A onda de assassinatos patrocinados/comandados pelo presidente checheno Ramzan Kadyrov parece não ter fim. Desta vez, porém, o cinismo do sujeito beirou o absurdo e o inaceitável."No speeches were delivered at the ceremony, which was attended by about 100 people. Estemirova's photo was posted at a monument to killed journalists and a banner reading "Who's Next?" was put up."
Vamos aos fatos.
A ativista de direitos humanos da ONG Memorial, Natalya Estemirova, foi abatida à tiros por "desconhecidos" depois de ter sido sequestrada na Chechênia e ter seu corpo deixado ("desovado", em linguagem comum) na vizinha Ingushétia.
Esterminova investigava exatamente os sequestros e desaparecimentos de civis e ativistas na República da Chechênia para a ONG Memorial e, sem dúvida, seu trabalho era perigoso para o senhor da guerra - depois empossado presidente por Putin - Kadyrov, o grande responsável pela onda de terror, sequestros, assassinatos e desaparecimentos que assolam a região.
Curiosamente Esterminova já havia trabalhado com outros dois ativistas e jornalistas assassinados pelo teor "perigoso" de seus trabalhos, Anna Politkovskaya e Stanislav Markelov.
Para iniciar a onda de cinismo, a porta-voz de Medvedev anunciou que seu patrão estava ultrajado e que os investigadores deveriam fazer de tudo para descobrir os culpados. Mas, bem, todos sabem o nome do culpado: Ramzan Kadyrov. E, como cúmplices, Putin e Medvedev.
A onda de assassinatos seletivos de ativistas de direitos humanos na Rússia, em especial no Cáucaso, não parece ter fim e nenhum dos culpados jamais foi pego, nem os mandantes - que todos conhecem - nem os executores, em alguns casos, a própria polícia, como no assassinato do jornalista Magomed Yevloyev, morto por um tiro "acidental" dentro de uma viatura da polícia na Ingushétia, como eu já mostrei neste blog.Yevloyev mantinha um website crítico à quase-ditadura de Putin e seu mico amestrado Medveded, uma verdadeira máfia no poder central russo, e, em especial, contra o então presidente Ingushe, Murat Zyazikov, o provável mandante de seu assassinato - depois substituído por Yunus-Bek Yevkurov, recentemente ferido por insurgentes muçulmanos.
Politkovskaya, repórter investigativa e altamente crítica ao Kremlin e à Kadyrov, foi assassinada à tiros no elevador de seu prédio em Moscou. O mandante? Provavelmente Kadyrov, que já a havia ameaçado mais de uma vez.
Markelov, ativista de direitos humanos, foi assassinado a p oucos metros do Kremlin, ao sair de uma conferência, junto com ele foi assassinada também Anastasia Baburova, repórter do Novaya Gazeta que corria em seu socorro e foi pega na emboscada. Markelov era o advogado da família de Elza Kungaeva, uma jovem chechena morta por pelo coronel Russo Yuri Budanov, condenado pelo assassinato mas solto 15 meses antes de cumprir a sentença.
Como se vê, a máfia russa chefiada por Putin e seu cãozinho Medvedev, ajuda os amigos.
Vale notar, porém, a ligação de todas as vítimas assassinadas com a Chechênia ou a Ingushétia, direta ou indiretamente, enfim, a ligação com Razman Kadyrov, o carniceiro do Cáucaso.
Graças às ameaças e ao assassinato de Esterminova, a ONG Memorial foi forçada a encerrar suas atividades no Cáucaso pela completa falta de segurança.
"We cannot take the risk anymore because our work [in Chechnya] has become life-threatening," Alexander Cherkasov, member of the group's executive committee, said in an interview on Ekho Moskvy radio s tation.Até agora são ao menos 4 mortes de ativistas diretamente ligados ào Cáucaso e à repressão e abusos constantes na região. Politkovskaya, Esterminova, Yevloyev e Markelov, todos assassinados à mando da máfia Russa comandada por Putin e Medvedev e tendo como um de seus principais executores, o filho do traidor checheno, Kadyrov.
Akhmat Kadyrov, pai de Ramzan Kadyrov foi o Mufti da República Chechena de Ichkeria, durante os anos noventa e durante e depois da Primeira Guerra Chechena. Já na época da Segunda Guerra Chechena, Kadyrov pai resolveu mudar de lado e apoiar o governo russo contra seus conterrâneos chechenos até que, em 2003, foi empossado como presidente por Putin, em troca de seus favores - delação, tortura, perseguição e mortes. Pai traidor, filho traidor.
Oleg Orlov, diretor da ONG Memorial, acusou diretamente Ramza Kadyrov de ser o mandante do assassinato de Esterminova e acrescentou que Kadyrov já havia ameaçado Esterminova no passado a alertando para parar de trabalhar na Chechênia."I know, I am certain who is to blame for the murder of Natasha Estemirova. We all know this person. His name is Ramzan Kadyrov, the president of the Chechen Republic." Oleg Orlov.
