A SuperVia, que controla os Trens metropolitanos do Rio de Janeiro, aparentemente, resolveu adotar o modus operandi da Telefônica: Presta um serviço medíocre, trata o usuário como lixo, faz propaganda de que funciona e é maravilhosa, tem projetos risíveis de melhorias futuras que jamais sairão do papel e o governo não faz nada sobre a situação e, obviamente, não vai reestatizar o setor ou, pelo menos, repassar a concessão para alguma empresa decente.
Mas de tudo que eu vi e ouvi sobre os protestos dos usuários dos Trens nesses últimos dias, nada me surpreendeu tanto quanto a violência desmedida da polícia contra protestos legítimos e a resposta absurda dada pelo comandante da PM responsável por "controlar" a situação:
Para o comandante do 5º BPM (Praça da Harmonia), tenente-coronel Carlos Henrique Alves de Lima, não houve excesso da Polícia Militar. "Excesso foram as pedras portuguesas jogadas pelos manifestantes contra os policiais; foram as lixeiras reviradas e as tentativas de quebra-quebra. Usamos gás lacrimogêneo para afastar as pessoas e arrefecer os ânimos. Estávamos preocupados com o patrimônio da Supervia e o com os funcionários da concessionária", afirmou.Que o Tenente-Coronel iria dizer que a PM não abusou da força era óbvio, honestidade não é pré-requisito para ser policial, mas a declaração de que a PM, uma força PÚBLICA, estava ali presente não para garantir o direito dos usuários lesados - muitos foram para casa sem receber o dinheiro da passagem que pagaram mas não usaram - mas para garantir a propriedade privada!
A PM não foi violentar o povo para protegê-lo, não prendeu nenhum diretor da SuperVia pelo roubo - sim, foi roubo - das passagens dos usuários, não foi para garantir que os usuários não fossem lesados e nem que o serviço fosse prestado decentemente... Estavam lá unicamente para defender o patrimônio da SuperVia que, na verdade, é patrimônio do POVO, dos Cariocas e Fluminenses e que foi criminosamente repassado para a iniciativa privada sem que o povo fosse consultado!
O comandante da PM acha que o protesto dos usuários e a depredação foram excessos, vandalismo. Talvez, mas será que o comandante parou 5 minutos para pensar (sic) nos motivos para tal atitude, ou melhor, reação?
Uma diarista que se identificou apenas como Maria da Penha, de 47 anos, disse que teve de se esconder para não ser pisoteada. Segundo ela, até grávidas tiveram de sair correndo na hora em que a PM jogou spray de pimenta contra os passageiros. "É uma falta de respeito o que fazem com a gente", queixou-se.Não, sem dúvida não, PM não pensa, cumpre ordens, bate, espanca, violenta, prende e mata. Pensar, discernir e usar a cabeça são vocábulos desconhecidos e desencorajados na corporação.
A PM estava lá para defender a propriedade privada de uma empresa que abusa de seus direitos, que lesa o povo, que comete um crime.
"Os problemas de ontem (quarta-feira) e hoje (quinta-feira) ocorreram porque a Supervia arrancou os desvios da linha. Ou seja, se o trem sofre uma avaria a concessionária simplesmente não tem como retirá-lo da linha sem interromper o tráfego. É um absurdo e aumenta a insegurança na via férrea", afirmou o presidente do Sindicato dos Ferroviários, Valmir de Lemos.Assim como a Telefônica, as operadoras de celulares e tantas outras empresas medíocres privatizadas ou donas de concessão, a Supervia lesa o povo diariamente. Não cumpre os contratos, não presta o serviço que deveria e ainda contam com a conivência dos órgãos públicos, dos políticos canalhas em geral e sempre podem contar com a mão amiga da polícia na hora de fazer o povo se calar.
É isto que nos espera no Rio 2016se nada for feito de concreto para mudar a ideologia dominante do "jeitinho" e a corrupção generalizada dos nossos governantes (e, porque também não dizer, do nosso próprio povo).
Foram 3 dias de caos, a Supervia faz questão de intencionalmente prover um serviço péssimo - e isto nos lembra de Telefônica, das Teles de Celular... E o poder público nada faz ou fará. É mais fácil e mais barato espancar quem reclama do que tomar uma atitude e perder um precioso dinheiro para as futuras campanhas e a caixinha que sustenta o nosso círculo vicioso de corrupção e descaso com o povo.