sexta-feira, 2 de outubro de 2009

África, aquela inútil!

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O título é provocativo, e não concordo com ele. Mas infelizmente o PIG e a maior parte da dita opinião pública, apóiam veementemente as premissas de tal declaração, a África é inútil... Ou ao menos não merece nossa atenção.

O título vem da leitura dos acontecimentos recentes na Guiné, onde centenas de manifestantes foram assassinados a sangue-frio pelo exército local em um estádio. O número chega aos 157 mortos e 1,2 mil feridos de um total de 50 mil que estavam presentes ao protesto no estádio da capital, Konakry.

O país é governado por uma junta militar, passou anos sob ditadura e, como a maior parte da África, é quase invisível, um país de contrastes, pobreza e conflitos.

Após o massacre a ONU pediu moderação - típico- e nada mais foi ou será feito.


Tudo bem que crises humanitárias no Sri Lanka, com a derrocada dos Tigres Tâmil, não são manchetes no Brasil, nem as crises costumeiras na Ásia, mas a África é emblemática. Quem se importa com ela?

O Tsunami recente no pacífico virou manchete, afinal, os povos da região são "Civilizados", estáveis e, no fim das contas,a tingiu a Samoa Americana, dos nossos amigos estadunidenses. É relevante.

Já o continente negro, onde a maior parte dos regimes são ditatoriais ou tem um verniz de democracia mais fino que o de uma parede de papel, os jornais viram a cara, não existem correspondentes, não existe cobertura séria, pouco se sabe ou se fala.

Aparentemente os jornais - e a maior parte da "opinião pública" enxergam a África como uma coisa só, um continente-país que, salvo a África do Sul e os Estados Árabes, pouco se diferenciam. Se é que existem diferenças visíveis! São ditaduras e proto-ditaduras, áreas de genocídio e irrelevantes.

Não que, convenhamos, a análise de que a região seja povoada por ditaduras e regimes assassinos seja falso, a questão principal reside no considerar tudo igual e virar os olhos e o sensato, buscar conhecer, analisar e, se possível, intervir positivamente.

Mesmo na região de maioria Árabe e Bérbere (o norte) são raros os que conhecem o conflito dos Bérberes no Níger, Mauritânia e países vizinhos (citar "Cabília" então, na Argélia, nem pensar!), ou a situação absurda de opressão do povo Saraúi no Saara Ocidental (Marrocos nada mais que genocida).

Darfur é uma exceção, um genocídio em larga escala onde a China tem ampla participação, ma ao mesmo tempo, poucos sabem do conflito do Sudão com o Chade.

Na África Negra propriamente dita, fora Ruanda e seu notório genocídio ou algum informe sobre o Congo ou sobre a situação do Zimbábwe (notem que apenas catástrofes saem da África em formato de notícia), raros são os que sabem diferenciar o Kenya da Suazilândia. Na verdade dificilmente sabem que o segundo existe sem olhar na wikipedia.

Enfim, a cobertura fraca - ou total falta até - sobre o que acontece na periferia da periferia não surpreende, apenas revolta. A África é o continente abandonado, sai nos noticiários apenas pela fome, miséria e conflitos, mas mesmo assim, se de grandes proporções, se envolvendo potências de alguma forma ou em genocídios.

De outra forma passa icógnita, esquecida.
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