Oleg Orlov, the director of the human rights organisation Memorial, claimed Kadyrov made the threat during a meeting just months before her death. He said the president's aides had explicitly warned her to stop her work in Chechnya.
Pela frontal acusação Orlov foi ameaçado de processo por parte do assassino Kadyrov que, quando acusado, saiu com a frase "I don't kill women". Uma declaração à altura de um assassino frio e bárbaro. Não mata mulheres, ele diz, mas deixa transparecer que nada tem contra matar e torturar homens e jovens chechenos, como é seu costume."I know who is guilty of Natalia's murder. His name is Ramzan Kadyrov," Orlov said in a statement posted today on Memorial's website. "Ramzan already threatened Natalia, insulted her, considered her a personal enemy. He has made it impossible for rights activists to work in Chechnya," he said.
Kadyrov, em resposta à Orlov afirmou que:"I have no doubt that behind the murder of Estemirova stand people subordinate to Ramzan Kadyrov, who indulge in murders, violence, and unlawfulness on Russian territory, and also outside Russia," Oleg Orlov.
"Você não é nem procurador, nem juiz, e suas afirmações sobre minha culpa não são éticas, mas estranhas", disse Kadryrov, em declarações publicadas em seguida pelo site da presidência chechena.
"Além de presidente da Chechênia, sou pai de sete filhos e filho de uma mulher que perdeu seu marido na luta contra os terroristas", acrescentou, em alusão a seu pai, Akhmad Kadyrov, presidente checheno morto em atentado em 2004.
"Você tem que pensar nos meus direitos antes de falar para o mundo inteiro que sou culpado da morte de Estemirova", prosseguiu.
"Os chechenos não fazem acertos de contas, sobretudo com mulheres. Penso que as pessoas que a mataram queriam sujar o nome de Kadyrov. Não mato mulheres, nunca matei mulheres", garantiu ainda o presidente checheno.
Vale lembrar, por fim, de Umar Israilov, ex-guarda-costas de Kadyrov, assassinado no exílio (Áustria) por agentes enviados pelo presidente checheno.
"In late 2006, Mr. Israilov filed a complaint against Russia in the European Court of Human Rights that detailed his claims of the systematic use of abductions and torture by Mr. Kadyrov, and indigenous security forces under Mr. Kadyrov’s command, to punish suspected insurgents and their families.O site de inteligência Stratfor traz uma lista ainda maior de ativistas e empresários assassinados à mando de Kadyrov, Putin e Medvedev:
The complaint covered events from 2003 through 2005, when Mr. Kadyrov led a state-sponsored militia and became the republic’s deputy prime minister. It included Mr. Israilov’s experiences as one of Mr. Kadyrov’s victims and later as a witness to what he said were Mr. Kadyrov’s crimes against others."
- Paul Klebnikov, July 2004. The editor of Forbes’ Russian edition, Klebnikov was shot dead in Moscow as he was heading into a subway station. The driver of a stolen car that pulled out of a parking lot and drove toward Klebnikov fired four shots before fleeing the scene.
- Anna Politkovskaya, October 2006. A prominent journalist and critic of the Kremlin, Politkovskaya was in the process of publishing a series condemning the government’s policy in Chechnya. She was shot in the head in her apartment building.
- Alexander Litvinenko, November 2006. Litvinenko was a former KGB agent who had defected to the United Kingdom and published books on the internal workings of Putin’s FSB networks, and he was critical of the new Russian state. He was poisoned with radioactive polonium-210.
- Ivan Safronov, March 2007. Safronov was a journalist who criticized the state of the Russian military and was accused of leaking military affairs to foreign parties. He allegedly committed suicide by jumping from the fifth floor of his apartment building, though some reports say a person behind him forced him out of the building.
- Oleg Zhukovsky, December 2007. Zhukovsky was an executive of the VTB bank, which at the time of his death was being taken over by the state so the Kremlin could handpick its senior officers to oversee many strategic state accounts. Zhukovsky allegedly performed the feat of committing suicide by being tied to a chair and thrown into his swimming pool, where he drowned.
- Arkady Patarkatsishvili, February 2008. A wealthy Georgian-Russian businessman, Patarkatsishvili was extensively involved in Georgian politics. Patarkatsishvili died in the United Kingdom of coronary complications that resembled a heart attack. His family and many in Georgia have accused the FSB of involvement, however, saying the FSB has many untraceable poisons at its disposal.
- Leonid Rozhetskin, March 2008. Rozhetskin was an international financier and lawyer who held stakes in strategic companies, like mobile phone giant MegaFon. He disappeared while in Latvia after losing Kremlin backing by selling his assets to multiple parties, including some government ministers who are former FSB agents.
- Ruslan Yamadayev, September 2008. Yamadayev was a Chechen military leader and former member of the State Duma. He was shot in his Mercedes as it was stopped at a red light near the Kremlin in Moscow.
- Stanislav Markelov, January 2009. A prominent Russian lawyer who had prosecuted an army colonel convicted of murdering a Chechen woman, Markelov was shot dead along with a journalist in broad daylight on a Moscow street near the Kremlin. He was also involved in the case of Anna Politkovskaya.