segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Do petismo não praticante ao neoPTcostalismo

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Deus, sua pastora e o papa do petismo
Sabe aquele católico não-praticante que existe em toda família? Ele exige que as crianças sejam batizadas, vai uma ou duas vezes por ano na igreja - em geral missas de sétimo dia ou algo semelhante -, defende casamento na igreja e tem sempre uma cruz numa correntinha no pescoço, mas em geral dá a mínima pra igreja, pras incontáveis regras e mesmo pro papa. Ele pode ser conservador, pode ser progressista, não importa, no fim a religião é pra ele algo que está sempre ali, mas ele não se importa muito com os rituais ou a instituição exceto em alguns momentos-chave.

Isso descreve uma parte considerável dos brasileiros, ao menos dos brasileiros que se declaram católicos, como todos sabemos. O católico não-praticante (em geral o mais progressista) é aquele que até tece críticas à igreja, mas por vezes torce o nariz quando a crítica vem "de fora".

Sabemos também que muitos outros brasileiros migraram do catolicismo (ou do catolicismo não-praticante) para o (neo)pentecostalismo (a Assembleia de Deus não é propriamente neopentecostal, mas como em geral se apresenta de forma tão tosca quanto as "igrejas" desse ramo, incluo apenas para facilitar a análise.

Certeza que Malafaia me perdoará), uma vertente que em geral exige um certo grau de fanatismo, exige mais "prática", mais observação de certas regras e em geral tudo isso vem acompanhado com uma defesa cega de dogmas, líderes-pastores e da própria instituição a que se filia.

Um fenômeno bastante semelhante ocorre no campo político, falo dos fenômenos do "petismo não praticante" e do mais grave "NeoPTcostalismo.

O Petismo não praticante é manifestado por aquele que em geral cresceu apoiando o PT, que vem de família de esquerda (petista, brizolista, comunista), e é incapaz de largar de vez o petismo. Critica sim aqui e ali, reclama do governo, do deputado, de algumas políticas, chega até a pensar em renegar a igreja, ops, o partido, mas nunca consegue forças para tanto.

Já o NeoPTcostal é o fanático. É o que enxerga uma total divindade no PT e em seus líderes, não critica ou quando o faz é sempre em benefício do partido, do "bem maior", mas mesmo assim as críticas são tímidas e muitas vezes nem parecem críticas, mas textos escritos de forma hermética apenas para convertidos serem capazes de compreender.

A palavra de Lula (ou Deus) é sagrada, sua profeta Dilma é humana, mas igualmente divina, assim como o presidente do partido (no momento Rui Falcão) é a personificação do Papa. o NeoPTcostal acredita numa luta entre o bem e o mal (ou o "mal maior"), e que são a linha de frente do "bem".

Neste grupo se inserem ainda os pastores, os cães de caça pagos ou não (e cuja "pregação" farta pode ser encontrada no tumblr Governismo, a doença infantil - mas fica um alerta, o conteúdo é grotesco) que passam seus dias a pregar e defender os dogmas (novos ou antigos) ditados por deus, seu filho (ou no caso sua filha) e pelos papas e outros santos (deputados, senadores, ministros). Eduardo Guimarães, José de Abreu, Stanley Burburinho são apenas alguns dos nomes mais conhecidos dentre os pastores NeoPTcostais.

E nesta defesa - assim como se observa na história dos santos católicos - não importa a mínima veracidade, qualquer coerência ou mesmo ética, vale tão somente a defesa cega dos interesses evangelizadores do partido/igreja cuja função final é a dominação (a manutenção do poder) e, claro, a divisão do lucro entre apoiadores (que raramente são os fanáticos seguidores). Qualquer semelhança com o modus operandi das igrejas neopentecostais NÃO é mera coincidência.

E claro que como boa igreja adepta da "teologia da prosperidade", o NeoPTcostal tem suas empresas de fachada: UNE, UBES, PSeudoB (também conhecido como PCdoB), CUT, etc., além de sua Folha Univers... ops, DCM, Brasil 171 (também Brasil 247), Portal Metrópole, O Cafezinho, etc, ou seja, mídia a favor, muitas vezes sustentada com dinheiro público ou com grana de estatais, de sindicatos cooptados ou de "doações" de outros membros da seita e por aí vai. O petista não praticante, por vezes, também dá voz a estes veículos religiosos, mesmo que em tom crítico, pensando que irá ajudar na luta contra o "mal maior" e que assim criará um debate que deixará a igreja mais perto do que pensam ser ideal. Ledo engano.

Claro que há, ainda, um encontro entre o NeoPTcostal e o petista não praticante, afinal são todos mais ou menos cristãos, perdão, petistas. Por vezes o fanático, carinhosamente apelidado de "membro da seita", precisa dar lições de fé ao praticante, fazê-lo voltar à observação dos mandamentos: "Não assumirás o roubo, mas se for pego acuse o inimigo de também fazê-lo", "Não terás ética, mas se questionado afirme que o inimigo foi anti-ético primeiro", "não defenderás os direitos humanos, mas vais jurar de pé junto ser o paladino da defesa das minorias" e daí em diante.

Em períodos eleitorais é que vemos melhor esta dinâmica. O NeoPTcostal sai em pregação (pelas redes sociais, porque essa turma já não sabe o que é ir às ruas tem tempo) atacando os infiéis (qualquer um que não seja membro da seita), buscando queimá-los na fogueira e atrás de almas não-praticantes para fazê-las retornar ao seio da religião.

E, em geral, o praticante sente que neste momento deve voltar à religião. Como o cristão que criticava a igreja e o papa, mas se emocionou com o novo papa e acompanhou com interesse e expectativa seus primeiros passos, o petista não-praticante encontra na eleição o momento de fazer as pazes com Lula e voltar ao seio da santa igreja. E dá seu voto ao PT contra o "mal maior", crente (ops) que o futuro será melhor, que tudo vai mudar, que a igreja será gay-friendly, que mulheres serão ordenadas... bem, essa é outra história.

O não-praticante escolhe, enfim, a eleição para voltar à religião verdadeira e segue entusiasmado e neste ponto se unem aos pastores e fiéis NeoPTcostais (neste ponto o petista é mais adepto da comunhão que os cristãos em si) numa verdadeira festa da democracia!

Este fanatismo político tornado religioso apenas contribui para que o país se afunde, para que a esquerda se encontre perdida em uma encruzilhada e incapaz de caminhar adiante. Esta insistência nesse "ecumenismo" nocivo, essa incapacidade de superar de vez o petismo ou ao menos de manter a coerência nas críticas (ou ao menos transformar as críticas em ações) joga a esquerda cada vez mais para um buraco que, em algum momento, será incapaz de sair. Uma Reforma faz-se urgente.
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