Excelente entrevista, resume bem a situação dos Palestinos e o pensamento de Israel além de, principalmente, demonstrar que "amplos setores da opinião pública não aceitam mais as políticas criminosas de Israel".
Escrito por Revista Rubra
27-Mai-2009
Ilan Pappé é um dos principais historiadores israelitas. Contra a opinião da União Européia e dos Estados Unidos, defende que um Estado na Palestina, com cidadania igual para todos, é a solução.
Professor de Ciências Políticas na Universidade de Haifa até 2007, foi obrigado a abandonar Israel após repetidas ameaças de morte contra ele e sua família. Atualmente leciona na Universidade de Exeter, Inglaterra.
Confira abaixo a entrevista que concedeu à revista portuguesa Rubra.
Seu trabalho se enquadra em uma geração de historiadores israelitas que, com base na abertura dos arquivos israelenses depois de 1978, começa a questionar a versão oficial da fundação de Israel. Qual o sentido geral da partilha de 1947 e os subseqüentes acontecimentos de 1948?
Penso que o novo olhar sobre 1947/48 realça os aspectos injustos da resolução de partilha da ONU. A idéia de impor a repartição pela força a uma população nativa que constituía dois terços dos habitantes hoje não será aceita. Hoje, nem seria possível tal idéia de dividir um país em duas partes quase iguais entre a população nativa e os colonizadores.
Durante anos tendemos a culpar os palestinos por recusarem essa solução injusta e nós, e também a comunidade internacional, continuamos propondo essas soluções... injustas.
Creio que hoje nós percebemos a magnitude do crime cometido contra os palestinos em 1948, a limpeza étnica, o silêncio do mundo e o fato de que o Estado de Israel continua tentando completar a total limpeza étnica dos palestinos.
O que pensa dos acordos de Oslo e de outras negociações entre Israel e os palestinos?
Creio que os acordos de Oslo tiveram um aspecto positivo, a legitimação da OLP. Exceto isso, foram como a resolução de partilha, uma imposição a partir do ponto de vista israelense contra os palestinos. Tinham as palavras corretas, mas elas apenas estavam de acordo com a interpretação de Israel, o que significou encontrar um acordo que lhes permitia aprofundar a ocupação.
Foram desastrosos. Criaram expectativas onde não havia intenção de alterar a realidade miserável do lugar, ferindo profundamente a hipótese de paz e, em segundo lugar, lançando sementes para a divisão no campo palestino.
Por que Israel atacou Gaza?
Israel atacou Gaza por várias razões. Depois da derrota no Líbano, em 2006, os generais acreditaram que uma vitória militar teria o êxito de impor medo aos países árabes. Em segundo lugar, eles desejavam erradicar, à força, os movimentos que na região resistem, também pela força, a seus planos, como o Hamas.
E seu plano para Gaza em particular era mantê-la como uma prisão a céu aberto, com a esperança de que muitos palestinos abandonem suas terras ou se resignem a viver sob tais condições. Os israelenses não vão permitir que Gaza e Cisjordânia formem um Estado livre e independente.
Qual é a situação dos palestinos israelitas?
Comprovou-se uma escalada nas ações do governo israelita contra a minoria palestina em Israel. Sua cidadania, bens e liberdade estão sob perigo crescente. A situação não é tão ruim como a dos palestinos na Cisjordânia, mas é para onde caminha.
Qual sua opinião acerca das manifestações ocorridas pelo mundo contra Israel durante o ataque a Gaza?
Acredito que marcam uma tendência crescente, em que amplos setores da opinião pública não aceitam mais as políticas criminosas de Israel. Porém, ainda não se traduzem em mudanças de política dos governos.
Qual foi a reação da comunidade judia, particularmente no país em que o senhor atualmente reside, a Inglaterra?
A comunidade judia estabelecida ainda é pró-Israel, porém, mais e mais indivíduos estão começando a se dissociar do sionismo e um número significativo está disposto a se tornar ativo na luta por justiça para os palestinos.
Aonde o senhor se posiciona no debate entre as chamadas soluções de "dois Estados" e de "um Estado" na Palestina?
Penso que não há realmente um debate. A solução de "dois Estados" desapareceu para sempre, mesmo que ainda existam pessoas que pensem ser uma solução razoável. Creio que um Estado com cidadania igual para todos é a solução.
Agora temos um Estado que discrimina todos os palestinos que vivem entre o Rio Jordão e o mar. Eles são discriminados de diferentes formas, alguns sujeitos à ocupação e aos abusos diários, outros são assassinados e expulsos. Isso não é democracia, não pode continuar sem mais derramamento de sangue mesmo.
Publicado originalmente na Revista Rubra, edição número 5.
Website: http://www.revistar
ubra.org/
Traduzido por Gabriel Brito, jornalista.