terça-feira, 6 de abril de 2010

Praça Roosevelt e o Centro de São Paulo- Reforma ou Higienização?

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Reunião dia 5 de abril no Teatro Estúdio 184 sobre a Praça Roosevelt... Interessante. Presentes representantes da EMURB, moradores e comerciantes da rua. O teatro estava virtualmente lotado.

Do lado da EMURB estavam presentes o Secretário Municipal de Planejamento Dr. Rubens Chammas, o Diretor de Desenvolvimento de Intervenções Urbanas Dr. Domingos Pires e a Gerente da EMURB, Drª Rita Gonçalves.

Quando cheguei, por volta das 19:30 Rita Gonçalves fazia, através do powerpoint, uma apresentação do que iria ser feito, de como se daria o processo de demolição e as intervenções planejadas no chamado Polo Roosevelt, que englobará não só a Praça mas a rua Martins Fontes, Nestor Pestana e imediações.

O clima, acreditem, era tenso. Existe um racha imenso na rua, não só entre moradores e comerciantes, mas entre os moradores. Uma moradora, Carmen Zilda Ribeiro, aos gritos, tentava se fazer ouvir e protestava meia e volta contra a reforma, que considera absurda, cara e esvaziará a vida da praça. Seus comentários, por mais que encontrassem eco na platéia, pela forma com que eram feitos, acabou causando uma onda de vaias e pedidos enérgicos para que esta se contivesse, o que fez - mal ou bem, já às lágrimas.

Carmen diz representar cerca de 2 mil moradores que teria feito um abaixo-assinado - que a maioria dos presentes desconhece - criando o Comitê Gestor da Praça, grupo que, se tem outros membros, não se fez presente.

As tensões entre os presentes não concerne apenas a reforma - existem grupos que se recusam a aceitar a demolição desta e exigem a reforma completa e grupos que querem a demolição, este último privilegiado pela EMURB -, mas ao funcionamento de alguns teatros, notadamente o Parlapatões e o Satyros 1.

Ha algum tempo moradores da praça fizeram um abaixo-assinado com algumas centenas de assinaturas e enviaram ao Ministério Público reclamando do barulho persistente em especial dos dois teatros citados que não respeitavam o limite de horário para que seja permitido o barulho na rua e ficavam até alta madrugada impedindo o sono dos moradores dos prédios da área.

Tal processo acabou por prejudicar àqueles estabelecimentos que agiam corretamente e que foram, posteriormente, proibidos de colocar mesas nas ruas. Existe, enfim, um racha entre moradores e comerciantes, entre moradores e moradores e comerciantes e comerciantes em torno do barulho até altas horas, da ocupação das calçadas e outras razões por vezes mais relacionadas ao ego que à fatos e motivos sérios.

Enfim, em meio à processos, brigas pessoas e de grupos, realizou-se a reunião com a EMURB para acertar diversas questões e se conhecer à fundo o projeto.

Este é o projeto da EMURB: Link (pdf) e maiores informações no site Agenda 2012 da Prefeitura.


Vale salientar que são 4 as empresas que concorrem no processo de licitação:

Consórcio CVS Villa Nova (R$. 31.486.823,39) / Construtora Augusto Veloso S/A (34.867.465,17) / Consórcio Paulitec (R$.36.847.757,71) e OAS (44.209.402,66). 

Esta última uma das responsáveis pelo desabamento e cratera do metrô em Pinheiros, cuja investigação e CPI foram barradas por Serra. Segundo Rubens Chammas, a empresa vencedora já foi escolhida, mas este se recusou a divulgar o nome.

Feita a apresentação, algumas questões surgiram.

Em sua exposição, Chammas explicou que a praça será totalmente demolida e que não haverá pausa nas obras. Será iniciada a demolição e de forma ininterrupta, a reconstrução dentro do que foi decidido pela EMURB. Isto, claro, é o que o Secretário afirma, o histórico local, porém, demonstra que obras certas podem e são freadas sempre que surgem outros interesses. O dinheiro para a obra, do BID, segundo Chammas, está liberado e apenas aguarda o fim do processo de licitação para encher os bolsos da empreiteira escolhida e dos políticos envolvidos, mas aí é outra história.

Rita Golçalves então assumiu e explicou como foi idealizada a reforma e o Polo Roosevelt e, em emio aos questionamentos da platéia, informou que a casa de Samba na esquina da Consolação com a rua João Guimarães Rosa seria demolida. Além desta casa, as "casas noturnas" Kilt, Valhala e My Love (esquina da Roosevelt com Nestor Pestana) seriam igualmente demolidos.

