segunda-feira, 13 de julho de 2009

O Fora Sarney e o poder da mídia virtual

Pin It

Pelo Twitter nasceu o movimento Fora Sarney (ou #forasarney).

Um grande sucesso na rede, chegando a ficar entre os dez mais "trending topics" do Twitter mas, nas ruas, um retumbante fracasso não conseguindo mais que 50 pessoas no maior dos protestos "reais", em São Paulo. Em outras capitais, vergonhosos 30 "manifestantes", se muito!

O que deu errado?

De início vejo alguns problemas:

- A presença de sub-celebridades querendo se promover, como Tico Santa Cruz (quem?), e posar de alguém interessado, socialmente ativo e etc.

- O "hype" criado em torno do #forasarney, muita gente sequer sabia do que se tratava mas usava o "hashtag" nos twitts, achavam chique, moderno, achavam que faziam parte de algo interessante e maior. Acabou por inflar os reais números de possíveis participantes de protestos físicos, "reais".

Quem não conhece o orkut e a orkutização de outras ferramentas como o Twitter que compre esses moleques de 14-15 anos, que flertam com os Emos (se não o são) e totalmente alienados.

- O fato de brasileiro, dizia Millôr, só levantar a bunda pra torcer. O mesmo Millôr comentou ainda que faltava um golpe de Estado ou fraude - como em Honduras ou Irã, mais claramente - para que houvesse real mobilização do Twitter para o plano real. Uma coisa é usar o PC confortavelmente de casa e "protestar", outra bem diferente é sair de casa, do conforto e andar, se cansar, militar, pôr as manguinhas de fora, a bunda de fora e ir realmente protestar.

Se o brasileiro tivesse esse gosto por militar talvez as coisas andassem diferentes por aqui, mas já estou divagando.

- A falta de uma liderança, de uma centralização coerente, de apóio com alguma experiência. Não falo de uma centralização partidária ou um partido em si, sindicato e etc por trás, mas a formação de uma liderança consensuada entre os que queriam de fato protestar para agitar, organizar, levantar as massas. 500 pessoas sós não fazem nada sem alguém ou um grupo para coordenar, vira turba, não protesto. Imagina os milhões que pareciam apoiar tudo que acontecia pelo Twitter! Sem qualquer direcionamento, base ou rumo.

- O erro do alvo. Não que Sarney não seja um escroto (para me limitar a apenas uma ofensa não-proibida para menores), ele é um e de marca maior, mas não é o único. De que adianta atacar uma erva daninha mas deixar todas as outras centenas tomarem o lugar? De que adianta dizer que Sarney é A ou B quando ele é apenas igual às demais "excelências"?

Junto à isso vem o problema do Lula ter apoiado o crápula, o que balançou os Lulistas de plantão. Mas os argumentos dos Lulistas até tem algum sentido, ao menos o Sarney é um oportunista e apóia o que quer o governo (até certo ponto) e alguém diferente no lugar poderia causar muito mais problemas. Tudo bem que o PT vendeu a alma para a direita para governar mas o argumento, dentro desta perspectiva, tem sentido, atacar o Sarney seria atacar o próprio governo e colocar alguém pior - para eles - no poder.

Enfim, tirar 6 por meia dúzia para o povo não faria diferença, mas para o governo faria muita, isso acabou afastando ainda mais uma parcela militante, experiente e engajada, enfraquecendo o movimento.

Dito tudo isto fica a questão, vale à pena ainda tentar dar sobrevida ao "movimento"?

Bem, aparentemente sim, e agora o "movimento" foi adotado pelo Noblat que vem organizando pelo twitter maneiras de conseguir visibilidade e algum resultado ainda que, obviamente, o movimento não tenha mais qualquer intenção de ir às ruas.

O Movimento Saia às Ruas, contra o Gilmar Dantas, ainda que também pequeno, teve maior alcance por ser uma causa de apóio amplo e fácil, ter uma boa base de apoiadores, de gente experiente, militante e, acima de tudo, conhecida e respeitada.

O Movimento #Forasarney ainda não conseguiu chegar nem perto. Sem falar que quem deveria ser atacado e se sentir constrangido, o Gilmar Mendes, de fato ficou, e vem sofrendo uma perseguição midiática (mídia alternativa, obviamente) forte, que o levou até a dar entrevistas em tom de desagravo à (vendida, salafrária e absurda) Veja e o movimento conseguiu algumas linhas na grande mídia pelos protestos que fez/faz. O PIG não tem como esconder tudo, afinal.

O #Forasarney, por outro lado, nasceu sem apoio da blogosfera de peso, contou com o apoio de sub-celebridades que, ao invés de atrair, afastaram àqueles que tem alguma bagagem, que jamais colariam sua imagem com gente que só quer se promover.

Voltando ao Noblat, o mesmo adotou a causa e está chamando um movimento em blogs, sites, orkut e no twitter, um protesto virtual onde todos os meios digitais estampariam uma imagem "Fora Sarney" (a imagem do começo do post), seja nos sites, seja nos perfis de orkut e etc, em protesto pedindo a saída de Sarney.

Se este protesto virtual dará certo, ou se a mídia comum ao menos prestára a mínima atenção, é um mistério. O poder do twitter no Irã e em Honduras foi sentido não pelos "protestos virtuais" mas pelo poder de mobilizar e convidar pessoas a ir às ruas de fato e também como ferramenta de intercâmbio de informações que, de outra maneira, não sairiam dos países em questão.

Ou seja, o Twitter foi um veículo agregador, multiplicador e de divulgação, foi uma ponte apenas e não um fim em si, como os do #Forasarney parecem achar.

Uma coisa inegável é o poder das mídias sociais, mas também não vamos abusar e achar que ela sozinha muda o mundo.

Mas um protesto unicamente virtual é algo que vale à pena esperar para ver se vingará, se Sarney prestará a mínima atenção, depois de não ter se importando por décadas com nada além do enriquecimento próprio e de sua família às custas do Maranhão e do Brasil.

Ah, link pra petição online do #Forasarney: http://www.petitiononline.com/gosarney/petition.html
------