destruído direitos sociais e previdenciários, cortou bilhões de vários ministérios, inclusive o da educação, cada vez mais sucateada. Prepara-se para cortar ainda mais direitos, mesmo tendo prometido exatamente o contrário. Se cair, não derramarei uma lágrima, assim como não tenho ou terei qualquer esperança de que com o PMDB ou qualquer outro membro da máfia parlamentar algo mude ou seja diferente.

O assustador, no entanto, é a capacidade do brasileiro de ser massa de manobra, de ser incapaz de entender como funciona a política. Bradam com ódio por um impeachment que não muda nada. Collor foi deposto, o que mudou? Onde ele está hoje?

Mudar a figura no poder ou mesmo o partido não faz a menor diferença, pois quem governam são os banqueiros, os empreiteiros, são os financiadores de campanha e a elite. Os políticos em geral são apenas seus representantes que, apenas para deixar a ironia ainda maior, brincam de eleição, onde o povo acha que escolhe alguém para o representar, mas em geral o número efetivo de interessados em representar o povo e não as elites é ínfimo.

Longe de desacreditar na política representativa, acredito na necessidade geral de uma limpeza do sistema, um reboot, a criação de uma ou umas alternativa(s) que possam impor reformas profundas no sistema político. Mas esta(s) alternativa(s) não são nem PT, nem PSDB e nem PMDB, que apenas dividem os lucros de estar no poder.

A queda de Dilma será um duro golpe no PT e sem dúvida na $eita, mas o poder só mudará nominalmente de mãos. As minhas estão limpas, lavadas e só falta estourar a pipoca para ver a máfia se degladiar.

Mas ficam dois pensamentos finais: Primeiro, impeachment NÃO é golpe, lembrem-se do Fora FHC capitaneado pelo PT há anos, não era golpe, porque hoje seria? Tampouco Collor foi vítima de golpe, não importa quanto seus neoaliados petistas queiram reescrever a história.

Aliás, os pedidos de impeachment dos petistas contra o Joaquim Barbosa eram golpe?

E, segundo, duvido que saia um impeachment, o PMDB governa muito confortável sem dar a cara a tapa, não imagino Temer ou a cúpula querendo pegar o país na crise atual podendo perfeitamente surfar e lucrar no desgaste do PT e mandar sem o ônus da popularidade arrasada. Mas, se sair, como já disse, a pipoca está pronta para ser estourada.
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Atualização 14/02:

Faço meus os comentários do Fabio ZC no Facebook:
1-) Não é golpe. Golpe é destituir um presidente sem o devido processo legal. O impeachment está previsto na constituição e é um dispositivo legítimo.
2-) Ser legítimo não o torna menos suscetível a ser usado como manobra política, pois é isso que ele é: um ato político. A palavra de um jurista não tem muito valor aqui pois se o congresso quiser, ele cassa um presidente sem provas ou mantém alguém com provas de crime. Basicamente todos os presidentes desde Vargas possuem motivos para serem impedidos, só não o foram por razões políticas.
3-) Pode-se discordar do dispositivo impeachment. Eu particularmente, assim como tenho lido várias pessoas, não acho tão bom o congresso ter o poder de reverter o voto popular. Prefiro o chamado "recall".
4-) Não acho que a Dilma sofrerá o impeachment. É o PMDB gritando para conseguir arrancar mais e mais do governo. Lembrando que a rusga começou quando a Dilma, por imposição própria, colocou Kátia Abreu, sua nova amiga de infância, no Min. da Agricultura mesmo o PMDB sendo contra, e também da forma como o governo agiu durante a eleição para a presidência da câmara.
5-) Porém, se acontecer, não derramarei uma lágrima e não moverei um dedo para defender essa presidência. Tampouco adiantará o que restou do PT e seus militantes chamarem as "ruas" pois quem abandonou as ruas há décadas, não conseguirá mobilizar agora. E nem todo mundo que não se importa com o governo ou com o PT é coxinha.
6-) Ao abandonar as ruas e optar pela luta institucional, o governo escolheu um caminho. E quando esse caminho falha, não adianta choramingar. Quem dorme com cobra na cama eventualmente será mordido.
7-) Vivemos uma nova época, uma nova safra de militantes fora do alcance da institucionalidade, com novas formas de pensar. E isso incomoda. Os movimentos sociais não vão se importar por um governo que nunca se importou com eles.
Recall seria muito mais saudável e muito mais democrático, não apenas por ser o povo quem coloca e tira do poder, como também porque o problema não é o presidente, mas o conjunto da obra, quem está no poder. Qual a diferença mudar a cabeça e trocar por outra que era a/o vice? Claro, o problema é ainda maior, de crise de representação ou mesmo de crise completa do modelo político brasileiro, mas seria um começo.
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