Péssimas idéias que encontram certa resistência. Sobre a Casa de Samba, ela é famosa e tradicional, não há sentido em sua demolição. Respeita os horários é é um polo de entretenimento e vida no local. Quanto às casas noturnas, o mesmo é válido, trazem segurança e um público bom À ponta da praça que costuma ser a mais abandonada.

Além disso, o prazo para desapropriação e inauguração final da Praça são um problema, por muito tempo teríamos uma esquina vazia e perigosa, sem vida.

Outro ponto foi o possível alargamento das calçadas da Roosevelt e a proibição do estacionamento na rua, o que é um problema para uma grande parte de moradores da Praça, idosos e deficientes que precisam ter por perto seus veículos e não podem andar indefinidamente até um estacionamento.

Outro ponto polêmico - este em conversa que tive diretamente com Rita Golçalves - é que não há nenhum planejamento ou espaço para os skatistas. Hoje, são os raros que usam a praça, que habitam e dão vida/segurança ao local e pelo novo projeto serão expulsos.

O que vemos é que, apesar da necessidade de demolição/reforma, o projeto higieniza a praça, retira do local quem a frequenta e torna a praça um local estéril e sem vida.

Planeja-se uma reunião para daqui a 20 dias para que a Praça - moradores, comerciantes e frequentadores - conversem, apresentem propostas e tentem modificar alguns aspectos do que foi decidido pela EMURB - e apenas ela.

Da forma que está, a Praça será esvaziada e transformada em um ambiente sem vida, sem frequência e, obviamente, perigoso.

Durante toda a exposição e espaço para perguntas, os representantes da EMURB deixaram claro que a reforma da Roosevelt vem em conjunto com a reforma do Centro, com a Nova Luz, reforma do Parque Dom Pedro e etc... Todas obras de higienização e marginalização da população de rua e até mesmo dos moradores dos prédios da região. Uma Nova Luz livre de mendigos e "marginais", uma Cracolândia com uma fachada de "limpeza" e o consequente espalhamento dos drogados que precisam não de polícia, mas de políticas de inclusão social e de reabilitação  e agora uma Roosevelt "limpa", livre de skatistas, de "putas" e de cultura. Apenas um lugar para se passar, olhar e ir embora.

É isto que, para a prefeitura, - e o Secretário deixou claro que todo o projeto é a menina dos olhos do governo Serra-Kassab - significa progresso, cultura, morar bem.
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Comentários
2 Comentários

2 comentários:

Aline Scátola disse...

Tempos atrás, conheci a Carmen e ela já era grande defensora do comitê gestor, que tinha também a aprovação de outros moradores da praça com quem conversei quando fazia um rádio-documentário a esse respeito.
Acho legítima a crítica dela. Na verdade, pelo que pude entender, a questão não é ser contra a demolição da praça, mas ao menos esclarecer os motivos que justificam a derrubada praticamente como "única possibilidade".
E acho que é justamente isso que você levanta no texto. Na real, a demolição é parte de uma política excludente, higienista, gentrificante, maquiada de melhoria, de "revitalização" (que já é um termo horrível), e que, do jeito que se pretende, não vai melhorar de forma alguma a vida de ninguém.
Só que a discussão é antiga e parece que não vai se resolver tão cedo.
Se der, ouve o doc (http://is.gd/b5sgo). É de 2006, mas acho que ainda é bem atual.

abs

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Concordo com você. Eu concordo com alguns pontos colocados pela Carmen. Eu sou a favor da demolição e ela não, mas ela apresentou algumas idéias que são de fato interessantes e a denúncia que ela faz da EMURB e dos órgãos decisórios é mais que válida. A questão é como fazer a crítica.

Ela perde o apoio que poderia ter pela forma como age. Radical, intolerante e impositiva. Aí acaba vaiada mesmo por quem concorda com ela - e eu vi isso acontecer no dia.


NA verdade não é a demolição em si que é excludente. A reconstrução é que tem um caráter de higienização.

O problema é que o debate mais forte entre os pró-derrubada e os pró-manutenção foi descartada pela EMURB que decidiu demolir sem debate. Apresentou proposta, deicidiu e só aí apresentou ao público.

E, logo depois disso, há o problema de como será a reconstrução. Ponto também de conflito. são dois momentos diferentes e em ambos temos problemas.

Ouvirei o doc e obrigado por mandar!=)

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