Vi hoje no "Acerto de Contas", excelente blog lá de Recife, onde morei por mais de dez anos (no fim, meus dois centavos):
Concordo plenamente com a análise, em especial a provável próxima vítima, o JB, que leio sempre que posso e onde encontro a sobriedade de intelectuais como o Santayana, que deixará saudades. O JB ainda hospedou o grande e saudoso Fausto Wolff e, se acabar, deixará saudades mas, é fato, o JB está muito mal das pernas. Ele é impresso na gráfica de outro jornal, tem erros grotescos de português, a seção internacional é paupérrima e limitada à notícias compradas de agências, é um jornal muito pequeno e limitado e.... bem, caminha para seu fim, infelizmente.Depois de 89 anos de circulação, chega ao fim o diário econômico Gazeta Mercantil. Embora pouco noticiado, este é um fato de extrema relevância na imprensa brasileira.
Este é o primeiro fechamento de uma série que deve acontecer nos próximos anos, em face à mudança de comportamento dos consumidores de informação.
É verdade que a Gazeta cometeu uma série de erros administrativos, como a regionalização dos jornais na década passada. Também sofreu uma feroz concorrência do Valor Econômico, que é um jornal muito mais moderno, com excelente conteúdo, mas pode representar uma mudança importante na imprensa brasileira.
No caso da Gazeta, foi uma morte lenta e anunciada. Com quase R$ 200 milhões em dívidas trabalhistas, não se esperava outra coisa.
O modelo de negócios dos jornais diários está ficando esgotado, principalmente em função da internet. A venda avulsa está caindo drasticamente nos últimos anos, e dificilmente a atual estrutura empresarial sustentará os grupos empresariais.
E estamos falando da Gazeta Mercantil, um jornal com boa credibilidade, de reportagens com densidade e voltada a um público específico altamente qualificado. O mais provável é que a marca vá a leilão. Mas isso não muda a essência do problema.
Em Pernambuco ainda temos 3 jornais diários, mas não é segredo para ninguém que a Folha de Pernambuco passa por sérias dificuldades. Como depende de venda avulsa, fica em situação ainda mais delicada, pois o custo comercial acaba muito elevado. E com o consumidor menos disposto a pagar para obter informação, a situação tende a piorar.
O Diário de Pernambuco e o Jornal do Commercio já chegaram a ficar sem circular, no auge da crise na primeira metade dos anos 90. Posteriormente receberam injeção de capital, e tiveram mudança societária e foram arrendados. Isso acabou permitindo forte mudança organizacional.
Mas dos jornais de grande circulação nacional eu já tenho uma dica do próximo a fechar: o tradicional Jornal do Brasil.
Este pode ser o prenúncio da catástrofe, ou pode ser só o reflexo de péssima gestão e decisões erradas. Já comentei sobre o assunto aqui, sobre a crise dos jornalões, e este assunto parece recorrente.
Enquanto a mídia tradicional - o mesmo funciona para a indústria de músicas e afins - não aprender a se integrar com a internet, enfrentará sérios problemas. Ok, alguns jornais - como o JB - pouco tem a fazer, mas a adaptação às novas ferramentas é vital.
Copio parte do post anterior sobre os jornais e sua crise, que cai como uma luva no atual post:
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"O fenômeno é mundial, a redução de tiragens é um fenômeno mundial e aparentemente irreversível. O NYT acumula prejuízos, o Boston Globe idem, alguns jornais nos EUA, como o The Christian Science Monitor circulam apenas online, alguns outros ainda circulam em poucos dias na semana... Não é algo que ocorre só no Brasil, é algo que finalmente chegou de vez ao Brasil.As razões são várias.
Não é só a internet a vilã, mas também a falta de credibilidade, o gosto dos leitores e os novos tempos e ferramentas.
Vamos a alguns fatos em destaque:
1. Internet: Sem dúvida o principal "vilão" na história. Mesmo os grandes jornais colocam suas edições diárias na internet, seja de forma aberta ou paga. E ao longo do dia podemos acompanhar, de graça, com rapidez e comodidade, e onde quer que estejamos, o que acontece pelo mundo todo no site dos jornais, nos blogs e em várias páginas da internet.
2. Mobilidade
Quando assinamos um jornal o recebemos em casa. Se viajamos ele continua a chegar em casa e não vai até onde estamos. Caso viajemos, temos que nos locomover até um banca e nem sempre o jornal que você quer estará lá. Eu, por exemplo, leio todo dia a edição online do Gara, do País Basco, no Brasil é impossível achá-lo em qualquer banca.
3. Pílulas
Um ponto interessante é o fenômeno atual, graças à velocidade não só com que tudo ocorre e as informações chegam, mas também a falta de tempo/pressa dos leitores quando são bombardeados com milhões de informações ao mesmo tempo. É a pós-modernidade em sua verdadeira natureza. Os leitores procuram por notícias rápidas, explicativas e simples, que possam ser digeridas sem perda de tempo - vê-se o sucesso da Revista da Semana, qeu adota o modelo - e os jornais, com suas várias páginas de análises e notícias longas acaba colocad oapra escanteio.
4. Credibilidade
Ponto, ao meu ver, principal, ao menos recentemente no Brasil, a falta de credibilidade, ética e respeito. Os episódios da Ditabranda (que mostrei aqui e aqui) e mais recente da ficha de Dilma, claramente forjada e depois reconhecida como tal pela Folha, demonstram a falta de credibilidade, comprometimento e ética dos grandes jornais.
Não fala-se em neutralidade, imparcialidade, isso não existe, todos somos influenciados por alguma coisa e acreditamos em algo, ao buscar a imparcialidade não passamos o que realmente gostaríamos de passar à frente. Mas senão imparcialidade pelo menos não a mentira, não os ataques insensatos, o desrespeito e a tentativa clara de derrubar, atacar sem provas.
Não apoio o governo, não sou Petista nem gosto do Lula mas uma coisa é fazer oposição (como faço, à esquerda) e outra é denegrir, mentir e manipular, como vem fazendo os jornais brasileiros e em especial a folha de São Paulo.
Em suma, os jornais estão morrendo, não conseguiram ou não querem se adaptar aos novos tempos e, no caso brasileiro, soma-se a isso a falta de ética e credibilidade e o flagrante desrespeito ao leitor."
Alguém parece pensar:
Chicago Tribune aposta em novo portal de notícias
Postado por mcavalcantiO jornal Chicago Tribune, dos Estados Unidos, colocou no ar nesta semana o portal ChicagoNow, que pretende combinar, em uma só plataforma, recursos de mídia social, conteúdo noticioso, opinião de celebridades, loja virtual e uma rede de blogs de especialistas em diversos assuntos voltados para à cidade americana, como esportes, política e entretenimento.
Ainda em construção e anteriormente previsto para ir ao ar em junho, o site, que está sendo comparado ao The Huffington Post, da jornalista britânica Ariana Huffington, já possui mais de 30 blogs e espera, até o final de 2009, agregar pelo menos 80 blogs. Com o lançamento, o grupo espera capturar 35% do tráfego Web local, já que a idéia, segundo comunicado oficial, é reunir usuários de Chicago.
O novo portal promete ainda fazer um eficiente uso de ferramentas de publicidade online, para entregar anúncios relevantes ao público. Um vídeo promocional sobre o empreendimento pode ser visto aqui. JW.