Até o momento, apenas incertezas, notícias desencontradas e uma festa de um lado anunciar e o outro desmentir.
O mais importante neste momento, porém, mais do que saber se efetivamente houve um atentado, é saber das consequências de toda esta história.
Creio que estejamos diante de dois cenários possíveis que se ramificam em múltiplas conjecturas e possibilidades:
1. Hipótese de um Atentado Real
Se houve efetivamente um atentado, é importante saber quem foi o responsável, as motivações e, acima de tudo, o que isto representa para o futuro.
1.1. Quanto aos responsáveis, podemos pensar em 4 grupos principais:
a) Pjak: Grupo Curdo financiado próximo ao PKK da Turquia e alegadamente financiado pelos EU, ao menos até Obama colocar o grupo na lista de "terroristas". O grupo luta por uma região autônoma curda no Irã e por maio respeito às minorias curdas, azeris, árabs e etc.
b) Balochis: Importante minoria étnica que vive entre o Irã, Afeganistão e Paquistão, os Balochis ou Baluchis vivem em conflito com o governo central dos respectivos países e grupos como o Jundallah poderiam ter o interesse de matar o presidente iraniano.
c) EUA/Israel, CIA/Mossad: Opção mais que provável, dispensa grandes comentários.
d) Outra oposição interna, Verdes, Progressistas: Outra hipótese possível é a de que algum grupo obscuro ou mesmo algum dissidente ligado aos Verdes, ou as Árabes do Kuzestão possa ter cometido o atentado.e) finalmente, a opção menos provável, um atentado "interno". Grupos radicais extremamente conservadores buscando impor uma liderança ainda mais conservadora. O processo fraudulento que levou Ahmadinejad ao poder criou tensão mesmo entre os conservadores, fazendo com que grupos extremamente conservadores deixassem claras suas posições. Nunca se descarta também a participação da guarda Revolucionária, ainda que Ahmadinejad tenha saído de suas fileiras.
É difícil saber até que ponto o programa nuclear é consenso e que grupos, mesmo conservadores, podem se sentir prejudicados pelas políticas governamentais. A dança de cadeiras no início do segundo governo pode contribuir para a hipótese de que uma elite conservadora se sentiu atacada.
1.2. Quanto às motivações e objetivos, estão claras. Cada grupo defendendo seus próprios interesses, seja a independência de uma região (caso dos Balochis), autonomia e respeito ao direito das minorias (Pjak), substituição por uma liderança mais moderada ou conservadora ou mais ligada aos interesses de um ou outro grupo ou mesmo a pura e simples confusão.A grande insatisfação com os rumos do governo parece estar presente nos mais diversos setores.
1.3. Finalmente, quanto ao que isto representa para o futuro. Dois são os cenários:
a) O atentado pode significar uma maior abertura, algo pouco provável, que seria fruto de pressões por um maior diálogo depois de uma radicalização contra o governo
b) Uma retração ainda maior do país, uma radicalização tanto interna quanto externa. Possivelmente, em caso de maior repressão, o país poderia rachar devido à grande pressão ainda exercida pelos Verdes e pela oposição insatisfeita com a atual situação política, social e econômica do país.
Em termos macro, como bem disse o Gustavo Chacra hoje pela manhã em seu blog, poderíamos ter guerra.
Guerras começam em eventos menores. São os chamados estopins, que colocam fogo em um barril de pólvora. O Oriente Médio está pronto para explodir. E a poda de uma árvore quase acabou em uma escalada militar entre o Líbano e Israel. Foi por muito pouco. Se uma cerca for derrubada, como em briga de vizinhos, o conflito pode eclodir e, como disse ontem, Beirute e Tel Aviv se destruiriam inutilmente.Um cenário que é bem possível. Se Ahmadinejad tivesse morrido, poderíamos estar diante de uma guerra, o que iria de encontro aos interesses dos EUA e de Israel.
Hoje foi a vez de uma tentativa de atentado contra Mahmoud Ahmadinejad. Provavelmente, a ação foi organizada por opositores internos. Mas e se atingissem o seu objetivo? Nós teríamos acordado com o presidente do Irã morto. É a velha história do cisne negro.
Agora, não se pode descartar a hipótese de que não houve atentado algum, como atesta o Irã e sua agência oficial.
2. Hipótese de que não houve qualquer atentado:
É preciso analisar, antes de mais nada, o que motivaria a criação de um boato deste tamanho e, posteriormente, analisar as consequências de tal boato. Apesar de algumas fotos e relatos, alguns sustentam a versão de fogos e não de uma bomba.
2.1. Tudo não passa de um boato. A quem serviria?
a) Primeiramente, logo pensamos em Israel/EUA ou mesmo em qualquer outro grupo já descrito na hipótese anterior, e neste caso a resposta é simples:? Confusão. Uma tentativa dos inimigos do Irã buscarem capitalizar em cima do boato, procurando mostrar que há uma grande insatisfação com o governo. Poderia servir até mesmo como desculpa para uma intervenção, a falsa idéia de que haveria apoio a um ataque contra o Irã mesmo dentro do país, visto que chegaram até a tentar matar o presidente. Seria o boato perfeito para justificar uma ação militar desastrosa. Sendo coisa apenas de grupos locais, o país não sairia de sua normalidade e possivelmente aumentaria a repressão contra as minorias locais.
b) Por outro lado, não podemos descartar a possibilidade de o próprio governo ter lançado mão deste boato como forma de criar um inimigo para justificar suas políticas repressivas. Seja ele interno ou externo (EUA/Israel), seria a justificativa para um programa nuclear efetivo (e não apenas para fins pacíficos, como declaram). Esta hipótese não é muito provável, visto que o governo prontamente buscou negar o fato.
2.2 Finalmente, as consequências são diversas.
Vão desde um descrédito simples das agências internacionais, até a humilhação dos responsáveis por vazar tal informação, supostamente falsa dentro da hipótese. Descobrindo-se que o boato foi criado pelo Irã, o governo se encontraria com sérios problemas, se mostraria fraco e precisando criar factóides para sobreviver, o mesmo pode-se dizer dos EUa/Israel, que se veriam novamente envoltos em uma crise ligada às suas agências. A CIA falhou no 11 de Setembro e o Mossad vem cometendo lambanças pelo Oriente Médio.
No fim das contas, ainda é cedo para saber o que realmente aconteceu e, mesmo com fontes oficiais, a história ainda permanecerá envolta em mistério. O melhor é esperar até que alguma fonte independente, um blogueiro ou jornalista independente, apresente provas do que aconteceu - ou não aconteceu.
Até lá, tudo não passa de conjectura.