O título é provocativo, e não concordo com ele. Mas infelizmente o PIG e a maior parte da dita opinião pública, apóiam veementemente as premissas de tal declaração, a África é inútil... Ou ao menos não merece nossa atenção.
O título vem da leitura dos acontecimentos recentes na Guiné, onde centenas de manifestantes foram assassinados a sangue-frio pelo exército local em um estádio. O número chega aos 157 mortos e 1,2 mil feridos de um total de 50 mil que estavam presentes ao protesto no estádio da capital, Konakry.
O país é governado por uma junta militar, passou anos sob ditadura e, como a maior parte da África, é quase invisível, um país de contrastes, pobreza e conflitos.
Após o massacre a ONU pediu moderação - típico- e nada mais foi ou será feito.
Tudo bem que crises humanitárias no Sri Lanka, com a derrocada dos Tigres Tâmil, não são manchetes no Brasil, nem as crises costumeiras na Ásia, mas a África é emblemática. Quem se importa com ela?
O Tsunami recente no pacífico virou manchete, afinal, os povos da região são "Civilizados", estáveis e, no fim das contas,a tingiu a Samoa Americana, dos nossos amigos estadunidenses. É relevante.
Já o continente negro, onde a maior parte dos regimes são ditatoriais ou tem um verniz de democracia mais fino que o de uma parede de papel, os jornais viram a cara, não existem correspondentes, não existe cobertura séria, pouco se sabe ou se fala.
Aparentemente os jornais - e a maior parte da "opinião pública" enxergam a África como uma coisa só, um continente-país que, salvo a África do Sul e os Estados Árabes, pouco se diferenciam. Se é que existem diferenças visíveis! São ditaduras e proto-ditaduras, áreas de genocídio e irrelevantes.
Não que, convenhamos, a análise de que a região seja povoada por ditaduras e regimes assassinos seja falso, a questão principal reside no considerar tudo igual e virar os olhos e o sensato, buscar conhecer, analisar e, se possível, intervir positivamente.
Mesmo na região de maioria Árabe e Bérbere (o norte) são raros os que conhecem o conflito dos Bérberes no Níger, Mauritânia e países vizinhos (citar "Cabília" então, na Argélia, nem pensar!), ou a situação absurda de opressão do povo Saraúi no Saara Ocidental (Marrocos nada mais que genocida).
Darfur é uma exceção, um genocídio em larga escala onde a China tem ampla participação, ma ao mesmo tempo, poucos sabem do conflito do Sudão com o Chade.
Na África Negra propriamente dita, fora Ruanda e seu notório genocídio ou algum informe sobre o Congo ou sobre a situação do Zimbábwe (notem que apenas catástrofes saem da África em formato de notícia), raros são os que sabem diferenciar o Kenya da Suazilândia. Na verdade dificilmente sabem que o segundo existe sem olhar na wikipedia.
Enfim, a cobertura fraca - ou total falta até - sobre o que acontece na periferia da periferia não surpreende, apenas revolta. A África é o continente abandonado, sai nos noticiários apenas pela fome, miséria e conflitos, mas mesmo assim, se de grandes proporções, se envolvendo potências de alguma forma ou em genocídios.
De outra forma passa icógnita, esquecida.
Blog de comentários sobre política, relações internacionais, direitos humanos, nacionalismo basco e divagações em geral... Nome descaradamente baseado no The Angry Arab
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
África, aquela inútil!
2009-10-02T13:39:00-03:00
Raphael Tsavkko Garcia
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