sábado, 16 de outubro de 2010

Plínio e o voto nulo: O que é isso, companheiro?

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Eis a manifestação pessoal do Plínio de Arruda Sampaio, que chama pelo voto nulo.

Concordo com as análises feitas pelo Plínio, tanto sobre Serra quanto sobre Dilma, tenho talvez apenas alguma discordância quanto à questão da corrupção - tratada por demais de forma moralista - e do fato do Serra não ter sido denunciado com mais veemência.

Serra representa um retrocesso que tanscende o governo Lula, que transcende aquilo que Lula construíu, ele retrocede nas bases mais fundamentais da sociedade, ao se aliar com neonazistas e com a TFP, além de figuras como Silas Malafaia.
Se Marina, ao se cercar de fanáticos, representava (e ainda representa) significativo atraso, Serra foi quem acabou por capitalizar toda esta corja e atrair não só os fanáticos neopentecostais, mas também a TFP e grupelhos neonazistas.

Que Plínio me desculpe, e com todo respeito que tenho por ele, sua decisão é burra.

O momento não é de recuar e sim de reagir. Dilma não é a candidata de nossos sonhos - nem de longe -, mas é quem está aglutinando a força dos movimentos sociais e da militância e pese seus vergonhosos recuos - e também a boataria que embaça nossa compreensão sobre o que é ou não verdade em toda essa história -, e no espírito de "Nenhum voto em Serra" não podemos conceber o voto nulo, pois este privilegia exatamente ao Serra.
Privilegia porque a militância consciente, histórica, de rua, ativa, a que forma opinião, que debate e propõe acaba por decidir lavar as mãos e, ao invés de escolher uma opção de diálogo frente ao do confronto, diz que "não é comigo".

O momento do protesto contra a polarização e falsos discursos foi o primeiro turno, em que o PSOL apresentou candidaturas combativas, em que Plínio foi à TV, às ruas e denunciou, propôs, debateu. Agora é o momento da responsabilidade, de barrar um projeto nocivo ao país e até mesmo à toda América Latina.
 
Ao declarar ou puxar o voto nulo, Plínio exerce seu direito, não é esta a questão, mas age como um político em início de carreira, inocente, que não sabe do peso de suas declarações. Um político que não sabe que influenciará e, pior, será manchete em todos os jornais, superando até mesmo a exposição de seu próprio partido, pois o voto nulo interessa ao DemoTucanato, não o voto crítico em Dilma.

Frente à mídia manipuladora que temos, a posição do Plínio é, enfim, uma irresponsabilidade.

É o momento de apoiar criticamente, de estender a mão, sem egos inflados ou esperando nada em troca, mas apenas a certeza de que haverá ainda a possibilidade de diálogo e não o espancamento do movimento social em praça pública, como foi com Serra em São Paulo e será no Brasil se este vampiro vencer.

Felizmente, Ivan Valente declarou seu apoio à Dilma, de forma crítica, como deve ser e, aparentemente, os demais Deputados Federais da legenda (Chico Alencar e Jean Wyllys) seguirão o mesmo caminho.

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Update: Chico Alencar, Jean Wyllys, Ivan Valente (deputados federais eleitos), Randolfe Rodrigues(senador eleito), Marcelo Freixo(deputado estadual reeleito), Milton Temer, Eliomar Coelho(vereador RJ), Jefferson Moura(presidente estadual do PSOL RJ), Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder, José Luiz Fevereiro( Diretório Nacional) assinaram documento convocando o voto crítico em Dilma.

Manifesto à Nação

Plínio de Arruda Sampaio
De São Paulo
Para os socialistas, a conquista de espaços na estrutura institucional do Estado não é a única nem a principal das suas ações revolucionárias. Em todas estas, os objetivos centrais e prioritários são sempre os mesmos: conscientizar e organizar os trabalhadores, a fim de prepará-los para o embate decisivo contra o poder burguês.
Fiel a esta linha, a campanha do PSOL concentrou-se no tema da igualdade social, o que possibilitou demonstrar claramente que, embora existam diferenças entre os candidatos da ordem, são diferenças meramente adjetivas.
Isto ficou muito claro diante da recusa assustada e desmoralizante das três candidaturas a firmar compromissos com propostas de entidades populares - como a CPT, o MST, as centrais sindicais, o ANDES, o movimento dos direitos humanos - nas questões chaves da reforma agrária, redução da jornada de trabalho sem redução salarial, aplicação de 10% do PIB na educação, combate à criminalização da pobreza.
Não há razão para admitir que se comprometam agora, nem para acreditar que tais compromissos sejam sérios, como se vê pelo espetáculo deprimente da manipulação do sentimento religioso nas questões do aborto, do casamento homossexual, dos símbolos religiosos - temas que foram tratados com espírito público e coragem pela candidatura do PSOL. Nem se fale da corrupção, que campeia ao lado dos escritórios das duas candidaturas ora no segundo turno.
Cerca de um milhão de pessoas captaram nossa mensagem. Constituem a base de interlocutores a partir da qual o PSOL pretende prosseguir, junto com os demais partidos da esquerda, a caminhada do movimento socialista no Brasil.
O segundo turno oferece nova oportunidade para dar um passo adiante na conscientização. Trata-se de esmiuçar as diferenças entre as duas candidaturas que restam, a fim de colocar mais luz na tese de que ambas são prejudiciais à causa dos trabalhadores.
O candidato José Serra representa a burguesia mais moderna, mais organicamente ligada ao grande capital internacional, mais truculenta na repressão aos movimentos sociais. No plano macroeconômico, não se afastará do modelo neoliberal nem deterá o processo de reversão neocolonial que corrói a identidade moral do povo brasileiro. A política externa em relação aos governos progressistas de Chávez, Correa e Morales será um desastre completo.
A candidata Dilma Rousseff é uma incógnita. Se prosseguir na mesma linha do seu criador - o que não se tem condição de saber - o tratamento aos movimentos populares será diferente: menos repressão e mais cooptação. Do mesmo modo, Cuba, Venezuela, Equador e Bolívia continuarão a ter apoio do Brasil.
Sob este aspecto, Dilma leva vantagem sobre a candidatura Serra. Mas não se deve ocultar, porém, o lado negativo dessa política de cooptação dos movimentos populares, pois isto enfraquece a pressão social sobre o sistema capitalista e divide as organizações do povo, como, aliás, está acontecendo com todas elas, sem exceção.
O que é melhor para a luta do povo? Enfrentar um governo claramente hostil e truculento ou um governo igualmente hostil, porém mais habilidoso e mais capaz de corromper politicamente as lideranças populares?
Ao longo dos debates do primeiro turno, a candidatura do PSOL cumpriu o papel de expor essa realidade e cobrar dos representantes do sistema posicionamento claro contra a desigualdade social que marca a história do Brasil e impõe à grande maioria da população um muro que a separa das suas legítimas aspirações. Nenhum deles se dispôs a comprometer-se com a derrubada desse muro. Essa é a razão que me tranqüiliza, no diálogo com os movimentos sociais com os quais me relaciono há 60 anos e com os brasileiros que confiaram a mim o seu voto, de que a única posição correta neste momento é do voto nulo. Não como parte do "efeito manada" decorrente das táticas de demonização que ambas candidaturas adotam a fim de confundir o povo. Mas um claro posicionamento contra o atual sistema e a manifestação de nenhum compromisso com as duas candidaturas.
Impossível discordar do Ivan Valente:



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