O cartum é do El Disidente
Para os que não acompanham a situação Basca, uma pequena introdução: Desde a chamada democracia, com a morte de Franco - e sempre lembrando que seu sucessor, Carrero Blanco, foi morto pela ETA na mais espetacular de suas ações - que a Espanha passa por um processo absurdo de revisionismo histórico, ou melhor, de esquecimento dos crimes franquistas, da continuidade do PP como partido legítimo mesmo tendo como base franquistas e ex-franquistas criminosos e da tese de que "tudo é ETA", com o mais completo esquecimento do que representou no passado.
Em um post posterior analisarei a questão do revisionismo de forma mais aprofundada, mas desde já, para quem se interessar, vale a leitura destas duas notícias sobre um mesmo assunto. Primeiro, um artigo do El País que contradiz a história e coloca uma criança de poucos meses como primeira vítima da ETA em uma explosão que, como sempre foi de conhecimento público, havia sido perpetrada por um grupo chamado DRIL, cujo líder era um general Português e herói de seu país pela luta Anti-Salazarista.
Os revisionistas de plantão reslveram alencar este ataque ao hall da ETA quando, na verdade, suas duas primeiras vítimas haviam sido o militar franquista José Pardines e o ex-membro da Gestapo e torturador Franquista, Melintón Manzanas. Em resumo, escórias cuja morte, ao menos do segundo, foi comemorada pela população.
O título do artigo, em sí, já demonstra a forma tendenciosa com que o assunto foi tratado: "La primera víctima de ETA".
O segundo texto, de Iñaki Egaña, historiador e escritor, esclarece o caso e aponta as inúmeras falhas do El País e do artigo original, retomado pelo jornal, que data do ano 2000 e foi escrito por um jornalista (e mentiroso) Catalão -*- que foi posteriormente assassinado pela ETA, Ernest Lluch.
*Anna do Quemando Iglesias me informa que o Lluch não era jornalista, e sim economista e político que cometeu um erro terrível. Fica a correção e o agradecimento.
Como se vê, desde início, mentir não é pré-requisito apenas para a mídia brasileira, o PIG é internacional.
Imagem do El Disidente, via Quemando Iglesias
Mas, voltando ao tópico principal, a leitura do artigo do blog a que me referia no início me trouxe a vontade de, finalmente, escrever sobre a questão central hoje no movimento nacionalista basco e também o assunto mais querido da dupla dinâmica do governo Basco, o PP e o PSOE, para manter a Izquierda Abertzale ilegalizada.
O timing não poderia ser melhor. Por estes dias a Izquierda Abertzale lançou seu mais novo comunicado, depois de meses de debates e consultas, chamado Zutik Euskal Herria, que foi objeto de um post passado, e reacendeu o debate em torno da paz, da via política para o conflito e do fim da violência.
O comunicado era excelente, demonstrava a vontade real dos nacionalistas de seguirem apenas pela via política, renunciando qualquer forma de enfrentamento armado. enfim, os Abertzales passaram a reconhecer apenas a via política e democrática como ideal para a solução final do conflito Basco.
Para qualquer leitor atento, tal declaração seria suficiente para agradar a todas as forças políticas. Mas para o revisionismo, para a direita estatal (PP, PSOE, UPyD e outros aloprados), não era suficiente. Nada é ou jamais será.
O Zutik Euskal Herria deixa clara a posição de buscar de forma pacífica o fim do conflito, mas para as forças da direita e que lucram com o conflito, somente uma condenação expressa à ETA é suficiente.Entre las reacciones que comentaba antes he leído algunas asombrosas. La primera El País, que con su primer titular de ¡pero no hace una llamada a ETA! comenzó un cambio en otros medios que hasta el momento habían destacado que la IA se posicionaba a favor de únicamente la lucha democrática y con ausencia de violencia.Y digo asombrosa no por la manipulación expresa y totalitaria del titular. Si no porque demuestra una falta total y absoluta de comprensión lectora. O eso o una intención nada responsable, éticamente reprobable, que en lugar de acompañar a la paz, lo que desea es que se imponga “su” verdad cómo absoluta.
Vejam bem que os Abertzales deixam clara sua vontade de dialogar e adotar apenas os meios democráticos, mas sem condenar expressamente a ETA nenhum esforço é bom o bastante.
Daí podemos apenas concluir que para a direita, para os nacionalistas espanhóis, os financiadores dos GAL e dos grupos terroristas de extrema-direita, apenas a humilhação, a delação e a vergonha podem existir.
Aliás, cabe adendo, o PSOE exige que o Batasuna admita ser ETA - tese tosca e obtusa - mas se nega a admitir ser, por sua vez, os GAL, o que todos sabem. Na verdade o PSOE se esforçou em por um lado condenar os GAL e por outro financiar e libertar da cadeia seus membros condenados. Moral, não tem nenhuma. E, do lado do PP, dispensa comentários, lembremo-nos de Franco. suspeito que todo membro do PP tenha um quadro de Franco na sala de estar.
Na verdade, as conclusões são duas.
A primeira é a de que a direita só se contentará com a humilhação completa da ETA e de seus militantes. Com o revisionismo puro, com o pedido de desculpas. Querem que a ETA se entregue e admita a derrota.
E a segunda, a de que os Abertzales reconheçam a si mesmos como ETA. Que dêem razão ao Estado e assumam ser ETA - o que não são. A oficialidade espera o denuncismo, a traição e a completa submissão.
Todas as opções dadas pela oficialidade significam a derrota para o nacionalismo basco que já abriu mão demais de suas posições. O conflito, pois, segue aberto, até que a direita e o nacionalismo espanhol aceitem a mão estendida pelos nacionalistas bascos.