domingo, 26 de abril de 2009

MST e a Mídia

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Este é apenas um desabafo, sem links de referência ou grandes notícias...

Lendo hoje a Istoé, uma das poucas revistas que eu ainda consigo aguentar, acabei lendo um artigo simplesmente infeliz, tratando o MST.

Quando eu vejo algum veículo de comunicação atualmente falando do MST eu já começo a ficar enjoado.

Depois daquele episódio do assassinato dos seguranças de uma fazenda por membros do MST, a coisa tomou proporções absurdas...

Ao mesmo tempo em que vemos todo esse processo de destruição da imagem do MST na mídia, ninguém comenta sobre o fato do procurador do RS ter fechado as escolas do MST, um ataque covarde à educação e à luta social.

Vamos por parte, primeiro o procurador:

Não me recordo o nome do infeliz, e nem faço questão de lembrar de figura tão desgraçada.

Apenas sei que ele anda se sentindo perseguido e pensa em largar os processos - ou já largou. Sofreu pressões de todos os lados - menos do governo Yeda, uma verdadeira nojenta e envolvida em toda sorte de falcatruas - inclusive dos demais procuradores do país.

Em si, ir contra o MST não é novidade e, convenhamos, não seria algo fora de sua prerrogativa como Procurador do Estado e nem de sua (falta de) consciência enquanto homem da direita. Pode investigar, pode reclamar, sem problemas, estamos em uma democracia e sempre vai ter gente do lado do capital, do lado dos fazendeiros e etc.

Por mais que, para mim, este tipo de gente deveria ser toda presa com a chave jogada fora, vivemos, repito, em uma democracia, por pior e mais imperfeita e perversa que seja.

Seguindo, nada contra vasculhar, reclamar e até querer abrir processos, muitos tentaram e o MST continua lá, felizmente, vivo e forte! O maior Mov. Social que temos nesse país e qualquer pessoa sensata e humana teria o maior orgulho de poder contar com o grupo.

A grande questão em tudo isso é que o processo aberto por ele - ou os processos - não foram porque sua consciência humana e ilibada lhe mandaram, fazê-lo. Não foi porque este indivíduo de fato encontrou irregularidades gritantes dentro do MST (se este quisesse mesmo vasculhar desvios e falcatruas bastaria olhar para sua chefe, Yeda, e para o nosso nobre parlamento, imagino que o do RS não seja muito melhor que o nacional), e tampouco por algum altruísmo, buscando de fato desmascarar algumas maçãs podres dentro da estrutura do MST, que de fato, existem. Todo este processo se limitou à sua vontade de aparecer, à vontade de ir contra um movimento social poderoso e importantíssimo para o país, à vontade de seus chefes que tem nele um capanga forte e demais motivos semelhantes. Resumindo, por mera safadeza e falta de caráter, à serviço dos poderosos ameaçados em suas propriedades pelo MST e pelo povo mobilizado.

Atacar as escolas foi o golpe mais baixo que este ser poderia dar. Negar a educação ao povo, à quem mais precisa, a quem vive no campo, constantemente atacado, em movimento para encontrar um lugar para viver é o cúmulo. Não sei nem o cúmulo do que, de tão absurda que foi a atitude!

As intenções são claras.

Desmoralizar o movimento, de duas maneiras, uma usando a força para mostrar quem manda e a outra é mantendo as crianças na ignorância para posteriormente anunciar na mídia: "MST não educa suas crianças, crianças do MST fora da escola" e coisas do tipo. Preparação do terreno para ataques posteriores.

Manter as crianças na ignorância, sem conhecer direitos, sem ter educação, oportunidades de crescer, de fazer uma universidade e, após isso, reverter seu conhecimento em prol do movimento, dificultando ainda mais a vida dos poderosos em destruir o movimento.

Visitei ha alguns anos um acampamento do MST em Franco da Rocha, São Paulo, fui como monitor e tradutor de um grupo de estrangeiros, todos do terceiro mundo, que participavam do Colóquio de Direitos Humanos da Conectas, ONG daqui de São Paulo, e me surpreendeu a educação dos líderes do movimento - pessoas simples, vivendo em comunidade, distribuindo e dividindo tudo, trabalhando debaixo do sol com suas próprias mãos, cultivando a terra e falando com amor de sua luta - comentando como grandes conhecedores dos métodos de Freire, Piaget, falando de política como grandes conhecedores de economia, das lutas sociais... É isto que assusta as elites: Pobres e excluídos conscientes de seu lugar, de sua luta, de seus direitos!

A visita surpreendeu a mim e a todos os que foram comigo. Todos militantes de Direitos Humanos de países como Camboja, Índia, China, Zimbábue e etc.

Isto este procurador não iria permitir! Mas felizmente, por ampla pressão, cedeu.

Agora, depois disso tudo, chego à questão da mídia.

Não é novidade para ninguém que quando abrimos o jornal, uma revista, ou assistimos aos jornais diários que, quando falam no MST, é para denunciar algo, para dizer que a propriedade privada dos pobres fazendeiros está a perigo (nunca lembram que as fazendas são improdutivas, deixadas de lado, adquiridas ilegalmente e etc) e barbaridades do tipo.

Recentemente o MST matou capangas de uma fazendo. Nossa, a mídia os chamou de criminosos, chamou de milícia, de perigo à sociedade...

Só "esqueceram" de notar que os capangas estavam armados e prontos para matar e que o MST agiu em legítima defesa. Mas, para as elites - inclusive para o Lula, surpreendentemente - legítima defesa não vale para o MST! Eles devem ficar quietinhos, devem ser mortos de braços abertos. Carajás não precisa ser lembrado.

Que me desculpem mas o MST tem SIM que se armar e se defender. Não é possível que permitamos uma nova Carajás e outros massacres menos lembrados. Dia após dia os membros do movimento são assassinados, NUNCA pegam os culpados e todos fingem que nada aconteceu. A "justiça", do querido procurador covarde nunca pega ninguém, o governo não acelera a reforma agrária e aparentemente esqueceu até o significado da palavra, haja visto que o número de famílias assentadas com Lula não anda, é medíocre.

E o MST permanece refém. Luta só e ainda o obrigam a morrer sem qualquer resistência.

Indo ao ponto que me levou a escrever este desabafo, na Istoé de hoje, Domingo, edição 2059, encontro uma matéria absurda com o título: "Prejuízo à mão armada".

Impressionante! O MST invadiu uma fazenda de Daniel Dantas, um criminoso, é recebido à bala e ainda aparecem como culpados por revidar! É simplesmente inominável o tamanho do absurdo!

A fazenda não era improdutiva? Ok, mas o MST não é um movimento que meramente reivindica terra, é político. Invadiu uma fazenda cujo dono é um dos capangas de Gilmar Mendes, Daniel Dantas. Invadiu e deveria ter invadido mesmo. E não deve sair até que Daniel antas seja preso e esquecido em uma solitária.

A podridão da mídia não surpreende, o que surpreende é a coordenação atual que todos os veículos da grande mídia vem conseguindo nos ataques contra um movimento legítimo nacional, que responde aos anseios da camada mais miserável do país.
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